30.4.06

CARTA ABERTA AO POVO CARIOCA

Saiu hoje, no Estado de São Paulo, no caderno Aliás, uma carta aberta ao povo carioca, de minha autoria, sobre a lei recentemente aprovada pelos de(puta)dos estaduais do Rio de Janeiro. A escrevi atendendo chamado da jornalista Monica Manir, que já me chamara, em 30 de outubro de 2005, para escrever - leia aqui - sobre a lei que passou a proibir cartões postais exibindo as mulheres cariocas, as mais bonitas do mundo, em trajes de banho.

Opa! A Monica convocou-me em 30 de outubro. Agora em 30 de abril. Será que posso me considerar integrado aos quadros do Estadão, trabalhando apenas de seis em seis meses?

Negóssiguinte... Clique aqui, desça a página até o final, e à esquerda você poderá ler a carta.

Aliás... deu-me uma vontade olímpica de saber o que pensa o Toledão sobre essa lei...

Até.

QUE ASSIM SEJA

Acaba de ser divulgado: Anthony Garotinho, ex-(des)governador do Estado do Rio de Janeiro, marido da atual (des)governadora Rosinha Garotinho (pelo nome tirem a qualificação da pífia figura), iniciou hoje uma greve de fome.

Anthony Garotinho


O motivo não interessa.

O que interessa é que temos uma oportunidade concreta para que esse sujeito suma de vez.

Vamos torcer, cariocas, vamos torcer, brasileiros que pouco sabem a respeito desse mentiroso, desse sórdido, desse ladravaz imundo que nos envergonha, vamos torcer para que a greve não tenha fim e para que esse gordo safado morra de fome.

E ao contrário do que esse mentiroso, sórdido e ladravaz imundo prega aos incautos valendo-se de rádios ligadas à bancada evangélica, se morrer é o inferno seu destino.
Agora, cá pra nós... A esposa (pausa para vomitar) do sujeito bem que podia ser solidária, hein? E começar greve de fome juntinho com ele, assim, ó, bem romântico...

Até.

28.4.06

NO TRAPICHE GAMBOA

Ontem fui tornar pública a chegada dos meus 37 anos no Trapiche Gamboa, de longe um dos mais agradáveis bares da noite carioca, comandado pela Claudinha que nos recebeu, a mim e à Dani, por volta das oito da noite, e vejam o tamanho do Maracanã estampado na carinha feliz da Dani, a mulher que me ensinou a sorrir (e eu não aprendi direito, notem que com meu sorriso o meu rosto, em todas as fotografias, assemelha-se a uma cabeça mal cortada de isopor com um risinho tosco).

Dani no Trapiche Gamboa, 27/04/06


Às oito e meia teria início o show da Fabiana Cozza, a quem incensei pesadamente diante de meus amigos, sempre incrédulos graças ao que eles chamam "exagero do Edu". Mas quebraram a carinha. Assisti, feliz por ter sido o amálgama do encontro, o queixo caído do Toledo (na foto, abaixo, com o Janot), a baba escorrida do Janot, as declarações apaixonadas do Lula, o embevecimento do Vidal, a cara assombrada da Lelê Peitos, e as lágrimas abundantes que escorriam dos olhos do Dalton, meu irmão e cada vez mais meu irmão, que só conseguia apontar e perguntar pra mim "o que é isso?", assim, alucinado.

Janot, eu e Toledo, Trapiche Gamboa, 27/04/06


Falei no Dalton e preciso dizer que até que ontem eu estava bem, bebericando minha Original devagarinho, intercalando com garrafas de água mineral, comportadíssimo, e inclusive sem o celular para evitar aqueles telefonemas clássicos da madrugada, geralmente pro Szegeri. Mas o Dalton, tal qual um Zé Pelintra, ficava de assédio etílico pra cima de mim. Daí bebi tequila, cachaça, outras doses que não reconheci, e pronto. Fiquei virado, pedi o celular da Maria Paula emprestado e danei de ligar pro Szegeri (não sei quantas vezes). Ah, o Dalton. É o que mamãe chamava, quando eu era pequeno (quanto tempo faz...), de má companhia.

O Szegeri, inclusive, é tão mito, mas tão mito, como vira e mexe eu digo, que parecia ser o aniversariante. As pessoas vinham chegando e antes mesmo de um "parabéns, Edu!", "feliz aniversário!", essas frases de praxe, perguntavam ansiosas cravando-me as unhas no braço como gaviões:

- Cadê o Szegeri?

- O Szegeri já chegou?

- A que horas chega o Pompa?

E isso ia me deprimindo de forma olímpica. Eu ali, ansiando por manifestações de afeto, sendo atropelado violentamente pela ausência do meu irmão paulista.

Mas falei nas ausências, e quero dizer que a Fumaça bateu o telefone de Maputo pra me dar beijo ontem. Sempre carinhosa, esteve mais-que-presente no Trapiche. Fiquei bem feliz de ver, por lá, a Incêndio e o Bombeiro, na foto abaixo.

Oswaldo (Bombeiro), eu e Terezinha (Incêndio), no Trapiche Gamboa, 27/04/06


E vejam como é o mundo, que dizem ser do tamanho de um ovo. Eu acho cada vez mais que o mundo é do tamanho da gema de um ovo de codorna. Apresentei papai e mamãe ao Bombeiro e a Incêndio. E pronto. O Bombeiro foi calouro do papai na Escola Nacional de Química, e ficaram ali, os dois, lembrando daquele tempo.

Estava também a Lelê Peitos, e que foi originalíssima. Não chegou de mão abanando, expressão grosseira que neguinho usa pra dizer "chegou sem presente". Chegou com meu livro nas mãos, orgulhosíssima (Lelê é uma das personagens dele), e cravei a dedicatória declarando, explicitamente, o que sempre digo: é, ela, uma das minhas preferidas. A Sorriso Via-Láctea, como bem a definiu o Szegeri (sempre ele, vejam que não consigo largá-lo).

Lelê Peitos e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06



eu e Duda, Trapiche Gamboa, 27/04/06



eu e Vinagre, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Dani e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06




Alex e Dani, Trapiche Gamboa, 27/04/06



mamãe, eu e papai, Trapiche Gamboa, 27/04/06


Papai, aliás, protagonizou hilário momento ontem à noite, que gerou uma frase espetacular do Fefê:

- Edu, eu tenho certeza de que nós vamos, cada vez mais, quanto mais o tempo passar, rir muito com tudo o que o papai faz...

A Fabi (eu, o íntimo) a certa altura tomou-se de encanto e danou de cantar os afro-sambas do Vinicius e do Baden, pontos lindíssimos, o atabaque comendo o couro, as palmas marcando o ritmo, e papai me cutuca apontando pro próprio braço arrepiadíssimo, os olhos vidrados, vermelhos, e diz baixinho:

- Acho melhor eu ir embora!

E foi.

Quem também apareceu, sumido há anos graças aos desencontros que a vida promove, foi o Lula. Quando fui apresentá-lo à Dani, ele disse:

- Eu, o Vidal e o Edu estudamos juntos há... - pigarreando.

Eu disse:

- Uns dez anos!

O Lula relinchou de rir e me consertou:

- Dez? Há dez eu já tinha saído da faculdade! - e riu mais - Uns vinte, no mínimo. Não, não! Vinte e cinco!

Acho que foi nesse instante que os trinta e sete anos desabaram na minha cabeça. Doeu pacas.

Vidal, eu e Lula, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Dalton e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Fefê, eu e Brinco, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Dani, Moniquinha e Banana, Trapiche Gamboa, 27/04/06


Aliás o Fefê também quase me mata. Vou quebrar o sigilo da dedicatória que fez no livro que me deu, "Um homem chamado Maria", perfil de Antônio Maria, um de meus mais queridos personagens:

"Meu irmão, eis o perfil do homem que tratou de desenvolver habilidosa malícia com as palavras e que vivia em constante estado de poesia. Que coincidência!! Parabéns, te amo, Fê"

Outra espetacular presença foi a do Mauro, mais um dos irmãos que a vida me deu. O Mauro chegou com duas mulheres. E em menos de uma hora todas, rigorosamente todas as mulheres que estavam no Trapiche, toda a assistência, as garçonetes, as cozinheiras e até mesmo as desencarnadas que freqüentam a Gamboa, babavam por ele. Não é à toa que o Szegeri (ele, de novo) diz sempre:

- Beleza acachapante não é a do Branco. É a do Mauro!

eu, Mauro e Fefê, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Itamar, eu e Ruivinha, Trapiche Gamboa, 27/04/06



eu e Guerreira, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Marquinho, eu e Mariana Blanc, 27/04/06


Ah, sim! E os presentes? Espetaculares, espetaculares! A Banana, por exemplo, deu-me um Sundown, fator 15, da Johnson&Johnson. E dirão vocês, "mas um Sundown?", assim, achando o troço ridículo.

É que há algumas semanas encontramo-nos na praia, eu e a Banana. Fui passar o protetor solar a certa altura. Tirei da bolsa meu Sundown 15, 150ml.

E a Banana imita o gesto. E da bolsa tira seu Sundown 15 também. Só que 200ml.

Pausa para um cochicho no ouvido do Szegeri:

- Querido, note como seu irmão está cada vez pior...

Daquele momento em diante, na praia ensolarada e de céu azul, nublei-me por dentro. Senti-me humilhadíssimo, tal como deve se sentir o menino de pau pequeno diante do amigo bem dotado no chuveiro do vestiário. Fiquei, ali, tristíssimo (pedi emprestado seu Sundown), perguntando onde eu poderia encontrar um daqueles, o preço, essas coisas.

E deu-me, a Banana, um 200ml lacradinho ontem. Fiquei tããããão feliz... Nova pausa, novo cochicho:

- Szegeri, a tendência é piorar?

Lula, Maria Paula, Vidal e Gláucia, Trapiche Gamboa, 27/04/06



eu e Rodrigo, Trapiche Gamboa, 27/04/06



Fabiana e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06


Ganhei também o DVD duplo do filme "Vinicius", e acho que verei um pedacinho todos os dias. Livros. Bebidas. CD´s. Mas nada que se compare ao carinho, ao amor, aos amigos que são a fonte permanente geradora de cada vez mais carinho e cada vez mais amor tornando a vida um troço cada vez mais bonito.

Foi comovente receber o telefonema da Fumaça, de Maputo, da Inês, de Boston, do Cris, de Clermont-Ferrànd, de tantos queridos amigos longe do Rio mas sempre perto de mim.

Vocês leram o mais recente comentário da Juliana Amaral, a doce Ju, no Buteco? Disse ela a certa altura:

"Querido meu, hoje acordei de manhã cedo pensando nas palavras que colecionaria pro seu primeiro presente. Aliás, coisa linda que é a palavra, o presente. E daí lembrei desse aqui, quase tolo (como têm de ser os presentes), tão infantil (como é a delícia de ganhar o presente) e tão infinito (como quer ser o afeto que se dá de presente). Então lá vai. Abra o laço de fita vermelho, desembrulhe o papel de seda azul, e leia devagar, pra aproveitar cada pedacinho. Junto dele, meu carinho. E à noite o samba será pra você, seu outro presente."

Bom. Cheguei em casa ontem e fui ouvir os recados deixados no celular.

E ouvi, olhos cheios d´água, o meu "outro presente" da Ju, cantando justo o que havia me chegado por escrito, no cartão do Fê (ele, o Szegeri, mais uma vez) e da Stê:

"Tudo em volta é só beleza
Céu de abril e a mata em flor
Mas assum preto, cego dos óio,
não vendo a luz, ai, canta de dor..."


PQP, queridos. Isso é a tal beleza que dói e que vinicianamente percebo me pesando nos ombros.

Daí tinha também outro recado da Inês, da Luana, dona dos olhos verdes que vivem deitados no meu coração, de uma porção de gente que faz toda a diferença.

Bom, depois de um bom tempo escrevendo curtinho, e como diria o meu mano Szegeri (ele!, ele!, ele!), eis a saga de ontem.

Até.

PS: eu já estava tão fora de órbita a certa altura, que não lembrei de fotografar outro pomposo ser humano, o Lara, que chegou com aquele sorrisão clássico e uma garrafa de licor de marula que vou detonar em casa, com ele e com o Dalton, acabei de decidir.

PRENDAS - PARTE IV

ESTE TEXTO AGORA PODE SER LIDO AQUI.

27.4.06

PRENDAS - PARTE III

Bom. Essa foi de matar.

Iara, minha afilhada e de Dani, fotografia de 2005



ouça aqui o recado da Iara


"Oi, tio Edu. Eu queria muito falar com você, mas já que você saiu, eu penso em ligar depois ou você me liga, se eu estiver na escola. Tchau. É a Iara..."

Iara, a minha sereia, filhota dos queridos Szegeri e Railídia.

PS: quando ela fala o "s" da "escola" eu tenho arrancos de quase-morrer.

PRENDAS - PARTE II

E agora ela, a mulher que me ensinou a sorrir, minha Sorriso Maracanã, Tomtom (pros íntimos), que acabou de sair pro trabalho, acaba de chegar linda e cheirosa, como sempre.

o cartão e a orquídea



a orquídea e seus botões

PRENDAS - PARTE I

Meu irmão Szegeri e minha querida e doce Stê acabaram de chegar, lindos, lindos, lindos, em forma de orquídea!

A ESPIRAL - PARTE III, FINAL

Dez minutos para as quatro horas dessa madrugada de 27 de abril, e se ainda hoje, a poucas horas de completar 37 anos, ainda resta essa faculdade incoercível de sonhar e de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos, e essa impressionante e desnecessária presciência, e essa memória anterior de mundos inexistentes, e esse heroísmo estático, e essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas dão o nome de esperança, devo isso a essa mulher que me tem no colo, minha mãe, formosa, e para quem canto pra dentro, agora mesmo, "formosa, não faz assim...".

E não faz assim, formosa, porque eu não tenho mais o coração novo e à prova de emoções fortes que eu tinha nesse longínquo 69, nem tampouco essa capacidade se sorrir puro desse jeito. Vai que eu nem chego aos 37. Eu, hein! Toc-toc-toc, que viver é bom. Aliás, formosa, eu continuo cantando e, puta merda, eu precisava levar tão a sério essa história de que "ninguém tem nada de bom sem sofrer"?

minha mãe e eu, 1969, na Quinta da Boa Vista, RJ

Formosa, estava lembrando agorinha mesmo daquela manhã de domingo.

E vejam vocês, com quem divido esse arremesso ao passado dentro dessa espiral que me tira pela terceira noite seguida o sono e conseqüentemente os sonhos, se isso é possível e se teria sido possível eu ser 100% normal.

Sexta-feira, 25 de abril de 1969, vai mamãe ao médico. Exames, exames, exames, e diz o doutor:

- Muito bem, minha filha! Tudo em ordem! O bebê chega na segunda quinzena de maio!

Êta ferro a festa que foi.

Papai trabalhava, nessa época, na REDUC, refinaria da Petrobras, em Duque de Caxias, em regime de plantão. Pegava no batente às nove horas da manhã, na Brigada de Incêndio da empresa.

Já é madrugada de domingo e o velho Isaac acorda sobressaltado.

E lá, não um corpo estendido no chão, mas um índio, parrudíssimo, de pé ao lado da cama onde dormiam. Estranhamente, sente-se calmíssimo diante da visão, que é novidade até então. Papai - é ele quem conta - vê luzes impressionantes, coloridas, riscando o quarto do bebê que chegará na segunda quinzena de maio. Ouve uns sons, não os identifica, também vindos do quarto ao lado. E o caboclo dá o aviso. O curumim nasce hoje, domingo, dá um sorriso firme, faz que sim com a cabeça diante do susto do pai de primeira viagem e como surgiu, some. E somem as luzes, volta a fazer silêncio, e cadê que o velho Isaac voltou a dormir? Tinha de tomar o ônibus às seis da manhã. Levanta-se. Banho. E vai a formosa à cozinha preparar seu café, sua marmita, e vem o velho já pronto.

Faz um carinho na barriga da formosa:

- Não vou trabalhar... Nasce hoje, o bebê.

Aliás, ô tempo que permitia a ansiedade... menino ou menina?

- Mas o que é isso? - diz a formosa - Você não ouviu, Isaac? É para o meio de maio...

E faz um cafuné na cabeça de meu pai, que por sua vez conta pra formosa sobre a visita do caboclo, as luzes e os sons vindos do quarto, e mamãe diz apenas:

- Você está impressionado...

E meu pai não sossega enquanto não convoca a sogra para passar o domingo com a filha, não desencana enquanto não telefona para o médico que confirma o prognóstico. E segue o rumo do trabalho.

Chega à Duque de Caxias.

E dá de cara com seu chefe, aflitíssimo:

- Isaac! Volta pra casa, rapaz! Teu filho nascendo!

Antes das nove da manhã, ó, pow! Estoura a bolsa da formosa.

Façam uma idéia da viagem de volta de meu pobre pai, que encontra um bilhete em casa, Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, evidentemente, dando conta de que a formosa e a mãe estão na Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca, obviamente.

E façam uma idéia do encontro dos olhos dos dois. Papai com aquele olhar "não-te-disse" e mamãe com um espantadíssimo olhar de volta no melhor estilo "que-índio-é-esse".

Que índio é esse?

Sem mais detalhes.

Mas são hilariantes as histórias do curumim, ainda começando a falar, dizendo aos pais:

- Vô pro quarto brincar de flecha com meus amiguinhos.

Ou diante do marzão, na Praia do Pepino:

- no mar conversar um bocadinho e já volto.

E contam, a formosa e meu pai, que saltavam as veias do pescoço do garoto que gesticulava desesperado em direção ao horizonte, pra depois voltar pra areia calmo e com cara de satisfeito, aquele olhar "tudo-resolvido".

É isso.

Às 15h32min eu cheguei.

Quando eu for embora - toc-toc-toc, que quero seguir vivendo tendo tudo de bom mesmo que pra isso eu tenha de sofrer ainda mais, formosa... - tem gente já instruída pra abrir o gurufim com essa canção que, sabe-se lá por quê, me faz parecer o chafariz da Praça Xavier de Brito nos seus melhores dias, na Tijuca, é evidente.

"De que calada maneira
você chega assim sorrindo.
Como se fosse a primavera...
Eu morrendo...
E de que modo sutil
me derramou na camisa
todas as flores de abril.

Quem lhe disse que eu era
riso sempre e nunca pranto.
Como se fosse a primavera...
Não sou tanto...
No entanto, que espiritual
você me dar uma rosa
de seu rosal principal

De que calada maneira
você chega assim sorrindo.
Como se fosse a primavera...
Eu morrendo...
Eu morrendo!"


Até.

PS: duas coisas já me derrubaram antes mesmo do sol aparecer. O primeiro telefonema, da mais-que-doce Robertinha Valente, de SP, longe infelizmente, e o primeiro email, empolgadíssimo, do Cristiano, da França, ainda mais longe. E, putz!, eu consigo ficar ainda mais bobo e ainda mais emotivo nesse dia.

26.4.06

A ESPIRAL - PARTE II

São três e vinte da manhã, madrugada de 26 de abril, véspera do dia em que nasci, e tal qual nas madrugadas da minha cada vez mais distante adolescência, quando de dentro do quarto do apartamento da Professor Gabizo vazava luz pela fresta da porta em direção ao corredor, eu, o menino debruçado sobre a poesia de Vinicius preocupando papai e mamãe com uma insônia que parecia-me, à época, fruto das angústias dos vestibulares iminentes, fruto das angústias e das dores de amores que tinham fatalidades capazes de induzir à morte, e cá estou, de novo acordado, sem qualquer espectro de vestibular à vista mas ainda com dores de amores capazes de induzir à morte, novamente sem sono e insone, minha insônia é perene, e novamente debruçado sobre a poesia que me redime desde que me entendo tal como sou.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998, capa

E eu fico, tal como ficava, com as mãos trêmulas folheando as 1.571 páginas impressas em papel-bíblia, o que dá conotações ainda mais espetaculares à minha saga poética em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Rio, e por dentro rio espetacularmente quando lembro de quantas mulheres impressionei, e quantas conquistei, recitando Vinicius de Moraes, e rio ainda mais intensamente quando lembro do critério criado por aquele adolescente sempre muito feio e por isso mesmo sempre muito tenaz quando o assunto era a sedução, sempre ligada à poesia, que me fazia ser o autor daqueles versos que faziam os olhos da namorada darem voltas impressionantes a ponto de deixá-las tontas a ponto de, pronto!, caírem todas no meu colo e nos meus braços fraquíssimos mas dotados de uma paixão lancinante, como devem ser as paixões que valem a pena. "O Poetinha há de me perdoar", eu dizia enquanto cantava empunhando o violão "se você quer ser minha namorada, ah, que linda namorada você poderia ser, se quiser ser somente minha...", e eu tinha ímpetos de declará-lo santo eis que várias foram mesmo minhas namoradas, todas lindíssimas e todas somente minhas, coisinha que ninguém mais pôde ser.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998

E daí as mãos trêmulas têm de dar lugar a uma mão firme. Quero fazer fotografias. Preciso ilustrar o texto. Preciso caprichar. Tenho gostado tanto do Buteco. Bebi ontem à noite com meus companheiros da confraria e hesito diante da garrafa de Red Label que faz psiu do bar em minha direção. Ou é o Vinicius que me chama? Imagina se o Véio Vina perderia um só segundo de uma noite dessas comigo! Se bem que um golinho acalmaria o tremor das minhas mãos. Tenho o corpo suado. Não bebo. Mas faço as fotografias. Vinicius morreu há 26 anos. Faço 37 amanhã. Lembro-me, nitidamente, do dia de sua morte. Tinha eu só 11 anos de idade naquele julho longínquo. Ele já era um santo quando vivo. Orixá poderoso. Saravá, Vinicius.

Busco, diante da noite, alta madrugada, a tal intimidade perfeita com o silêncio enquanto peço perdão por tudo, enquanto exerço a auto-piedade, eu não tenho culpa de ter nascido.

Tenho, ainda hoje, como tinha, já naquele quarto de minha adolescência encoberto pela fumaça de maços de Carlton que fumava desbragadamente, um respeito tremendo pela noite, que é por isso mesmo antigo, e vaza uma lágrima sobre a página 526 da edição da Nova Aguilar de 1998 e tenho novamente arrancos de rir quando lembro de quantas edições já tive e de quantas edições já dei de presente para mulheres que juraram, um dia, seguir comigo em meu caminho mesmo diante do meu anúncio de que talvez o meu caminho fosse triste para todas elas.

Voltam a mim, novamente como sempre, esses sentimentos de infância subitamente desentranhados de pequenos absurdos e essa capacidade de rir à toa - como rio, hoje... - e esse ridículo desejo de ser útil e essa coragem para comprometer-se sem necessidade e que tem me custado caríssimo, mas um preço que eu pago e que pagarei ainda que me neguem o troco.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998

"O Haver". 15 de abril de 1962. Não havia Edu ainda. E o bruxo de cabelos esvoaçantes brancos, mago do malte e dono da voz que me embalou os sonhos de ser como ele - ah, essa faculdade incoercível de sonhar e de transfigurar a realidade - já havia escrito a oração que mais rezei, que ainda rezo, que agora rezo, que rezarei enquanto me for possível. "O Haver".


ouça "O Haver"


Até.

25.4.06

25 DE ABRIL

E há 32 anos, a Revolução dos Cravos, em Portugal. E lembrando da data, lanço uma curiosidade que não sei se é do conhecimento de todos. Trasnscrevo, primeiro, a letra original de Chico Buarque, para a canção "Tanto Mar", alusiva à data, vetada pela bruta e burra censura brasileira.

Nem sequer posso desconfiar a razão do veto.

Importa é que a segunda versão, gravada no Brasil, é muito mais significativa. E os imbecis a liberaram. Vá entender.

Em 25 de abril de 1974, há 32 anos, acontecia, em Portugal, a Revolução dos Cravos

Tanto Mar
(Chico Buarque)

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim


* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.

E eis a segunda versão, de 1978.

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim


Até.

A ESPIRAL - PARTE I

Vou ser preciso do início ao fim, hoje (como sempre), e não vou mascarar a hora em que escrevo, pouco mais do que quatro da manhã. Acho que como mais uma manifestação de TOC (veja aqui e aqui) eu fico padronizando o horário das postagens, sempre às sete da manhã. Mas hoje, não. Essa insônia olímpica, esse despertar despropositado, só pode ter a ver com as 72h que me separam do dia 27, quando farei anos, 37, e pronto!, essa profusão de sete bastou para que eu fosse arremessado longe, mais precisamente para 1969, ano em que nasci.

eu no colo de meu pai, Isaac Goldenberg, no Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, 1969

Eu disse uma vez, aqui, que meu pai cravou em mim o futebol como sacerdócio, e creio eu que isso deu-se nesse dia aí, em que estava em seu colo (notem seu sorriso de orgulho), no setor das cadeiras especiais, ainda de fraldas, provavelmente num domingo, dentro desse gigante de concreto amalgamado com as lágrimas da paixão enfurecida das torcidas cariocas, o Estádio Mário Filho, o Maracanã.

E valendo-me de mais uma dentre tantas preciosas imagens de autoria da Ju, tenho sobre o peito, hoje, e agora, o mais pesado dos paralelepípedos. É abril, é abril. E vem chegando o dia 27, e foi meu mano Szegeri quem me sinalizou isso hoje, quando bati o telefone pra ele, no meio da tarde, oprimido e espremido dentro do terno, suado, no centro da cidade. Nem sei por quê liguei, mas creio que em busca de alívio. E disse-me o meu Xamã:

- É abril, Edu. Mas maio vem aí.

Resta um orgulho rasgadíssimo por estar resistindo à tentação do cigarro.

Resta uma saudade estúpida, já que em vão, os tempos não voltam, desse 1969 quando eu não sabia rigorosamente nada, não sabia de nada, e era, provavelmente, mais feliz e justo graças à ignorância, santa, inocente, imaculada e porta aberta para constantes absolvições.

E por causa dessa saudade, estúpida e leviana, as primeiras pessoas que me vêm à mente, e que eu gostaria de encontrar na quinta-feira, depois de amanhã, no Trapiche Gamboa, são a minha Bia, o Marco Aurélio, o Fabinho, o Toledão, e daí eu tenho ainda mais fome e sede de 1969, quando além de não saber nada eu também não conhecia qualquer espécie de saudade.

Ô, abril!

Até.

24.4.06

CONVITE

Bem, mantendo minha, como diria minha sumida comadre Mariana Blanc, linha confessional, devo admitir que sou daqueles apaixonados capazes de tudo em nome da paixão. E explico melhor, que isso dito assim ficou vago demais.

Vamos lá.

Gosto de alguém? Então sou derramado, faço declarações públicas, sou tátil, abraço, beijo, não meço posturas nem controlo explosões de demonstrações olímpicas do meu bem-querer.

Gosto de um determinado prato num determinado restaurante? Pronto! É o desespero e o marasmo na vida do cozinheiro. Só pedirei aquilo, sempre, como se antolhos me impedissem de verificar qualquer nesga de novidade no cardápio.

E por aí vai.

Vai daí que na semana passada, dia 13 para ser mais preciso (do início ao fim, como sempre), véspera de feriado, fui com a Sorriso Maracanã e mais Betinha e Flavinho, Sérgio Barreto e Alex, o Justo, ao Trapiche Gamboa, atendendo dica do Paulo Roberto Pires, no NoMínimo, assistir à apresentação da cantora Fabiana Cozza, a quem eu não conhecia. Infelizmente, aliás (ela canta que é uma beleza!), e notem aqui um traço doentio da minha personalidade... O Szegeri não apenas conhece a Fabiana há anos como é seu amigo, íntimo, e debochou de mim de forma colossal quando eu lhe telefonei na tarde do dia 13 perguntando se podia, mesmo, ir ao Trapiche naquela noite com a certeza de que veria uma boa cantora (liguei pra Stê, na verdade, mas é impossível não pôr o Szegeri no roteiro do meu dia-a-dia).

Disse-me o meu pomposo irmão paulista:

- Vá de olhos fechados, Edu! A Fabi (residindo aí, nesse dissílabo, a intimidade que me fere ainda agora) canta muito.

E canta mesmo.

Quem cantou também, nesse dia, foi o Moacyr Luz, que apareceu não para uma canja, que canja é coisa pouca. O Moacyr apareceu foi para uma granja. Cantou pra burro (bem e muito) e, disse-me a Dani (eu estava assim, meio fora de órbita), levou-me ao delírio.

Voltando.

Daí decidi que na quinta-feira que vem, 27 de abril, quando faço 37 anos (meu Deus... eu cada vez mais velho...), vou estar lá, no Trapiche Gamboa, na Rua Sacadura Cabral 155, a partir das 20h, tendo o privilégio, novamente, de ver e ouvir a Fabiana que, de fato, é um portento cantando. Dona de presença fortíssima, marcante, com repertório de primeiríssima, uma divisão espetacular, quebrando qualquer concepção original de qualquer canção, a Fabiana já é (daí a menção ao meu modo de paixão) uma das minhas preferidas.

E prosseguindo a onda novidadeira do Buteco, um vídeo da Fabiana cantando "O Samba é Meu Dom", com rápida propaganda do meu provedor!

Se você não tem o RealPlayer assista o video aqui.

Mas se você já tem o RealPlayer, então é mais simples! Assista o video aqui!

Até, e espero você lá, 27 de abril, quinta-feira, a partir das 20h no Trapiche.

23.4.06

SALVE, JORGE!

Ontem, sábado, 22 de abril, véspera do dia dedicado a São Jorge, fomos eu e a Sorriso Maracanã à quinta edição do Samba de Jorge, no Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes.

São Jorge Guerreiro

Se valeu a pena? Ora, ora. No comando do furdunço, Nei Lopes. E mais nada precisa ser dito.

E como mais nada precisa ser dito com relação à qualidade da festa, vamos a algumas passagens da agradabilíssima noite de sábado.

Fomos eu e Dani, Maria Paula com Maria Sílvia, sua mãe, Ruivinha com Itamar, Ciccio com Andre e Frederico, Cris com a Cláudia e ele, o Mauro, que na visão do meu irmão Szegeri é a verdadeira beleza acachapante e que ontem exerceu, como sempre, sua função de embaixador informal da cidade. Explico.

O Mauro tem sempre no bolso um estrangeiro ou uma estrangeira (geralmente uma estrangeira). Você esbarra com o Mauro na praia e ele apresenta a você sua companhia:

- Edu, Inês, Inês, Edu! (ela, a portuguesa)

Ou:

- Edu, Cecilia, Cecilia, Edu! (ela, a italiana)

Ou ainda:

- Edu, Araitz, Araitz, Edu! (ela, a espanhola)

E isso não tem fim. Pois ontem o Mauro levou, a tiracolo, o Ciccio (que eu e Dani conhecemos na Itália quando lá estivemos), o Andrea e o Federico, sobrinhos do Ciccio e que têm, no Mauro, uma espécie de ídolo. Aliás, o Mauro ontem estava especialmente dengoso e carinhoso comigo como se pode ver pela fotografia abaixo.

eu e Mauro no CCC, 22 de abril de 2006

Além do Ciccio, além do Andrea, além do Federico, o Mauro levou, no outro bolso, a Claudia e a Cristine, fã declaradíssima do meu irmão (e quem não é?).

Eu perguntei "e quem não é" e tenho que responder.

Todos são.

O Mauro, por exemplo (tenho hoje vontades olímpicas de falar sobre ele), é capaz de fazer gente de toda a parte do mundo se despencar em direção ao Brasil. E não em busca de Copacabana. Não em busca do Corcovado. Não em busca do Pão de Açucar. Não em busca da garota de Ipanema. As pessoas vêm (homens e mulheres, diga-se) apenas para vê-lo e ter com ele um, dois, três dias de convívio. Um troço impressionante.

eu, Andrea, Federico e Mauro no CCC, 22 de abril de 2006

Ciccio, Dani e Mauro no CCC, 22 de abril de 2006

Maria Paula, eu e Mauro no CCC, 22 de abril de 2006

Eu e Dani no CCC, 22 de abril de 2006

Mas vamos à noite.

O CCC estava de vermelho e branco.

Como eu já disse, mestre Nei Lopes estava como mestre (obviamente) de cerimônia.

Nei Lopes no CCC, 22 de abril de 2006

Dani e Nei Lopes no CCC, 22 de abril de 2006

Eu, aproveitando o gancho da palavra, mais sem cerimônia que nunca. Tenho estado assim desde que parei de fumar e sabe-se lá por quê.

Uma das primeiras a se apresentar foi a Dorina.

E é sempre um prazer espetacular vê-la cantar. A Dorina canta (por mais que isso soe piegas) com a alma retalhada e ontem pareceu-me fazê-lo ainda mais intensamente, já que declarou-se comovida com a festa.

Outra boa surpresa (eis que não sabia que elas estariam lá!) foi rever o Quarteto em Cy, por quem tenho especial carinho. Cyva, Cynara, Cybele e Sônia cantaram algumas músicas e com a mesma graça que as caracteriza.

Quarteto em Cy no CCC, 22 de abril de 2006

E quem mais estava? O magnata supremo da elegância moderna!

Walter Alfaiate. O mesmo vozeirão. A mesma categoria. A mesma elegância (dando contornos de coerência ao epíteto que ele mesmo criou), a mesma cadência das melhores escolas do gênero, padrão Cyro Monteiro.

Dani e Walter Alfaite no CCC, 22 de abril de 2006

Do CCC partimos para CCCC (piada infame da noite e explico).

Do Centro Cultural Carioca partimos para comer cabrito no Capela com o Cícero.

E deu-se o final da noite com mais chope, com arroz de brócolis e com o cabrito mais famoso da cidade e que estava, ontem, especialmente bom, talvez devido à companhia.

Itamar e Ruivinha no Capela, 22 de abril de 2006

Cristine e Cláudia no Capela, 22 de abril de 2006

Maria Paula e Maria Sílvia no Capela, 22 de abril de 2006

Chegamos em casa, de volta, já era alta madrugada.

E já era, é claro, 23 de abril, dia do Santo Guerreiro!

Cantei, baixinho, antes de dormir:

"Deus me perdoe essa intimidade:
Jorge, me guarde no coração!
Que a malvadeza desse mundo
é grande em extensão.
E muita vez tem ar de anjo
e garras de dragão..."


Até.

19.4.06

EU, VISIONÁRIO

Notem uma coisa. Eu, que mantenho o Buteco aberto há anos, que tento escrever com uma regularidade impressionante textos inéditos, rasgo, em pedacinhos minúsculos, os mais olímpicos elogios aos alvos de meu bem-querer com uma freqüência igualmente impressionante e os exemplos são inúmeros. Já cansei de dizer que o Szegeri é um mito e meu Otto, que a Inês e a Ju (em ordem alfabética para não gerar suscetibilidades) foram as maiores surpresas e aquisições de 2005, que a Robertinha Valente é a maior pandeirista que conheço, que o Ó do Borogodó é o maior buteco do Brasil, que a Betinha é um doce que não enjoa, que o Fefê é meu siamês, que a Dani é a mulher que me ensinou a sorrir, enfim, estou sempre a elogiar os outros. Sempre.

Mas hoje, passando a vista no jornal bem cedo, deparei-me com uma nota que despertou em mim o auto-elogio dito por um Edu empertigado diante do espelho, dando tapas com os quatro dedos das costas da mão na folha 3 do Segundo Caderno d´O Globo:

- Eu sou foda.

Peço perdão por esse "foda", assim, dito logo pela manhã. Mas não me ocorreu palavra mais adequada à dimensão do meu acerto.

Vejam a nota. Aliás, nota de autoria do mesmo bobalhão citado aqui e que não se cansa de elogiar com regularidade cartesiana os pseudo-butecos que vêm se espalhando pela cidade como uma praga (não se cansa porque com essa propaganda espontânea - pausa para um pigarro - não paga um único centavo nos estabelecimentos que incensa).

Image Hosted by ImageShack.us

Vejam isso! Vejam isso!

Bem recentemente eu mesmo escrevi sobre o tal Chico aqui. E já, em outras tantas oportunidades, os que me lêem saberão que isso é uma verdade, cansei de dizer que tanto o Chico, do Bracarense, como o Paiva, do Jobi, cobram por um humilde "boa-noite", por um simpático "como vai?", ou ainda por um óbvio "querem ver o cardápio?".

Mas vou me centrar no Chico, que como se vê - e como nos mostra o sujeito (recuso-me a chamá-lo de jornalista) que assina a dita coluna - está tomando o rumo da fama. Gravou uma participação em um programa da TV Globo, irá à Copa da Alemanha servir bonachões em um camarote VIP e ainda vai aparecer na nova novela da mesmíssima TV Globo. Ora, ora, ora... "Mas o que é que tem isso, Edu?", dirão alguns incautos. "Só por que é garçom não pode aparecer?", dirão outros ainda mais idiotas. Nada disso. E explico.

O Chico é um garçom medíocre. E - uma amiga minha, de confiança, relatou-me o fato - é um "excelente e atencioso garçom" quando pingam em sua mãozinha, sempre em concha, umas notinhas que somem, no mínimo, R$50,00. A tal "gorjeta". Legítimo, dirão alguns. Mas então que não se venda essa imagem do Chico, como o melhor garçom do Rio de Janeiro. O Chico não está nem entre os 100 melhores garçons. Mas é o primeiro quando o assunto é pose, mídia, fama, salamaleques e rapapés.

Exatamente como o Bracarense, bar onde trabalha. Nada além de razoável. Mas segundo alguns jornalistas e colunistas que nada pagam em troca de notas e mais notas sobre os mais estúpidos assuntos envolvendo esses estabelecimentos, é um fenômeno, como é um fenômeno os tais salgadinhos feitos pela Alaíde, a chef de cozinha do Bracarense (notem bem que no Bracarense não há cozinheira!). Que são, quero repetir, medianos. Medianos e engordurados. Medianos, engordurados e caríssimos.

Mas o que acontece depois de mais uma nota como essa publicada no maior jornal carioca?

A patuléia, a escumalha, toda a gente sem senso parte em direção ao Bracarense. E para lá vão munidos de câmeras fotográficas (para depois dizerem "olha, esse sou eu e o Chico", mas mal sabem que sem grana não tem foto!), papeizinhos para os autógrafos (idem idem), e assim, graças a babacas como o autor dessa coluna podre, vai perdendo terreno a verdadeira tradição carioca, dos butecos autênticos, dos pé-sujos anônimos, dos verdadeiros garçons, santos que almejam a simpatia da freguesia e - vá lá! - uma gorjeta polpuda como retribuição pela gentileza do bom atendimento. E não uma polpuda gorjeta como adiantamento para que esse mesmo atendimento venha a galopes.

Uma forma bonitinha e aparentemente inocente de exercer a corrupção.

Até.

18.4.06

TEMA DE TODO ABRIL

Há, em mim, constantemente, e mais em abril do que em qualquer outro mês, uma permanente gana de dizer o que já foi dito, de escrever o que já foi escrito, de inventar o que já está inventado há dezenas, centenas, milhares de abris.

Vai daí que vasculhando arquivos bati de cara com essa foto que fiz em junho de 2005 em Amsterdam. Lá, para assombro da vendedora, danei da cantar uma canção que gostaria de ter composto, dizendo o que eu gostaria de ter dito primeiro, o que gostaria de ter escrito antes, o que já estava inventado pelo Aldir (sobre canção lancinante do Guinga) que, como diz a Ju, tem a mania de falar por todos nós.

Girassóis, Amsterdam, Holanda, 20 de junho de 2005


ouça aqui

"Meu catavento tem dentro
o que há do lado de fora do teu girassol

Entre o escancaro e o contido
eu te pedi sustenido
e você riu bemol.

Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea

Quando eu respeito os sinais
vejo você de patins
vindo na contra-mão

Mas quando ataco de macho
você se faz de capacho
e não quer confusão

Nenhum dos dois se entrega
nós não ouvimos conselho:
Eu sou você que se vai
no sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro
e você vive no vento do Arpoador

Eu tenho um jeito arredio
e você é expansiva
(o inseto e a flor)

Um torce pra Mia Farrow
o outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
Você dança, havaiana...

Eu vou de tênis e jeans
encontro você demais:
Scarpin, soirée

Quando o pau quebra na esquina
´cê ataca de fina
e me oferece em inglês:
É fuck you, bate-bronha!
E ninguém mete o bedelho:
Você sou eu que me vou
no sumidouro do espelho

A paz é feita no motel
de alma lavada e passada
pra descobrir logo depois
que não serviu pra nada

Nos dias de carnaval
aumentam os desenganos:
Você vai pra Parati
e eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro
o vento escancarado do Arpoador

Teu girassol tem de fora
o escondido do Engenho de Dentro da flor

Eu sinto muita saudade
você é contemporânea

Eu penso em tudo quanto faço
você é tão espontânea!

Sei que um depende do outro
só pra ser diferente
pra se completar

Sei que um se afasta do outro
no sufoco somente pra se aproximar

´cê tem um jeito verde de ser
e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho."


Acabei de ouvi-la, mais uma vez.

E é rigorosamente minha a canção, a letra, hoje mais do que nunca. E deu-me vontades olímpicas de dar os girassóis de presente. Esses girassóis. Os da foto. Colhê-los no jardim impossível e levá-los por aí, dando a quem os merece.

Ô, abril, que não termina!

Até.

17.4.06

E PROSSEGUE A PRAGA

Eu sei, eu sei, eu estou cansado de saber. Pareço sempre radical demais, repetitivo ao extremo, quase-cansativo. Mas creio, com meus botões (os únicos que me agüentam as 24 do dia), que é radicalizando e tornando o discurso repetitivo que posso entregar à assistência meu retrato mais bem moldado e integralmente visível ao alheio. Por isso peço licença para, uma vez mais, bater (com força e com o auxílio da tropa de choque, Szegeri, Zé Sergio, Borgonovi, Marcão, Julio Vellozo) nessa praga que se espalha pelo Rio de Janeiro e que vem detruindo (ou tentando destruir), aos poucos, uma das mais arraigadas tradições cariocas que é o buteco autêntico, e não esse boteco falso e nojento que precisa ser anunciado no letreiro, e refiro-me ao Belmonte (boteco, como a logomarca explica), ao Informal (botequim, idem idem), ao Manoel e Joaquim (bar e botequim, idem idem) e outras bostas do gênero.

fachada de obra na esquina da Rua Prudente de Morais com Rua Farme de Amoedo, em Ipanema, anunciando a abertura de mais uma filial da cervejaria Devassa

Vejam vocês, por exemplo, o (ou a, não sei) Devassa. Em primeiro lugar (pode ser implicância minha, mas creio que procede o que aponto com o indicador) eu duvido que essa exposição da marca durante a obra seja permitida pela Prefeitura. Em frente.

O (ou a) Devassa é uma cervejaria que começou no Leblon, outro bairro da zona sul da cidade. Fabrica sua própria cerveja (semi-sofrível), cobra por ela os olhos da cara e tem, hoje, filiais espalhadas pela cidade (não por acaso pela zona sul e pela Barra da Tijuca, apenas). Está na moda graças a babacas que vão ao bar em busca única e exclusivamente de ver pose e de expôr a própria pose. E está na moda, também, graças a jornalistas sem escrúpulo que dão nota atrás de nota incensando, adulando e bajulando esses estabelecimentos em troca de mordomias como, por exemplo, não pagar um único centavo pelo consumo.

Vejam que nojo a nota abaixo.

nota publicada no jornal O GLOBO de quinta-feira, 13 de abril de 2006

E explico por qual razão é, a nota, um nojo.

Em primeiro lugar porque ela cita três bares horrorosos: o Informal, o Belmonte e o Manoel e Joaquim.

Em segundo lugar porque refere-se a um deles, o Informal, como "botequim pé-limpo" (na verdade estendendo esse adjetivo aos demais). É engraçado, porque esse mesmo jornalista (que não entende porra nenhuma do assunto) já chamou um deles, o Belmonte, de "pé-sujo fashion", como se vê aqui. Porra! É pé-sujo, é pé-limpo fashion, é o quê? É uma merda, digo eu. Vamos em frente.

É um nojo, a nota, em terceiro lugar, porque o jornalista (que não entende picas da matéria) cria uma espécie de ranking medíocre entre os estabelecimentos comerciais mantidos por investidores que estão cagando solenemente para qualquer outra coisa que não seja o lucro.

Você, por exemplo, vá ao Bar do Costa, em Vila Isabel. Bar de matriz, sem filial. Petiscos de primeira. Cerveja estupidamente gelada. Preços bastante em conta. A alma do dono boiando entre os freqüentadores. E é assim no Rio-Brasília. No Amendoeira. Nos bares sérios. Nessas franquias que atentam contra a tradição nada disso se vê. Mas a tradição não interessa ao jornalista. Interessa é esse trabalho de divulgação babaca (que os investidores jogam pesado quando o assunto é marketing) que acaba dando certo e atraindo hordas de babacas em busca de pose.

Vai daí que eu fiz essas tais duas fotos chegando à praia na quinta-feira.

Saindo da praia, na mesmíssima rua, deparo-me com outra obra. Bem mais modesta, é verdade. Mas o letreiro já estava visível... E vejam que lixo, que lixo!

Veja, mano Szegeri, você com quem tanto já discuti o assunto... Veja que nojo!

fachada de obra de bar na Rua Farme de Amoedo, em Ipanema, mais um dentre tantos filhotes que vêm nascendo fruto dessa insuportável moda que faz crescer as franquias de bares e botequins na cidade do Rio de Janeiro

"Botequim Tô Nem Aí" é o que anuncia o toldo.

Salve-se quem puder.

E aposto que muito em breve o tal jornalista em questão (apenas um dentre tantos medíocres que remam no mesmo barco) estará anunciando, com pompa e circunstância, a inauguração de mais esse cancro na vida da combalida cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, cada vez mais crivado, coitado, eis que cada filial dessas merdas, cada filhote que nasce na mesma onda (como esse escroto "Tô Nem Aí), é mais uma flecha no peito do padroeiro.

Que ainda pode se salvar.

Até.

13.4.06

FERNANDO JOSÉ SZEGERI, O MITO

"Szé, O Impronunciável, também conhecido pela alcunha de Zé do Guéri Guéri (apud Nei Lopes) é uma criatura capaz de chegar num botequim às oito, beber todo o estoque de tudo que não o morda antes e ainda emitir opiniões inteligentes de madrugada, a caminho da rodoviária (e olhem que esta é apenas uma das histórias que testemunhei). Sabe-se lá para que em que mundos, em que estrelas se escondem os litros consumidos. Nascido por mero acaso em São Paulo, é mais carioca que 99,999999% da população do balneário. No café da manhã, bebe três doses de pandeiro, misturadas a quatro piadas de português e arrematadas com seis comentários sobre a bunda da mulher que acabou de passar. Existência saudável, esta do Szé."

(Fernando Toledo)

Eduardo Goldenberg e Fernando Szegeri


Vejam vocês que hoje, segundo as contas feitas pelo buscador do próprio blogspot (e que segundo as minhas contas, de memória, estão subfaturadas), falarei do meu irmão Szegeri pela octagésima oitava vez. Mas ele merece, obviamente. Não merecesse e não teria gasto com ele o abraço flagrado pelas lentes da Betinha em novembro do ano passado, durante seu casamento com a Stefânia, aliás, diga-se, o maior e melhor casamento que já testemunhei (bate, de longe, um grã-fino, no Jockey Club de São Paulo, ao qual também fui). Não merecesse e eu não teria cravado em sua testa o carimbo: meu Otto! Não merecesse e eu não gastaria fortunas em ligações quase que diárias para seu celular, uma espécie de oráculo que recebe minhas mais variadas consultas e nas mais variadas horas.

E por que falarei dessa pompa hoje novamente?

Simples, e explico.

Fui ler, já resignado (acostumado com a escassez de movimento na Barca de Caronte...), o excelente blog de minha comadre Mariana Blanc, o Cartas de Hades. E qual não foi minha surpresa!

Estava lá o texto novo, chamado "Caríssimo Szegeri".

A princípio, roí-me de ciúmes.

Mas que coisa essa!, pensei eu. O que tem a Mariana que recorrer ao MEU personagem quando lhe falta assunto?!, prossegui bradando como uma criança contrariada.

Mas isso durou, creiam, alguns segundos.

Fernando Szegeri e Dani Sorriso Maracanã


Logo abateu-se sobre mim uma certeza acachapante, como a beleza do Branco (que o Szegeri acha que é do Mauro, muito mais bonito que o Branco na sua opinião): o Szegeri, o meu Otto, Fernando José Szegeri, é um mito. Notem na foto acima, por exemplo, o tamanho do Maracanã no instante do abraço, o orgulho, a felicidade (devo dizer que nesse dia, no dia de seu casamento, o Szegeri foi mais abraçado que o Carlos Alberto e o Pelé, juntos, na Copa de 70, disputado ferozmente por todos os convidados).

Mas mais que um mito (e o texto da minha comadre apenas corrobora essa verdade) ele é um homem semi-santo a quem todos querem recorrer. Aliás (talvez isso explique o fato!), ele já foi, imaginem vocês, coroinha. Pra mim, foi acólito, eis que de coroinha, geralmente um menino bobo cujo principal papel é lustrar os sapatos e fazer a bainha da batina dos padres, o meu irmão paulista nada tem! E, dizem, roubava a cena durante as missas, humilhando o sacerdote, que se sentia um pequeno diante da autoridade szegeriana e era vaiado pela multidão de beatas impressionadas com a desenvoltura daquele menino (!) dentro da Casa de Deus. Até hoje fala latim como quem respira (um dia quebro o sigilo de nossa correspondência e lhes mostro emails imensos, todos em latim, eis que tenho, precisamente, nesse momento, 3.114 mensagens enviadas pelo gênio arquivadas).

Essa é apenas uma das razões pela quais o Szegeri merece o respeito de um homem com a erudição, a cultura e a importância de um, por exemplo, Nei Lopes, que jamais respondeu a um simples "bom dia, Nei!", dito por mim. Vão tomando nota!

O Szegeri joga nas onze. Senão vejamos (aproveitei um tempinho vago para separar para vocês, meus fiéis leitores, provas inequívocas de que é, o bom Szegeri, um mito).

O Szegeri é funcionário público, já lhes contei. E quando discute-se, seriamente, o papel do funcionário público, a imagem deturpada que a população tem desses abnegados, é ele, o mito, quem concede entrevistas para aclarar as dúvidas que assolam um pobre mortal.

Mas ele é, também, produtor cultural. E dá banhos quando discorre sobre qualquer assunto, como convém a um verdadeiro produtor cultural. Pixinguinha? É com ele mesmo!

Direitos autorais. A indústria que nivela por baixo o que ela, indústria, chama de cultura nacional. Assunto tormentoso. Quem domina? Ele, o meu Otto, que escreve freqüentemente no jornal da AMAR.

Vocês hão de se lembrar. Eu sempre disse que o Szegeri é um velho, tem centenas de anos de vida, já nasceu barbudo, peludo, gordo e já funcionário público.

Betinha e Fernando Szegeri


Na foto acima é a Betinha, musa confessa do meu irmão, quem sorri de alegria ao lado do mito.

Mas então. Pensem em algo bem antigo. Assim como, discos de 78 rotações por minuto. E pensem em, por exemplo, Francisco Alves.

Francisco Alves morreu em setembro de 1952, carbonizado, vítima de um acidente com seu Buick (que antigo! que antigo!) na Rio-São Paulo. Eu disse 1952. O Szegeri nem no saco do velho Zé Szegeri estava.

E quem?, quem?, quem prestou-lhe homenagem em 2002 na passagem do cinqüentenário do Chico Viola? Ele, meus amigos. Fernando José Szegeri, vejam que não minto! Notem o que vai escrito na matéria!!!!! O Szegeri nem vinte anos tinha (que mentira! que mentira!) e já freqüentava as reuniões do antigo (que coerência! que coerência!) Clube da Seresta...

Mas há mais! Há mais!

Fernando Szegeri e seu pai, José Szegeri


Vejam que belo instantâneo de pai e filho, meu mano Szegeri e seu pai, esse outro portento que é José Szegeri! Voltando.

Notem como é burro o eleitor brasileiro. Burro. Um asno!

Ele, o mito, candidatou-se nas eleições de 2004 para o cargo de vereador pela combalida cidade de São Paulo.

E 15 (eu disse quinze!), apenas 15 eleitores cravaram o número daquele capaz de modificar tudo! (eu sei quem foram os 15: José Szegeri, Paula Szegeri, Dona Cecília, Railídia, Robson, Stefânia, Roberta Valente, Fernando Borgonovi, Marcão, Julio Vellozo, Roberta Valente, Capitão Leo, Augusto, Ju e Marcy - esse último voto eu cabalei) Duvidam? Pois além de funcionário público, produtor cultural, saudosista e comunista o meu irmão é candidato! Ele também é candidato!

Como se não bastasse isso tudo, meu irmão é cantor. Comanda com uma voz daquelas de antigamente (é óbvio!) o excepcional conjunto Inimigos do Batente.

Fernando Szegeri e José Sergio Rocha


Nessa aí de cima, é José Sergio Rocha quem se orgulha pela pose ao lado do mito. Pausa para pequena confissão.

Além de funcionário público, produtor cultural, saudosista, comunista, candidato e cantor, o Szegeri é um piadista de mão cheia. E chama o pobre do Zé Sergio de "Velha Coroca", dia desses explico o por quê.

É ainda membro da Sociedade Edificante Multicultural dos Prazeres e Rituais Etílicos. É o único homem que eu conheço, na vida, que já tomou a Ponte Aérea apenas pra comer uma porção de iscas de fígado acebolado, voltando pra São Paulo no mesmíssimo dia poucas horas depois.

E ainda arruma tempo pra ser um pai exemplar (da minha sereia Iara) e marido nem tanto (perdão, mano!), das antigas, daqueles que saem do banheiro com roupão felpudo, chinelões, machista, chorão, um gênio, um gênio, um gênio!

Tenho muita sorte de tê-lo comigo.

Stefânia e Fernando Szegeri


Fechando o texto de hoje - enorme, mas que fica aqui até segunda-feira, depois do feriadão - essa outra pequena obra-prima da Betinha, que foi a única sóbria capaz de fotografar tudo, do princípio ao fim.

Até.