Doces figuras, decidi, depois de enviar extenso email pro Szegeri na noite de ontem contando meu sufoco de semana passada, que por sua vez me respondeu um curto e objetivo "publique!", dividir com vocês algumas passagens verídicas, algumas trágicas, algumas cômicas, mas todas reais, não é demais repetir, que coroaram a penúltima semana desse junho brabo.
Soube da notícia do Brizola na segunda-feira passada, 21/06, porque o Szegeri me telefonou pra avisar. Mauro estava aqui em casa, no Buteco, e testemunhou o baque. Minha sogra também telefonou, Maria Paula, mamãe, papai, o telefone não parou e eu passei a não atender, telegramas chegaram, flores, e o porteiro interfonou pra saber se eu era parente do Leonel.
Mandei-o à merda e fui dormir.
A terça-feira foi péssima. Contrariando uma promessa que havia feito quando vi pela TV a quilométrica fila do velório do Ayrton Senna, plantei-me na Álvaro Chaves, em frente à entrada social do Fluminense, para despedir-me do velho caudilho.
Quase quatro horas na fila e três maços de cigarro, afinal era o último dia fumando, uma trágica coincidência da programação do remédio caríssimo que comprei para conseguir largar o desgraçado.
Voltei pra casa em frangalhos.
A quarta-feira não foi melhor que a terça. Primeiro dia longe dos bastonetes nicotinosos, obsessivamente grudado na TV acompanhando Brizola no Rio Grande do Sul, e nem o jogo do Flamengo foi capaz de me animar no final do dia, quando cheguei no Rio-Brasília pra encontrar Lelê, Fábio, Marquinho e Alê de olhos inchados.
Vitória do Flamengo, apito final e tomei o rumo de casa.
Quinta-feira? Péssima. Acompanhei o funeral em São Borja pela TV, dormi quase que o dia inteiro. Estava me sentindo levemente mal. Piorei muito quando a Dani chegou em casa com a notícia que estava indo pra SP a trabalho no dia seguinte pela manhã, às 8h, voltando apenas pro almoço no sábado.
Começou aí, queridos, o ápice da tragédia da semana.
Minha noite foi caótica. Atentem para o sonho: estou numa sala que não reconheço, sentando a uma mesa oval, e a meu lado quem? Leonel Brizola. Fala o Brizola: "Sabe, Eduardo, na verdade, francamente... (segurando os óculos por uma das hastes)... eu deixei de fumar quando sofri uma grande decepção... no dia em que perdi a legenda do PTB... E hoje, tristíssimo e decepcionado com minha morte, decidi que vou voltar a fumar!" E eu, de prima: "Que bom, Governador! Eu deixei há poucos dias, se o Sr. voltar eu lhe acompanho!" O velho Briza abre uma gavetinha à sua frente, retira dois cigarros, acende o meu, acende o seu e ficamos de papo horas sobre política. Acordo assustadíssimo.
Dani está de malas prontas. Vou levá-la. No caminho lhe conto sobre o sonho. Dani ri e diz que por causa disso é que não quero filhos. Não suportaria outra criança me roubando espaço. Diz que o sonho é previsível pra alguém como eu, que eu sou uma criança, um bebêzão, mas eu a interrompo: "Seja como for eu vou dormir na mamãe hoje. Não vou dormir sozinho. Tenho medo do Brizola aparecer pra mim e me oferecer um cigarro." Dani ri, salta do carro, diz que é pra eu ir mesmo pra casa da mamãe, ainda mais que eu me queixara de um estado levemente febril assim que acordei. Volto pra casa e decido no caminho que vou dormir em casa mesmo.
Com todas as luzes da casa acesas. Quando chego em casa, tomo um banho, nossa prendadíssima secretária me prepara um café, me arrumo e vou pro trabalho. No meio da tarde começo a me sentir mal. A febre parece maior e minha garganta começa a doer de forma lancinante. Corro pra casa de táxi. Ponho o termômetro e o bicho marca 38 graus. Ligo pro celular da Dani, que já está em SP, e choro copiosamente me queixando das dores e da febre. Ele pede que eu vá pra casa de minha mãe. Não é possível. As dores estão por todo o corpo. Ela me dá umas dicas, me faz uns mimos, me manda beijos, tchau, e eu desligo chorando mais.
Acendo todas as luzes da casa, tomo um banho, sento-me e ligo a TV: "Povo brasileiro, eu que venho de longe...". É ele discursando, numa programa em sua homenagem. Troco de canal: "Lá lá lá lá lá Brizola, lá lá lá lá lá Brizola...", outra homenagem, desligo a TV.
Termômetro, 39 graus. Ligo pra Dani chorando de novo que me pede paciência, que está chegando cedo no sábado.
Ligo pra Magali, sua irmã, médica. Digo, aos prantos, que estou com 39 graus, quase delirando, digo que estou com medo de morrer, que minha garganta está fechando e Magali me receita pequeno kit: Voltaren, Novalgina, Fonergin, Aspirina. Pede que eu tome 40 gotas de Novalgina e ligue pra dar notícias em meia-hora, quando a febre deverá baixar bem.
Meia-hora depois, termômetro: 39,5 graus. Vou morrer, tenho certeza. Calafrios, dor de cabeça, ligo pra Magali que fica muda, nitidamente assustada.
Depois de pensar um pouco me pede que tome um banho entre o morno e o frio de uns 10 minutos, me agasalhe bem e deite. Chamo a Pimenta, minha cocker-spaniel amada, e deito-me com as luzes acesas. Não dormi. Ouvia o interfone tocar, o telefone, barulho na porta, comecei a perceber que estava mal quando me flagrei cantando Boi da Cara Preta pra Pimenta. Magali ligou e disse a nova temperatura, 38,5 graus. Ela delira como se fosse final de Copa do Mundo porque a febre baixou 1 grau. Eu morrendo e minha cunhada vibrando com isso. Não me lembro a que horas dormi, mas acordei com Dani a meu lado. Sonhara novamente o mesmo sonho.
Sábado tínhamos um compromisso, eu e Dani, na casa da Magali no final do dia. Dani, precavida, eu ainda com febre, me vestiu como seu eu fosse pro Alaska jantar dentro de um iglu. Calça jeans, meias de lã e bota cano alto. Uma camisa de malha, sobre ela uma camisa manga comprida de algodão e sobre ela um colete de lã. No pescoço um cachecol de tricô colorido. Ridículo. Parecia um espantalho. E a festa não era junina.
Lá encontro o Comandante, que não esconde a surpresa com meus trajes e com meu estado. E eu tristíssimo digo a ele que pela primeira vez não beberemos juntos pois estou com febre e me sentindo mal. Ele pergunta o que estou fazendo pra febre baixar. Quando digo Novalgina, ele rola de rir escada abaixo me arrastando pela mão e pede que preparem uma caipivodka de limão no capricho pra mim. Bebo uma. Bebo duas. Bebo três. Suando feito uma capivara, sou obrigado a trocar de roupa e Comandante solicita nova tomada de temperatura à junta médica que estava na festa e que já havia, inclusive, diagnosticado amigdalite e receitado antibiótico para começo à meia-noite.
Termômetro: 36,4 graus. Comandante em direção aos médicos: "Novalgina é a puta que os pariu!"
Brindamos novamente, bebi a quarta e voltei pra casa.
Até.
Soube da notícia do Brizola na segunda-feira passada, 21/06, porque o Szegeri me telefonou pra avisar. Mauro estava aqui em casa, no Buteco, e testemunhou o baque. Minha sogra também telefonou, Maria Paula, mamãe, papai, o telefone não parou e eu passei a não atender, telegramas chegaram, flores, e o porteiro interfonou pra saber se eu era parente do Leonel.
Mandei-o à merda e fui dormir.
A terça-feira foi péssima. Contrariando uma promessa que havia feito quando vi pela TV a quilométrica fila do velório do Ayrton Senna, plantei-me na Álvaro Chaves, em frente à entrada social do Fluminense, para despedir-me do velho caudilho.
Quase quatro horas na fila e três maços de cigarro, afinal era o último dia fumando, uma trágica coincidência da programação do remédio caríssimo que comprei para conseguir largar o desgraçado.
Voltei pra casa em frangalhos.
A quarta-feira não foi melhor que a terça. Primeiro dia longe dos bastonetes nicotinosos, obsessivamente grudado na TV acompanhando Brizola no Rio Grande do Sul, e nem o jogo do Flamengo foi capaz de me animar no final do dia, quando cheguei no Rio-Brasília pra encontrar Lelê, Fábio, Marquinho e Alê de olhos inchados.
Vitória do Flamengo, apito final e tomei o rumo de casa.
Quinta-feira? Péssima. Acompanhei o funeral em São Borja pela TV, dormi quase que o dia inteiro. Estava me sentindo levemente mal. Piorei muito quando a Dani chegou em casa com a notícia que estava indo pra SP a trabalho no dia seguinte pela manhã, às 8h, voltando apenas pro almoço no sábado.
Começou aí, queridos, o ápice da tragédia da semana.
Minha noite foi caótica. Atentem para o sonho: estou numa sala que não reconheço, sentando a uma mesa oval, e a meu lado quem? Leonel Brizola. Fala o Brizola: "Sabe, Eduardo, na verdade, francamente... (segurando os óculos por uma das hastes)... eu deixei de fumar quando sofri uma grande decepção... no dia em que perdi a legenda do PTB... E hoje, tristíssimo e decepcionado com minha morte, decidi que vou voltar a fumar!" E eu, de prima: "Que bom, Governador! Eu deixei há poucos dias, se o Sr. voltar eu lhe acompanho!" O velho Briza abre uma gavetinha à sua frente, retira dois cigarros, acende o meu, acende o seu e ficamos de papo horas sobre política. Acordo assustadíssimo.
Dani está de malas prontas. Vou levá-la. No caminho lhe conto sobre o sonho. Dani ri e diz que por causa disso é que não quero filhos. Não suportaria outra criança me roubando espaço. Diz que o sonho é previsível pra alguém como eu, que eu sou uma criança, um bebêzão, mas eu a interrompo: "Seja como for eu vou dormir na mamãe hoje. Não vou dormir sozinho. Tenho medo do Brizola aparecer pra mim e me oferecer um cigarro." Dani ri, salta do carro, diz que é pra eu ir mesmo pra casa da mamãe, ainda mais que eu me queixara de um estado levemente febril assim que acordei. Volto pra casa e decido no caminho que vou dormir em casa mesmo.
Com todas as luzes da casa acesas. Quando chego em casa, tomo um banho, nossa prendadíssima secretária me prepara um café, me arrumo e vou pro trabalho. No meio da tarde começo a me sentir mal. A febre parece maior e minha garganta começa a doer de forma lancinante. Corro pra casa de táxi. Ponho o termômetro e o bicho marca 38 graus. Ligo pro celular da Dani, que já está em SP, e choro copiosamente me queixando das dores e da febre. Ele pede que eu vá pra casa de minha mãe. Não é possível. As dores estão por todo o corpo. Ela me dá umas dicas, me faz uns mimos, me manda beijos, tchau, e eu desligo chorando mais.
Acendo todas as luzes da casa, tomo um banho, sento-me e ligo a TV: "Povo brasileiro, eu que venho de longe...". É ele discursando, numa programa em sua homenagem. Troco de canal: "Lá lá lá lá lá Brizola, lá lá lá lá lá Brizola...", outra homenagem, desligo a TV.
Termômetro, 39 graus. Ligo pra Dani chorando de novo que me pede paciência, que está chegando cedo no sábado.
Ligo pra Magali, sua irmã, médica. Digo, aos prantos, que estou com 39 graus, quase delirando, digo que estou com medo de morrer, que minha garganta está fechando e Magali me receita pequeno kit: Voltaren, Novalgina, Fonergin, Aspirina. Pede que eu tome 40 gotas de Novalgina e ligue pra dar notícias em meia-hora, quando a febre deverá baixar bem.
Meia-hora depois, termômetro: 39,5 graus. Vou morrer, tenho certeza. Calafrios, dor de cabeça, ligo pra Magali que fica muda, nitidamente assustada.
Depois de pensar um pouco me pede que tome um banho entre o morno e o frio de uns 10 minutos, me agasalhe bem e deite. Chamo a Pimenta, minha cocker-spaniel amada, e deito-me com as luzes acesas. Não dormi. Ouvia o interfone tocar, o telefone, barulho na porta, comecei a perceber que estava mal quando me flagrei cantando Boi da Cara Preta pra Pimenta. Magali ligou e disse a nova temperatura, 38,5 graus. Ela delira como se fosse final de Copa do Mundo porque a febre baixou 1 grau. Eu morrendo e minha cunhada vibrando com isso. Não me lembro a que horas dormi, mas acordei com Dani a meu lado. Sonhara novamente o mesmo sonho.
Sábado tínhamos um compromisso, eu e Dani, na casa da Magali no final do dia. Dani, precavida, eu ainda com febre, me vestiu como seu eu fosse pro Alaska jantar dentro de um iglu. Calça jeans, meias de lã e bota cano alto. Uma camisa de malha, sobre ela uma camisa manga comprida de algodão e sobre ela um colete de lã. No pescoço um cachecol de tricô colorido. Ridículo. Parecia um espantalho. E a festa não era junina.
Lá encontro o Comandante, que não esconde a surpresa com meus trajes e com meu estado. E eu tristíssimo digo a ele que pela primeira vez não beberemos juntos pois estou com febre e me sentindo mal. Ele pergunta o que estou fazendo pra febre baixar. Quando digo Novalgina, ele rola de rir escada abaixo me arrastando pela mão e pede que preparem uma caipivodka de limão no capricho pra mim. Bebo uma. Bebo duas. Bebo três. Suando feito uma capivara, sou obrigado a trocar de roupa e Comandante solicita nova tomada de temperatura à junta médica que estava na festa e que já havia, inclusive, diagnosticado amigdalite e receitado antibiótico para começo à meia-noite.
Termômetro: 36,4 graus. Comandante em direção aos médicos: "Novalgina é a puta que os pariu!"
Brindamos novamente, bebi a quarta e voltei pra casa.
Até.