13.7.05

O DEDECO É MÉDIUM


Antes de iniciarem a leitura de hoje, estaquem os olhos na foto.

Essa é a camisa preta de malha a que sempre me refiro quando menciono o antigo guarda-roupa do Dedeco, composto apenas pela tal camisa, por uma surrada calça jeans e por um par fétido de sandálias de dedo. E reparem a expressão desse homem: olhos cravados na partitura, Dedeco está cantando a única canção que sabe, e que sabe de cor e salteado, o que faz dos olhos cravados na partitura mais um de seus truques, esse para denotar atenção, profissionalismo, concentração, tudo mentira. A canção é "Kiss me quick", que o Dedeco cantou, durante meses, como convidado especial (mais uma de suas ardilosas armações que deu certo) da StefiBand, hoje desfeita e por uma razão estarrecedora. Na única apresentação da banda na qual o Dedeco não pôde ir, as mulheres, em fúria, arrebentaram amplificadores, roeram fios, destruiram microfones, atiraram chope e bolinhos de carne em direção aos músicos. Mas vamos em frente.

Quero lhes dizer, antes, que o Dedeco não é, como o Szegeri, como o Batista, como o Leonardo Huguenin, como o Neco, como o Vidal, uma obsessão, que são necessárias as obsessões para que os personagens ganhem forma diante dos leitores, como ectoplasma vazando do monitor. O Dedeco é um caso de estudo. E como eu sou um sujeito além de obsessivo, estudioso, muito me apraz essa ampla debruçada sobre esse homem que, leiam os comentários, tem merecido de seus amigos os adjetivos mais repugnantes: espírito sem luz, despido de alma, flagelo do mundo feminino, e por aí. Não que eu não me inclua entre seus amigos, mas o conheço há bem menos tempo que esses, Flavinho, Felipe, Celsinho, que tem anos de André Menezes nas costas e, portanto, mais autoridade sobre o assunto (que o Dedeco é um assunto, sem dúvidas).

E prosseguindo esse amplo estudo sobre essa personalidade desviada que o Dedeco é, me veio à mente essa faceta do embusteiro. Quando eu digo faceta nem consigo pensar numa figura geométrica, e explico.

Tivesse o Dedeco três facetas, e eu diria que ele é um triângulo. Quatro, um quadrado. E por aí vai. Mas como estou diante de um homem cujas facetas são incontáveis, como estou diante de um objeto de estudo capaz de enlouquecer quem o pretende compreender em matéria de variedade de estilos e comportamentos, não posso valer-me desse expediente. O Dedeco é amorfo, portanto. E tenhamos ele, hoje, na forma como se apresenta na foto. Aliás, quando eu falei em ectoplasma, me veio uma luz. O Dedeco, como o ectoplasma, assume a forma mais conveniente, e sempre com o mesmo vil objetivo. Agradar "um pessoal", que é, pasmem, como o Dedeco se refere às mulheres.

Sentar com o Dedeco à mesa e ouvi-lo falar sobre suas mulheres - que não são poucas - é assistir a um desfile de frases neoclássicas como "comi um pessoal ontem de responsa", "conheci um pessoal ontem, no metrô, que vou te dizer...", "hoje não vou sair porque um pessoal vai lá em casa dar pra mim", e outras gentilezas tijucanas.

Como eu ia dizendo, tenhamos nosso Dedeco, hoje, na forma como se apresenta na foto. A cabeça brilhante, como a de um Marcos Valério, a camisa de malha preta como a segunda pele, a boca em forma de bico no meio de um verso (e nesse momento eu penso que ele canta "kiss me quick because I love you so"), os olhos forjando atenção quando, o que pretendia, na verdade, era apenas impressionar a assistência feminina.

E já que estamos falando do Dedeco cantando, é preciso expôr as maldades que vêm do André. Quando havia show, André Menezes era o primeiro a chegar. Sentado num canto, aguardava a presa, "um pessoal que valha a pena", disse-me ele certo dia. E dava um jeito de sentar-se à mesa com a moça. Pedia dois chopes, que ele mesmo pagava, uma porção de tremoços, moela, um troço desses, e danava a chorar a certa altura (valia-se de uma tática suja, chegando o fio de fumaça de seu cigarro bem junto aos olhos que, irritados e vermelhos, vertiam água, e fungava como um javali gripado para dar veracidade à cena). A moça, invariavelmente (o embusteiro nunca deu ponto sem nó), com a mãozinha pousada sobre o braço peludo do Dedeco, perguntava preocupada, "O que foi, André?".

E ele apenas dizia, "nada", e atravessava a rua correndo, pedindo licença, dizendo que não iria demorar, e entrava pelo portão principal do centro espírita em frente ao Estephanio´s, o Discípulos de Samuel. Agachado atrás do portão, Dedeco acendia outro cigarro, repetia seu ritual de imolação da córnea, e quando estava inchado de tanto fungar, com os olhos em brasa, voltava de cabeça baixa à mesa. A moça, àquela altura, ou melhor, "o pessoal", já estava no papo.

Daí o André Menezes pedia mais dois chopes. E descia o verbo: "Sabe, querida... Eu sou médium... (nessa hora, os olhos da menina eram duas caçapas)... descobri há uns meses, sabe? (e fungava)... E descobri que o espírito do Elvis é meu obsessor... ´cê sabe o que é obsessão?"

Quando a menina sabia, ele emendava de primeira. Quando não sabia, inventava um troço qualquer, bem coerente e prosseguia: "Pois é... sei lá por que ele foi escolher logo a mim... Vai ver que é porque tenho todos os seus discos, fitas de vídeo, DVD... Sei lá. E lá no centro, por isso fui até lá, pra eles me darem um passe, (por dentro, o Dedeco ria de comprimir o fígado e o baço), eles me disseram que eu só conseguiria exorcizá-lo, levar luz até ele, cantando suas canções durante o show de meus amigos, incorporado, sabe?"

E quase sempre a moça sabia do que ele falava. Hoje, quando a Universal do Reino de Deus promove sessões de desobsessão ao vivo, pela TV, todo mundo sabe o que é isso.

Daí ele pedia mais chopes, mais moelinha, fazia uns carinhos no braço da menina e esperava o vocalista chamar, "Agora, com vocês... Dedeco!".

E dava-se o espetáculo.

Mal acabava o número, ainda durante os gritos de bis das viúvas do Dedeco, que são muitas, ele chegava "pro pessoal" e fazia um convitinho pra sua alcova, na Conde de Bonfim, pra ouvir um CD, assistir um DVD etc etc etc

Na noite seguinte, à mesa, o mesmo intróito entre nós: "Porra, Edu, papei um pessoal lá em casa ontem que vô te contar!".

Até.

Posted by Picasa

15 comentários:

Anônimo disse...

Por essa eu não esperava. Sempre acreditei no André quando ele me falava de suas carências e de sua busca infrutífera por uma mulher a quem valhesse a pena entregar seu coração. Com base nisso, cheguei mesmo a incentivar algumas amigas a lhe darem uma chance. Como me arrependo...

Anônimo disse...

Gênio da raça, g-ê-n-i-o!

Eduardo Goldenberg disse...

Zé, porra, espero que estejas a elogiar a genialidade do embusteiro. A uma por que eu não mereço. A duas, por que seria o primeiro elogio a esse ser baixo que é o André.

Betinha, quem são as amigas? Os nomes, os nomes, por favor, os nomes!

Anônimo disse...

Edu:

vc está se superando, menino!!!

Côro com o leitor zé sergio: gênio!

Muito bom. Figuraça esse Dedeco :-)

Vania

Anônimo disse...

Edu, você é genial também. Eu estava me referindo ao Dedeco.

Eduardo Goldenberg disse...

Eis aí, então, que provocado a explicar-se, o Zé Sérgio carimba o PRIMEIRO elogio ao Dedeco, afogado num mar de agressões assinadas por seus amigos. Obrigado, querido Zé. Agora explique à Vânia (Vânia, quem é você?) que eu não era o alvo. E se a Vânia elogiar o Dedeco também, ainda mais com o epíteto de gênio, vai virar "um pessoal".

Anônimo disse...

isso não passa de recalque do Edu e seus amigos. só porque eles não tem a competencia do Dedeco, ficam defamando ele. ninguem sabe o bem que o Dedeco me faz. ele é TDB...

Eduardo Goldenberg disse...

DEDECO, manifeste-se, malandro. Foi a Duda quem mandou esse último, não foi? Eis a configuração do computador do "anônimo"...

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Obrigado, querido.

Anônimo disse...

É verdade, eu estava lá quando da demonstração de fúria das fãs, tendo visto as agressões aos microfones - espero que com nenhuma fixação fálica delas - e os usos para a comida descritos. Quanto as suas cantadas infames, é tudo verdade! Várias vezes tive que sair rápido da mesa, ou ele se levantou apressado, para falar com "o pessoal".
O que se seguia era uma sequência de cantadas indescritíveis, das quais ouvi partes. Coisas como "qual a sua graça?", seguida da resposta e um assustador " é o nome de mamãe...". Tinha também "qual o seu signo, é virgem?". Ou então nas noites de porre "e aí minha deusa, essa chã-de-dentro está no ponto?". O meu choque é que funcionava!!!
Sobre os comentários no dia seguinte, faltou o Edu dizer que várias vezes o André chegava com a seguinte pérola: "Rolou um delivery ontem lá em casa". Pode-se imaginar qual era o prato principal.

Anônimo disse...

Outra coisa, Felipão. No uso de torpezas e leviandades mescladas com religião, a única concorrência no mesmo nível que o André são os pastores da Universal. Abaixo com todos eles.

Anônimo disse...

Concordo com a anônima que atribui tudo isso à inveja. O André, que beija bem pra burro, canta muito e é muito competente quando encontra o pessoal (risos). Ah, e ele está lindo na foto. Anseio por vê-lo de terno.

Anônimo disse...

Edu,

Concordo com tudo que você disse sobre o embusteiro. Só fiquei chateado com a menção a mim, ao Flávio e ao Felipe como tendo "anos de Dedeco nas costas". Mas será que já não bastam as incautas e as desavisadas que caem na lábia dessa peça, você ainda tem que jogar a gente nessa?

Dedeco nas costas, irmão, nem pensar!

Beijo.

Anônimo disse...

Algumas das melhores pessoas que conheço não valem o que o gato faz na esquina. Prefiro mil vezes o amoral completo, o desprovido de caráter, do que certas figuras que fazem o papel do bom moço. Bons moços, boa moças, pois sim, como diria minha vó, santinhos de pau oco. Quem nunca se imaginou diante de um grande vulto da humanidade e não esboçou a frase que diria a esta grande figura, caso tivesse a oportunidade de dizê-la. Vejo-me diante do Mahatma Gandhi dizendo ao bom indiano: "A humanidade vos deve muito, santo homem!". E se estivesse cara a cara com Freud: "Ó sábio, obrigado por vossa contribuição científica!". Diante do Dedeco, as palavras que me escapariam seriam as seguintes: "Porra, como é que eu não pensei nisso antes?".

Anônimo disse...

É isso aí, Celso, Dedeco nas costas eu nunca tive e nunca vou ter. Aliás, cada vez mais me distancio desse triste degenerado moral.
Felipe tocou em algo que era sempre mencionado pelo André, a importância da sugestão - quase hipnótica - para mesmerizar a vítima potencial. Ele usa papos longuíssimos, telefonemas infindáveis - sempre realizados em esquinas, sem ouvintes - e símbolos sub-reptícios para obter sua satisfação. É um embusteiro.

Anônimo disse...

No fundo, no fundo, o que nós temos é que reconhecer que o Dedeco, a quem gostaria de cumprimentar pessoalmente, é um craque no assunto que nós todos tentamos dominar durante a vida. Parabéns, André. E parabéns, Edu (quando encontro você no Estephanios?), pelos relatos precisos. Mas diga lá: o quê, disso tudo, é verdade?