16.5.06

OS CHEFS E OS BUTECOS

(ou UMA MANEIRA TORTA DE DRIBLAR O PRECONCEITO)

Há umas semanas a revista RioShow que sai às sextas-feiras encartada no jornal O GLOBO trouxe como matéria de capa (aliás, matéria repetida várias vezes...) a avaliação da comida de alguns butecos cariocas feita por grandes chefs de cozinha, donos dos mais refinados restaurantes cariocas. Não vou sequer citar seus nomes. É o que menos importa.

Importa é a falsa sensação que matérias do gênero provocam. Explico dando um exemplo. Alguns dias depois encontro com a Manguaça. E ela me saúda:

- Oi, Edu! Lembrei de você na sexta-feira! Viu que maneira a matéria de capa da revistinha do O GLOBO? - a Manguaça vale-se do adjetivo maneira com uma freqüência impressionante.

E eu lhe respondo:

- Vi. Mas não achei nada maneira - eu disse maneira de forma bem debochada.

E o que expliquei a ela, explico a vocês.

foto de autoria de Paulo Barbosa em http://www.pbase.com/pbarbosa


Quero que alguém me explique um troço: de que espécie de autoridade estão investidos esses chefs de cozinha, pernósticos no mais das vezes, para avaliarem a comida de um buteco que não têm os estropiados, os andrajos, os zés e manés que anonimamente se fartam, dia após dia, nas mesas e nos balcões dos butecos espalhados por toda a cidade?

Alguma vez, essa ou qualquer outra revista, qualquer repórter, pensou em passar a conversa num cidadão como esse aí da foto, recolhê-lo numa van refrigerada e dar uma voltinha pela cidade (pela zona sul, para ser mais preciso) em busca de obter seu parecer sobre as supostas obras-primas gastronômicas desses chefs?

Não. Nunca.

Eis a razão pela qual não vejo valor algum na matéria. Não a respeito. Não compreendo o objetivo do repórter. Soa, para mim, como uma tentativa estúpida e babaca de dizer "botequins fedorentos podem também fazer boa comida tanto que os chefs também os aprovam". Quero ver - isso sim! - a mesma RioShow recolher uma meia-dúzia de malandros freqüentadores dos botequins mais vagabundos, aos quais eu não resisto, e levá-los ao Carlota. Ao Olivier Cozan. Ao Roberta Sudbrack, comandado pela ex-chef de cozinha do Palácio do Planalto na Era FHC (vale visitar o site da moça para que vocês percebam como sou coerente... Qual seu bar preferido? Jobi, evidentemente).

Szegeri.

Como esses malandros costumam ser muito, mas muito mais autênticos, honestos e verdadeiros que aqueles que vivem de pose e da pose precisam para se manter (como esses chefs que cobram os olhos da cara por esculturas ridículas que ocupam 5% da área útil de um prato minpusculo), a matéria seria, além de mais significativa, muito mais engraçada.

E para fechar.

Vejam como o Jota é, além de incansável na arte de bajular estabelecimentos comerciais localizados na zona sul da cidade, também versátil para inventar um mote babaca capaz de lhe permitir a citação, a babada de ovo, a menção ao nome e à efetiva propaganda.

nota publicada no jornal O GLOBO, Segundo Caderno, 16 de maio de 2006


Para poder falar do Bar Saturnino, provavelmente valendo-se do método que ele mesmo apregoou (vejam aqui), o Jota dá uma volta imensa e no finalzinho da nota usa a expressão "aliás e a propósito".

Fosse o Jota honesto e a nota seria redigida de trás pra frente. Para que tudo fizesse sentido e ele dissesse "Aliás e a propósito: os sócios do Bar Saturnino...". Vale a visita ao site do Bar Saturnino. Ele é auto-explicativo para que se compreenda a razão pela qual esses estabelecimentos (Saturnino, Devassa, Belmonte, Manoel & Joaquim, Informal, Conversa Fiada etc etc etc) estão destruindo o Rio de Janeiro.

Até.

4 comentários:

Anônimo disse...

Edu,

Li a matéria à época; tive engulhos, especialmente ao ler a menção ao outrora glorioso Rebouças, próximo à Jardim Botânico, minúsculo reduto que frequentei na adolescência e vejo hoje totalmente desfigurado (tal qual o Picote, que quase me enfartou semana passada com aquela medonha "reforma").

Esse tal de Saturnino, dada a repulsiva mensagem no site acima apontado - local para abastecer sua night !!! - Cáspite! Dispensa qualquer comentário, é forte candidato a figurar entre os drinking-centers da Zona Sul.

Quanto ao fato de a "chef" Roberta não-sei-de-quê gostar do Jobi, nenhuma surpresa, já que as notinhas de jornal não tratam de outro tipo de estabelecimento - aliás, não conheço nenhum estabelecimento (disse estabelecimento, não butiquim)que apresente tantas, como dizer, incorreções em suas contas quanto aquela espelunca.

Por fim, passava ontem a caminho de casa, quando deparei-me com um espaço grotesco, na Conde de Bernadote, que atende pelo nome de "Desacato - Gastronomia de Botequim" (!). Aguardemos as próximas repelentes e enojantes notinhas do "j" para ver qual é a informação a respeito.

Saravá!
Fraga

Eduardo Goldenberg disse...

FRAGA: vamos aguardar o Jota, então. Mas eu tenho alguns palpites...

O Bar Rebouças foi citado pelo Jota uma vez, lembra? "Botequim grifado", foi o que ele disse.

Também odiei o "novo" Picote. Aquelas paredes com textura (como os pernósticos a-d-o-r-a-m) me enojaram. Mas o Jota só se dedica a estabelecimentos com filiais, note só. Ou aos peso-pesados em matéria de promoção e marketing, como o Jobi e o bar onde trabalha o Chico, o garçom-michê (não digo o nome em respeito a você, que gosta do lugar).

Quanto ao Saturnino, o site diz tudo, não? O Dalton, meu irmão e cada vez mais meu irmão, esteve lá há umas semanas para o aniversário de uma amiga. Contou-me que um hamburguer, bem simples, custa quase R$30,00. É de foder.

A chef Roberta FHC é tão estúpida que escreveu, pasme, um livro de receitas de altíssima gastronomia (como li a certa altura) para cachorros!!!!! Terá sido fruto da experiência de oito anos servindo o ex-presidente?

Agora... puta merda... "Desacato: gastronomia de botequim" é demais. Demais. É evidente que o Jota dele falará.

Aguardemos.

Anônimo disse...

Edu,

Pobre Dalton, seu irmão e cada vez mais seu irmão, que raios de "amiga" seria essa?

Saravá!
Fraga

Szegeri disse...

Meu Deus, conspurcaram o Picote tembém??? O Belmonte já tinha ido, ainda bem que não "moro" mais por ali quando estou no Rio. Salve o Rio-Brasília!