Há aqueles ditos populares que dizem que o Sargento Garcia jamais prenderá o Zorro, que uma vaca jamais tossirá etc etc etc. E há, no Estephanio´s, aquela inapelável verdade: o Dedeco jamais namorará. E eu, ouvindo esse vaticínio, trepo no banquinho imaginário e urro "jamais mesmo! jamais mesmo! jamais mesmo!". Pois bem.
Estava eu, ontem, justamente no Estephanio´s, na companhia da Guerreira, do Flavinho, da Betinha e do Marquinho, assistindo ao jogo do Flamengo.
E eis que entra o Dedeco no bar.
A tiracolo, vejam vocês, uma moça. Quando eu digo "a tiracolo", quero dizer de mãos dadas. E os nossos dez olhos deixaram a TV órfã. O Flavinho, cuspindo o chope que tinha no palato sobre a mesa, pôs as duas mãos sobre meus ombros e disse, "meu Deus... essa é a namorada do Dedeco...". Eu, solidário no susto, cuspi sobre a mesma poça de chope o chope que tinha na boca. E eu só fui capaz de dizer um "o quê?!" que foi ouvido de muito longe.
Vejam que eu estou tentando ser fidelíssimo ao baque coletivo. Minha cabeça, que deu voltas e voltas diante da visão do improvável, gerou uma visão ainda mais absurda. O Juiz que apitava o jogo interrompeu a partida. O narrador emudeceu. A torcida vaiava o Dedeco. E eu fiquei ali, olhos cravados no André Menezes, esperando sua reação. Percebam que tudo isso, a entrada do André Menezes no recinto, as golfadas de chope, o susto coletivo, tudo isso se deu em poucos segundos. E veio a mim o André. Sozinho.
Abraçou-me e percebeu, sei que percebeu, a temperatura siberiana do meu corpo. Disse-me apenas um "faaala, Edu!", como sempre, e mais nada. Depois fez um gestinho com o indicador chamando a moça. E disse-lhe apenas o nome, mais nada (não direi seu nome aqui).
E foram, os dois, a uma outra mesa.
E eu pro Flavinho: "Tem certeza?"
"Absoluta."
"Mas ele não disse nada..."
"Vergonha. Ele é um tímido."
E quero dividir com vocês as cenas de náusea.
O Flamengo perdia de um a zero e eu não vi, nem quando passou o replay, o gol de empate do Flamengo. Só tinha olhos para aquela mesa.
Dedeco, como um autômato, alisava as costas da moça com a mão direita, que ostentava um anel de prata no dedo médio. E ela, tadinha, daí o título "PIEDADE", sorria revirando os olhinhos atrás das lentes dos óculos embaçados, já que o Dedeco lhe dizia coisas que eu não entendia enquanto punha seu nariz em atrito com o nariz da menina e o Flavinho, incrédulo, me dizendo, "putz... beijinho de esquimó é demais...".
E a mão esquerda do embusteiro entrelaçada com a mãozinha da menina sobre seu colo.
Os garçons, Erasmo, Léo, Maurício, guinchavam de rir no balcão do bar, apontando acintosamente pro casal. A Guerreira e a Betinha teciam comentários que eram, obviamente, sobre aquela cena deprimente. O Marquinho, que tem no André uma espécie de guru, o que faz dele um garoto de futuro sombrio, babava como um desdentado com fome quando fica com água na boca e, logicamente, deixa pender aquele visgo de saliva pelo queixo.
O André, biltre em último grau, sorria em direção a mim e fazia, com a mão que afagava a região dos pulmões da moça, aquele gesto que imita um ganso mergulhando a cabeça na lagoa, causando-me ainda mais repúdio.
Tive ímpetos de ir à mesa falar com ela. Impediu-me o Flavinho, com uma frase sábia: "Deixa, Edu. Vamos ver que direção toma esse trem. O que não vai faltar é história pra você contar depois.".
E não fui, então, à mesa.
E saí sem me despedir do casal.
Até.
5 comentários:
Sinceramente, os nossos olhares bovinos para aquela cena lasciva, lúbrica, que beirava a indecência, foram decorrentes do choque com a desfaçatez desse espírito sem luz chamado André Menezes. Temo pela pobre moça, com cara de séria, digna, que se deixou levar por esse tarado.
Mais uma prova que o André não tem limites quando o assunto é papar a próxima vítima.
Coitado desse pessoal...
Edu, ao contrário do nosso pobre Flamengo, você está batendo um bolão! Parabéns mais uma vez.
Acabei de receber um e-mail com um Pensamento do dia.
Vejam se não é perfeito para o Dedeco:
"O homem é o único animal que consegue estabelecer uma relação amigável com as vítimas que ele pretende comer"
Flavinho e Szegeri, manterei a todos informados sobre o destino do pessoal de ontem, que eu tenho certeza de que é mais passageiro do que gripe.
Betinha, querida, obrigado. Mas você é suspeita.
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