2.8.05

HAJA CORAÇÃO


No domingo estive com a Dani, Guerreira, Augusto, Dedeco e Dalton no Clube Renascença, na estréia da roda comandanda pelo Nésio. Comemorava-se, também, o aniversário de uma das filhas dessa figura que ilustra o texto, Wanderley Monteiro que, obviamente, estava lá com sua Iracema, cantora de primeira linha, que, aliás, amanhã, quarta-feira, inicia temporada no Ó do Borogodó, bar em SP que guardo no coração, capitaneado pela doce Stê e seu irmão, Capitão Leo. E como eu tenho como uma de minhas obsessões expôr as coincidências que soldam o amor que tenho pelos amigos, lá vai o caso de domingo.

Eu já estava pronto. Com a alma lavada pelo 2 a 0 do Flamengo sobre o Botafogo, bebia e jogava conversa fora com as figuras-personagens à mesa. E vi, de relance, o Wanderley partir da churrasqueira no fundo do quintal em direção à roda. E como um bobo, pois só um bobo fica fazendo pedidos durante uma roda de samba, virei pro Augusto e disse, "Pede pra ele cantar Pra Conquistar Seu Coração". O Augusto, amplo conhecedor da matéria, me acalmou com um "nem precisa, ele vai cantar".

E assim foi.

Segundos depois o Wanderley pôs-se a cantar essa obra-prima, de sua autoria em parceria com o Luiz Carlos, o da Vila:

"Se o limite for o infinito
Vou subir até o pico do Everest
Nadar o oceano sem um grito
E de joelhos atravessar o agreste
Faço isso tudo e muito mais
Pra te encontrar, te conquistar
E até provar que é minha paz
O inverso dos meus ais.

Preto no branco um poema, vou por sim,
E onde houver um mau começo, por fim
Fazer de tudo pra mudar
Um novo mundo instalar
E com o mundo em minhas mãos
Onde houver talvez ou não, eu vou sim!
Com as próprias mãos andar a pé ao Bonfim
E num xaxim eu vou plantar
Um baita de um jequitibá
Enraizar mesmo sem chão
São Tomé vai crer sem olhar
E todo mundo vai cantar
Que eu conquistei seu coração."

E eu me pus a chorar de maneira torpe. E uma pequena pausa. O Wanderley é, na minha modestíssima opinião, o maior. Simples, franco, sorriso largo como o seu abraço, é daqueles que dão vontade de gritar "componha um troço ruim, Wanderley, faça um samba mais ou menos!", já que de dentro dele só sai diamante.

E o Augusto, jogando mais amálgama nas nossas almas, a minha e a do Szegeri, disse, "O Fernando chora sempre que canta isso".

Daí eu me transportei pra São Paulo, onde houve, na casa do Capitao Leo, um churrasco regado a samba, onde estavam o Wanderley, eu, Dani, Stê, Szegeri, Roberta Valente etc etc etc

O Wanderley cantava o mesmo samba.

No dia eu não reparei.

Mas estava lá, num canto, meu irmão Szegeri, meu Otto 24h por dia, chorando como eu. Pude ver a cena com impressionante nitidez depois de fazer bainha no tempo, troço no qual cada vez mais me especializo, graças aos rompantes e às guinchadas em direção ao Passado, uma de minhas obsessões olímpicas.

Até.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo! Wanderlei é, entre todos os atuais nomes do samba, aquele em que eu apostaria como um futuro .... tremei! ..... CARTOLA! Um amigo meu diz isso há vários anos. Tem músicas que o homem fez que eu não acredito terem ficado de fora do primeiro CD, que só tem sambas ótimos, não deixa a peteca cair em momento algum. Podem crer: o segundo CD do Wanderlei vai ser tão bom quanto!

Szegeri disse...

Assino embaixo todas as manifestações. Wanderley Monteiro e Iracema Monteiro são grandes forças do samba de agora e do futuro, tenho toda certeza. E por mais que queiramos, é impossível dissociar as suas figuras, quase sempre juntas, ambas de uma simplicidade, de uma força, de uma beleza comoventes. Não é à toa que a Paulicéia se curva a ambos. Wanderley está comandando quinzenalmente a roda no Bar Samba, que teve lotação mais do que esgotada nas duas primeiras apresentações, ao lado do grupo Samba Raro. Iracema estréia amanhã no Ó e tenho absoluta certeza de que o sucesso será absoluto. Vida longa ao samba e à família Monteiro!