31.1.06

DOMINGO É O DIA


"Aonde houver cachaça
aonde houver barril:
Presente está a Turma do Funil!"

(Mirabeau, M. de Oliveira e Castro)


(foto de Pedro Toledo)

Eu já disse e vou repetir.

Domingo é o melhor dia pra beber.

E esse troço de "melhor dia pra beber" cria sempre uma cizânia violentíssima quando os biriteiros se encontram. O Fefê, por exemplo, prefere beber às segundas-feiras. "Dia de profissional", diz ele. O Branco, dono de beleza acachapante, prefere beber acordado pouco se importando com o dia da semana. É um estilo. O Szegeri. O Szegeri eu não sei. Andamos tão distantes que eu me percebo, agora, incapaz de apontar seu dia preferido para o esporte. Estivéssemos em dezembro do ano passado e eu saberia lhes dizer não apenas isso, mas qualquer coisa que envolvesse meu irmão paulista. Hoje, não. Beligerante, birrento, mais-paulista-que-nunca, o Szegeri está a milhares de quilômetros de mim embora eu ainda o guarde com carinho. Não me bate mais o telefone. Não me manda mais um rascunho de email. Um "olá" amistoso. Nada. Vejo chegando o 27 de abril e nem assim o Procurador irá me procurar.

Eu disse "Procurador" apenas para lhe contar uma de semana passada. O Szegeri trabalha na Procuradoria da República, em São Paulo. Quando ligo (ligava) para lá ele atendia pomposo:

- Procuradoria.

E bastava eu dizer, "Fala, mano!", e toda a pompa, todo o protocolo, toda a cerimônia era pisoteada, cuspida, violada e estuprada diante dos uivos de alegria do meu bom amigo. Semana passada foi diferente (somente a segunda parte do telefonema).

Ele atendeu:

- Procuradoria.

E eu:

- Fala, mano!

E ele:

- Procuradoria.

E eu:

- Sou eu, Szegeri!

E ele:

- Procuradoria.

Desliguei tristíssimo. Dito isso, em frente.

Disse ontem que o Dalton é a cada dia mais meu irmão. E no dia da semana eleito para a melhor porranca somos siameses. É no domingo que o Dalton acorda com sede de beduíno. Foi assim no domingo retrasado. Foi assim no domingo passado. E será assim no próximo domingo. Será assim, acredito e espero, nos domingos vindouros (há tempos não digo isso: "Como estou antigo!").

Nesse último domingo, a Dani, minha Maracanã amada, foi beber conosco. E portou-se como uma monitora com seus alunos petizes.

Sentamos à mesa e pedimos os chopes. O Dalton sorrindo:

- Edu? Cachacinha?

E eu guinchei que sim.

A Dani:

- Meninos... mas já?

Quando ela disse "já?" nós dois já lambíamos os beiços (cada um lambeu seu próprio beiço, é necessário o destaque).

E ficamos ali bebericando à graça da vida intercalando cada par de chopes com um copinho de Boazinha.

Fomos ao Estephanio´s.

O Dalton (descalço):

- Tequilinha? Tequilinha?

E a Dani:

- Meninos... pra quê isso?

E quando ela disse "pra quê isso?" sorvíamos o limão e o sal no sulco das mãos (cada um na sua, de novo).

É incrível esse troço quase-religioso. Eu dispenso a sexta-feira, eu fico recluso aos sábados, mas aos domingos dá-me um bicho carpinteiro (minha bisavó dizia isso demais...) e lá vou eu, cantando que se alguém perguntar por mim diz que eu fui por aí... Fazendo côro com o Dalton. Dá-me uma vontade gigantesca, sempre, da companhia do Szegeri. Mas ele - não é demais repetir - anda ainda mais distante do que Rio e São Paulo.

Até.

3 comentários:

Szegeri disse...

Grande beijo ao Pai Dalton, meu padrinho querido. A bença!

Anônimo disse...

Essa homenagem aos truás está ficando esquisita, posto que, três espadas convictos, cenas de desprezo e volta-meu-amor a dar com pau (xi!), alô alô procuradoria, alô alô dabliú brazil, alô alô aviadores do Brasil, aqui fala Jorge Veiga ...

Anônimo disse...

Só sei uma coisa: Que domingo eu estava com uma vontade monstra de comer moela! Graças ao seu livro, essa vontade me acompanha já há semanas...
Sempre adorei moela, e minha mãe diz que sou teimosa, de tanto que comia as mesmas.
Mas acho que ninguém nunca vai fazer igual as que minha avó fazia.
E desde que ela morreu, poucas vezes voltei a come-las.
Mas enfim, fomos parar num pé sujo, onde tinha as mais insosas moelas que já comi até hoje!!! :(
Ainda bem que a carne seca desfiada com aipim e a Nega Fulô deu pro gasto!