15.7.05

O DEDECO OFERECE EMPREGO


É preciso que fechemos a semana, toda ela dedicada a esse espírito sem luz que é o Dedeco, com essa foto hedionda, de autoria do Cachorro, feita em Paraty no ano passado. Sei que corro o risco de chocar grande parte de meus leitores, eis que a foto é um horror visual dos piores. Percebam o pulôver que é o Dedeco, peludo como um homem de Neandertal, e percebam sua mão esquerda, oferecendo, mesmo durante o sono, o que ele tem de melhor, segundo ele próprio. E percebam, mais, a extensão da testa desse homem. Uma coisa, sinceramente, tétrica, pra dizer o mínimo.

E eu sei que isso pode lhes soar como mentira, mas não é. Ontem, durante breve passagem pelo Estephanio´s, deparei-me com um elegante Dedeco, de novo vindo de Petrópolis, acompanhado de um amigo cujo nome não sei, que saudou-me assim: "Veja quem está aí, Dedeco! Seu maior marqueteiro, o homem responsável por sua elevação ao mais alto degrau de sua vida!", e abraçou-me, o Dedeco, escondendo, por trás do abraço, segundas intenções rapidamente expostas. Disse-me ele: "Edu, meu querido, obrigado mais uma vez por tudo o que você tem feito por mim! O pessoal tá que tá, é delivery todo dia lá em casa, valeu mesmo. Posso te pedir um favorzaço?". Não para ser gentil, mas para obter mais informações sobre sua vida espúria, assenti com a cabeça, pedi uma Original ao Erasmo e sentei-me diante dele.

Pausa para breve comercial: desde ontem o Estephanio´s oferece, geladíssimas e a preço módico, Original e Bohemia.

Antes, uma explicação.

O Dedeco divide apartamento com uma moça, coitada, que atende pelo nome de Polu. A Polu, muito mais que dividir as despesas do dia-a-dia com o André, exerce a função de faxineira, já que, disse-me ela, o André é um porco. É Polu quem arruma seu quarto, lava suas roupas, ajeita seus livros, seus discos, quem lhe ministra os remédios, enfim, uma "empregada de mão cheia", que foi assim que o gentilíssimo Dedeco apresentou-me a ela.

E a Polu, coitada de novo, justamente por morar com o André, é vítima de vodus africanos, trabalhos pesados nas encruzilhadas da Tijuca, já que o "pessoal" a inveja de maneira desonesta. E os trabalhos são, eu mesmo já os vi, mais de uma vez diante do prédio do André, praticamente assinados. O último deles era composto de um alguidar com galinha, uma cumbuca com farofa preta e uma garrafa de Valontanno Tannat. Pigarreio e prossigo.

Mas contou-me o Dedeco que a Polu está de mudança marcada pois vai casar-se. E seu desespero diante disso não vem por causa do aluguel, da luz, do telefone, do condomínio e do IPTU. Vem por causa da ausência anunciada da serviçal. E pediu-me, o Dedeco, que oferecesse a vaga de empregada aqui no Buteco. Disse, mais, vejam como é baixo esse espírito sem luz, que oferece "casa, comida, rôdo e espanador de cabo longo". Como se vê, fino, como sempre, o André. Pediu que as candidatas ofereçam seus serviços através dos comentários a esse texto. Prometeu-me ler tudo e responder um a um. Está cumprida a promessa, embusteiro. Vamos prosseguir.

Eu ontem lhes prometi contar sobre passagens do André Menezes no Colégio Militar, onde estudou. E quando eu soube disso, minha imaginação construiu a visão de um André, ainda petiz, caminhando, já careca (que o André jamais teve cabelo na parte superior do crânio), pelas alamedas do Colégio Militar. E quem me contou o mais significante episódio da vida militar do Dedeco foi um coronel, que atende pelo pomposo nome de Peniche, com quem esbarrei, dia desses, no buteco em frente ao Colégio, na esquina das ruas São Francisco Xavier e General Canabarro. Aliás, o buteco é um arremesso ao passado. Ostenta, ainda, um letreiro oval onde se lê "Grapette". Vejam que antigüidade.

Lá, entre um gole e outro de Pau Pereira, o Pepê, como é conhecido o coronel (aliás, ele pareceu-me, naquele dia, idêntico ao Coronel Mostarda, do jogo "Detetive", vejam como sôo antigo hoje), inquirido sobre um ex-aluno chamado André Menezes, foi um excitado narrador de histórias.

E quero destacar uma, a que me pareceu mais emblemática.

O André, contou-me o Pepê, era um aluno triste e envergonhado em suas primeiras semanas no Colégio Militar. Não suportava as piadas dos colegas, alunos dos ex-torturadores do regime, que o apontavam como "aeroporto de mosquito", "careca peludo" e outras graças.

Até que veio o dia da glória para o André.

Era sábado, e fazia um calor senegalês.

Os alunos estavam em forma, cantando o Hino Nacional, na abertura da cerimônia mais esperada por todo novo aluno do Colégio: a Entrega das Boinas.

E o André Menezes, número 1 na lista de chamada, foi o primeiro a ser chamado ao púlpito pelo Diretor. E quando cravaram, na cabeça do Dedeco, a boina de feltro vermelho, ele foi um menino iluminado pela chama da vingança. Dirigiu um olhar de ódio aos colegas e de ampla satisfação por saber-se, dali em diante, um igual, apenas com o chumaço de cabelo sobre a nuca exposto. E nunca mais, durante os quatro anos em que lá estudou, o André tirou a boina. Nem pra tomar banho, frisou o Pepê entornando outro copo de Pau Pereira.

Estudando, tendo aulas de cavalgada, nas atividades de Educação Física, lá estava o Dedeco com sua boina vermelha ocultando sua calvície precoce.

Vale-se até hoje, o embusteiro, desse expediente. Quando leva uma moça pra casa, dá um jeito de contar que estudou no Colégio Militar. E a moça, interessada, ouve: "Quer ver minha boina vermelha, querida?".

Até.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Porra Edu, você ainda nem escreveu e eu já estou na escuta, mas não é pra te entregar um moto-rádio, e sim para lhe dar um esporro!!! Por mais genial que seja o personagem, e eu acho que é gênio mesmo e ponto, nada justifica a transformação desse espaço, antes familiar, num blogue pornô!!! Dedeco coçando o saco é uma cena deprimente. Vai abalar a imagem desse grande brasileiro, porra!!!

Anônimo disse...

Parece que tá fraco de pretendentes ao cargo de mucama do Dedeco...

Eduardo Goldenberg disse...

Não tá fraco não, meu irmão... Encontrei o Dedeco ontem no Estephanio´s e ele está recebendo, em casa, ao vivo e a cores, os (cu)rrículos das pretendentes. Um troço, esse mentiroso. Um portento.