12.9.05

A ESCUMALHA NO LEBLON, DE NOVO


Para quem não se recorda, está aqui. Em 13 de setembro de 2004, escrevi sobre o que chamei a "Festa Unibanco" promovida pela Maria Paula para comemorar seu aniversário. Eu sou, como todos sabem, preciso do início ao fim, mas não sou tão bom com previsões. Vejam o que eu escrevi naquela oportunidade: "Eu tenho como certo que foi a última festa que ela promoveu em sua casa.". E eu escrevi isso, que teria sido a última festa em sua casa, porque o que se viu, naquele dia, há um ano, foi um pânico só. Vizinhas chiquérrimas - no Leblon só há vizinhas chiquérrimas - dando pequenos ataques com taças de espumante pelos corredores reclamando do barulho, viaturas da Polícia Militar diante do edifício atendendo chamados de pobres moradores do entorno que não conseguiam repousar - no Leblon ninguém dorme, no Leblon repousa-se - o síndico ameaçando cortar o fornecimento de energia elétrica da cobertura portentosa da Maria Paula. Mas errei.

No sábado passado, dia 10, a Maria Paula comemorou mais um aniversário em sua cobertura. E, pasmem, cometendo o mesmo fatídico equívoco do ano passado: chamou a mesmíssima escumalha tijucana, que compareceu - não poderia ter sido diferente - em peso. Vamos aos nomes.

Eu, Dani, Flavinho, Betinha, Fefê, Brinco, Branco, Marquinho (esse nem convidado foi, mas a Tijuca é pródiga nesse item), Lelê Peitos, Lelê Alê, Manguaça, Fernanda, Zé Colméia, Duda, Marcusa, Vidal, Gláucia, Mauro, Guerreira, Fumaça. Dirão os mais atentos, "a Guerreira e a Fumaça não são tijucanas", e eu, de pé, no banquinho imaginário, grito, "podem não ser, mas incorporaram a Tijuca com um afinco de dar inveja a um morador de há décadas da Praça Saens Peña".

Vamos a mais um detalhe, esse que diferencia a festa de 2004 pra de 2005. No decorrer do ano, a Maria Paula, a doce Maria Paula, incorporou à sua vida um novo hábito, o do mergulho. E devo dizer, sem medo de errar, que o pessoal do mergulho é bastante coerente com relação ao esporte que abraçaram. Tratando a mesa onde estava a comida como se fosse um navio naufragado, o pessoal foi fundo, muito fundo, nos quibes, nas esfihas, nos charutinhos de parreira, nos pães árabes, no tabule. Uns faziam o papel de tubarões, comendo tudo o que viam pela frente - eu vi, eu vi!, um deles fazendo uma espécie de BigMac com uma boina árabe, pasta de grão de bico, kibes e charutinhos de parreira - e outros de exploradores afoitos, atropelando uns aos outros, a cotoveladas, pra voltar à tona só depois de abarrotados. Uma cena, devo dizer, impagável.

Como estava sem beber graças a uma crise de amigdalite e faringite, pude ver tudo com mais nitidez. Vamos em frente.

É preciso dizer, com relação à escumalha tijucana, que todos chegaram já vindos de uma festa, do Mestre. Logo, chegaram bêbados. E eis o que vi.

Nenhum dos membros da escumalha, rigorosamente nenhum deles, levou qualquer presente. A Brinco, por exemplo, assim que chegou, trocando as pernas, tirou da bolsa o envelope que todo tijucano, via de regra, leva consigo, e abraçando a Maria Paula, leu o bilhete dentro do envelope imaginário: "Mary, querida... seu presentinho vem depois...", e riu. Mas quem riu, mesmo, fui eu. No ano passado também a vi chegando. E também trocando as pernas, e também dizendo "Mary, querida... seu presentinho vem depois...". É isso. O "presentinho que vem depois" não chega nunca. A Maria Paula, uma educada sob padrões europeus, apenas riu e disse o também falso, "que é isso, querida?, o presente é sua presença". E eu ri de novo.

A Duda chegou com o Marcusa. E não é possível não lhes contar um episódio capaz de lançar luzes sobre as tijucanices. Vejam essa do Zé Colméia.

O Marcusa é baixista. E toca num conjunto, o "Lois Lane". E fez um show, o conjunto, na semana passada, na Barra da Tijuca. Convocados pela Duda, compareceram o Fefê, a Brinco, o Branco, o Zé Colméia. Lá pelas tantas, no intervalo, a escumalha já calibrada, alguém toma do microfone e diz, "Boa noite, senhoras e senhores... vamos agora passar uma lista pelas mesas para que possamos recolher o email de todos para divulgar o trabalho do grupo...", e o Zé Colméia, que calça 50 e mede quase dois metros de altura, gritou "Cala a boca, pôrra! A gente tá cagando pro grupo, a gente veio aqui pra ver o Marcusa!", e a escumalha derramou-se em aplausos, no que foi acompanhada pelo pai da Duda, fazendo calar a relações públicas da banda. Aliás, o pai da Duda, orgulhosíssimo com o namorado da filhota, foi quem puxou o côro, seguido por todos: "Marcusa, tamtamtam, Marcusa, tamtamtam, Marcusa, tamtamtam...", e passou a pedir baldes de vinho tinto por sua conta. Vejam como a filha não puxou ao pai. Mas tijucano é capaz disso mesmo, dessas demonstrações genuínas de afeto pelos irmãos da terra em detrimento do resto do mundo. Voltemos à festa.

Houve uma moça que deu de presente à Maria Paula um número de dança do ventre. E quando a moça entrou no salão, já com a música árabe nas alturas, deu-se o susto. Baixinha, bem simpática, dançando bem pra burro, a moça mostrou o par de seios, sob o bustiê, é claro, e deu-se um "oh" e um "ah" uníssono e coletivo. Não vou falar sobre o tamanho dos seios da moça. Mas vou dizer o que o Zé Colméia gritou quando ela entrou.

O Zé apontou, acintosamente, pra Lelê Peitos, até então a mais farta no quesito, e gritou, "Com vocês... Lelê Mamilo". Façam uma idéia do tamanho do guincho generalizado. O Mauro, bêbado, como todos, berrou "Alá é grande!", e o Fefê, trôpego, de voleio, "Alá é duplo", e o Branco, ajoelhado no chão, "Eu quero Alá", e o Flavinho dando tiros pro alto, e o Marquinho, o que não foi convidado, apenas chorava num canto. Indagado sobre a razão do choro, disse apenas, "Nada não... constatei minha pequenez como ser humano...". A moça, tadinha, cumpriu seu papel até o fim sem conseguir esconder, entretanto, o pânico diante daquele ataque verbal dos hunos em fúria.

Aliás, o Marquinho foi à mesa um momento. Meteu o dedo dentro de um prato e perguntou à garçonete, "O que é isso, filha?", e ela, "Baba ganouj" (lê-se baba ranu). Ao ouvir a palavra "baba", o Marquinho, que baba olimpicamente quando bebe, limpou o indicador no avental da serviçal e disse, "Pô, que nojo, quero não!", e saiu.

Como estava me sentindo mal, parti cedíssimo, coisa que nunca fiz. Soube, há pouco, pela Maria Paula, que foram derrubados dez engradados de cerveja. Uma bela marca. Vou fechar reproduzindo trecho da dedicatória que escrevi no cartão entregue à Maria Paula. Alguns amigos decidiram comprar de presente pra Maria Paula um equipamento de mergulho caríssimo. Mas, inovando, não trataram de rateá-lo. Cada um daria o que quisesse. E assim foi feito. E o presente foi comprado. Eis o trecho do cartão onde escrevi esse lindo poema tijucano:

"Maria Paula, querida,
quero dizer sobre esse presente,
havido depois de um ratatá
que bastante dinheiro rendeu,
que ninguém, ninguém,
deu mais dinheiro do que eu"

Vejam que fino. Que elegante. E que sincero.

Até.

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11 comentários:

Anônimo disse...

Coincidência ou não, boa parte dos mergulhadores presentes na festa são moradores da Tijuca.

Eduardo Goldenberg disse...

Miguel, meu caro, sem querer polemizar. Um tijucano clássico, desses que não negam a raiz e os frutos, não mergulha. Vá por mim. Mais detalhes, pessoalmente. Abraço.

Anônimo disse...

Foi mais um belo aniversário da Maria Paula, na sua nababesca cobertura. Só assim mesmo para a escumalha frequentar o Leblon. A pobre mocinha não sabe o risco que correu com tão pouca roupa, dançando de forma sensual e cercada por tijucanos em frenesi. Deu para ver que ela quase fugiu quando viu a platéia.

Anônimo disse...

Putz, pior que eu moro da Tijuca e dessa vez, não bebi!
Por incrível que pareça. rsrsrs
Mas a festa estava ótima. Beijos Denise

Anônimo disse...

só mais dois registros, que o edu -que é preciso do início ao fim - nao presenciou porque já tinha partido para sua querida Tijuca:

1) Debora às 2 da manhã: eu nao entendo porque as pessoas estão indo embora. a festa tá tao legal. é a melhor de todas. (lembrem-se que a festa começou às 5 da tarde).

2) e Lelê Peitos pouco depois: eu vou embora. estou humilhada. virei lelê espinha. e partiu!!!

Anônimo disse...

Ri D+ com seu poema!

O pessoal que rateou deve ter adorado! :-)

Grande Eduardo! Sempre matando a gente de rir!

Anônimo disse...

Eduardo,
Vou citar um exemplo de Tijucano, mergulhador: AR15.
Abs

Eduardo Goldenberg disse...

Miguel, não vou - aliás, não vamos nós... - me aprofundar no assunto. Mas acho que você não entendeu mesmo. Ser tijucano é algo mais amplo do que simplesmente morar na Tijuca, por exemplo.

Anônimo disse...

Uhauhauhauhahuhua!!!!! Tijucano não mergulha!!!!! Donde vc tirou isso mente insana?

Anônimo disse...

Edu uma perguntinha de uma curiosa... a foto é da festa? Se é, hummmmmmmmmmmm! É meu tamanho preferido de kibe!

Anônimo disse...

Ihh, não tenho nem o que falar. Mas tou bêbada aqui e lembrando qu a festa foi muuuuuuuuuuuito boa.
Os tijucanos dixaram a desejar. Foram embora muito cedo. Perderam a seresta.