10.2.05

CARNAVAL: O QUE VI, O QUE NÃO VI

Doces figuras, e eis que mais um Carnaval termina, e com ele a maratona de mais de 100 horas de um ritmo alucinante que inclui viagens de metrô, táxis pela madrugada, cerveja e uísque em quantidades apoteóticas, fotos como nunca antes graças à câmera digital sempre no bolso, muito samba, muito encontros, alguns poucos desencontros e aqui vai, a título de memória e registro, uma compilação do que vi e do que não vi, mas que me contaram e é verdade eis que as fontes são mais que fideidignas. Pela ordem (as fotos podem ser vistas aqui):

01) uma gratíssima surpresa o desfile das Escolas de Samba Mirins, no Sambódromo. Fomos, eu e Dani, para ver Yayá, a Princesa da Bateria do Segura Pra Não Cair, que desfilou na Herdeiros da Vila. De lambuja, pegamos a Mangueira do Amanhã na avenida, e as duas estavam muito bonitas e foi extremamente comovente ver milhares de crianças desfilando. O programa é de graça e, ainda que fosse pago, teria valido a pena. Ano que vem tem mais com certeza.

02) impressionante, mais uma vez, o desfile do Cordão da Bola Preta. Mais de 50 mil pessoas em paz no Centro da cidade, sob escaldante sol, engrossando o Cordão. Não vi, mas o destaque absoluto foi Fernando Szegeri, um pouco acima do peso e bem peludo, com cílios postiços dourados, um rabo estonteante de sereia, seios protuberantes e uma peruca ruiva. O Bola é imperdível e eu pretendo daqui a muitos anos, já bem velhinho, sair cantando "no Bola Preta eu vou de muleta, e sinto a caceta rejuvenescer".

03) decidi dar uma dormidinha em casa com a Dani antes do Barbas. O peso dos 35 anos me fez dormir até quase dez da noite, razão pela qual depois de muitos anos não segui o tradicional bloco de Botafogo. Pequena nota: Carnaval sem marido sumido por dias a fio, sem troca de tapas entre casais de namorados ou mesmo de casais bem casadíssimos não é a mesma coisa, como bem disse o Veríssimo hoje em O Globo. Eu não vi, mas um casal novíssimo de namorados saiu no tapa de forma comovente e poética na concentração do Barbas. Copos de cerveja arremessados, puxões de cabelo, unhadas, tapas, xingamentos, uma glória que serviu pra abrilhantar ainda mais o desfile do bloco do Nelsinho Rodrigues, cujo pai teria adorado ver a cena.

04) domingo às 8 da manhã já estávamos no Centro, eu e Dani, pro desfile do Cordão do Boitatá, que tenta, tenta, tenta, mas não consegue se esconder do povo, que acaba sempre descobrindo horário e local da partida. Foi muito bom, ainda melhor que em 2004. O Boitatá rumou pro Largo de São Francisco e depois de algumas horas ali parado, seguiu pela Rua da Carioca em direção à Praça Tiradentes, onde terminou o desfile em frente ao Real Gabinete Português de Leitura de maneira absolutamente providencial. O calor foi aliviado por um banho que levou horas, dado por uma mangueira do Corpo de Bombeiros concetada a um hidrante.

05) do Boitatá, partimos eu, Dani, Szegeri e Estefânia pro Rio-Brasília, de táxi. Como ambos são paulistas, o motorista deu um show de carioquice diante deles. Já que reclamávamos muito do trânsito tumultuado, das ruas fechadas, o malandro deu um tapa no taxímetro e zerou o relógio quando o mesmo já marcava R$10,00. A corrida no final das contas deu R$9,00 e o Szegeri, comovido, pagou R$19,00. Frase lapidar do motorista enquanto discutíamos a confusão do trânsito: "Olhem bem... eu posso até não enxergar, mas ouço muito bem". Que beleza de confissão de um motorista de praça.

06) à noite, rumamos eu, Dani, Maria Paula, Guerreira, Dalton e Fumaça pro desfile da G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel. Concentração animadíssima, como era de se prever. No metrô, na ida, Zé Colméia salta na estação Afonso Pena com Vinagre, Rodriguinho e Nicole. Sem qualquer explicação lógica, abaixou a bermuda e dançou nu, com a bunda em nossa direção, cantando "quem não chora não mama, segura, meu bem, a chupeta...". Na Presidente Vargas, encontramos com a rapaziada da bateria da Vila, Mestre Mug, Mariozinho, Cassiano, Luiz Paulo, Menguinho, Dinha, Marcão, Cabeludo, Roberto, Macaco Branco, Mauro, Buba e eu voltei pra casa depois de deixar Dani no alto de um dos carros alegóricos da azul e branco, não sem antes encontrar com Duda, Deyse e Dedeco que estava lindíssimo vestido de mergulhador, uma máscara respiradora encravada na testa. Assisti ao desfile em casa, sozinho, chorando feito um corno abandonado pela mulher no carnaval, bebendo minha cerveja, fumando meu cigarro, comovidíssimo, ainda mais que Dani aparaceu muito na TV, brilhando lá de cima como brilha em mim. Dani chegou às 8h. Dormimos apenas 4 horas e prosseguimos a maratona.

07) concentração pro Bloco de Segunda em Botafogo na casa da Guerreira, tradição pelo terceiro ano seguido. Eu, Dani, Guerreira, Kaká, Fefê, Brinco, Betinha, Flavinho (um folião animadíssimo de dar inveja ao Papa pela disposição), Maria Paula, Omar, Ruivinha, Giulia, mais uma pá de gente. Dani de doméstica. Guerreira de Mônica, do Maurício de Souza, com direito ao coelho azul, Sansão, usado para dar porrada aleatoriamente em todo mundo que passava por perto. Salvei a Guerreira algumas muitas vezes do linchamento. Contrariando previsões pessimistas, o bloco estava muito bom. Eu e Fefê derrubamos uma garrafa de Red Label, ligamos pro Comandante algumas vezes mantendo outra tradição de há séculos, ligamos pro Isaac que ouvia mudo às nossas sandices, falamos com Mariazinha, coitada, e marcamos com papai um passeio para Paquetá para o dia seguinte, para onde, obviamente, não fomos simplesmente por que não lembrávamos de nada. Lembro-me vagamente do Dedeco passando pelo prédio já muito tarde, gritando coisas da rua em direção à varanda, de onde eu e Fefê arremessávamos cubos de gelo em sua direção. Da Guerreira saímos às 5h da manhã, pra casa.

08) terça-feira ao meio-dia Szegeri e Estefânia passaram aqui em casa para se despedirem. Bebemos duas cervejas no Buteco, comemos uma lingüicinha com carne assada na cerveja e partimos às 15h, eu, Dani e Dalton, pro Mercadinho São José, em Laranjeiras, onde encontramos Fefê, Brinco, Fumaça e Guerreira, cujo objetivo era desfilar no Bloco da Ansiedade cujo nome é justíssimo. Passamos duas horas ansiando por alguma coisa de bom, e nada. A pé, descobrimos a Adega do Juca, na Rua Gago Coutinho. Belíssima aquisição. Partimos de metrô às 19h pra Av. 28 de Setembro, eu, Dani, Guerreira e Fumaça, para bebermos na barraca do Buba, em frente ao Petisco da Vila. Vimos o Sorri Pra Mim passar, com a bateria nervosa da Vila Isabel. Às 22h, pra casa. Chegaram Fefê, Brinco e Guerreira e nos arrumamos pro desfile da G.R.E.S. Lins Imperial, grupo B, cujo enredo foi "O Bêbado e a Equilibrista", com João Bosco e Aldir Blanc na área. Belo desfile, brincadeira comendo solta na avenida, onde encontramos Manguaça, Lelê Peitos, Serjão, Gilda, Mariana Blanc (que fazia aniversário), Chico Bosco, Rafa, Julia, Rodrigo, Edu Gordo, Moacyr Luz, Tatiana, Patrícia, Zé Reinaldo, Eloá, Mello Menezes, Ângela Bosco, Mari Blanc, Lula, muita gente conhecida, o que tornou a festa ainda melhor. Ponto alto: Brinco foi ao banheiro e em plena concentração pediu ao Fefê que tomasse conta de sua fantasia. O mesmo que nada. Quando ela voltou, haviam roubado seu chapéu. Avisada de que sem chapéu não desfilaria, Brinco já ameaçava chorar quando, mais de meia-hora depois, Fefê gritou já de dentro do curral da concentração apontando pro lado de fora... "O ladrão do chapéu!". Um malandro beijava uma menina com aquele mapa verde e rosa do Brasil enterrado na cabeça. Um moleque que catava latas de cerveja, a pedidos, foi lá, arrancou o chapéu do cara e nos arremessou o mesmo por cima do alambrado. O sujeito nem se mexeu. Prosseguiu no beijo, o que o absolveu.

09) da Sapucaí pro Nova Capela, eu, Dani, Guerreira e Fumaça, que nos encontrou lá. Em outra mesa, ao lado, Mariana Blanc, Tatiana, Mello Menezes, Vera Mello, Aldir, Mari Blanc, e ficamos até o Capela fechar, às 6h da manhã, depois de comermos um prato que não consta do cardápio, sugestão do glorioso Cícero, o maior garçom da cidade. Polvo com alho frito, batata sautè e arroz de brócolis. Chegamos em casa quase às 7h, com o dobro de fantasias, e não lembramos como todas vieram parar aqui.

10) quarta-feira de Cinzas com feijoada na casa da Sônia. Eu, Dani, Dalton e Alessandra (que voltam todos os anos, como o Carnaval), Lelê Peitos, três amigos uruguaios, Manguaça, Manguaço, Marcelo, Betinha, Flavinho (mais animado que o Joãozinho Trinta no Samaritano), e lá assistimos à apuração das Escolas de Samba com os xingamentos de praxe. De lá fomos pro Estephanio´s, comemorar com Buba as quatro notas 10 da bateria comandada pelo Mestre Mug, que trazia na camisa, no dia do desfile, a merecida inscrição "Maestro Mug". Chegamos em casa por volta da meia-noite e eu dormi no elevador, sendo levado arrastado pela Dani pra cama.

Como se vê, uma maratona e tanto.

Dani fugiu hoje com Guerreira pra Secretário, na serra, em busca de descanso.

Eu fiquei por aqui. Já com saudades dela, mas sábado ela volta e desfilaremos, de novo, nas Campeãs. Particularmente, se me entendem.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande crônica! Só não me abalam as saudades pois, como diz minha madrinha, a quarta-feira é só o primeiro ato trágico do próximo carnaval. A maratona este ano foi menos intensa e mesmo assim (ou precisamente por causa disso) foi o carnaval mais feliz dos últimos anos, se me entendem.