2.2.06

TRÊS POR ACASO


"Quando três por acaso amigos se encontram
Começam a cantar a paixão
São línguas de fogo, promessas e jogo
Vícios do coração

São horas perdidas que o relógio não marca
Segue o curso a serpente, segue o rio o seu caminho
Enquanto eu, de repente, sigo somente o que sou
Quase sempre sozinho, quase sempre sozinho

Diletos amigos consigo comigo
Consigo evitar o perigo falando de amor
Falando de um gol já quase perdido
São cores do mundo, perfumes e flores
Os gols mais bonitos pela linha de fundo

Quando três por acaso amigos se encontram
Ninguém sabe o destino que darão ao mundo"

(Gereba - Capinam)

Eis aí, na foto, a prova inequívoca, irrefutável, definitiva e implacável: ontem, véspera do dia de Iemanjá, bateu no meu irmão paulista, Fernando Szegeri, uma saudade olímpica e devastadora. Saudade que o cutucou, ainda no escritório onde trabalha, e o arremessou ao site da GOL para adquirir uma passagem ida e volta, Rio-São Paulo-Rio, embarcando às 21h e retornando no vôo das 5h30min da madrugada de hoje. Gastou algo em torno de R$300,00 e foi um sujeito feliz nas parcas seis horas que passou em solo carioca.

Mas não tenham dúvidas. Foram as espetadas e as provocações que vinha lhe fazendo, desde a semana passada aqui no Buteco, as responsáveis por mais esse gesto insano do meu Otto na íntegra. Mandou-me, ontem pela manhã, o Szegeri, um email pedindo-me desculpas pela ausência, pela distância, pela frieza das últimas semanas. E eu lhe disse um não rotundo. Não aceitava as tais desculpas por email. E foi então que lhe baixou a centelha alucinada: "Vou ao Rio!". E veio.

Veio e vivemos seis horas que o relógio não marcou.

Às dez da noite estávamos, eu e Dalton (mais meu irmão a cada minuto que passa), no saguão do Aeroporto Antônio Carlos Jobim, à espera do Szegeri. De lá viemos aqui pra casa onde nos esperava a Sorriso Maracanã em dia de arquibancadas lotadas. Muito uísque, vinho, uma carne grelhada no sal grosso, palmitos, e os vícios do coração falaram mais alto.

Rumamos perto da meia-noite pro Estephanio´s, extensão da minha casa.

Éramos três e fomos quatro, Fefê à mesa, e estava eu, num passe de mágica, bebendo com três irmãos (quatro se formos contar o Toledo, voando sobre nós).

Evitamos o perigo, falamos de amor, falamos dos gols perdidos, dos feitos pela linha de fundo, demos cores ao mundo, perfumamos a esquina, e ninguém saberá, por mais que eu conte, o destino que demos, ali, como reis, ao mundo mesquinho que nos cerca.

Ergo, comovidíssimo, nessa manhã enevoada de quinta-feira, de pé no banquinho imaginário, o copo à graça e à glória do convívio com esse portentoso homem que me faz feliz e orgulhoso quando enche a boca pra dizer que me tem como irmão. E se falo do Szegeri posso falar o mesmo do Dalton e do Fefê.

Mas eis o que diferencia o Szegeri e o torna único. Não é a primeira nem a segunda e muito menos a terceira vez que ele faz isso.

Heróico, gigante na arte de criar e manter as lendas, parte de São Paulo e atravessa os mais de quatrocentos quilômetros que nos separam para passar aqui pouquíssimas e intensas horas.

E estendo o brinde à Dani e à Stê, mulheres sábias que compreendem que quando três por acaso amigos se encontram ninguém sabe o destino que darão ao mundo, ninguém sabe o destino que darão ao mundo. Mas sabem que o destino, seja ele qual for, conta com elas fazendo festinha na cabeça da gente quando o relógio voltar a marcar as horas.

Até.

Um comentário:

Szegeri disse...

Que dizer? Obrigado, irmão!