20.9.05

DA SÉRIE A TIJUCA É A TIJUCA...

A Vanda Lúcia mora no quinto andar, de frente. Tem o péssimo hábito de bater as cinzas do cigarro na janela, e vão todas morrer no apartamento de baixo, onde mora a Dona Bizantina, viúva e como as viúvas, cheia de manias. A Vanda Lúcia é casada com o Aloysio, a quem chama de Alô, jogador, mulherengo e biriteiro. Não têm filhos.

Dia desses toca a campainha da Vanda Lúcia.

"Bom dia, dona Vanda Lúcia. Olhe bem, a senhora está impossível com esses cigarros, minhas cortinas estão um nojo, um nojo!", era a Dona Bizantina dando um escândalo no corredor. E um escândalo num corredor na Tijuca significa portas sendo abertas e pequenas frestas contendo dois ou quatro olhos, ou ouvidos, que na Tijuca tudo se sabe.

Vanda Lúcia, finíssima, de lenço na cabeça e cigarro no canto da boca nada diz. Espera o ataque da vizinha e bate a porta depois de um "passar bem" aos gritos. E quando bateu a porta, uma dezena de portas bateram em seguida, em uníssono, havia 15 apartamentos por andar naquele muquifo perto do Largo da Segunda-Feira.

Vanda Lúcia vai à janela e espera o que era óbvio, Dona Bizantina pôr a cabeça pra fora e olhar pra cima. E a Vanda Lúcia sorri e bate a cinza, como de costume. Dona Bizantina, como tartaruga no casco, entra. Entra mas grita da janela, "Bisca!".

E segundos depois: "Cornuda!".

Vanda Lúcia quase teve um treco na sala.

Vai ao quarto andar.

Soca a porta.

E Dona Bizantina de dentro, sem abri-la, "O que foi agora?".

"Tu me chamou de cornuda, bruaca? Chamou?".

"Com conhecimento de causa. E me dê licença."

Vanda Lúcia pensa, "Ih, porra, deixei o feijão no fogo!", e sobe.

Sobe e olha o relógio na cozinha. Em duas horas, no máximo, o Aloysio chega.

Vanda Lúcia liga a TV. Vai assistir, como sempre, o programa do Wagner Montes na TV Record. Já está no segundo maço do dia, anda fumando demais mesmo. Morre de rir, como sempre - ah, as rotinas na zona norte - das falas do Wagner Montes, a quem acompanha desde os tempos de "O Povo na TV". E dorme no sofá comprado em 36 prestações.

Acorda com o barulho das chaves.

Aloysio. Bêbado como um nem-sei-dizer-o-quê. Tropeçando, se lança sobre o corpo de Vanda Lúcia que diz "Chispa daqui, Alô! Que estado é esse? Que bafo! Sai, sai, sai!".

"Mas Vanda Lúcia...", e esse "Vanda Lúcia" dito pelo Aloysio era um espetáculo. As sílabas ditas bem devagar, o "u" do "Lúcia" demoradíssimo...

"Não tem mas, mas... pro banho, anda!".

Toca a campainha. Abre sem nem olhar no olho mágico.

É a Dona Bizantina.

"O que foi agora?", Vanda Lúcia sem paciência alguma, fumando.

"Dá uma olhadinha no bolso esquerdo do paletó dele, dá. Cornuda!".

Vira-se e desce de escada mesmo.

Aloysio está no banheiro.

Trancado.

Provavelmente - ela deu uma olhada rápida no quarto-e-sala - entrou no banheiro sem tirar nem o paletó.

"Benhê?"

"Que foi?"

"´cê vai demorar?"

"Não, por que?"

"Nada. Pra eu esquentar a janta"

Vai à janela da sala.

A Bizantina está lá. Carinha virada pra cima. Sorrindo.

Vanda Lúcia joga o cigarro aceso mas não acerta.

(continua amanhã)

Até.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pow Edu! Sacanagem! O Batista pelo menos tinha continuação mas as histórias tinham um fim né? Pô posta antes alguma continuação! (meu protesto)

Anônimo disse...

eu num gostei dessa hist. d continuação tb não!!! Beijos, Eugênia

Anônimo disse...

Du , qualquer semelhança é mera coincidencia , né ??? tu não tens juizo...........rs..rs..rs

Anônimo disse...

A-D-O-R-E-I o texto. Esperar a continuação é difícil. Mas vale a pena! :-)
Beijos!