A Vanda Lúcia mora no quinto andar, de frente. Tem o péssimo hábito de bater as cinzas do cigarro na janela, e vão todas morrer no apartamento de baixo, onde mora a Dona Bizantina, viúva e como as viúvas, cheia de manias. A Vanda Lúcia é casada com o Aloysio, a quem chama de Alô, jogador, mulherengo e biriteiro. Não têm filhos.
Dia desses toca a campainha da Vanda Lúcia.
"Bom dia, dona Vanda Lúcia. Olhe bem, a senhora está impossível com esses cigarros, minhas cortinas estão um nojo, um nojo!", era a Dona Bizantina dando um escândalo no corredor. E um escândalo num corredor na Tijuca significa portas sendo abertas e pequenas frestas contendo dois ou quatro olhos, ou ouvidos, que na Tijuca tudo se sabe.
Vanda Lúcia, finíssima, de lenço na cabeça e cigarro no canto da boca nada diz. Espera o ataque da vizinha e bate a porta depois de um "passar bem" aos gritos. E quando bateu a porta, uma dezena de portas bateram em seguida, em uníssono, havia 15 apartamentos por andar naquele muquifo perto do Largo da Segunda-Feira.
Vanda Lúcia vai à janela e espera o que era óbvio, Dona Bizantina pôr a cabeça pra fora e olhar pra cima. E a Vanda Lúcia sorri e bate a cinza, como de costume. Dona Bizantina, como tartaruga no casco, entra. Entra mas grita da janela, "Bisca!".
E segundos depois: "Cornuda!".
Vanda Lúcia quase teve um treco na sala.
Vai ao quarto andar.
Soca a porta.
E Dona Bizantina de dentro, sem abri-la, "O que foi agora?".
"Tu me chamou de cornuda, bruaca? Chamou?".
"Com conhecimento de causa. E me dê licença."
Vanda Lúcia pensa, "Ih, porra, deixei o feijão no fogo!", e sobe.
Sobe e olha o relógio na cozinha. Em duas horas, no máximo, o Aloysio chega.
Vanda Lúcia liga a TV. Vai assistir, como sempre, o programa do Wagner Montes na TV Record. Já está no segundo maço do dia, anda fumando demais mesmo. Morre de rir, como sempre - ah, as rotinas na zona norte - das falas do Wagner Montes, a quem acompanha desde os tempos de "O Povo na TV". E dorme no sofá comprado em 36 prestações.
Acorda com o barulho das chaves.
Aloysio. Bêbado como um nem-sei-dizer-o-quê. Tropeçando, se lança sobre o corpo de Vanda Lúcia que diz "Chispa daqui, Alô! Que estado é esse? Que bafo! Sai, sai, sai!".
"Mas Vanda Lúcia...", e esse "Vanda Lúcia" dito pelo Aloysio era um espetáculo. As sílabas ditas bem devagar, o "u" do "Lúcia" demoradíssimo...
"Não tem mas, mas... pro banho, anda!".
Toca a campainha. Abre sem nem olhar no olho mágico.
É a Dona Bizantina.
"O que foi agora?", Vanda Lúcia sem paciência alguma, fumando.
"Dá uma olhadinha no bolso esquerdo do paletó dele, dá. Cornuda!".
Vira-se e desce de escada mesmo.
Aloysio está no banheiro.
Trancado.
Provavelmente - ela deu uma olhada rápida no quarto-e-sala - entrou no banheiro sem tirar nem o paletó.
"Benhê?"
"Que foi?"
"´cê vai demorar?"
"Não, por que?"
"Nada. Pra eu esquentar a janta"
Vai à janela da sala.
A Bizantina está lá. Carinha virada pra cima. Sorrindo.
Vanda Lúcia joga o cigarro aceso mas não acerta.
(continua amanhã)
Até.
4 comentários:
Pow Edu! Sacanagem! O Batista pelo menos tinha continuação mas as histórias tinham um fim né? Pô posta antes alguma continuação! (meu protesto)
eu num gostei dessa hist. d continuação tb não!!! Beijos, Eugênia
Du , qualquer semelhança é mera coincidencia , né ??? tu não tens juizo...........rs..rs..rs
A-D-O-R-E-I o texto. Esperar a continuação é difícil. Mas vale a pena! :-)
Beijos!
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