3.6.05

A PAGA PELO APREÇO

Vamos começar exatamente como ontem. O assunto é outro, mas o mote encaixa-se com prefeição. Poucas coisas são mais desprezíveis e detestáveis, e condenáveis e insuportáveis do que a ingratidão. "Por que isso?", perguntam afoitos alguns de vocês, eu sou capaz de ouvir daqui (que escrever é um sem-fim de delírios... eu, por exemplo, vou escrevendo no Buteco as minhas crônicas, mas na verdade transcrevendo aquilo que falo para o monitor).

Vejam vocês. Leiam o título. Ligaram o título ao samba? Agora ligaram o samba a seu autor? São dois os autores, eu sei, mas estou a falar do Luiz, Luiz da Vila, eis que recuso-me a chamá-lo pelo nome que usa quando posa de estrela, da mesmíssima forma que me recuso a chamar aquele outro, de Oswaldo Cruz, a quem chamo de Marco, apenas. Posa de estrela, sim. Mas uma Nebulosa.

Pausa para valer-me da definição de uma enciclopédia para crianças: "Nebulosa - derivada do latim nube, um nevoeiro de luz na noite. Nebulosas aparecem em muitas formas, e crê-se que são nuvens de pó e gás, freqüentemente são os restos de estrelas que explodiram".

Restos de estrelas que explodiram. Que ironia. A de que falo, explodiu, dia desses, numa ira insana e injusta, contra um irmão que lhe estende a mão há anos. E se prosseguir no rumo do pó, explodirá em breve, para sempre. Infelizmente, eis que talento não lhe falta.

Vejam vocês que eu sou de uma parcialidade comovente, razão pela qual jamais pude atender às expectativas de mamãe, que gostaria de me ver de toga, martelinho na mão, julgando os outros, como se eu fosse capaz de agir com a imparcialidade exigida para o cargo. Não consigo.

Como a vítima da ira insana da Nebulosa é um irmão, sua versão é a que vale.

Meus irmãos não mentem.

E pronto.

E já que falei em mentira, vou fechar a semana falando do embusteiro do Dedeco, essa festa de pessoa.

O Dedeco esteve, há uns meses, numa roda de samba. O Nebulosa estava lá. E ao lado do Dedeco, uma ceguinha, contou-me ele dias depois, "linda de morrer, um troço, Edu, peitinho empinado, cinturinha fina, cabelo na altura do reguinho, - vão vendo como é fino o Dedeco - umas mãos esculpidas por Michelangelo, estava de sandália de dedo e seus pés eram uma delícia...". Chamava-se Mirela, a moça.

O Nebulosa tomou o microfone. Desfiou suas pérolas, uma atrás da outra, e a Mirela cantava junto, se emocionava, e dizia baixinho, sozinha, "ai, como eu amo esse homem...". Dedeco tremeu nas bases.

Fim do número do Nebulosa, e ele partiu com uns quatro ou cinco amigos em busca de nem vou dizer o quê.

Dedeco aproxima-se de Mirela, muda um bocadinho a voz e sussura no ouvido da moça: "Enquanto eu cantava, percebi que você estava emocionada... cantando junto... você gostou?".

E a ceguinha arregalou os olhos, dois pires azulados, e pôs as mãos no rosto do Dedeco, que, imediatamente, as arrastou pro alto de sua cabeça árida. Mirela sorriu (como toda cega, Mirela era uma curiosa, e sabia, obviamente, que o Nebulosa era careca).

E Dedeco rebocou a menina pro Shalimar, um motel na Niemeyer, onde, jurou-me o embusteiro, Mirela viu estrelas.

Até.


PS: é preciso erguer o copo, do Buteco, para comemorar as mais de 10.000 visitas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Edu,

Parabéns pelo número de visitas no Buteco. Grande a qualidade das suas palavras. Continue. Saudações Tricolores.

Um grande abraço

Leo

Anônimo disse...

Típico do André, usa dos meios imundos de sempre com apenas um objetivo: a conjunção carnal com qualquer criatura desavisada do sexo oposto. Uma vergonha!