10.5.05

GUERREIRA, UMA PEQUENA HOMENAGEM


Já que estou, desde 6 de maio, sexta-feira passada, dando galopes em direção ao Passado, provocado a princípio pelas saudades da minha Bia, pelo aniversário do Fefê e, hoje, graças a um email novamente enviado por mamãe, que mais uma vez torno público, e já que se aproxima o aniversário de uma pessoa muitíssimo querida, que se não me provoca arremessos tão truculentos até mesmo porque temos poucos anos de convívio, me traz pra muito perto quadros que assisti e que permanecem em mim, hoje o Buteco ergue os copos à Guerreira.

Primeiro, o email de mamãe:

Edu querido, chorei!!! Que lindo o que escreveu! Essas coisas de bemquerença fazem bem pra gente!! Ter irmão devia ser isso! Encontrar um cúmplice capaz de nem fazer perguntas para ter respostas. Beijos mis.

Que beleza! Mamãe, filha única, incapaz, por isso, de viver a graça do convívio com um irmão, tem, deve ser tão bom quanto, a sorte de uma outra graça que é a de ter gerado dois siameses. E que moderna, minha mãe, mandando beijos mis!, que moderna! Ontem mesmo falei sobre sua elegância, seu grã-finismo, seus modos cada vez mais chiques.

E falar em elegância é lembrar da Guerreira, que ilustra o Buteco hoje. Vejam que capa de Elle! Vejam que elegância! Guerreira, que faz anos no domingo, quando o Buteco não abre, recebe meu carinho por aqui no dia de hoje. Segundo papai, homem de opiniões insuspeitas, a mulher mais elegante e chique depois de mamãe (que também, se ele disser o contrário, coitado...). Segundo os que têm o privilégio do convívio estreito, de um carinho e uma atenção comoventes. Tem a casa mais cheirosa, mais arrumada, os caprichos mais evidentes, tornando sua companhia um prazer quase-indizível. Mas se estava eu a falar dos arremessos, tenho de lhes contar para onde vou nesse momento.

Estou na Farme de Amoedo, com a Dani, bebendo num buteco em frente ao Cardiotrauma, onde esperávamos a Guerreira, que acompanhava a mãe, que estava internada. E a Guerreira surgiu da porta do hospital e atravessou a rua ao nosso encontro naquele passo-a-passo que só as elegantes têm. E sentou-se conosco. E não disse palavra.

Mas seus olhos tinham, eu vi!, eu vi!, e ali eu fui um capaz de lhe compreender a alma, as saudades do pai e o pânico de perder a mãe - que está vivíssima, alvíssaras! - e seus olhos tinham as cores do medo com as tonalidades da esperança, e ficamos, eu e Dani, a lhe acarinhar as mãos geladas que vez por outra iam enxugar as lágrimas, e sem dizer palavra.

Nasceu ali, é preciso que eu confesse isso a ela agora, ou melhor, sedimentou-se ali a minha mais profunda admiração. O sujeito que não tem uma quase-devoção pelos pais - e isso provavelmente é fruto da minha devoção confessa por Isaac e Mariazinha - é um desalmado. E foi um brevíssimo encontro, mas um encontro capaz de tornar a Guerreira uma de minhas preferidas.

Já contei que a Guerreira dirige com a suavidade do leite condensado a escorrer pela colher de sopa, já relatei sobre seus inexplicáveis galopes pelos bares, quando bebe, mas é um galope de puro-sangue, mas não havia contado, ainda, sobre esse episódio, gravado em mim a ferro, fogo, dor e solidariedade.

Por uma dessas ironias, não estarei aqui no dia de seu aniversário. Mas ela sabe - o Otto, por exemplo, é um que sabe dessa mágica que domino - que estarei com ela. Como a festa é à fantasia, estarei ali, como um fantasma, sem ser visto, a lhe dizer do meu carinho e da minha gratidão.

Dirão vocês: gratidão por que?

Ora, pra bom entendedor, meia palavra basta. Aprendi com mamãe a semear as gratidões, e as cenas que vivemos, os momentos que vivemos, os lances que testemunhamos, quando bons, ficam em nós pra sempre e por todo o sempre. Naquele dia, ali, na Farme, sem dizer palavra alguma, Guerreira escreveu uma página dourada no meu livro.

Saúde, minha Guerreira. E meu amor.

Até.

Posted by Hello

5 comentários:

Anônimo disse...

Edu Quelido,
Que lindo! Você mais uma vez com o seu belíssimo "dom da caneta" me fez chorar. Obrigada pelo texto, adorei! É tudo verdade e vc sabe que a recíproca é verdadeira. Beijocas, Lú Guerreira.

Anônimo disse...

Pô Edu: há um tempão não comento nenhum post seu, mas de uns dias para cá você tem estado capaz de emocionar até pedra! Muito bonito! É isso aí!

Szegeri disse...

Porra, Romualdo, falou e disse, aê...

Eduardo Goldenberg disse...

Vejam, que beleza! Quem é vivo sempre aparece! Roberto Romualdo, freqüentemente palpitando no antigo Buteco, dando as caras na área! Seja bem chegado. Gostaste da Guerreira, camarada? Foi isso?

Anônimo disse...

Gostar da Guerreira não é privilégio dele... Texto lindo, quase tão lindo quanto a homenageada. Mais que merecido! Beijo, Lu!