11.8.05

O DEDECO NO BAILE DE MÁSCARAS


A Duda, festeira como só ela sabe ser, aliando permanentemente as festas ao lucro, já que sempre cobra, e cobra salgado o ingresso, fez, no sábado passado, em sua portentosa casa em Teresópolis, um baile de máscaras para comemorar seu aniversário. Eu disse comemorar seu aniversário mas é preciso dizer, em seguida, que além de comemorar seu aniversário a Duda embolsou uma bolada. Cobrou não os R$13,00 que costuma cobrar por cabeça, mas R$50,00 dessa vez. Para custear as comprinhas, foi o que ela disse, mas durante uns bons seis meses não precisará pôr os pés no supermercado. Bem, mas diante do que tenho para lhes contar isso é mero detalhe.

Umas oitenta pessoas subiram a serra. Oitenta, não. Vamos ser precisos. Oitenta e duas pessoas subiram a serra. E a festa foi um permanente desfile e um delírio plástico e visual de oitenta e uma máscaras. Dedeco, o embusteiro do André Menezes, era o único sem máscara.

E eis o primeiro e importante apontamento: o André é uma máscara e ele sabe disso. Razão pela qual adentrou o recinto com aquela cabeça lisa, lustrosa, com aqueles dentes entre o bege e o amarelo, com aqueles passos lentos, a coluna levemente curvada, com aquela tosse de 50 decibéis.

E houve um uivo coletivo de "ohs" e "ahs" a lamentar o estraga-prazeres. A Duda havia sido tão clara, tão decidida, tão impositiva quando condicionou a presença dos convidados à máscara, que foi ela a primeira a dizer ao André, "venha à cozinha comigo". E o Dedeco foi.

E lá chegando a Duda apontou para uma espécie de cabide na parede diante do fogão de onde pendiam máscaras venezianas, algumas de plástico da Casa Turuna, e disse, "escolha uma, André, alugo por R$20,00". E o Dedeco tossiu, lançando perdigotos sobre a Duda, acendeu um cigarro, e envolvendo o rosto da doce Duda numa nuvem de fumaça, disse apenas "não". E riu. E voltou à sala numa sinfonia de tosses.

Chegando à sala, uma mascarada fantasiada de Rainha de Sabá dirigiu-se ao Dedeco e disse, tentando fazer graça, "E aí, Dedequinho, veio fantasiado de Marcos Valério?", e o mentiroso, o biltre, o baixo Dedeco, agasalhando a genitália com a mão esquerda disse no ouvido da moça, "Vim, quer ver o mensalão do papai?". Bastou para que a Rainha de Sabá se retirasse aos prantos.

Vejam vocês que a moça, quando comparou o Dedeco ao Marcos Valério, fazia referências à calvície do André. E nunca é demais repetir que o André, um ex-gordo que deixou pra trás mais de vinte quilos, quando deixou de ser gordo deixou também de ser careca, o que prova que sua calvície era mero apêndice de sua obesidade. Quando gordo, o André era apontado na rua, "lá vai aquele gordo careca". Hoje, magro, elegante, nunca mais foi apontado como o gordo e muito menos como o careca. Tem hoje, no imaginário coletivo, o André, uma cabeleira capaz de fazer o Sansão parecer um estudante do Colégio Militar com máquina 1.

Mas voltemos à festa.

Fazia um frio polar em Teresópolis. E a mesa era uma festa de garrafas de vinhos nacionais e de cachaça. E os convidados bebiam em ritmo de indústria. E a libido foi num crescendo absurdo. E vejam vocês o ápice da noite, protagonizado, é claro, pelo André Menezes.

O Dedeco, rasteiro como uma víbora, estava de olho, desde que dera o chega-pra-lá na Rainha de Sabá, numa morena de parar o trânsito. E a morena de parar o trânsito estava acompanhada. Vamos à ação desonesta do Dedeco.

Aproveitando que a morena fora ao banheiro, o Dedeco se aproxima do cara. Põe a mão sobre seu ombro e estende o maço de Carlton dizendo, "prazer, André". O cara aceita depois de dizer "prazer o meu, Adolfo" e o Dedeco puxa do Zippo, sendo gentil. E é preciso dizer que, sempre, e sem exceção, as gentilezas do Dedeco encobrem uma vilania de fazer corar o mais repugnante dos homens. E o Dedeco puxa papo. "Legal a festa, não?", e sua vítima faz que sim com a cabeça e o Dedeco pergunta se ele aceita uma dose de cachaça. Novo sim com a cabeça. E volta o Dedeco, em segundos, com dois copos americanos até a boca de cachaça. A morena volta do banheiro, dá uma bitoquinha no camarada que a apresenta ao André. E diz o cara, "môzinho, vai dançar, vai, que você adora... vou ficar aqui bebendo um negocinho...". E vai a morena ao salão.

Bem, em questão de meia-hora, cinco ou seis doses depois, o Adolfo roncava como um tuberculoso em estado terminal no sofá de couro da sala. E o Dedeco foi à morena. "Querida, o Adolfo dormiu... ele me disse que você nunca tinha vindo a Teresópolis, é verdade?", e a coitada, também já calibradíssima, disse, "nunca...".

E o Dedeco, gentilíssimo, pega a morena pela mão e diz, "vem cá que eu quero te mostrar uma coisa...".

Vão ao jardim orvalhadíssimo.

E Dedeco aponta, pega o queixinho da menina e o vira pra direção de seu indicador. "Aquele é o Pico do Dedo de Deus...".

A moça foi um só suspiro. "Que liiiindo...", disse entre soluços de porre.

"Você gostaria de ir lá?"

"Agora? ... A essa hora?"

E o André, sujo como um senador, emenda, "posso trazê-lo aqui pra você...".

A morena, seios fartíssimos, batom já quase no fim, disse... "Jura?". Vejam vocês do que é capaz uma carraspana.

"Tenho cara de mentiroso?"

A menina riu sem jeito e disse, "Lógico que não...". Vejam vocês do que é capaz uma porranca.

E o Dedeco atracou-se com a morena, tascou-lhe um beijo a vácuo, e pôs a mão de menina sobre, vamos tentar ser gentis, o que lhe saía da calça.

"Apalpa, apalpa... fecha os olhos... tá vendo? Sente o pico..."

Até.

PS: A Pat, leitora freqüente do Buteco, acaba de deixar comentário comovente no texto de ontem. Vejam vocês que a ironia que cerca a partida do meu irmão Fernando Toledo atinge um grau quase que mágico.

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14 comentários:

Anônimo disse...

edu, essa é daquelas de tirar o fôlego de tanto rir. muito boa!

cara, o dedeco existe?

ele fez isso mesmo?

se fez, é meu ídolo!

Anônimo disse...

Olha o Edu PINTANDO na área de novo. PINTANDO mesmo. Deu pra ver a casa, a festa, o jardim, o Dedeco e a coitada morena. Muito maneiro Edu. Siga adiante camarada. Tuas letras viciam.

Anônimo disse...

Du ,depois de todas essas suas " homenagens " ao grande Dedeco , acho que ele pode se candidatar nas proximas eleições !!!!

Anônimo disse...

Faaaaala, Edu !!

Quem diria... As pessoas ainda duvidam de que os seus relatos são a mais fiel expressão da verdade !

Duvidam até da minha existência !?

Enfim, resolvi aproveitar a oportunidade para me solidarizar a vc pela passagem do Fernando Toledo e mandar um grande abraço ao Isaac, Szegeri e Zé Sérgio.

Romualdo, eu existo !!! Um grande abraço.

Cezinha, quanto à coitada... não deu tempo !!! O Adolfo acordou e acabou por me agradecer, após sofismáveis explicações, pela manobra de reanimação cardio-respiratória que salvara a vida de sua moçoila.

Abraços a todos.

Anônimo disse...

Sensacional, prezado Eduardo! Pesquisando coisas no google vim parar aqui e quero te dizer que me diverti MUITÍSSIMO! Você já está nos meus favoritos. Ri demais! Que gente essa que você conhece, heim!

Anônimo disse...

Tenho que concordar com o Cesar!

Realmente, Edu, suas palavras viciam! Principalmente quando são sobre as pessoas que eu também conheço.

Paro para pensar nelas e não me aguento de tanto rir!

Sua revista, para mim, está sendo como uma terapia!

Anônimo disse...

Faço parte dos viciados :-) Eita coisa boa de ler isso aqui! Impagável a situação de hoje.

Anônimo disse...

Roberto Romualdo ("o relógio marca...46 minutos para terminar o primeiro tempo..."), tal como você, duvidei da existência do Dededo, que, conforme você leu, realmente existe. E sei porque o conheci no Estephanio´s (Rua dos Artistas, Vila Isabel, RJ). Estava numa mesa cercado de mulheres lindas que disputavam no tapa quem ia pagar a conta do cara. No que diz respeito ao Dedeco, saiba que o Edu tem sido escandalosamente veraz. Já o Abelha...

Anônimo disse...

O crápula, biltre, imundo e leviano do André - meu ex-amigo - continua a me enojar. Eu nunca tinha ouvido algo tão baixo quanto esse "vem ver o mensalão do papai".
O pior é que ontem eu estava no Steph e o nojento assediava violentamente uma pobre desavisada, nitidamente uma pessoa digna, que não teve como resistir e protagonizou momentos chocantes (quase realizou lá mesmo o que ele queria).

Szegeri disse...

Acho engraçado o Zé Sérgio... Testemunha a milimétrica exatidão dos relados eduardianos quanto ao Dedeco, o embusteiro, e duvida quanto ao Abelha. Das duas uma: ou você infirma o teu próprio testemunho, ou confirma o meu. Como ninguém pode jogar contra o patrimônio, tua manifestação é a prova final e cabal da fidelidade matemática dos relatos sobre o bom Abelha, tanto como sobre a Lenda, a Duda etc. Aliás, Zé Sérgio: nós dois também existimos, ou é um delírio etílico recíproco??? Jesus...

Anônimo disse...

Só falta agora concluirmos que todos nós só existimos como personagens do Edu!!!!

Anônimo disse...

Szegeri querido, acho que é tudo realidade virtual. E só por causa disso acho que vou tomar um chope hoje, pois estou muito puto da vida com certa cambada.

Eduardo Goldenberg disse...

Zé Sérgio, cobre de mim apresentá-los, você e o Abelha. Nenhum dos dois presta rigorosamente nada, não valem nada, vocês. Garanto que se tornarão amigos de infância no primeiro "olá".

Anônimo disse...

Edu,

Estava presente nesta festa e mais uma vez você foi "preciso do início ao fim"(perdão pelo plágio). O Dedeco deu uma aula de canalhismo.
Dedeco,
Depois te pago por essa aula prática. Abraços,

Cazé.