23.10.04

VIAGEM À NATAL, RN

Doces figuras, eu e Dani, a Sorriso Maracanã, a mulher que me ensinou a sorrir, passamos uma semana em Natal (RN), e quero fazer não-tão-breve relato da viagem, cheia de emoções indizíveis e de passeios memoráveis.

Já partimos daqui com o roteiro pré-definido. Iríamos pra Natal, onde chegaríamos à noite, iríamos no dia seguinte pra Praia da Pipa, lá passaríamos três dias, voltaríamos pra Búzios, a 20km de Natal, pra ficarmos na casa de uns amigos - sobre os quais falarei mais à frente - por dois dias e fecharíamos a viagem em Natal, onde comemoraríamos, inclusive, o aniversário da Dani, no dia 15 de outubro, retornando ao Rio no sábado, dia 16.

Quando anunciei a viagem, Glória, morando em Natal, docemente ofereceu sua casa em Búzios e pousada em seu "modesto" apê em Natal. Farei pequena digressão para ampla compreensão de todos.

Glória é mãe de uma ex-namorada, estamos entre 1988 e 1991. Casada com Delson, mãe de Pepê e Tico (além de Andréa), Glória sempre esteve na mais alta conta comigo. Atenciosíssima, carinhosa, durona sem conseguir esconder a doçura, Glória foi "apresentada" à Dani, antes de partirmos daqui, como uma craque que nos surpreenderia no quesito hospitalidade. Dancei.

Glória foi mais. Como foram mais Delson e Tico, que era um "tiquinho de gente" quando do nosso convívio, e pra quem fiz uma canção de ninar que dizia "por que você tem que crescer?".

No quesito hospitalidade os três barraram os cinco estrelas de Natal, transformaram em bosta o selo "Roteiros de Charme" e superaram galacticamente a grife "Relais & Chatêaux".

Quando nos receberam em Búzios, numa deslumbrante casa na careta da praia - e que praia! - Glória, Delson e Tico mostraram as credenciais: engradados de cerveja, garrafas de Smirnoff, queijinhos, frios, pãezinhos, pizzas, patês, muito côco, caju a rodo, pencas de banana, dezenas de redes espalhadas pela casa, a atenção do caseiro Chico e da mão-direita Rose, um canil dominado por Zyg e Anuck, com a ninhada (Duna, Zyg Filho, Zara e Dimba) e que destruíram uma saia da empolgada Dani que aventurou-se pelo interior do canil (maior que nossa apartamento na Tijuca) e a suíte principal do solar, com ar condicionado, janelão com vista pro mar e uma pia com uma bancada de mármore onde jogávamos boliche antes de dormir, de tão extenso.

E quando nos receberam em Natal, em seu apartamento ("bonzinho", como disse a modesta Glória), mais credenciais: duas craques no comando da cozinha, Nara e Adriana (que bebe muita cerveja e Montilla), Ronaldinha, uma cadelinha que nos dará Glorinha, a fêmea que está por vir, e um almoço de despedida com direito a frango ao molho pardo, caranguejo e mais que tais.

Isso sem falar no próprio apartamento, que tem um cômodo maior que nosso apê de novo (uma rouparia!) e uma cozinha auxiliar (?), com doze pias e quatorze tanques. Ah, e mais cerveja.

Encontrá-los no primeiro dia, em Natal, já foi pra mim extremamente emocionante. Tico está com quase dois metros de altura, demonstrando que minha canção de ninar foi em vão. Delson, com quem revivi o prazer de uma cerveja juntos, passou ligeiramente mal nos primeiros 20 minutos e tirou o time de campo: para efeitos históricos, ficou também emocionado e preferiu sair a pagar mico na nossa frente.

Levei de presente pra eles o "Heranças do Samba", obra-prima de Aldir Blanc, Hugo Sukman e Luiz Fernando Vianna, bebemos ali umas dúzias de chope e partimos pro hotel, depois de jantarmos, os dois, no recomendando trailler de um suíço maluco, Chef Peter, que conheceu Natal há seis anos e nunca mais voltou pra terra gelada onde nasceu.

Na manhã do dia seguinte partimos pra Pipa. Nosso agente de viagens nos alocou num cinco estrelas, confundindo nossa origem. Nosso quarto-chalé abrigaria fácil mais cinco pessoas. Tinha fogão, geladeira, freezer, piscinas, uma vista deslumbrante e pouco uso de tudo fizemos.

Partimos pra Pipa. Linda, mas muito invadida por turistas europeus. Nos dois dias, conhecemos as praias, todas maravilhosas, Praia do Amor, Praia dos Golfinhos, Praia do Village, Praia da Pipa.

Jantamos as duas noites numa descoberta nossa, o restaurante "São Sebastião", comandando pelo Renato e pelo Pietro, dois cariocas que trocaram o stress da cidade grande pelo paraíso na Pipa. O restaurante foi indicado por um nativo, fica longe da muvuca e da vitrine caríssima da rua principal (uma réplica da Rua das Pedras, de Búzios, RJ). Tem um comovente altar onde fica a imagem de São Sebastião, dezenas de velas acesas, a casa toda de estuque, e lá comemos camarão com banana e outras delícias que minha memória, obnubilada pelas cervejas e pela garrafa de cachaça cedida pelos anfitriões, não registra. Mas é o lugar pra se comer na Pipa. Deixei comovido registro no Livro de Ouro do restaurante e derrubei Renato com a declaração.

Decidimos encurtar nossa estada na Pipa. Atendendo conselho da Glória, contratamos um buggy para nos levar, pela praia, pra Búzios. Chegamos em Búzios na terça-feira. Glória, Delson e Tico nos receberam como já contei. Andamos pela praia no primeiro dia, tomamos uma cerveja na Barraca do Fabrício, e depois fomos de carro até Tabatinga, onde eles nos levaram pra comer pastel de cação e moqueca no Nugrau, nome do bar em homenagem à temperatura da cerveja.

Lá protagonizei minha primeira tirada de onda, uma mania compulsiva durante nossas viagens.

Como em Buenos Aires. Entramos numa loja, no bairro da Boca, berço do Boca Juniors, pra comprar uma camisa de presente pra um sobrinho. O dono da loja, e eu respondendo em português:

- Quieres una camisa de Maradona?

- Quem?

- Maradona. Diego. Dieguito.

- Não sei quem é. É jogador?

- Maradona, señor! Dios! Diego Armando Maradona.

- Em que time ele joga? Não conheço.

Quando Dani viu o homem mexendo na cintura e chamando os seguranças, saímos da loja.

Pois bem. O dono do Nugrau vem à mesa com os pastéis. Eu pergunto se ele tem pimenta. Ele pergunta se quero leve ou forte. E eu digo que quero a mais forte. Ele sorri e volta com uma garrafa exalando cheiro ainda no meio do caminho. Eu pingo três gotas da pimenta sob o olhar atento do homem. Mordo o pastel. E mando:

- O Sr. trouxe a de cheiro, quero a mais forte da casa.

O atendimento foi péssimo daí em diante. Voltamos pra casa e sozinhos vivemos uma noite nababesca. Sem detalhes.

No dia seguinte andamos à vera. Saímos andando de Búzios, fomos à Pirangi do Sul, atravessamos o rio Pirangi a pé (maré baixa), passamos por Pirangi do Norte, Prainha e Praia do Cotovelo, abastecendo no caminho na Barraca do Fabrício e na Barraca do Romildo, que nos contou hilariantes histórias de sua vida, toda passada ali, naquele canto do Rio Grande do Norte, município de Parnamirim. Quando voltamos o Rio Pirangi era caudaloso e revoltoso. "Seu" Fabrício, o dono da barraca da outra margem, atendeu nosso chamado com as cangas e assovios e foi nos buscar de jangada.

Almoçamos em sua barraca a comida caseira de Dona Neci, caranguejos, peixe frito, arroz, salada e macaxeira. Chegamos mortos em casa, e caminha.

No dia seguinte, Glória, Delson e Tico nos sequestraram logo cedo. Eu já bebia Coca-Cola com vodka quando saímos para conhecer uma lagoa deslumbrante, Lagoa de Tabatinga, água docinha, barraquinhas à margem, onde comemos lagosta, camarão, bebemos cerveja, botamos mais ainda o papo em dia, caminhamos um pouco mais em Búzios quando voltamos e caminha cedo de novo, que em Natal às 17h30min já é noite.

Às sete horas da manhã de sexta-feira, aniversário da Dani, os três foram nos buscar em Búzios, já que tínhamos marcado um passeio monstruoso durante todo o dia, presentão que a Glória deu a Dani. Mais um de seus gestos de matar.

O "bugueiro", Márcio, nos esperava às 8h. Conhecemos as dunas, Genipabu, Lagoa de Pitangui, outro paraíso, Lagoa de Jacumã, Pitangui, Porto Mirim, Porto Mirim, Muriú, e o Cabo de São Roque. Em Muriú almoçamos lagostas gigantescas.

E nas dunas, novo capítulo das lendas. O primeiro: ao passarmos por uma duna absurdamente profunda, onde o carro não poderia ir, Dani pediu pra parar. E desceu tudo dando cambalhotas estranhíssimas pra gargalho frenético do Márcio, que disse... "Menina, quando amigos seus vierem a Natal, peçam pra me procurar e dizer que são amigos da moça da cambalhota... tenho mais de 20 anos de profissão e NUNCA vi ninguém fazer isso!".

Ponto pra nós.

O segundo: Márcio fez a tradicional pergunta antes do passeio pelas dunas:

- Vocês querem com ou sem emoção?

Eu, plácido:

- Toda do mundo.

Como o dono do Nugrau, Márcio sorriu de canto de boca. Fez piruetas de embrulhar o estômago, quase looping com o buggy. Parou. Virou-se pra trás:

- E aí?

- Foi como se eu estivesse engarrafado na hora do rush na Rio Branco, malandro. Queremos mais.

Márcio puto roncou o motor do buggy. Deu pinote, cavalo de pau, levantou poeira, quase atolou o carrinho tentando mostrar serviço:

- E agora, carioca?

- Tu só pode estar de sacanag...

Nem esperou eu terminar a frase. Pisou fundo no acelerador. Eu, com o coração entre a língua e o palato, vi as dunas de cabeça pra baixo, comi areia, tomei uma chicotada de um galho de árvore, quase vomitei, peguei meu globo ocular num átimo com a mão direita, quando Márcio freou bruscamente e perguntou gargalhando:

- E agora?

- Ô malandro, subir dez andares de elevador é mais emocionante.

Ele seguiu o passeio, mudo por 20 minutos. Voltamos à Natal já quase no final do dia.

Paramos pra beber uma cerveja num buteco chamado Azulão, onde a Velha Guarda potiguar se reúne. Isso porque o Márcio não aceitou um gole durante o passeio, cravando uma frase pra história quando lhe ofereci a primeira:

- Quero, não, Edu. Eu nunca ligo o motor pra esquentar o carro, só pra viagem longa.

Fomos pra casa e de lá pro trailler do suíço. Jantamos eu, Dani, Glória, Delson, Tico, Pititinga, Adoni e Antônio, seu filho de 3 meses.

Pititinga é Isabele, ex-namorada de Fefê, a quem amei rever.

Voltamos pra casa e o dia seguinte, dia da partida, foi de compras pra Dani, que acompanhanda da Glória, gastou uma fortuna em coisas f-u-n-d-a-m-e-n-t-a-i-s na vida de uma pessoa: uma colcha, um vaso de enfeite pra casa, uns rendados, uns bordados, uma bolsa, coisinha pra mais de 500 reais.

Fiquei em casa na soberba varanda do apartamento bebendo com Delson e Tico, que não bebe (por enquanto... assim como fui o mentor do primeiro porre do Pepê, seu irmão, o serei com ele quando vier ao Rio).

Chegaram Andréa e Lupa, a quem não via há mais de dez anos. Chegaram com Tiago, 1 ano e meio, o segundo neto da Glória, em idade ainda incapaz de perceber a glória que é a avó.

Uma puta viagem, em todos os sentidos possíveis e imaginários. Perdoem o longo relato, proporcional às emoções da visita.

Até.

3.10.04

30 ANOS DA BETINHA

Doces figuras, a Betinha, musa do bom Szegeri, completa 30 anos hoje, festejados ontem, em um furdunço com 10h de duração, na Rua Alice, em Laranjeiras, em uma sensacional casa alugada apenas para o evento.

A Betinha é uma unanimidade. Não fosse, e eu não lhe teria feito a dedicatória no livro que lhe demos eu e Dani, parafraseando Aldir Blanc, "mostre-me um que não seja torcedor do Clube de Regatas Betinha e eu apontarei, convicto: ali vai um filho-da-puta".

Quase 200 pessoas passaram por lá. Seresteiros de Conservatória e a StefiBand animaram a festa.

Quer dizer, quase 200 pessoas e um quadrúpede, que acreditando no sucesso da investida, dizia pras mulheres que era um "heterossexual tarado", logo depois de lançar elogios às mesmas. Uma mistura de falta de educação, falta de classe, excesso de grossura. Típico de um homem que é nada e pensa que é capaz de tudo.

Foram derrubadas 19 grades de cerveja, 3 garrafas de Black Label, uma de Ginjinha, pernil com limão, azeitona calabresa, salaminho, amendoim, pães variados.

Betinha, cuidadosa com a supreprodução, contratou uma carrocinha da Geneal, a exemplo da Fumaça contratou a equipe de garçons do Vilarino, e montou uma mesa pros erês, onde borbotavam balas Juquinha, Tofel, Soft, jujubas, pirulitos e afins.

Onze engradados foram reservados pro enterro dos ossos hoje à tarde, onde não compareci por razões óbvias.

Depois de me esbaldar na festa, depois de servir uísque e cerveja pro Edu, meu xará de pouco mais de um ano, filho da Tatá e do Fernando, que assistiam a tudo assustados mas sem poder de reação diante da sede do moleque, depois de assistir o Zé Colméia levar pro carro um pedaço de provolone do tamanho de um paralelepípedo, depois de testemunhar o retorno de Dalton e Alê (o vigésimo num espaço de 2 anos), depois de ver mais uma atuação de Exu Meliante, parti pra quadra da Vila Isabel com a Dani na companhia do Márcio Branco e uma amiga, cujo nome não me lembro por razões óbvias.

Destaque da noite na quadra da Vila Isabel, historinha real: Mestre Mug chegou recentemente de uma viagem à Noruega, para onde foi com a bateria da azul-e-branco. Trouxe algumas amostras grátis de uns tubos de pasta de caviar. Sua mulher desfez as malas. Dias depois, durante o jantar, a mulher diz docemente... "Puxa, Amadeu, a pasta de dente que tu trouxe da Noruega é uma bela duma bosta!".

Até.