30.6.05

A VIAGEM - CAPÍTULO IV (ou declaração pública de amor)


A foto foi tirada domingo à noite, num hotel em SP, onde hospedou-nos a KLM, já que perdemos a conexão pro RJ depois de confusões no desembarque. Comove-me, sobremaneira, vê-la novamente, eis que o abraço que me dá a Dani, a mulher que me ensinou a sorrir, a Sorriso Maracanã, alcunha perfeita dada pelo meu irmão Szegeri, foi o abraço que durou todo o tempo da viagem, desde o Galeão até o Santos Dumont, onde pousamos na segunda-feira pela manhã.

E qual o sentido de uma declaração pública de amor, se posso fazê-la, a cada dia, dentro de casa, só pra ela? Talvez o mesmo sentido que move alucinados a espalharem outdoors pela cidade. Vazar o que nos vai por dentro.

A Dani foi, como direi?, um troço indizível comigo as 24h do dia (e ela o é mesmo aqui, mas lá fora isso teve outras cores). Reconhecendo meus medos, eis que sou um fóbico incorrigível, fez as malas (e eu não palpitei sequer sobre uma única cueca), tratou de cada chek-in nos aeroportos, deu-me a mão mais segura durante as decolagens, abriu-me o mais solar dos sorrisos a cada segundo, ninou-me à noite, acarinhou-me a cada manhã, e na única vez em que nos separamos durante a viagem, fui um desesperado, e vou lhes contar os detalhes.

Pausa para dizer que, findo o episódio, o Zé Colméia, aquele urso imenso, bruto por fora mas um bebê por dentro, disse-me com as mãos nos meus ombros, os olhos marejados e lançando perdigotos em meu rosto ainda molhado, "Edu, eu não sou crente, mas hoje rezei pra você morrer antes dela... você não resistiria...".

Estávamos em Florença. Eu, Fefê, Zé Colméia e Mauro pretendíamos ir ao Museu da Ciência, onde estudos de Leonardo Da Vinci alucinam os visitantes. Dani, a fim de passear, disse que iria rodar a cidade e marcou conosco às 19h30min em frente à estátua de Davi (e eram 17h). Partimos, nós pro museu, ela pra um mirante. Em menos de 10min nos deparamos com o museu fechado, e eu, já em pânico por sua ausência, propus uma caminhada até o mirante. Guerreira e Fumaça não estavam conosco por que, obviamente, foram comer em algum lugar. Como comeram as duas. Como comeram! (ponham muitas exclamações, o troço foi devastador). Só de sorvete a Fumaça embolsou, segundo as contas de um incrédulo Zé Colméia, umas 200 bolas.

Pois bem. Chegamos ao mirante e nada da Dani (soube depois que minha garota estava numa igreja, a poucos metros dali, assistindo a uma missa). Fui um deprimido, consolado pelo Mauro, "Edu, relaxa, ela tem mais horas de viagem que todos nós juntos", pelo Fefê, "que besteira, Edu... ela deve ter parado em algum lugar pra comprar alguma coisa", pelo Zé Colméia, e depois pela Guerreira e pela Fumaça que nos encontraram lá mesmo, cada uma com um saquinho de churros nas mãos.

Zanzei por todo o mirante e nada. Descemos. Às 18h30min eu estava estacado diante do Davi. Todos foram caminhar um pouco mais, e de nada valeram os apelos de "vamos, Edu!, ainda falta uma hora!". Fiquei ali, olhos cravados nos relógios dos passantes.

Às 19h30min chega o Mauro. "E aí?". Não respondi porque já guinchava e esguichava lágrimas como se fosse um Tritão. Mauro, solidário, disse que daria uma voltinha a fim de encontrá-la. Volta 5min depois, uma eternidada para mim (ainda ouvi uma brasileira dizendo para o marido, "veja que lindo aquele rapaz emocionado diante da obra de Michelangelo..."), sem a Dani.

Às 19h40min, vejo Dani apontando no extremo oposto da Piazza Signorina. A descrição é da Guerreira que a tudo assistia de dentro de uma sorveteria com a Fumaça, ambas com cones de 8 bolas de sorvete cada uma: parti, como um alucinado, mochila nas costas, quicando em meio a multidão, e abracei Dani como se não a visse há anos, e chorei de fazê-la chorar de pena. Ali, naquela hora, cravou-se em mim a certeza da dependência.

Os modernosos dirão que isso é maléfico.

Mas como já confessei, parafraseando o Aldir, que sem ela não sei nem fazer cocô, aquilo foi de uma beleza renascentista.

Até.

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29.6.05

A VIAGEM - CAPÍTULO III


A foto, genial, (eu sou um modesto) é da sombra da escultura de Davi, de Michelangelo, em Florença, bem diante do castelo de onde Hannibal Lecter atira seu perseguidor de uma sacada, com o intestino aberto (lembram disso?) na segunda parte do filme "O Silêncio dos Inocentes". Essa informação, sonegada por guias especializados do mundo inteiro, nos foi passada pelo Mauro, uma sumidade na Itália, contarei depois o por quê, o que gerou frisson entre os milhares de turistas que transitavam pela Piazza Signorina, onde paguei o maior mico da viagem, quando chorei pela primeira vez. Contarei isso depois também, já que, antes, preciso dos detalhes que já solicitei por email ao Mauro, que ainda está na Itália aguardando sua viagem para os EUA onde brilhará, seguramente, em mais um congresso internacional. Razão pela qual, hoje, contarei, digamos, alguns momentos brilhantes da trupe brasileira em terra estrangeira, sem preocupar-me com detalhes da viagem em si.

A Fumaça, vamos à Fumaça. Eu voltei certo de uma coisa: se submetida ao mais simples e rasteiro exame psicotécnico, Fumaça não arruma o emprego mais tedioso e mecânico. Eis alguns lances da Fumacinha.

Estávamos em Roma, no Vaticano, dentro da Basílica de São Pedro. Dani, com um guia em português nas mãos, lia os detalhes para nós: "Michelangelo começou a pintar a cúpula da Basílica, que ficou pronta graças ao empenho de seus alunos, já que o mestre morreu antes mesmo de terminar o trabalho...", e foi interrompida por guinchos úmidos de lágrimas da Fumaça. A turba estanca e a Fumaça, de joelhos, olhando pro chão e dando soquinhos no piso de mármore grita... "Foi aqui que ele caiu... lá de cima?????". Os seguranças da Basílica foram obrigados a nos pedir silêncio.

Dentro de um bar, em Florença, paramos todos para bebermos alguma coisa. A Fumaça, que não sabe nem espirrar em italiano, vira-se pra moça do balcão: "Donna... nosotros queremos três (e mostra os dedinhos) birras beeeeeeeem geladas e duas águas (mostra os dedinhos de novo) sin gás alguno...". A moça, lindíssima, vira o rostinho de lado como quem diz que não entende nada e a Fumaça... "Porra, filha, tô parlando devagar... tu não tá me capiscando?". E dali em diante a Fumaça e o verbo "capiscar" foram uma coisa só.

Fechando sua atuação com chave de ouro, a Fumaça mostrou-se uma embevecida diante da Guarda Suíça no Vaticano. Aqueles homens imóveis diante dos portões, com aquelas roupinhas catitas nas cores laranja e azul, encantaram a Fumaça. E decidiu, nossa doce Fu, testar a concentração dos caras. Zé Colméia, atônito, foi quem viu, de longe, a cena: a Fumaça quicava, fazia caretas, cutucava o abdomen do sujeito com o indicador espetado, tentando, segundo seu próprio depoimento depois, relaxar o dia do "guardinha com roupa de palhaço".

À Guerreira. A Guerreira fala mas não fala italiano. Foi ensinar Fefê e Zé Colméia a pedirem cerveja gelada nos bares. Num equívoco compreensível, passou-lhes a frase que, traduzida, dizia "cerveja congelada". E Fê e Zé entraram no primeiro bar e mandaram a frase num italiano renascentista. O sujeito, uma caricatura, urrava uns "ma quê!" e uns "porca miséria!" de fazer tremer a Ponte Vecchia com um rolo de pastel na mão, botando os dois pra correr diante do que lhe pareceu sacanagem.

E o Zé Colméia? Bem, o Zé merece um capítulo quase que à parte. Fino como um lord, o Zé aceita o convite do Mauro para um expresso num Café quase em frente ao Coliseu. A placa anunciava "o melhor café do mundo". Zé entra. Pede o café. Bebe. Cospe. O atendente atônito. E o Zé: "Qualé, meu chapone? Esse café tá uma merdone. Sou mais o do Palheta da Piazza Saens Pena!".

Tão logo eu consiga com o Mauro os nomes que preciso para lhes contar sobre a Itália, mando bala. A partir de amanhã, voltamos, digamos, à rotina, já que o que soube, por email, mesmo viajando, é assustador.

Até.

Posted by Hello

28.6.05

A VIAGEM - CAPÍTULO II


Na foto, Evelin, nossa doce anfitriã em Amsterdam, eu e Dani, no Dampkring, coffeeshop que ganhou fama graças ao filme "Ocean´s 12", o preferido da Evelin, e que recebeu nossa visita uma bela penca de vezes. Amsterdam é belíssima e eu bebi, por aquelas plagas, cerveja suficiente pra encher os diques da cidade. Éramos, nos primeiros dois dias, apenas cinco: Evelin, eu, Dani, Fefê e Zé Colméia, e juntaram-se a nós, depois, Cristiano e Guerreira. O Cris, vindo da França, a Guerreira, chegando de Londres (e vejam vocês que alegria a nossa, tijucanos diplomados, sapateando sobre o mapa da Europa). E que não seja breve a menção à doçura da Evelin. Morando há 9 anos em Amsterdam, Evelin, brasileira com nacionalidade egípcia (por causa dos pais) e holandesa, foi uma anfitriã de comover-nos. Daqui, meu beijo e meu carinho.

Vamos num sopetão só, ao roteiro, sem ordem cronológica: conhecemos inúmeros coffeeshops, a casa de Anne Frank, o Museu Van Gogh, bares seculares, parques gigantescos onde cuecas, calcinhas e sutiãs formavam a paisagem, a praça onde iniciou-se o movimento hippie, o Palácio da Rainha, delicatessens de deixar qualquer um tonto com a quantidade de queijos, frios e embutidos, cervejas do mundo inteiro (uma garrafinha da nossa Brahma, no supermercado, custava 2 euros), o bairro da luz vermelha, onde moças se expõem em vitrines feéricas dia e noite, fizemos um piquenique financiado pelo Cristiano sob um sol de Rio de Janeiro, assistimos Brasil x México num pé-sujo holandês, andamos de trem pra cima e pra baixo quando as distâncias eram gigantescas.

Detalhe épico: Fefê e Zé Colméia partiram, determinada noite, pra um passeio na cidade em busca de cerveja e diversão. Chegaram em casa apenas às 6h da manhã. Eis a razão: bêbados, lembravam-se apenas do final do nome da rua da casa da Evelin... "não sei o quê... straat", um dizia pro outro. Ocorre, amigos, que straat é rua em holandês... e depois de andarem coisa de 10km a pé, passando por MarcoPoloStraat, ElizabethVonStraat, VascodaGamaStraat, BartholomeuStraat e mais de 500 straats, reconheceram a casa. Uma coisa, os dois.

Falei no parque e preciso lhes contar sobre o pífio desafio que eu, Fefê e Zé Colméia propusemos a 3 holandeses que batiam bola. Pedimos a ajuda da Evelin que, num holandês límpido, expôs nossa idéia: uma partida de gol pequeno, 3 pra cada lado, e os holandeses babaram... Brasil e Holanda! Os 3 eram sarados, jovens, corpos talhados e nós, 3 brasileiros acima dos 30 anos, barrigudos e cheios de marra. Evelin fazia o papel de tradutora do lado de fora e traduzia pra nós as falas dos caras: "Não precisa marcar esse balofo", "Dribla entre as pernas desse gordo sebento", "Sacaneia, sacaneia", e por aí foi. Perdemos de 3 a 2, pouco diante do massacre que nos foi imposto. Durante a partida, torci o pé num buraco gigantesco escondido por um tufo de grama e quase voltei pro Brasil diante do inchaço e da dor que me impediam de andar no final do dia.

Em prantos, já em casa, fui ao banheiro engantinhando, mijei no próprio tornozelo, pedi ajuda aos caboclos de papai, ao meu médico curitibano morto há mais de 100 anos, à minha bisavó e com o auxílio do antibiótico da Guerreira, eu estava inteiro na manhã seguinte (o antibiótico foi o menos importante, longe de casa sou um crente quase-fanático).

Partimos 4 dias depois rumo a Milão, de avião, e lhes conto sobre a Itália a partir de amanhã.

Até.

Posted by Hello

27.6.05

A VIAGEM - CAPÍTULO I


Na foto, tirada na Praça São Pedro, no Vaticano, da esquerda pra direita, Fumaça, Dani, Zé Colméia, Mauro, Fefê, eu e Guerreira. Todos vestidos de Estephanio´s, levando a esquina de Vila Isabel, terra de Noel, pro Vaticano, terra do seu Benedito, o Papa, que não quis nos receber mesmo diante dos apelos do Zé Colméia.

Antes de lhes contar sobre a viagem, preciso dizer, principalmente para os que dividiram comigo a angústia que me assaltou às vésperas do embarque, que do Rio a São Paulo, de São Paulo a Amsterdam, depois de Amsterdam a Milão, depois de Roma a Amsterdam, de Amsterdam a São Paulo e de São Paulo ao Rio, fui um irreconhecível viajante de quatro costados. Dormi durante todos os vôos, sendo acordado pela Dani apenas para comer. Não tive sequer vontade de fumar. Nada de medo. E voltei um empolgado já planejando com a Dani a próxima viagem. Fui o anti-Edu, como se vê.

Não será possível fazer os relatos de Homero, como prometi. Aos que encontrar pessoalmente, conto tudo, e é muito tudo, não foram poucas as emoções nesses 10 dias de viagem, onde passamos por Amsterdam, Milão, Alessandria, Gênova, Pisa, Lucca, Florença e Roma.

Como estou ainda sob os efeitos da viagem de volta, mais-que-cansativa, fico por aqui. Amanhã começo o relato dos destaques do tour. Mas que fique o registro dessa foto, que resume a festa que fizemos na Europa, não deixando pedra sobre pedra por onde passamos, carimbando os dias em verde e amarelo, com trilha sonora de Moacyr Luz e Aldir Blanc, que defendi pelas ruas de Amsterdam o tempo todo:

"Uma ciranda, uma roda, um samba
Serpenteando daqui à Holanda
Cosmopolita todo samba é
Um riso de mulher
Moinhos cheios de café
Van Basten tabelando com Pelé
Um samba pode nascer amanhã
Em Amsterdam
Só precisa um violão e lua cheia

Gingar legal
Querer por querer
Um Nassau de berimbau
O samba sai de tamanco ou chinelo
Pra pintar de um jeitão meio grogue
Em Van Gogh
Um girassol verde e amarelo"

Até.

Posted by Hello

15.6.05

FECHADO TEMPORARIAMENTE (EU ESPERO)


Conforme o prometido, vou deixar hoje aqui, com vocês, os links para os textos MAIS do Buteco. Os mais lidos, os mais comentados, os com maior repercussão, os que mais emails me renderam, os que transformaram anônimos em celebridades. Vou pôr os links abaixo, sem qualquer preocupação com a cronologia, resumindo um a um, e pedindo a vocês, com veemência, que abram os mesmos com o botão direito do mouse (ou rato, como gosta o bom Szegeri) em uma nova janela, a fim de lhes facilitar a leitura e o acompanhamento.

Como já lhes disse, parto hoje, às 20h, com a Dani, o Fefê e o Zé Colméia (façam uma idéia do que será o KLM sobre o oceano) rumo à Amsterdam (onde encontraremos a Evelin, o Cristiano e a Guerreira, façam uma idéia do que será aquela cidade liberal) e depois Itália (onde nos juntaremos ao Mauro e à Fumaça, e façam uma idéia do que será a bota nesses dias). Pelos planos traçados pela Dani, estou de volta no dia 27 de junho, quando pretendo retomar minha rotina no Buteco, prometendo, desde já, relatos de Homero.

Vamos a eles:

A hérnia do Szegeri - no dia de meu aniversário, em 2005, de última hora, meu irmão Szegeri viu-se obrigado a cancelar sua vinda ao Rio de Janeiro em razão de uma grave crise de hérnia. E os festejos viram-se prejudicados por uma preocupação coletiva com seu estado de saúde.

Os piadistas de elevador - a apresentação desse tipo detestável, que existe por aí, à mancheia, com situações reais, todas vivenciadas por mim.

O respeito que o Szegeri impõe - um dia encontrei o Augusto e não o reconheci, tendo sido salvo, naquele momento, pelo Szegeri, que passou-me um pito histórico. E fui eu, a São Paulo, em busca dele, o Augusto, para reparar meu erro capital.

Mais uma peça pregada pela memória - valendo-me do mesmo mote, a falta de memória, outro caso real, que vivi em Volta Redonda, envolvendo a Marcela, prima da Dani, e seu cunhado, que pensei ser seu marido, o que rendeu-me uma situação entre o drama e a comédia.

Um final de semana pra entrar pra história - um relato de Homero sobre um final de semana em São Paulo, eu, Dani e Fefê, recebidos por Szegeri e seu pai, com detalhes absurdos, minimamente dissecados.

Feriado de Páscoa - um belo dia, num belo final de semana, numa bela praia em Niterói, eu e Szegeri resolvemos aceitar bizarro convite do Pierre para uma travessia, a nado, de quilômetros. Poderia não ter escrito a crônica, eis que quase morri.

A mulher que me ensinou a sorrir - poema dedicado à Dani, a mulher que me ensinou a sorrir, escrito durante um sufoco que passamos no início do ano de 2005.

Um casamento memorável - outro relato de Homero sobre uma festa de casamento, eu como fotógrafo, Dani como madrinha, uma Juíza secular dirigindo a cerimônia com um atraso de mais de duas horas, convidados bêbados, Guerreira no auge, e por aí vai.

Cunhados, cunhadas e um caso real - o primeiro capítulo da saga do Batista.

E eu encontrei o Batista - o segundo capítulo da saga do Batista.

Mais sobre o Batista - o terceiro capítulo da saga do Batista.

A aventura do Batista - o quarto capítulo da saga do Batista.

A ressaca do Batista - o quinto capítulo da saga do Batista.

O mais novo drama do Batista - o sexto, e até então o último, capítulo da saga do Batista.

Truques do Dedeco - a apresentação desse personagem, desse embusteiro, desse mentiroso, que é o Dedeco, que encontrou, bem disse o Flavinho, um novo nicho para sua vida sexual.

O beijo do Dedeco - mais um lance sobre o Dedeco, com uma análise de sua transformação e comentários sobre os comentários histéricos feitos pelas loucas que o perseguem.

33 anos de vida - poema que fiz pro Fefê, na passagem de seus 33 anos.

Piadas reais ao vivo - Dani, minha garota, é professora de inglês e isso lhe rende momentos gloriosos que soam como piada. São casos reais, todos com testemunhas.

São esses aí os 18 mais-mais.

Não fecho sem antes agradecer aos solidários que me mandaram mensagens, aos que me telefonaram, aos que compareceram ao Estephanio´s ontem à noite para a minha - mesmo que lhes soe ridículo, é assim mesmo que vejo a coisa - despedida: José Sérgio, Serjão e Gilda, Joanna, vovó, mamãe, papai, Dona Sá, Maria Paula, Gaby, João Vitor, Dedeco, Branco, Cerveira, Patrícia, Dalton, Szegeri, Tatá, Roberta Valente e Brinco.

Até.

PS: preciso confessar-lhes que choro de esguichos nesse momento. Beijo.

Posted by Hello

14.6.05

TUDO CERTO


Para a grande maioria das pessoas uma viagem é sinônimo de festa. O arrumar das malas, o farfalhar dos bilhetes aéreos, a checagem dos guias turísticos, os planos estratégicos em terras estrangeiras, a ida ao aeroporto, tudo é uma festa. É assim com a Dani, por exemplo, que está arrumando as malas há uma semana, beijando os bilhetes aéreos, folheando o "The Rouch Guide", traçando planos com o Fefê, com o Cristiano, com o Mauro, com a Guerreira, com a Fumaça (que viajam todos conosco), combinando com papai a carona pro Galeão.

Eu, numa mudez semelhante à mudez da Dulce, assisto a tudo sem qualquer reação que não um suadouro que não cessa, uma tremedeira que não cede, um pânico que me paralisa. Vai daí que convoquei alguns amigos pro Estephanio´s hoje, chopinho de despedida, o que soa para um turista olímpico como o Vidal, a Lenda, como uma pida (para o Vidal, 12 dias no exterior é algo que se assemelha a um final de semana em São Pedro da Aldeia).

Serão 13 horas a bordo de um KLM. Sem fumar. Num desconforto acintoso (não compreendo não ter havido, há anos, uma revolução dos passageiros que gastam fortunas para uma vaga numa poltrona mais apertada que a dos ônibus municipais). Rumo à Amsterdam. Depois Milão. Depois voltinhas pela Itália, fechando o tour em Roma, de onde partimos de volta (o melhor momento da viagem, já sei disso).

A Betinha, que recebeu-me no domingo em sua casa (dividida com o Flavinho, nosso Xerife), mostrou-me o álbum de sua última viagem pela Europa tentando me animar. E eu guinchava de chorar diante das fotografias que ficaram empapadas por minhas lágrimas torrenciais.

Pausa para lhes contar o que foi o domingo no suntuoso apartamento do Flamengo, para onde mudou-se o bom Flavinho depois de anos de Cachambi: queijo brie, roquefort, gouda, ciabattas, garrafas de Logan, vinhos australianos, cervejas importadas e uma begônia reluzente sobre a mesa, que o Flavinho deu uma begônia pra Betinha pelo Dia dos Namorados (é preciso dizer que quando morava no Cachambi, Flavinho não conhecia nada além de uma samambaia chorona num xaxim em matéria de plantas e flores). Num momento inspirado, diante daquele portentoso lanche, cantei... "No tempo que o Flávio morava lá no Cachambi (no tempo!), no tempo que o Flávio morava lá no Cachambi...", pedindo licença ao Nei Lopes.

Bem, amigos, como diria o Galvão Bueno, parto amanhã às 20h. Deixarei aqui, no Buteco, uma lista com as crônicas mais lidas, mais comentadas, mais elogiadas, mais festejadas pela assistência. Peço as orações da Dona Sá, as mandingas do Dalton, a pajelança do Szegeri, as preces de vovó e de mamãe, as danças caboclas de papai.

Alguns eventos tornam a viagem ainda mais torturante. Não estarei em solo brasileiro na passagem do primeiro aniversário da morte do Brizola, no dia 21 de junho. Nem no aniversário do Dalton, no dia 20 de junho. Nem no aniversário do meu irmão Szegeri e da minha afilhada, sua filha, Iara, ambos no dia 24 de junho. Nem no aniversário do Flavinho, no dia 25 de junho. Meu carinho antecipado a eles. É isso. Tá tudo certo, em termos burocráticos. E tudo errado comigo. Mas vejamos o que vai ser. Na volta, lhes prometo relatos de Homero, como diz meu Otto na íntegra.

Até.

Posted by Hello

13.6.05

O BRANCO ENGOLIU UM VIENATONE!

Vejam vocês. O título da crônica de hoje - já o li e o reli dezenas de vezes - é capaz de me fazer relinchar de rir até perder o ar. Imagino que será assim com vocês. Mas o título não é capaz, obviamente, de lhes dar a dimensão da comédia que foi esse gesto do bom Branco. Vou explicar.

Fomos, eu e Dani, no sábado, novamente ao Clube Renascença. E lá, conosco, o Dedeco e o Branco (mais tarde chegaram Mariana Blanc, Marquinho Presidente e o Basile. Ah, e o Moacyr Luz também, que convenceu-me - e ali eu fui um justo julgador a reconhecer meu erro, corrigido aqui - a retirar a, digamos, acusação que lhe fiz num momento, reconheço, infeliz).

Percebam nossa companhia à mesa: Dedeco e Branco. Uma dupla, como se tem visto, aqui e aqui, de derrubar Maracanãs lotados de mulheres ensandecidas.

Pequena pausa para uma notícia impactante: Dedeco e Branco mobilizam tanto as mulheres, que Guerreira e Fumaça, desde a semana passada passeando pela Europa, já mandaram centenas de mensagens para o celular de ambos, com notas importantíssimas como "Estamos indo para Granada", "Perdemos o trem", "Está um calor danado aqui", e por aí se vê como as duas estão aproveitando a viagem. Gastaram rios de dinheiro para ficarem mandando torpedos, de além mar, para os dois. Um troço.

E eis que, num dos intervalos do samba, Branco me disse: "Edu... tenho ficado impressionado com a repercussão do Buteco... Seus relatos são precisos, sua memória é colossal, mas queria lhe contar uma coisa...".

Peguei de um bloquinho imaginário e preparei-me para tomar as notas. Ajeitei-me na cadeira enquanto o Branco anunciava que iria buscar mais duas garrafas de cerveja. Clima de excitação total. E volta o Branco com aqueles olhos e aquela beleza acachapante. Prossegue ele:

"Sabe, Edu... lembra que você contou, dia desses, sobre as ceguinhas de Laranjeiras?"

E eu, "Claro, claro, continue...!".

"Aquilo me fez lembrar a Dulce."

Silêncio aterrador somente quebrado por uma gargalhada do Dedeco de fazer tremer o Andaraí.

Eu, batendo os pés no chão, "Que Dulce?, que Dulce?".

"Uma surda-muda que eu namorei por cinco meses."

O Dedeco rolava pelo chão de cimento, sujo, do Renascença, latindo de rir. E eu com as mãos cravadas no braço do Branco, "Prossiga, prossiga, Branco!".

"Eu estava andando pela Rua das Laranjeiras, ali pertinho da Escola de Surdos, sabe?, quando parei diante de uma morena de parar o trânsito. Não percebi, juro!, que, tendo ela saído de dentro da Escola, seria uma surda-muda. Sei lá, pensei que seria uma professora... um troço babaca de preconceito, sabe?, nunca imaginei que fosse possível uma surda-muda tão gostosa. E atribuí aquela mudez diante de meu "boa tarde" à minha beleza, como você mesmo diz, acachapante.".

O Dedeco estava chorando no chão, de quatro, e ria, ria, ria e estendia o copo pedindo cerveja.

"Pô... aí, Edu... eu, que tinha bebido uns oito, nove chopes no Serafim, agarrei aquela menina, beijei-lhe o pescoço - sem resistência alguma - e quando lhe beijei no ouvido, forte, lambidão mesmo, sabe?, engoli um troço com gosto de cêra e de pilha, bateria, não reconheci bem...".

Agora, eu, Dani e Dedeco, os três ríamos tanto, dando soquinhos no chão, que a assistência do Clube formava uma roda em volta de nós. E prosseguiu o Branco:

"Era o Vienatone da moça. Mudaça. Surdaça. Mas deliciosa. Daí começamos a namorar... Mas era estranho, sabe? Ela deu-me de presente um Teletrim, e nossas conversas eram basicamente pelo Teletrim... Eu gastava uma fortuna de Teletrim por mês... E a Dulce era de um furor uterino de deixar qualquer homem à beira da fadiga...".

Eu não estava acreditando naquilo, quero dizer isso a vocês. Mas o Branco não mente. Um homem com seu caráter, capaz de gritar "eu sou amigo do Lennon" diante de uma multidão de vaias, não mente. E a Dani, que as mulheres são curiosíssimas, perguntou entre um guincho e outro, "Por que vocês terminaram, Branco?".

"Ah, sabe... como vou explicar... faltava papo, sabe? Não me acostumei a namorar pelo Teletrim, e a fúria e a volúpia da Dulce me puseram em situações absurdas... Um dia estávamos indo pra Niterói, eu e Dulce no banco de trás, Dedeco dirigindo e uma amiga dele na carona, quando a Dulce abaixou minha bermuda e engoliu-me ali mesmo... Pô... eu tava vendo o Dedeco olhando pelo retrovisor, fiz sinal pra Dulce parar e ela, pô... vê se pode?... sem tirar a boca de mim, disse babando... "ôda-se... ôda-se... ôda-se..."... deprimente, Edu... não rolou mais...".

Bem, fica evidente que o Branco e o Dedeco têm histórias pra contar, não?

Até.

10.6.05

A PRAIA NOTURNA DA VILA


Eis o texto, na íntegra, da revista RioShow, d´O Globo de hoje, da coluna Pé-Sujo, do Juarez Becosa, que lotado de um orgulho heróico, reproduzo:

"O crédulo leitor passa pela primeira vez sob a porta do botequim, em Vila Isabel. Depara-se com o imenso busto barbado pairando sobre o salão, tal e qual um São Jorge. Coça a cabeça, pergunta quem é.

— É o deus grego da cerveja — conta alguém. — Ele deu nome ao bar.

O leitor, que nada entende de mitologia, acredita. Afinal, é plausível a versão. Senta-se, toma um chope e admira as nobres feições da divindade. Logo abaixo, um relógio de ponteiro marca as horas: está cedo. Outro chope, então.

Fora a bebida, que de fato estala na boca de nosso ingênuo personagem, nada mais nessa história é o que parece ser. Pois no Estephanio’s, um dos maiores sucessos etílicos-festivos-gastronômicos surgidos na Zona Norte nos últimos anos, é tudo assim: uma grande brincadeira.

O busto divino é na verdade de Aldir Blanc, padrinho e fã do estabelecimento, tocado há cinco anos por dois consultores de informática que abraçaram a causa botequinesca por prazer. O nome mítico não veio do Olimpo, mas do primeiro dono do bar, um empresário da noite que nos anos 80 ajudou Sargentelli a administrar as mulatas que não estavam no mapa. E o relógio, deliberadamente atrasado duas horas, é uma das muitas artimanhas a que os engenhosos sócios recorrem para deixar os fregueses mais tempo na casa. Como se precisasse.

Festivo, noturno e despojado, o Estephanio’s lembra um pub do interior, com direito a programação musical, transmissão de jogos na TV, concursos culturais e uma boa dose de galhofa. Por tudo isso, virou referência, ponto de encontro noturno na Vila, aberto sempre até o último cliente decidir ir embora.

Mas como nenhum bar é feito apenas de programação, o Estephanio’s também guarda na cozinha atrativos capazes de valer uma visita. Fartos caldos (R$ 4, cada um) encabeçam a lista de petiscos. Os croquetes são mesmo de carne-assada (R$ 10, a porção) e a carne-de-sol é um acinte de fartura. A carta de cachaças beira a centena de títulos e o chope escuro é de rara qualidade. Portanto, vá sem medo. E deixe o relógio em casa."

Até.

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LEMBRANÇAS DE VIAGEM - PARTE II


Ontem lhes contei sobre a capacidade que alguns têm de, mesmo viajando, lembrar dos amigos que deixam quando partem, e, mais, de comprar-lhes presentes, lembrancinhas, souvenirs e mais que tais. Foi assim com o Miguel e a Maria Paula, que, em Honduras, ao lado de tubarões, durante o mergulho, não pensaram no preço do dólar, na variação do risco Brasil, na mãe, no pai. Pensaram em mim e me trouxeram presentes que, nunca é demais registrar, serei incapaz de retribuir, já que estou partindo para uma viagem na próxima quarta-feira.

"Que meia é essa?, que meia é essa?", estou ouvindo as indagações de vocês, principalmente a do Marcão, que, se ontem assombrou-se com o tubarão solitário antes do texto escrito (leiam nos comentários de ontem, leiam), hoje deve estar se julgando o mais boçal dos boçais, o mais sorvetão dos idiotas diante dessa meia. Vou explicar (e junto com a explicação segue meu pedido de desculpas antecipadas à mamãe que, tadinha, dirá "Onde foi que eu errei?" quando souber o que eu fiz).

Fomos, como lhes contei aqui, eu e Dani, no sábado passado, pra Volta Redonda a fim de encontrar a Raquel, amiga de infância da mulher que me ensinou a sorrir, há mais de seis anos fora do Brasil, morando em Bosta. Boston, aliás. A mesma coisa.

E a Raquel ainda não me conhecia. Quando partiu, Dani era carente de mim, e eu dela. Mas a Raquel foi de uma doçura comovente quando a recebemos no aeroporto, há umas semanas. Tateou meu rosto como se fosse uma das ceguinhas de Laranjeiras. Beijou-me, abraçou-me, disse-me coisas lindas, e as disse à Dani e a todos que lá estavam. Lembrei que lhes contei rapidamente sobre sua chegada aqui.

Eis que quando chegamos em Volta Redonda para o churrasco oferecido por seu pai, Roberto Parreira, que mora numa mansão no bairro Laranjal, o mais grã-fino e requintado da cidade do aço, Raquel gritou "T-e-n-h-o u-m p-r-e-s-e-n-t-i-n-h-o p-r-a v-o-c-ê-s!", dito assim mesmo, pausada e lentamente, em tom de suspense (ali eu fui um intrigado: o que teria me comprado a doce Raquel, que mal me conhece?).

Entrou pra dentro da casa - o churrasco acontecia, por óbvio, na parte externa - e voltou com dois embrulhinhos na mão. Estendeu o primeiro pra Dani. Um livro lindo, capa dura, vermelha, com a esfinge do Shakespeare, edição de 1927 com sua obra completa. "Ohs" e "ahs" tomaram conta da casa, da rua, do bairro, da cidade. "Tô feito. Belo gosto tem a Raquel", pensei por dentro, já com um Black Label duplo servido pelo Parreira, um anfitrião de dar gosto.

Daí a Raquel virou-se pra mim e disse... "E i-s-s-o é p-r-a v-o-c-ê!", do mesmo jeitinho. Abri o embrulho azul, destruindo o papel, quebrando a primeira regra que mamãe incutiu em mim nesse quesito. E deparei-me com seis pares de meia idênticos à meia da foto, com um "USA" cravado na parte superior, desse jeito mesmo. E agora é que mamãe vai chorar.

Minha primeira reação diante de uma Raquel incrédula: "Raquel, tu acha que eu vou usar essa merda?".

Dani de cabeça baixa, ao meu lado, fez que não pros próprios pés, antevendo o que viria pela frente.

"Porra, Raquel... Eu sou comunista, brizolista, socialista, cubano, chavista, afegão, iraquiano, sou contra essa bosta desse símbolo, eu nunca! (gritando muito alto), nunca! vou pôr meus pés dentro dessas meias de merda!". Levantei-me e depois de cantar a Internacional (em português e em russo) gritei pro Comandante, "Comando, tá precisando de meia?", e ele rindo, "Tô", e o Parreira de voleio, "Eu também tô!", e os dois dividiram, como cubanos, o meu presente.

Para que eu não corra risco semelhante, também por isso, é que não trarei nada pra ninguém da minha viagem, entenderam?

Bem, fiquei de lhes contar, hoje, mais sobre esse novelão que envolve Dedeco, Dirce, Batista e Linda. Como não consegui contato com o ex-gordo e ex-careca do Dedeco, fica pra segunda-feira.

Até.

Posted by Hello

9.6.05

LEMBRANÇAS DE VIAGEM - PARTE I


Vejam vocês se isso é possível (eu proponho isso a vocês, porque pra mim, sinceramente, isso não é possível, mas acontece).

A foto acima foi tirada pela Maria Paula em Roatan, Honduras, onde ela foi mergulhar com o Miguel. E na foto, um tubarão. Eu, um fóbico incorrigível, não consigo ver a menor, a mínima, nenhuma, rigorosamente nenhuma graça nesse troço de mergulho. Mergulho, pra mim, só em Ipanema e quando faz piscininha em dia de mar tranqüilo. E muito menos, mas muito menos graça vejo quando o objetivo do mergulho é encontrar, assim, cara a cara, uns tubarões (sim, pois se na foto há apenas um tubarão, há mais, há muitas outras fotos onde ambos aparecem cercados por um cardume de tubarões).

Mas vejam bem, isso não é o que mais me assombra, e vou explicar. Ontem à noite, assistindo Brasil x Argentina no Estephanio´s, duas coisas me assombraram, e muito. O primeiro assombro: Luís Filipe de Lima, glória 7 cordas, esteve no bar e o vi magro como um faquir bebendo Coca-Cola Light. O segundo assombro, mote de hoje: enquanto Maria Paula e Miguel flanavam a centenas de metros de profundidade, a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro, e cercados por tubarões, pensaram em mim. Vejam isso! Não pensaram no Dedeco, não pensaram no desempenho das filiais da WiseUp, não pensaram na crise do governo, não pensaram no Roberto Jefferson espalhando bosta no ventilador do Planalto Central, não. Pensaram em mim. E me trouxeram, ambos, lembrancinhas da viagem.

Eu, que estou a dias de uma outra viagem, quero declarar, desde já, que tal gentileza, tal demonstração de carinho e de afeto, é improvavél. Não. É impossível! Penso apenas na sobrevivência, segundo após segundo, e na volta, na gloriosa e doce volta que há de me trazer as pernas para o solo brasileiro. Em todo lugar, que não aqui, sou estrangeiro. E um estrangeiro poltrão (eu disse poltrão e vi minha bisavó sorrindo no 17 polegadas que comprei ontem). Comoveu-me sobremaneira receber a garrafinha de rum, presente de Maria Paula, e a camisa, presente do Miguel, mas retribuir a gentileza, na mesma moeda, neca de catibiriba (como estou antigo hoje...).

Falei em viagem e quero lhes contar sobre o Flavinho, nosso Xerife, marido da Betinha. Ontem, tecendo comentários aqui no Buteco, Flavinho fez pouco de meu jantar, sexta-feira passada, pro Szegeri e pra Stefânia. Desdenhou dos pães que comprei numa boulangerie, debochou do petit gâteau, zombou do queijo italiano, riu do funghi. E o que têm a ver viagem e Flavinho? Explico.

O Flavinho viajou, definitivamente, do Cachambi para o Flamengo. Quando morava no Cachambi, e corria diariamente nos calçadões do glorioso bairro, comia pão com manteiga no café da manhã, Bonzo no almoço e Miojo no jantar. O máximo de luxo que se permitia, o bom Flavinho, era uma caneca de Sangue de Boi ou de Chateau Duvalier quando sobrava algum no final do mês. E goiabada com queijo de sobremesa, mas só nos meses fartos.

Mas como eu disse, Flavinho mudou-se para o Flamengo a fim de dividir casa com a Betinha, esta sim, uma elegante desde o berçário. E os dois estavam ontem no Estephanio´s também. E Betinha me fez confissões acachapantes. Flavinho come, hoje, no café da manhã, queijo quente. Mas rejeita, dando tiros pro alto, o bom, velho, saboroso e amarelo queijo prato. Exige queijo gruyére. Café, só italiano moído na hora na máquina de café expresso. Geléia, de todos os sabores, somente a St. Dalfourt. Um troço afetadíssimo.

E eu e a Dani já fomos convidados algumas vezes para uma cervejinha no apê do casal. Brahma? Skol? Original? Nunca. Somente a Erdinger Weissbräu. E naqueles copos de meio metro de altura, de puro cristal. Vejam então vocês. O cara viaja, sobe na vida, experimenta um upgrade olímpico, e fica a desdenhar de um tijucano que faz força pra fazer bonito diante de dois queridos amigos. É a anti-viagem. O sujeito faz que não foi, mas foi. Inapelavelmente foi.

E quero fechar transcrevendo, apenas para que eu lance diante de vocês a ponta do novelo que volto a desfiar amanhã, o email que recebi, ontem à tarde, da Dirce. Vejam:

"----- Original Message -----
From:
dirceribeiro
To:
edugoldenberg
Sent: Wednesday, June 08, 2005 4:57 PM
Subject: dedeco
Edu, obrigada pelo email e pelo telefone do Dedeco. O celular esteve fora de área por toda a manhã, mas ele respondeu meu email. Que coisa doce é o Dedeco, Edu! Que injusto chamá-lo de embusteiro! Ele me mandou umas fotos dele, e o achei foférrimo, charmosinho... ai, tudo de bom! Carinha de safado... Marcamos um chope pro final de semana. Te dou notícias. Beijocas, Dirce."

O Dedeco, meu Deus, onde o Dedeco vai parar?

Até.

Posted by Hello

8.6.05

O MAIS NOVO DRAMA DO BATISTA

Vocês hão de se recordar do que posso chamar de saga do Batista. Começou quando contei um caso verídico. Diante da explosiva repercussão, contei sobre meu encontro com o Batista, depois de anos de uma ausência involuntária de parte a parte. Vai daí que o Batista virou uma obsessão, e contei seu primeiro drama e depois seu segundo drama, fechando a saga com mais uma história, a última até então (e por favor, abram os links em novas janelas a fim de que não seja cansativo o acompanhamento fundamental do caso).

Volto hoje ao meu dileto amigo em razão do email que recebi ontem à noite, transcrito abaixo:

----- Original Message -----
From: Dirce
To:
Eduardo Goldenberg
Sent: Tuesday, Jun 7, 2005 11:49 PM
Subject: DEDECO

Eduardo, lendo seu blog por esses dias, deparei-me com várias histórias sobre um tal de Dedeco, a quem não conheço, infelizmente. Pedi detalhes ao Batista que, infelizmente de novo, negou-se a me fornecer qualquer informação sobre esse portento, que, mesmo sendo um embusteiro como você afirma, me interessa muito.
Beijocas,
Dirce


E eu bati, obviamente, hoje, cedíssimo, o telefone pro Batista. Não eram nem sete da manhã. Disse apenas, "encontre-me em meia-hora no Fenômeno". E um Batista com a voz cansada concordou.

Fenômeno é como chamo a padaria que há na esquina aqui de casa, a Panificação Estudantil (vejam as vantagens da Tijuca, um bairro nostálgico... em Ipanema, na Barra, no Leblon, há boulangeries, coffee shops, delicatessens, padarias, vá lá, mas panificação, só mesmo na Tijuca, por isso sinto-me em casa aqui de uma maneira íntegra).

Cheguei às sete e quinze a já encontrei o Batista escorado no balcão com duas canoas de pão francês abarratodas de uma manteiga que formava poças douradas, brilhantes, sobre o miolo e uma média de café com leite, pingado, que é assim que o Batista chama seu café com leite, outro hábito tijucano, desses de constar dos almanaques do bairro. Deu um grito, o Batista, quando me viu, que fez a assistência à volta interromper o desjejum. Pedi apenas um café ao Assis, um homem que detém recordes de eficiência num balcão de padaria. Parece ser, o Assis, um polvo a atender dezenas de fregueses ao mesmo tempo (vão notando as tijucanices da crônica, só na Tijuca há fregueses numa padaria, em outras plagas há clientes).

Acendi um cigarro e disse, "Batista, veja o que recebi ontem à noite", e lhe estendi o email impresso. O Batista pôs uma metade inteira de uma das canoas na boca, e com a manteiga a lhe escorrer pelo queixo lia o email com olhos esbugalhados, atônitos, e percebi seu ódio quando vi a outra metade da canoa transformar-se numa bola diante da pressão de seu punho com veias saltadas.

"Careca imundo! Porco! Você a respondeu?"

"Mas é óbvio! (e ri) Dará uma crônica e tanto, meu amigo!"

"Edu... já ouvi o ditadinho que diz que vale perder o amigo por uma piada... mas por uma crônica?"

E o Batista dava socos no balcão, rasgou o email em pedaços minúsculos, e eu tentava, em vão, convencê-lo de que, não fosse por meu intermédio, e outra maneira de obter os dados do Dedeco a arisca Dirce conseguiria. Disso eu o convenci. Mas o Batista prosseguiu:

"Por quê, Deus, a Dirce quer saber do Dedeco?"

"Ué... você não leu os comentários nas crônicas em que o Dedeco é o protagonista? Danielle o elogia, Duda o exalta, Maria Paula elogia seus beijos, Guerreira pede bis... Batista, o Dedeco está virando um mito!"

Percebam que o André Menezes, nome com que foi batizado o cramulhão do Dedeco (sim, por que por mais que lhes pareça herege e pagão, o embusteiro já recebeu sobre a testa a água benta que, dizem, ferveu quando lhe tocou a pele), está tomando proporções de um Cauã Reymond. Dizem até que o Branco é quem está, agora, a fingir-se de Dedeco para as ceguinhas de Laranjeiras, onde há o Instituto Nacional de Educação de Cegos (acabei de lembrar que o instituto é para surdos, mas achei sonora e bonita a expressão ceguinhas de Laranjeiras).

No email que mandei como resposta para a Dirce, pedi detalhes de seu contato com o embusteiro. E lhes contarei tudo, timtim por timtim.

Batista despediu-se de mim triste, arrasado, derrotado. Seu casamento está por um fio, confessou-me. E não consegue parar de pensar nas duas meninas, Linda e Dirce.

Vejamos como agirá André Menezes, esse colosso. André Menezes que não estará, eis aí uma dica quente para as excitadas moças não perderem a viagem, assistindo ao jogo Brasil X Argentina de hoje à noite no Estephanio´s. Dedeco, nosso bom Dedeco, está em Arraial do Cabo, mas assistirá o jogo, acabou de contar-me por telefone, em Cabo Frio.

É Dedeco e seu cabo causando estragos no litoral do Rio de Janeiro.

Até.

7.6.05

PÉROLA AOS... MEUS IRMÃOS

Eu ia escrever "pérola aos porcos", mas eu gosto demais do Szegeri e da Stefânia para me referir a eles assim, embora fosse, vocês verão!, completamente cabível o título aos fatos. Vejam bem.

Recebi, na quinta-feira passada, email do meu Otto na íntegra, noticiando sua vinda ao Rio de Janeiro. Como estaríamos, eu e Dani, fora do Rio durante todo o sábado, em Volta Redonda, tratei de convidá-los para o que eu chamei "um jantar de gala" aqui em casa na sexta à noite. Convite feito, convite aceito. Marcamos às 20h30min.

Faríamos um bonito, combinei com a Dani.

Descemos a coleção inteira da "Gula", pesquisamos na internet pratos impactantes, e parti pro Lidador com o cartão de crédito. Menu elaborado, Dani chegou do trabalho às 19h e eu já estava de avental na cozinha, depois de polir a prataria e separar a louça da Companhia das Índias, preparando de um tudo.

Patês importados, pães de todo o gênero, vinhos das melhores safras, a campainha bateu às 20h30min londrinamente. O primeiro baque.

Eu estava bem vestidíssimo e a Dani num longo digno dos salões mais grã-finos. Não conseguimos esconder o susto diante de um Szegeri trôpego, com a camisa com manchas de várias tonalidades (o meu bom Szegeri parecia um dálmata dos piores canis), sandália de dedo, e a Stefânia com os olhos semi-cerrados deixando mais-que-nítido o estado do casal. A casa, perfumadíssima, com velas acesas em todos os cantos, foi assaltada por um bafo semelhante ao que paira sobre o Bola Preta ao meio-dia.

O abraço do Szegeri quebrou, de cara, quatro flutes de cristal austríaco na mesinha à esquerda de quem entra. Dani sorriu, mandou o clássico e falso "isso acontece" e eu já era, naquele instante, um triste arrependido prevendo cenas dantescas no curso da noite que mal começava. Enquanto a Dani, com aquele vestido negro lindíssimo, catava os cacos ajoelhada, Szegeri e Stê gargalhavam, e eu não sabia por quê, largados cada um numa poltrona. Pendurada numa das hélices do ventilador de teto, a camisa bege do Szegeri, "cagada de molho madeira da língua do Bar do Costa, pra ver se seca, ´tamo bebendo lá desde o meio-dia...", confessou-me.

A contra-gosto, servi torradas italianas com patês artesanais de azeitonas pretas e manjericão. Szegeri foi à cozinha e voltou com duas colheres de sopa. Ele e Stê, Dani é testemunha, devastaram os patês como se fossem aquelas papinhas da Nestlè, enquanto um Szegeri eufórico dava as torradas na boquinha da Pimenta, nossa cocker-spaniel.

Nesse instante, a Dani já chorava num dos cantos da sala, e fez sinal pra que eu servisse, logo, a entrada. Devo dizer que o meu bom Otto, vendo a Dani chorar, atracou-se com minha mulher e passou a chorar também dizendo "também estamos muito emocionados, Tomtom...".

E eu vim com os quatro pratos finamente decorados. Carpaccio de carne com lascas de parmigiano reggiano, alcaparras e fatias de pão francês encomendado numa boulangerie de Ipanema. Convidei-os à mesa. O Szegeri tomou do garfo, fincou os dentes no centro do prato e num átimo enrolou todo o carpaccio fazendo com que o garfo tomasse a forma de um cotonete e mandou tudo pra dentro, dizendo ainda de boca cheia, "do caralho, Edu... gostou, amor?", e arrotou depois do "arrã" de uma Stefânia que o imitava. Chorávamos eu e Dani juntos. Quando eu fui abrir a Moët&Chandon, Szegeri disse "´xá comigo!", e despejou metade da garrafa sobre a Stefânia cantarolando a música-tema do Senna. A Stê ria tanto, que quando foi bater aquela palminha típica de alguém que ri compulsivamente quebrou as quatro flutes que a Dani repôs sobre a mesa.

Dani, tadinha, chegou-se pra perto de mim e disse soluçando, "serve logo o prato principal...".

Recolhi os pratos da entrada e voltei, em minutos, com o risotto de funghi porcini italiano já servido. Szegeri já havia aberto o tinto escolhido para a escolta do prato e bebia no gargalo, arrotando a cada gole, num espetáculo sonoro deprimente.

A cara de nojo que o Szegeri fez quando deparou-se com minha obra-prima foi desanimadora. Com a mão, pegou um punhado do risotto, cheirou com força, fez outra cara de asco, e arremessou na parede em frente dizendo "não como cocô". E a Stê guinchava de rir na cadeira, que não era de balanço, obviamente, mas que quicava freneticamente, pra desespero do vizinho que interfonava, àquela altura, pedindo silêncio.

Eu e Dani comemos às lágrimas.

"Não tem sobremesa, porra?", indagou nosso convidado.

"Petit gâteau", disse uma Dani sorumbática.

"Odeio comida japonesa!", urrou o Szegeri, gerando aplausos, risos, tosses, e guinchos da Stefânia.

E veio à mesa a sobremesa, que ambos recusaram, e servimos o café e, num dos lances geniais da noite, o Szegeri tomou nas mãos um dos candelabros.

Pausa pra explicar que uma das taras da Dani é cultivar velas. Há uma excitação estética depois da oitava ou nona vela trocada, quando o candelabro ganha estalactites de cêra, com desenhos geniais e formas estranhíssimas de uma beleza que a encanta. Pois o Szegeri, com uma faquinha, serrou, uma por uma, as estalactites do candelabro, que minutos depois era de uma aridez triste.

Antes de sairem, Szegeri ainda me perguntou onde ficava um trailler que serve um cachorro-quente porreta na Tijuca, "que eu tô morrendo de fome", e riram muito, os dois.

Um jantar, como se vê, inesquecível.

Até.

6.6.05

ZÉ SÉRGIO E O SZEGERI NO ESTEPHANIO´S

Vamos interromper, de leve, a saga desse embusteiro que é o Dedeco, pra que eu possa contar a vocês sobre a noite de ontem.

Recebemos, eu e Dani, e mais o Fefê, no Estephanio´s, uma seleção de craques que nada deve aos craques que desfilaram na TV às 16h. Se em Porto Alegre o Robinho, o Ronaldinho Gaúcho, o Adriano, o Kaká, o Dida & cia. deram uma goleada na combalida seleção paraguaia, eu, Dani, Fefê, Brinco, Yayá, Szegeri, Stefânia, Zé Sérgio, Vidal, Gláucia, Mariana Blanc, Marquinho Presidente, Zé Colméia, Marquinho e Dedeco batemos um bolão naquela esquina da Rua dos Artistas com a Ribeiro Guimarães.

Preciso explicar algumas coisas para que todos notem a beleza das coincidências. Em primeiro lugar, preciso dizer que o texto que segue abaixo, escrito em maio de 1999, quando o Estephanio´s ainda não existia, menciona um bar chamado Xodó da Bahia. O bar, hoje, é onde fica o Estephanio´s.

Mais: percebam isso... O SZEGERI. Agora anotem o nome de outro craque: ZÉ SÉRGIO. Letra por letra, embaralhadas e recolocadas em ordem, e estão cravados em meu peito os nomes de ambos.

Tem mais, tem mais! O Zé Sérgio, que ontem bebeu com a fúria de um cossaco, disse em determinado momento, "que beleza essa esquina em Aldeia Campista!". Vai daí que o Szegeri pediu-me que republicasse, aqui no Buteco, o texto que publiquei, pela primeira vez, no extinto "Sentando o Cacete", revista eletrônica que eu mantinha com o Fernando Toledo e o Aldir Blanc.

E o Zé, que partiu de volta pra Niterói num estado etílico olímpico, tem mesmo a impressão que o Estephanio´s fica em Aldeia Campista. Tanto que mandou-me hoje cedo um email, e cometo aqui uma breve indiscrição, do seguinte teor:

"Que bela recepção tive ontem de vocês - e também da Dani, do Fefê e demais comparsas - no Estephanio´s. Samba, chope, cachaças maravilhosas, ovo cozido, aqueles fabulosos croquetes de carne e, acima de tudo, os papos maravilhosos no pedacinho do universo que atende pelo nome de Aldeia Campista (ou Vila Isabel ou qualquer outro nome, tanto faz). Creio ter exagerado um pouco no álcool, mas seguramente a ressaca vai passar daqui a pouco, na hora do almoço. Fiz boa viagem de volta, a bordo do álcool-táxi da estefânica frota. Em breve repetiremos a façanha em algum lugar do planeta - Rio, Sampa ou Nikity - para gáudio dos deuses da boemia que nos carregam no colo e envidam todos os esforços para que nossos pequenos excessos não transtornem os respectivos organismos. Sangue de Jesus tem poder e nos protegem como bons discípulos de Samuel que somos."

Pequena pausa para o comercial: notem que o Zé menciona o croquete de carne do Estephanio´s, que ele qualifica de fabuloso. E é mesmo fabuloso o croquete de carne do Estephanio´s. Vá conferir e ver que nem o croquete da Casa do Alemão, famosíssimo, faz sombra ao nosso croquete! Outro pequeno detalhe: há, em frente ao Estephanio´s, um centro espírita chamado "Discípulos de Samuel". Vejam como isso impressionou o Zé.

Notem, mais, que há um personagem no texto, o Amorim, que criei para homenagear um amigo, um irmão, o Nilsinho Amorim, que como num passe de mágica apareceu no Estephanio´s ontem, e eu o apresentei ao Szegeri, que pôde perceber, diante do relato de um emocionado Nilsinho, a doçura do coração do Nilsinho, a quem a Dani chama de padrinho eis que foi ele, Nilsinho, que em setembro de 1999, diante de meu espanto diante da chegada da Dani no Clube Maxwell, onde estávamos, disse, "em frente, mano!", e estamos aí, casados há 6 anos.

Notem mais, notem mais!, que há um personagem, o seu Osório, que criei para homenagear outra figura lendária da Rua dos Artistas, o seu Nélio, que, acreditem, não só apareceu no Estephanio´s como sentou-se à mesa conosco.

E a Dani fez o Szegeri chorar, e o Szegeri cantou em homenagem ao Nilsinho, e o Fefê me fez chorar, e o Zé Sérgio beijou as mãos do Dedeco em sinal de devoção, e a Stefânia embeveceu-se com a beleza do lugar, latu sensu, e o troço estava tão bonito, tão redondo, que a Dani convidou o Dedeco e o Marquinho pra uma saideira aqui em casa.

Eis, então, o texto, que dedico a esses dois craques, o Szegeri e o Zé Sérgio, anagramas fincados no meu coração, o primeiro meu irmão há anos e o segundo, como ele mesmo diz, meu mais recente amigo de infância, que, ainda bem, não vale rigorosamente nada.

VILA ISABEL - GENESIS

Abril de 1999. Vidal me telefona e manda antes de responder meu alô, “vou me casar em agosto e morar em um apartamento que ganhamos de presente, Rua Ribeiro Guimarães, sabe onde fica?”. Não, não sabia. Ele bem que tentou me explicar, mas diante da dificuldade disse, “tô passando aí, vamos até lá.”.

Rua tranqüila, décimo segundo andar, e Vidal já estava com seu arsenal pronto; comprara sete lunetas, três binóculos e dois telescópios, todos com lentes de precisão cirúrgica, longo alcance e nitidez de TV a cabo, e de cara foi me mostrando as melhores janelas da vizinhança, os melhores ângulos, já tinha preparado uma tabelinha com os horários quentes, que ninguém é de ferro, todas as posições foram escolhidas ainda no período de visita ao apartamento, que Vidal, minha gente, é isso aí. E a varanda, ah, a varanda, embora estreita, é campo de observação de causar inveja a OTAN. Vê-se com perfeição a Ponte Rio-Niterói, o Maracanã, o estádio de São Januário, os bares da região, o Xodó da Bahia, o Siri, os quartos de uma dezena de vizinhas, uma festa.

Havia um bar na esquina mais próxima, o Xodó da Bahia, muros azuis e brancos, um clima assim meio ladeiras de Ouro Preto... Fomos à inspeção, que bar perto de casa é mão na roda. Eu já conhecia o buteco por alto, mas já com aquela intimidade que só os balcões permitem. Fica na esquina da Rua dos Artistas com a Ribeiro Guimarães. Minha intenção era apresentar Vidal ao dono, Quincas.

"Cadê o Quincas?", perguntei ao sujeito por trás do balcão.

"Prazer, sou o Pires, amigo do Quincas. A gente tá armando uma meinha aí, ele encheu o saco do bar e eu do táxi. Trocamos por uns meses pra ver se dá certo."

Meinha? Tá bom. Pires? Gordo daquele jeito? Na sexta garrafa chamamos o cara à mesa e dissemos aos berros, "Olha, mermão, você é muito gordo pra Pires. Vamos chamá-lo de Bule, certo?".

Todo o povo que se espremia junto ao balcão caiu de rir e o apelido, é verdade, já pegou.

Papo vai, papo vem, cerveja que desce, caldinho de feijão com parmesão, “dois-com-fome” (uma especialidade do bar à base de carne, cebola e fritas, que dois, com muita fome, comem com folga), Vidal resolveu fazer uma enquete de improviso pretendendo ganhar a simpatia dos freqüentadores, glorioso Bule no comando da mesa-redonda. Interrompeu a porrinha e expôs o problema: o bairro do apartamento que ganhara, no IPTU, constava como sendo Tijuca. Na conta da CEG, Maracanã. Na papelada do cartório, Andaraí. Na opinião do porteiro do prédio, Aldeia Campista. E na boleta da Light, Vila Isabel.

Ânimos exaltados. Um – o Seis-com-Fome, apelido ganho pela gula insana – berrou que a Tijuca começa na Praça da Bandeira e termina na Rua Uruguai, limitada à direita de quem vem da zona sul pelo estádio do Maracanã e à esquerda pela Rua Hadock Lobo. E que a Praça Varnhagem é um dos limites. Passou da Praça, à direita, não é mais Tijuca. Apupos, gritos, torresmos atirados em várias direções como confete, e o consenso: é, não é Tijuca.

Maracanã? Outro freguês, o Amorim, barba por fazer, aspecto de quem estava há anos naquele balcão, o piso próximo à geladeira tem a marca do pé do cara, gritou que Maracanã nem sequer é bairro. Maracanã é o estádio, e quando muito, se bairro for, só as ruas que rodeiam o estádio. Consenso atingido mais rápido, assovios, palmas, não é Maracanã.

Andaraí? O bicho pegou violento. Um coroa, seu Osório, mudo até aquele momento, parecia estar só esperando a deixa. Pediu silêncio e um limãozinho. Deu um gole só, mandou um arrotaço de parar o trânsito e disse tirando uma carteira vermelha e branca do bolso: "Porra, eu sou América, seus putos. Só quem é América lembra onde fica o Andaraí. Só quem é América sabe que o Andaraí é um lugar que não existe mais, aquele resto de bairro, aquele canto americano agora chama-se Iguatemi, especuladores de merda...".

Caiu num choro comovente, jurou amor eterno à sua santa trindade, Castilho, Pompéia e Luizinho, craques das antigas, e obteve unanimidade, aquilo não era Andaraí.

Mas se todos achavam que a solução estava próxima, ilusão. Aldeia Campista, proposta na mesa. Vidal entregou Bigode, o porteiro, como sendo o responsável pela indicação.

"O quê?!" – urrou o Bule – "aquele filhodumaputa não paga a conta dele aqui há meses, cachaceiro da pior espécie, bebe mal, Aldeia Campista é o cacete!".

O estopim. Bule no meio, dois grupos divididos, mais aguerridos e agressivos que sérvios e albaneses. Voaram os restos de torresmo torrado jogados no chão, nego cuspia verde na direção dos outros, Bule em absoluto desespero, Quincas acabava de estacionar o táxi e assustou-se com a cena. Outro arrotaço, mais monumental ainda, de fazer eco e tremer os copos, do mesmo coroa, que assumiu orgulhoso – “fui eu de novo, seus putos!” – a autoria da eructação. Silêncio absoluto, misto de nojo, respeito e medo.

"Trégua, seus putos, trégua de 10 minutos, porra! Vou em casa rapidinho e já volto com a solução.".

Os 10 minutos mais longos da carreira comercial de Bule. A integridade do bar estava em jogo, neguinho rosnava de ódio, e seu Osório convocara Quincas para uma corridinha de táxi rápida até sua casa, na rua General Espírito Santo Cardoso, ia buscar a tal solução do impasse.

Chegaram com intermináveis três minutos de atraso, o velho com um livrinho na mão pediu a todos que sentassem. Uma multidão cercava o bar, apostas eram fechadas, os churrasqueiros de todo o quarteirão montaram às pressas seus apetrechos atrás de um melhor faturamento. O velho bebeu outro limão, mandou novo arroto tremendo, lambeu os beiços, pôs os óculos remendados com esparadrapo nas hastes, subiu numa cadeira amparado por Bule e mandou em tom monástico:

"Vila Isabel, Inventário da Infância, de Aldir Blanc, seus putos, hoje meu quase-vizinho, página 23, editora Relume Dumará: ´Já adulto, era comum ter pela frente chatos e bêbados, ou bêbados chatos, garantindo que eu não morei em Vila Isabel, porque minha rua ficava em Aldeia Campista. Respondo o seguinte: no dia em que me mudei pra lá, meu avô português me ensinou: - Se te perderes e alguém perguntar onde moras, tu dizes: na rua dos Artistas, número 257, em Vila Isabel. Vão se fuder. Babacas, eu nunca saí de Vila Isabel, estão entendendo?´ Estão entendendo, seus putos, seus babacas, vão se fuder, seus bêbados chatos! Vem cá, Vidal, meu filho, vem cá, porra... – seu Osório chorou de novo – você mora em Vila Isabel, entendeu?, em Vila Isabel, porra, você mora em Vi-la I-sa-bel, ouviram babacaços!?!?!?!".

Mais palmas comovidas, seu Osório saiu carregado nos braços do povo, Vidal chorou junto e pagou emocionado o “pendura” do porteiro, Bule ofereceu uma rodada de cerveja, e assim escreveu-se o primeiro capítulo das muitas lendas daquele pedaço da Vila.

Até.

3.6.05

A PAGA PELO APREÇO

Vamos começar exatamente como ontem. O assunto é outro, mas o mote encaixa-se com prefeição. Poucas coisas são mais desprezíveis e detestáveis, e condenáveis e insuportáveis do que a ingratidão. "Por que isso?", perguntam afoitos alguns de vocês, eu sou capaz de ouvir daqui (que escrever é um sem-fim de delírios... eu, por exemplo, vou escrevendo no Buteco as minhas crônicas, mas na verdade transcrevendo aquilo que falo para o monitor).

Vejam vocês. Leiam o título. Ligaram o título ao samba? Agora ligaram o samba a seu autor? São dois os autores, eu sei, mas estou a falar do Luiz, Luiz da Vila, eis que recuso-me a chamá-lo pelo nome que usa quando posa de estrela, da mesmíssima forma que me recuso a chamar aquele outro, de Oswaldo Cruz, a quem chamo de Marco, apenas. Posa de estrela, sim. Mas uma Nebulosa.

Pausa para valer-me da definição de uma enciclopédia para crianças: "Nebulosa - derivada do latim nube, um nevoeiro de luz na noite. Nebulosas aparecem em muitas formas, e crê-se que são nuvens de pó e gás, freqüentemente são os restos de estrelas que explodiram".

Restos de estrelas que explodiram. Que ironia. A de que falo, explodiu, dia desses, numa ira insana e injusta, contra um irmão que lhe estende a mão há anos. E se prosseguir no rumo do pó, explodirá em breve, para sempre. Infelizmente, eis que talento não lhe falta.

Vejam vocês que eu sou de uma parcialidade comovente, razão pela qual jamais pude atender às expectativas de mamãe, que gostaria de me ver de toga, martelinho na mão, julgando os outros, como se eu fosse capaz de agir com a imparcialidade exigida para o cargo. Não consigo.

Como a vítima da ira insana da Nebulosa é um irmão, sua versão é a que vale.

Meus irmãos não mentem.

E pronto.

E já que falei em mentira, vou fechar a semana falando do embusteiro do Dedeco, essa festa de pessoa.

O Dedeco esteve, há uns meses, numa roda de samba. O Nebulosa estava lá. E ao lado do Dedeco, uma ceguinha, contou-me ele dias depois, "linda de morrer, um troço, Edu, peitinho empinado, cinturinha fina, cabelo na altura do reguinho, - vão vendo como é fino o Dedeco - umas mãos esculpidas por Michelangelo, estava de sandália de dedo e seus pés eram uma delícia...". Chamava-se Mirela, a moça.

O Nebulosa tomou o microfone. Desfiou suas pérolas, uma atrás da outra, e a Mirela cantava junto, se emocionava, e dizia baixinho, sozinha, "ai, como eu amo esse homem...". Dedeco tremeu nas bases.

Fim do número do Nebulosa, e ele partiu com uns quatro ou cinco amigos em busca de nem vou dizer o quê.

Dedeco aproxima-se de Mirela, muda um bocadinho a voz e sussura no ouvido da moça: "Enquanto eu cantava, percebi que você estava emocionada... cantando junto... você gostou?".

E a ceguinha arregalou os olhos, dois pires azulados, e pôs as mãos no rosto do Dedeco, que, imediatamente, as arrastou pro alto de sua cabeça árida. Mirela sorriu (como toda cega, Mirela era uma curiosa, e sabia, obviamente, que o Nebulosa era careca).

E Dedeco rebocou a menina pro Shalimar, um motel na Niemeyer, onde, jurou-me o embusteiro, Mirela viu estrelas.

Até.


PS: é preciso erguer o copo, do Buteco, para comemorar as mais de 10.000 visitas.

2.6.05

O BEIJO DO DEDECO

Poucas coisas são mais desprezíveis e detestáveis, e condenáveis e insuportáveis do que o anonimato. Mas às vezes o anonimato veste as cores da pilhéria, da graça, da piada, como é o caso do anonimato que encobre trotes (e cada vez há menos trotes depois da invenção do BINA... aliás, preciso lhes contar sobre o Aristides, em breve eu conto), como é o caso do anonimato que encobre as hilariantes respostas no excepcional "Cartas Idiotas", que me fez rir por horas a fio, por meses a fio, e como é o caso dessa leitora que escreveu a seguinte pérola nos comentários, ontem, no texto "Truques do Dedeco":

"O Dedeco é tudo de bom! Me orgulho em fazer parte da sua vida. Um segredo... Ele sabe beijar como poucos! Hoje em dia é raro homens que beijem bem e ele é mestre nisso!"

Vejam vocês. Não fosse a Duda uma moça que solta um "é tudo de bom" a cada segundo, numa demonstração de riqueza de vocabulário de deixar o Antonio Houaiss morto de inveja mesmo debaixo da terra, e o anonimato em tela teria sido perfeito. Para a Duda, um Pizzato Merlot é tudo de bom, um Valontano Tannat é tudo de bom, um passeio à Araçatiba é tudo de bom, e nesse oceano de "é tudo de bom" adernou a brilhante idéia de manter-se anônima. Pobrezinha. Não fosse eu um astuto e estaria hoje, diante do monitor, gargalhando a nossa Robert Parker tupiniquim. Mas a desmascarei, coitadinha, na primeira frase, "O Dedeco é tudo de bom".

Mas vamos prosseguir analisando o espontâneo depoimento da moça. Vejam vocês que assombroso segredo: o Dedeco beija bem. E há mais, há mais! Ele é um mestre nisso! E ainda há mais! Sabe beijar como poucos! As exclamações estão aí para que fique nítido o meu espanto. Com quem estaria a moça comparando nosso bom Dedeco? (permitam-me uma pequena pausa para alguns pigarros, um amassar da guimba do cigarro no cinzeiro à minha direita e uma ironia que ela compreenderá)

Ora, uma amiga minha, vítima recente do Dedeco, apelidado nas rodas dos que não prestam de Bran(cover), e que ao contrário da incauta-personagem da crônica de ontem acordou antes dele depois de uma noite de volúpia e percebeu o golpe, contou-me que beijar o Dedeco é uma experiência semelhante a um imaginário beijo num pacote de carteiras de Carlton, um raro prazer. Contou-me, mais, que o hálito do ex-gordo (e ex-careca, não se esqueçam) é um troço assim, digamos, inesquecível. Não pelo que tem de bom, mas pelo que tem de plúmbeo. E a minha leitora vem a público de cabeça erguida dizer que o Dedeco beija bem.

Mas o pior, preciso lhes confessar, foi a frase final: "ele é mestre nisso".

Ora, o Dedeco é mestre, sim, mas mestre em embustes. Não fosse verdade e o Flavinho não teria carimbado seu platô liso e rezulente com outro apelido ainda mais esclarecedor que aquele primeiro: embusteiro.

Bati ontem mesmo o telefone pro Dedeco a fim de contar-lhe sobre o comentário (preciso dizer que o Dedeco está passando uma semana em Araruama a trabalho, façam vocês uma idéia do que seja isso e do que está sendo o estrago por aquelas bandas, onde, creiam, o Branco é também desejado por todas aquelas moças litorâneas). Atendeu-me já gargalhando o Dedeco, com seu tradicional "faaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaala, Edu...", que isso é outra novidade trazida pelo BINA, o sujeito já atende o telefone com o humor específico, sabendo já quem é. Contei-lhe sobre a crônica - e eu ouvia o Dedeco relinchando de rir - e sobre o comentário.

Quando eu lhe disse, "Dedeco, já sei quem escreveu", aí os relinchos se misturaram a uma tosse de fumante de há décadas, daquelas tosses bem roucas, bem broncas, bem graves, quase uma pré-embolia. Seguiu-se o diálogo:

"Concordas, Dedeco?"

(eu só ouvia tosse)

"Foi ela mesmo, não foi?"

(Dedeco escarra e cospe, nitidamente, e tosse mais forte, rindo, relinchando, guinchando)

"Porra, Dedeco... fala alguma coisa..."

Esperei uns 30 segundos. Ele pigarreou. Desculpou-se. E fechou o telefonema:

"Edu... é claro que foi... t-u-d-o d-e b-o-m..."

E riu, mas riu tanto, voltou a tossir tudo de novo, despedi-me e desligamos.

Até.

1.6.05

TRUQUES DO DEDECO



Eu estava ontem à noitinha diante da TV assistindo a um programa, por sinal sensacional para quem é chegado a uma cozinha, no GNT, chamado "Truques de Oliver", de um chef inglês que faz o diabo preparando um prato atrás do outro, um melhor que o outro, e eu tenho, durante as cenas, a nostalgia e a depressão do gordo que eu já fui um dia, e chego a morder as almofadas de uma fome que é apenas visual. Findo o programa, a palavra "truques" batucava em minha cabeça. E veio a centelha. O Dedeco!, o Dedeco!, o Dedeco não entende rigorosamente nada de cozinha mas é um mágico quando o assunto é truque. Daqueles de cartola, fraque, daqueles que animavam as festas de criança quando ainda não haviam inventado essas detestáveis casas de festas de criança, que se assemelham a um campo de concentração, onde você é torturado da hora que chega à hora em que vai embora. Um mágico portentoso, o Dedeco. Só que em vez de tirar coelhos da cartola, como faziam os mandrakes, o Dedeco mete em sua cartola umas lebres que se deixam levar por sua lábia, por sua performance e por seus truques. Vou explicar melhor.

Eu falo muito à vontade, eis que sou um feio conformado. Jamais em minha vida, já não tão curta, ganhei uma única mulher com um único "oba", com um único piscar de olhos (quando eu pisco os olhos minha boca entorta e eu fico ainda mais feio), com um "psiu" nas calçadas. Ao longo da vida, desenvolvi técnicas mais rebuscadas, que iam de mentiras encantadoras a papos sobre os assuntos que menos domino mas que desfio com invejável desenvoltura.

Pois bem. O Dedeco também, como eu, é um feio (falo à vontade por isso, somos irmãos na carência de beleza). Era pior, era bem pior, quando tinha 30kg a mais, o que fazia dele o alvo dos indicadores nos salões, "olha lá aquele gordo careca!". E para que vocês vejam como sofre um gordo, depois de perder seus 30kg, o Dedeco deixou de ser careca, nunca mais foi chamado de careca. O "careca" era, ali, um apêndice de sua obesidade humilhada. Hoje ele é um tudo, menos careca. Mas ainda é feio (confessou-me ele mesmo isso, outro dia, quando comentava o fomento de mulheres em seu pedaço depois da dieta bem sucedida).

Eis que o Dedeco descobriu, há semanas, um truque que tem lhe rendido noites de insônia, não por falta de sono, mas por absoluta abundância de mulheres insaciáveis que não o deixam dormir. Vou explicar melhor. Acompanhem, acompanhem!

Temos um amigo em comum, o Branco (esse sim, de uma beleza acachapante). E de um caráter que anda escasso. Vejam se não é: um sujeito que entra no Maracanã lotado, invade o campo, pega o microfone (imaginemos que haja um sem-fio para certas ocasiões) e da marca do pênalti grita "Eu sou amigo do Lennon!" é ou não é dono de um caráter ilibado? É (e o Lennon, para os neófitos, não é o John; é um ex-frequentador do Estephanio´s, unanimidade quando o assunto é vaia).

Mas prosseguindo (antes preciso explicar que omitirei o nome das moças para evitar constrangimentos e processos indenizatórios). Uma noite dessas estávamos eu, Dedeco, Dani, mais uns oito ou nove num buteco na Gamboa. Uma das moças, afoitíssima, a certa altura, de olhinhos já fechados devido à porranca, passou a dizer "quero o Branco...", "quero que o Branco durma lá em casa...", "preciso do Branco...", e o Branco não estava lá, entendam isso. E apalpava o próprio corpo enquanto repetia o santo nome do Branco. Deu-se a luz para o bom Dedeco.

Virou-se pra mim e esfregando as mãos, disse-me: "Edu, vou rebocá-la pra casa depois de oferecer-lhe mais umas doses. Daí, quando seu estado de torpor for visível, eu digo que sou o Branco e papo a moça!". Não acreditei naquele plano pífio. Ainda que a embriaguez da menina fosse olímpica, um carinho na cabeça e aquele terreno plano, liso, denunciaria tudo. Dedeco sorriu e puxou do bolso do casaco que vestia, uma peruca, como a que ele usa na foto que ilustra o texto, usada na festa à fantasia da Guerreira (semelhante aos cabelos do Branco, que além de uma beleza acachapante tem um fartíssimo cabelo. E é, mesmo, o Dedeco na foto, para quem não o conhece). Do outro bolso, Dedeco retirou uma caixinha, com etiqueta de uma gráfica, e disse ainda esfregando as mãos como se uma lâmpada estivesse entre elas, sendo que o gênio, ali, era ele: "Há meses espero por uma oportunidade dessas!".

No dia seguinte, bateu-me o telefone cedo o Dedeco. Chamou-me às pressas para uma cerveja no Rio-Brasília. E lá chegando, deparei-me com um Dedeco que era todo luz. Sorria. Gargalhava. Com os pés pra cima, os braços cruzados na nuca, soltou: "Saca a cena, Edu. Chegamos em seu prédio, de táxi, e eu havia instruído o motorista a despedir-se de mim com um ´boa noite, Branco´. Ela ainda tentou abrir os olhos e disse..."Branco?", e eu só precisei dizer "sim, gata". E beijei-a na rua, entramos no edifício, nos despimos ainda no elevador e o troço foi até às seis da manhã. Tomei um banho e deixei um cartão igualzinho a esse sobre sua cabeceira...". E ria, ria, ria, o Dedeco.

O cartão, que o Dedeco mandou fazer numa gráfica na Rua da Carioca, dizia apenas "MÁRCIO BRANCO". No cartão de linho, Dedeco como um bom instruído nas questões de etiqueta tascou um risco sobre o nome "BRANCO", deixando a intimidade à mostra. E escreveu atrás, disse-me ele, "Chame-me sempre que quiser, gata, foi maravilhoso. Tive de sair cedo para tomar café da manhã com minha mãe. Beijos, Branco".

Branco já sabe de tudo e Dedeco contabilizava, até ontem à noite, oito vítimas. Todas, rigorosamente todas frequentadoras do Estephanio´s.

Um mágico, esse Dedeco, incríveis, esses seus truques.

Até.

Posted by Hello