2.6.05

O BEIJO DO DEDECO

Poucas coisas são mais desprezíveis e detestáveis, e condenáveis e insuportáveis do que o anonimato. Mas às vezes o anonimato veste as cores da pilhéria, da graça, da piada, como é o caso do anonimato que encobre trotes (e cada vez há menos trotes depois da invenção do BINA... aliás, preciso lhes contar sobre o Aristides, em breve eu conto), como é o caso do anonimato que encobre as hilariantes respostas no excepcional "Cartas Idiotas", que me fez rir por horas a fio, por meses a fio, e como é o caso dessa leitora que escreveu a seguinte pérola nos comentários, ontem, no texto "Truques do Dedeco":

"O Dedeco é tudo de bom! Me orgulho em fazer parte da sua vida. Um segredo... Ele sabe beijar como poucos! Hoje em dia é raro homens que beijem bem e ele é mestre nisso!"

Vejam vocês. Não fosse a Duda uma moça que solta um "é tudo de bom" a cada segundo, numa demonstração de riqueza de vocabulário de deixar o Antonio Houaiss morto de inveja mesmo debaixo da terra, e o anonimato em tela teria sido perfeito. Para a Duda, um Pizzato Merlot é tudo de bom, um Valontano Tannat é tudo de bom, um passeio à Araçatiba é tudo de bom, e nesse oceano de "é tudo de bom" adernou a brilhante idéia de manter-se anônima. Pobrezinha. Não fosse eu um astuto e estaria hoje, diante do monitor, gargalhando a nossa Robert Parker tupiniquim. Mas a desmascarei, coitadinha, na primeira frase, "O Dedeco é tudo de bom".

Mas vamos prosseguir analisando o espontâneo depoimento da moça. Vejam vocês que assombroso segredo: o Dedeco beija bem. E há mais, há mais! Ele é um mestre nisso! E ainda há mais! Sabe beijar como poucos! As exclamações estão aí para que fique nítido o meu espanto. Com quem estaria a moça comparando nosso bom Dedeco? (permitam-me uma pequena pausa para alguns pigarros, um amassar da guimba do cigarro no cinzeiro à minha direita e uma ironia que ela compreenderá)

Ora, uma amiga minha, vítima recente do Dedeco, apelidado nas rodas dos que não prestam de Bran(cover), e que ao contrário da incauta-personagem da crônica de ontem acordou antes dele depois de uma noite de volúpia e percebeu o golpe, contou-me que beijar o Dedeco é uma experiência semelhante a um imaginário beijo num pacote de carteiras de Carlton, um raro prazer. Contou-me, mais, que o hálito do ex-gordo (e ex-careca, não se esqueçam) é um troço assim, digamos, inesquecível. Não pelo que tem de bom, mas pelo que tem de plúmbeo. E a minha leitora vem a público de cabeça erguida dizer que o Dedeco beija bem.

Mas o pior, preciso lhes confessar, foi a frase final: "ele é mestre nisso".

Ora, o Dedeco é mestre, sim, mas mestre em embustes. Não fosse verdade e o Flavinho não teria carimbado seu platô liso e rezulente com outro apelido ainda mais esclarecedor que aquele primeiro: embusteiro.

Bati ontem mesmo o telefone pro Dedeco a fim de contar-lhe sobre o comentário (preciso dizer que o Dedeco está passando uma semana em Araruama a trabalho, façam vocês uma idéia do que seja isso e do que está sendo o estrago por aquelas bandas, onde, creiam, o Branco é também desejado por todas aquelas moças litorâneas). Atendeu-me já gargalhando o Dedeco, com seu tradicional "faaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaala, Edu...", que isso é outra novidade trazida pelo BINA, o sujeito já atende o telefone com o humor específico, sabendo já quem é. Contei-lhe sobre a crônica - e eu ouvia o Dedeco relinchando de rir - e sobre o comentário.

Quando eu lhe disse, "Dedeco, já sei quem escreveu", aí os relinchos se misturaram a uma tosse de fumante de há décadas, daquelas tosses bem roucas, bem broncas, bem graves, quase uma pré-embolia. Seguiu-se o diálogo:

"Concordas, Dedeco?"

(eu só ouvia tosse)

"Foi ela mesmo, não foi?"

(Dedeco escarra e cospe, nitidamente, e tosse mais forte, rindo, relinchando, guinchando)

"Porra, Dedeco... fala alguma coisa..."

Esperei uns 30 segundos. Ele pigarreou. Desculpou-se. E fechou o telefonema:

"Edu... é claro que foi... t-u-d-o d-e b-o-m..."

E riu, mas riu tanto, voltou a tossir tudo de novo, despedi-me e desligamos.

Até.

12 comentários:

Anônimo disse...

Edu querido, esse texto tá tuuuuudo de bom!!!

kaka

Anônimo disse...

Hahahahahahahahahahahaahaha.... com certeza !!!

Anônimo disse...

Não apenas a Duda fala "tudo de bom" a rodo. Polu e Maria Paula.

Anônimo disse...

Eduardo, perdoe discordar de você. O mistério ainda não foi esclarecido. A Duda não é a única mulher do bar que consegue usar um "tudo de bom" a cada frase. Polu e Maria Paula também fazem parte de tal grupo.

Eduardo Goldenberg disse...

Duda, querida, todos os ANÔNIMOS são você, eu sei, e você sabe do que eu tô falando. Vejamos:

01) A Polu, coitada, mais do que morar com o Dedeco, trabalha para o Dedeco, eis que além de embusteiro, ele é um dos maiores porcos desorganizados de que se tem notícia. E a Polu não usa "tudo de bom" com essa freqüência, francamente.

02) A Maria Paula, embora ampla conhecedora dos truques do embusteiro, vale-se do "tudo de bom" muito raramento, geralmente quando refere-se a você, com um doce "a Duda é tudo de bom", o que me soa, perdoe-me a franqueza, como deboche.

Beijo, DUDA.

Anônimo disse...

Oi Edu...
Nossa, quantas revelaçoes!!! Agora quando encontrar com o Dedeco vou admira-lo com outros olhos ... quem diria!!!

Eduardo Goldenberg disse...

Danielle, não a conheço, conheço? Explique-me, por favor, por que seu "quem diria". Isso denota seu desprezo até então pelo Dedeco. Que coisa.

Anônimo disse...

Caros Leitores,
vamos esclarecer a questão do vocabulário. Claro que uso "tudo de bom" apesar de preferir "espetacular!" ou "um espetáculo!" qdo me refiro a experiências marcantes. Talvez eu tenha usado um destes termos para falar do beijo do Dedeco.

Anônimo disse...

Oi Edu...
Esse meu "quem diria " nao e um desperezo.... Jamais seria!!! O Dedeco aos meu olhos sempre foi "tudo de bom", porem visto apenas como um cara amigo, simpatico. Nunca tinha parado para pensar nos outros dotes que poderia ter...
Depois de tantas revelaçoes, a beleza do Marcio Branco ( descrita por vc no dia anterior) nao e nda!!!
Bjsss...

Danielle

Eduardo Goldenberg disse...

Danielle com dois "l" e "e" (se você tentou passar-se pela Dani, querida, morreu na praia por isso), identifique-se. Tudo tende a ser muito mais divertido.

Anônimo disse...

Oi Edu..
Nao estou tentando passar pela Dani.... Sou Danielle com dois "e" e dois "L",e alguns me chamam de Dani.
Vou tentar me identificar .... frequento este boteco ha alguns dias, e o estephanios ha algum tempo, e conheço algumas pessoas...
Minhas consideraçoes foram apenas de descontraçao, uma brincadeira...

Bjs!!!

Danielle Giorno

Anônimo disse...

Não pude conter a emoção ao me deparar com tamanha expressão de carinho e afeto de meus amigos (e os do Branco também, é claro - menos o Lennon).

Porém, acho que a verdade deve imperar sempre e, na posição de personagem (e embusteiro) do conto, entendo que deve restar diferenciada a verdade da pura e cristalina imaginação.

Me desculpe, Edu, mas devo revelar... não me encontro em Araruama, estou em São Pedro da Aldeia !!

Beijo a todos

´Branc...err...quer dizer...Dedeco