31.7.06

UMA HOMENAGEM PARA O SZEGERI

Acabo de levantar a porta de ferro do Buteco depois de uns dias de remanso. Fui, durante a semana que passou, padrinho as 24 horas do dia. Primeiro com a Iara (de terça a sábado), depois com a Maria Helena (no sábado) e depois com o Henrique (no domingo e hoje). Devo dizer, em nome da precisão que me é peculiar, que a Maria Helena não é minha afilhada oficialmente nem o Henrique o é. Mas o que importa é o que manda minha alma. Então, fui padrinho de 3 de meus afilhados as 24 horas do dia até ainda há pouco. Razão pela qual só agora retomo minhas atividades por aqui. Comemorando, aliás, antes mesmo do final do dia, o recorde de visitas num único mês desde que inaugurei o Buteco, em março de 2004: até o momento, 18h30min desse 31 de julho de 2006, são mais de 2.500 visitas, uma bela marca. Mas vamos em frente.

Como lhes contei aqui na semana passada, o Szegeri, meu irmão paulista, chegou ao Rio de Janeiro de sopetão (ninguém chega tão de sopetão como o Pompa) com a doce Stê (gravidíssima e linda) e com a Iara.

Está na página 123 do meu livro (comprem, comprem, comprem!) o texto "O respeito que o Szegeri impõe". Quando o escrevi, dezenas, centenas de polegares resvalaram meu nariz:

- Exagerado!

- Mentiroso!

- Hiperbólico!

Mas vejam.

Eu nunca tive, nem mesmo tenho, pressa quanto a isso: eu sei que o tempo irá devolver cada apontada de indicador, cada resvalada no meu nariz, e todos dirão, resignados:

- O Edu era um preciso!

- O Edu era a encarnação da verdade!

- O Edu era um contido!

Foi o Pompa pisar no Rio e eu liguei pro Fefê:

- Fê, sabe quem está aqui?

- Não. Quem?

- O Pompa!

Fefê ficou mudo. E disse:

- Jura? - tinha a voz encolhida.

- Palavra.

- Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Desliguei tristíssimo.

O Fefê nunca soltou um "oba" com mais de um "a" quando eu me anunciava em seu interfone, de surpresa. Aliás, a bem da verdade, nunca soltou um mísero, um único "oba". Eu só ouvia um muxoxo de desdém, um "tsc" humilhante do outro lado do interfone.

Pois bem. Em segundos toca meu celular. É o Fefê.

- Edu... churrasco aqui em casa na sexta-feira, às duas da tarde, em homenagem ao Szegeri, avise a ele por favor.

Eu retruquei:

- Fefê... às duas da tarde estou trabalhando, não dá pra ser às...

Um corte seco:

- É pra ele o churrasco, Edu.

Destruí-me naquele instante.

Mas fui.

Eu não suportaria estar ausente.

Fomos. Fomos eu, o Pompa, a doce Stê, a Iara e a Roberta Valente, também no Rio de passagem.

Szegeri e papai, 28 de julho de 2006

Lá chegando aquela festa de "ohs" e "ahs" para o Szegeri. Até o gato da casa ronronou roçando os calcanhares do meu amigo.

Meu pai estava lá. Atracou-se com o Szegeri num abraço de pai e filho. Virou-se pra mim, meu pai:

- Ué... Você não está trabalhando hoje? - e estendeu-me a mão protocolarmente.

O Fefê estava eufórico, exaltadíssimo.

Abraçou-se com o Pompa demoradamente e ainda agarrado ao corpo do Szegeri dirigiu-se a mim por cima dos ombros pomposos:

- Ué. Você veio?

Eu tentava disfarçar, mas por dentro eu chorava de dar dó. Tudo era bem pior já que a Sorriso Maracanã, que sempre me defende, que sempre me alenta numa hora dessas, estava viajando com retorno previsto apenas para o dia seguinte.

Sentei-me num canto e observava os movimentos.

Roberta Valente, Stefânia e Fefê, 28 de julho de 2006

Fefê fatiava uma picanha.

Arrumou as fatias na tábua.

E saiu servindo seus convidados.

Estendi a mão, humílimo:

- Já já vai sair alcatra. - disse o Fefê que quase me cortou os dedos com a fúria com que girou a tábua na direção do Pompa, que por sua vez lambia os dedos brilhantes de gordura.

Mas o pior estava por vir.

A certa altura o Pompa pede silêncio. Pega de um embrulho que eu julgava ser um brinquedo da Iara quando saímos de casa e o entrega ao Fefê.

- Abra, mano. - disse o Szegeri já chorando com aqueles olhões.

Fefê abriu e os dois se abraçaram ainda mais comovidos.

Era uma garrafa fechada, lacrada, de Old Parr, o 12 anos preferido de ambos.

Eis aí, nesse lance, a facada fatal que recebi.

O Szegeri nunca me deu um copo d´água de presente.

Meus aniversários passam como vento, e nada.

Minhas demonstrações de afeto se acumulam, e nada.

Já ofereci a ele pomposos jantares, lanches espetaculares, vinhos caríssimos, iguarias que me custam fortunas. E nada.

No entanto, bastou o Fefê oferecer um churrasquinho num dia de semana.

Na minha frente - fez de propósito, o Szegeri, eu sei - aquela garrafa de quase duzentos reais, a troco de nada, na qual não pude nem tocar. Quando pedi pra vê-la, disse-me o Pompa:

- Você vê com os olhos! - e ficou fazendo barulhinho com o gelo.

E o Fefê, pisando em mim de vez, abraçado ao Szegeri, os dois gargalhando como um Zé Pelintra:

- Além de tudo você prefere o RedLabel.

Até.

27.7.06

GAROTA CARIOCA

De pé diante do balcão imaginário do Buteco, comemorando o título da Copa do Brasil 2006, porta de entrada para a Libertadores, início da trilha rumo ao sonho de mais um título de Campeão Mundial Interclubes, rubro-negro até a alma, ergo o copo anunciando merecido descanso até segunda-feira, 31 de julho, quando subo novamente as portas de ferro do estabelecimento para dividir com vocês as novidades.

Eu e Iara, Ipanema, 27 de julho de 2006

A bem da verdade, eu que sou preciso do início ao fim, não se trata exatamente de um descanso.

Mas de um remanso - que é muito mais bonito que um descanso, convenhamos - ao lado da Iara, minha pequena sereia, que deixou o amor pelo Palmeiras e pelo Paysandu por uns dias só pra agradar o dindo.

Até.

26.7.06

ELE ESTÁ ENTRE NÓS

Estava eu, ontem, concentradíssimo no trabalho, quando toca o telefone. E pisca o nome no neon azul: SZEGERI CELULAR. Vibrei. Senti um entusiasmo intenso. Afinal - pensei enquanto sorria feito um idiota olhando o pisca-pisca do santo nome do Pompa na tela - ele está num hotel-fazenda no interior de São Paulo com a Stê a Iara e teve saudades minhas, por isso está ligando. Pobre ilusão a minha que já deveria saber que apenas eu sinto falta do meu irmão. O Szegeri não toma conhecimento da minha ausência. Quando eu morrer ele sequer se dará ao trabalho de um soluço de susto. Mas vamos em frente.

- Pompa! - digo categórico.

- Quêêêêê?!?!?! - é a voz da minha pequena sereia de olhos negros, a Iara.

- Oi, meu amor! Como estão suas férias? - preciso confessar, em nome da precisão que me caracteriza, que apesar de amar a Iara, fiquei, na ausência do pomposo alô, frustradíssimo.

- Boas, diiiiiiiiiinnnnndo - daí eu já em êxtase com esse aparente ditongo de vários "is", carregado no sotaque e na doçura.

- E os bichinhos? gostando dos bichinhos?

Um silêncio preocupante.

- Aqui não tem bichinho, diiiiiiiiiinnnnndo.

- Não?! - o que eu vou dizer depois da evidente resposta "não" que vem aí?

- Eu no Rio de Janeiro, diiiiiiiiiinnnnndo...

Bem. Resumindo.

O Pompa não foi feliz na escolha do hotel-fazenda. Pelo site, disse-me ele, o troço era um paraíso. Milhares de árvores, bosques, cachoeiras, vaquinhas, cavalinhos, pássaros. Lá chegando, a triste realidade mostrava uma meia-dúzia de plantas em xaxins estorricados, um deserto, um rio seco, de bicho mesmo só pernilongo e barata e a coisa mais próxima de um pássaro que havia era um urubu que revirava o lixo na entrada do engodo. Ficaram menos de um dia. Dormiram para descansar da viagem. E no dia seguinte - ontem pela manhã - decidiram tomar o rumo do Rio de Janeiro.

Pausa.

Pode ser mentira, mas é uma mentira linda. Disse-me o Pompa que a decisão de vir pro Rio baseou-se numa frase da resoluta Iara:

- Filha... vamos então pra onde?

- Pra casa do diiiiiiiiiinnnnndo e da diiiiiiiiiinnnnnda no Rio de Janeiro.

Em pouco tempo eu estava no Bar Getúlio a fim de encontrá-los.

E encontrar a Stê, o Pompa e a Iara, ainda mais de surpresa, foi uma festa. Não pude ficar muito tempo, o trabalho me esperava. Não consegui convencê-los a passarem a primeira noite em nossa casa (ficam até sábado, os meus queridos). Mas marcamos uma visita, à noite, para que a Iara pudesse conhecer o Pepperoni.

Pepperoni e Iara, 25 de julho de 2006

Outra pausa. Iara estava especialmente doce. E especialmente doce comigo (também com a dinda, a Sorriso Maracanã, com quem falou por telefone no viva-voz - eu e Szegeri babávamos com a troca de carinho entre as duas - que chega de viagem na sexta-feira à noite a tempo de ver todo mundo).

Momento glorioso.

Pompa vai à cozinha preparar seu jantar.

- Quero Miojo com queijo! - disse a pequena.

E pôs-se meu irmão paulista a fazer o Miojo, uma das operações mais simples de que se tem notícia.

- Diiiiiiiiiinnnnndo?

- Oi, meu amor...

- Ó só como o papai cozinha bem demais... Ó só o cheiro do Miojo... Hummmmm... - nesse instante o Pompa chorou, temperando o jantar da menina com lágrimas que escorriam, grossas, de seus olhos enormes (o Pompa tem olhões).

Iara jantando, 25 de julho de 2006
Szegeri e Iara, 25 de julho de 2006

Eu e meu mano paulista bicávamos um RedLabel enquanto nos submetíamos aos caprichos da mais-que-doce Iara. Jogamos stop, isso-me-lembra, forca, e eu só fiquei tenso, aliás mais que tenso, só fiquei puto, aliás, nem isso... Fiquei destruído mesmo num momento. E explico.

Eu tenho um urubu, um amuleto, que ganhei da Betinha há uns anos.

urubu

O Pompa, esse santo homem, esse meu irmão, chegou com suas patas sujas no corredor, mexeu na porra de um livro qualquer e DERRUBOU o meu urubu.

Isso, meus poucos mas fiéis leitores, às vésperas de um Flamengo e Vasco, às vésperas da final da Copa do Brasil 2006, é uma desgraça, um infortúnio, um horror absoluto. Ele, sensível como sempre, notou a cagada, e disse-me:

- Pô, Edu... Foi mal... Derrubar urubu às vésperas de jogo do Flamengo é como dar de cara com a Roberta Valente segundos antes de Brasil e França, né?

Até.

PS: amanhã conto sobre mais uma barbaridada na coluneta do Jota, hoje, n´O GLOBO. E conto, também, sobre a breve estada do Borgonovi, que vem ao Rio hoje para acompanhar a grande final in loco. Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeengoooooooooooooooooooo!!!!!

25.7.06

FLAMENGO JOGA AMANHÃ...

... e eu quero muitíssimo que haja mais um baile no Maracanã.

O mais-querido, se hoje não tem Rubens, Dequinha e Pavão, se hoje não tem Zico, Adílio e Adão (outros três craques "absorvidos" pela letra do samba de Wilson Batista e Jorge de Castro), tem a seu lado a maior torcida do Brasil, a mais apaixonada, que faz com que a expressão Nação Rubro-Negra seja viva, seja exata, seja verdadeira.

Dela eu faço parte e às vésperas do segundo Flamengo e Vasco pelas finais da Copa do Brasil 2006, tenho, de novo, 9 anos de idade ao lado de meu pai e de meu irmão, ambos vascaínos, e estou nas cadeiras azuis do maior do mundo, de frente para as cabines de rádio, vendo o Zico cobrar o escanteio do meu lado direito e um Rondinelli, Deus da Raça, cabeceando pra dentro do gol dando o título de campeão carioca de 1978 para o Flamengo.

Flamengo, 1978
(de pé: Cantarele, Cláudio Coutinho, Alberto Lequelé, Manguito, Toninho, Eli Carlos, Moisés, Junior e Nielsen. Agachados: Nelson, Rondinelli, Ramirez, Marcinho, Adílio, Tita, Cleber, Zico e Carpegiani)

Antes de continuar quero contar episódio curiosíssimo passado no Estephanio´s na quarta-feira passada durante o Flamengo e Vasco.

À minha direita, um casal em uma mesa.

Coisa de uns quinze minutos de jogo e o sujeito, rubro-negro, esbravejando, dando murros na mesa, chutando o pau da cadeira. Diz a namorada a certa altura, lânguida (numa atitude impressionantemente descabida naquele cenário, o verdadeiro anti-carinho):

- Calma, . A Copa do Mundo já acabou... Nem é a Seleção Brasileira...

E riu, como uma idiota, em direção à assistência.

Pra quê?

O sujeito resoluto e transtornado batendo ainda mais forte no tampo da mesa:

- E daí, porra? E daí que acabou a Copa, caralho? - dizia os palavrões com a boca repleta - Eu torço mais pro Flamengo do que pra Seleção, ligada?

A namorada resignou-se e o casal foi embora, batendo boca, no primeiro segundo do intervalo.

Mas nesse diálogo reside muito do que quero lhes dizer e do que me vai na alma hoje, às vésperas da grande final.

Um homem, às vésperas de uma grande final, e mesmo às vésperas de um amistoso, um homem apaixonado por seu clube, está sempre descalço, sempre de calças curtas, sempre de camiseta, sempre com a bandeira do clube numa das mãos enquanto a outra, fechada, dá o ritmo do grito de guerra.

A paixão pelo clube é irracional, ao contrário da paixão pela seleção do país.

A paixão pelo clube é imemorial.

Por isso nós criamos marcos. Fixamos lances.

Para não enlouquecer na busca desenfreada pela razão que explicará, eventualmente, o que nos alucina de forma quase que doentia às vésperas de uma grande final.

Amanhã eu quero justamente, de novo, vivo, aquele sopro que senti me devastando no instante do gol do Rondinelli.

Até.

24.7.06

20 DE JULHO

Dia 20 de julho, depois de longo e tenebroso inverno causado por desencontros constantes, eu e Dani recebemos Fefê e Brinco para jantar em nossa casa. Devo dizer, deixando a modéstia de lado, que quando eu convido alguém para jantar é inevitável perceber nos olhos desse alguém o brilho da ansiedade, dada a notória capacidade que eu tenho diante de um fogão. E não foi diferente com meu siamês e com minha cunhada.

Quando eles chegaram eu já estava com tudo pronto para o espetáculo (estou, hoje, sem a mínima sombra de modéstia).

Pausa.

É inevitável, depois que publiquei a receita da minha feijoada e da minha rabada, lembrar do Coelho, a quem ofereço, mais uma vez, a receita do prato com que recebemos os dois.

A noite foi, como previsto, e como diria meu pai, impecável, com ênfase no "p", da sílaba "pe", e no "c", da sílaba "cá".

Fefê deliciou-se lendo um dos volumes da coleção completa dos exemplares d´O PASQUIM, que ganhei do Toledo.

Fefê em nossa casa, 20 de julho de 2006

Dani estava lindíssima, e Dani anda mais linda a cada dia, e tenho, nesse exato instante em que escrevo, agudíssima saudade da minha garota.

Dani em nossa casa, 20 de julho de 2006

Fartamo-nos com uísque, cerveja, vinho, ginjinha, um papo daqueles sem preço.

Fefê chegou com charutos para depois do jantar.

puro habano

Foi uma noite memorável.

Estávamos, eu e o Fefê, nos devendo uma noite dessas.

Mas, enfim.

Vamos à receita que, como é praxe, adaptei de um dos tantos livros e revistas que tenho sobre o tema.

Coelho, querido, faça e me conte.

Ah, sim. O Fefê gostou tanto, e gemeu tanto enquanto comia, que a partir de hoje o prato chama-se Contrafilé do Fefê. Em frente!

A receita é para quatro pessoas. Você terá de ter sobre o balcão da pia 1 quilo de batata bolinha com casca, sal, um ramo de alecrim fresco, azeite extravirgem, 200 gramas de tomate cereja bem durinhos, pimenta-do-reino preta pra moer na hora, vinagre balsâmico, 1 peça belíssima do miolo do contrafilé e mostarda Dijon.

Sirva-se de uísque, como sempre.

Cozinhe as batatas bolinha na água com sal. Escorra e deixe-as separadas.

Desfolhe o ramo inteiro do alecrim. Numa frigideira pequena e antiaderente frite as folhinhas do alecrim até que fiquem crocantes tomando cuidado para não queimá-las. Deixe esfriar um pouco. Passe no coador e guarde o azeite aromatizado e as folhinhas já crocantes do alecrim.

Noutra frigideira, refogue os tomates inteiros com um pouco do azeite, ponha sal, pimenta-do-reino e deixe dourar de leve. Desligue a frigideira. Regue com um bocado do vinagre balsâmico. Separe também.

Numa travessa com um fio de azeite, coloque as batatas com sal e pimenta. Leve ao forno bem quente e deixe dourar. Retire do forno.

Agora é hora de tratar da carne. Corte o miolo do contrafilé em quatro suculentos bifes, de uns 400g cada.

Frite os bifes na grelha, temperando com sal e pimenta-do-reino.

Estão prontos?

Mande-os pro forno a fim de mantê-los quentes enquanto você prepara os pratos.

Numa tigela coloque os tomates, as batatas e o alecrim, regando com o azeite.

Disponha tomates, batatas e alecrim no canto dos quatro pratos.

Ponha o contrafilé (mal passado, é evidente) no centro do prato e uma colher de sopa de mostarda Dijon ao lado.

É bom demais.

Até.

EU SABIA!

Ontem mesmo eu escrevi aqui que o final da notinha publicada ontem na coluneta do Jota (leia aqui) escondia "uma incitação aos instintos dos investidores que mantêm mentiras espalhadas pela zona sul".

Vinte e quatro horas depois eis a nota de hoje:

nota publicada no jornal O GLOBO de 24 de julho de 2006

Vem mais merda por aí, anotem. Vou deixar minhas previsões registradas aqui para que depois, daqui a uns meses, quando o lixo for inaugurado, eu possa repetir sorrindo e de pé no banquinho de madeira do buteco imaginário: eu sou preciso do início ao fim!

ACR exaltará o "pólo plurigastronômico". A ÉLE (também com atentados apontados por mim) escreverá matéria de capa da revista RioShow, de O GLOBO, numa das sextas-feiras seguintes à inauguração. A coluneta do Jota dará nota em cima de nota, afinal Antônio Rodrigues, mega-investidor e testa-de-ferro de espanhóis que não querem aparecer, sabe agradar a imprensa, os famosos, os nem-tanto, mas isso deixa para lá, com a licença do Stanislaw Ponte Preta. O Ed Motta (um bobo, um deslumbrado, um pernóstico, um anti-brasileiro, vejam aqui) dará entrevistas comentando a qualidade das cervejas belgas que lá serão vendidas.

Tudo muito triste.

E os editores do jornal, ó, em silêncio.

Até.

23.7.06

A FARRA CONTINUA

O Jota está de férias e, parece-me, o apetite de seus asseclas está descontrolado. Há, hoje, na tal coluneta, MAIS UMA citação ao Belmonte. Mas notem como a podridão é coerente. Trata-se de MAIS UMA filial e no Leblon, o único bairro possível para os lacaios dessa parte do latifúndio d´O GLOBO. É a TERCEIRA citação da semana. Um recorde desde que começamos a acompanhar o que temos chamado de BARBARIDADES DO JOTA, e com esse de hoje já são 15 os atentados praticados às escâncaras desde 17 de março de 2006.

nota publicada no jornal O GLOBO de 23 de julho de 2006

Duas coisas me chamam a atenção hoje.

A primeira: o pessoal da Receita Federal não fica, digamos, interessado numa investigação pra cima dos envolvidos? A espanholada que, sem aparecer, comanda a rede Belmonte (uma rede de franquias, que fique claro). O proprietário da tal loja na Ataulfo de Paiva. O antigo locatário. O testa-de-ferro dos espanhóis. Pois deveria. Quase um milhão só de luvas. Bom. Salva-me o bom Stanislaw Ponte Preta... isso deixa para lá.

A segunda: a ironia com que os asseclas fecham a nota. Notem:

"No lugar da padaria deverá surgir mais uma filial do Belmonte. Sim, mais uma."

Parece uma provocação.

Uma incitação aos instintos dos investidores que mantêm mentiras espalhadas pela zona sul.

Sei não.

Fede cada vez mais a coluneta do Jota.

E os editores, ó, calados.

Sócios?

Até.

21.7.06

INACEITÁVEL

Quem lê o Buteco (cada vez mais gente, ainda bem), quem acompanha o que se passa aqui, sabe que eu há meses agarrei com unhas e dentes a defesa da causa do buteco pé-sujo, duas dentre as minhas paixões: defender aquilo em que acredito e o buteco, a mais carioca das instituições.

Quem lê o Buteco, quem acompanha a seção BARBARIDADES DO JOTA (links na coluna à direita do blog), sabe que a coluna cujo nome eu não repito exalta, freqüente e sistematicamente, o que há de pior em matéria de buteco (até porque não são butecos as merdas que a coluneta anuncia, e "anuncia" é de propósito, "anuncia" é cabível e "anuncia" é perfeito para o caso).

Mas hoje, meus poucos mas fiéis leitores, hoje essa coluneta (comandada por outro Jota, que o Jota mesmo está de férias) ultrapassou os limites do tolerável, como se isso fosse possível.

nota publicada no jornal O GLOBO de 21 de julho de 2006

(eu estou REALMENTE revoltado)

Notem o título da bosta da nota: "BOTECO CHIQUE".

Alguém precisa dizer a esses vendilhões dos templos ("Buteco é templo", escreveu um dia Aldir Blanc) o que é um BOTEQUIM, um BOTECO, uma BIROSCA. Como estou sem paciência, recorro ao Houaiss:

"botequim. estabelecimento comercial popular onde servem bebidas, lanches, tira-gostos e eventualmente alguns pratos simples; bar; boteco

boteco. pequena venda tosca onde servem bebidas, algum tira-gosto, fumo, cigarros, balas, alguns artigos de primeira necessidade etc. ger. situada na periferia das cidades ou à beira de estradas; birosca

birosca. pequena venda, de instalações simples, ger. estabelecida num bairro pobre ou numa favela e que é misto de mercearia e bar; bar ou botequim simples, sujo ou de mau aspecto; boteco"


Então, vendilhões dos templos, então, Jota e seus seguidores, parem com essa babaquice imunda e destrutiva! O Sr. Rogério Fasano, dono do restaurante mais caro da cidade do Rio de Janeiro, que vai abrir "uma espécie de night club sem pista de dança" chamado Londra (tudo como consta da nota imunda) no térreo do hotel de Phillipe Starck, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, NÃO VAI ABRIR BOTECO PORRA NENHUMA.

Pausa: nem seis mãos (Jan Theophilo, Cleo Guimarães e Melina Dalboni*) conseguiram escrever o nome de Philippe Starck corretamente. A grafia correta do nome é com dois "p" de putos e não com dois "l" de lacaios. Pigarros e em frente.

Esse lixo que "terá paredes em tijolos negros e uma enorme bandeira da Inglaterra, pintada com as cores da Itália", NUNCA SERÁ UM BUTECO (agora com "u", como deve ser).

Eu peço, de pé no banquinho de madeira diante do balcão imaginário do Buteco, ao lado de um monstro sagrado dos butecos cariocas, o seu Osório, que meus parceiros sentem a porrada nos comentários a mais essa nota imunda publicada na não menos imunda coluna de O GLOBO. Não querem comentar aqui? Escrevam, então, para os vendilhões dos templos, por aqui.

Mas não fiquem quietos, porra!

Estão matando, aos poucos, o buteco pé-sujo.

Por essas e outras eu tenho cada vez mais ojeriza ao lado de lá do túnel. Semana que vem me debruço sobre o tema.

Até.

* segundo informações obtidas no rodapé da coluna, os três jornalistas que a escrevem durante as férias do Jota.

20.7.06

FLAMENGO 2 X 0 VASCO

O Flamengo venceu o Vasco ontem, por dois a zero, pela primeira partida das finais da Copa do Brasil 2006, no Maracanã. Estivéssemos noutros tempos, e estaria eu nas arquibancadas acompanhando o mais querido, radinho de pilha colado no ouvido esquerdo, lata de cerveja na mão direita, mas nada disso, hoje, é possível. A violência - que deixarei para lá, ao menos neste texto - impede que um ser humano normal - categoria na qual, às vezes, me encaixo - vá assistir a uma final entre Flamengo e Vasco numa quarta-feira à noite in loco.

Vai daí que eu preferi ir assistir pela TV, no Estephanio´s, na companhia de amigos também mais-queridos. Levei o Pepperoni comigo (um tremendo pata quente). Encontrei o Fefê, meu siamês, vascaíno doente, com quem tenho um pacto de respeito mútuo em matéria de futebol. Não nos sacaneamos. Não pisamos na dor do outro. Um troço bonito. Encontrei o Vidal, a Lenda, tricolor que não dispensa o trinômio amigos-bebida-futebol. Encontrei o Flavinho, o Xerife, que foi sem a Betinha e sem a pistola. Minha Sorriso Maracanã, como a Betinha, preferiu ficar em casa já que "ai, eu fico supernervosa em dia de Flamengo e Vasco", disse-me ela.

eu de costas, 02 de julho de 2006

Ainda chegaram - não para ver o jogo, mas para ver a fauna, presumo - Guerreira, Maria Paula, Jeremy, Armando, Brinco, Yasmim, Shaianny, Bruno e penso que bom. armado o cenário.

O que quero lhes contar, na verdade, já que a vitória foi inapelável e o jogo surpreendentemente bom - no domingo passado Vasco e Flamengo fizeram a mais sonífera partida de futebol da história, exagero que me permito - são as frases que foram sendo soltas no decorrer do jogo, e me pouparei das autorias para não ferir suscetibilidades, até mesmo porque, no calor da peleja, não tirei os olhos da TV para procurar o autor das pérolas.

A câmera focaliza Renato, técnico do Vasco, na beira do gramado:

- Vai fazer bainha nessa calça, ô fêladaputa!

Vidal:

- Aí já é demais... Comentário de moda é foda.

Uma moça:

- Ai, Vidal, que lindo, rimou!

Entra o Flamengo em campo. Close no Luizão, amatronado:

- Porra! O Ronaldo Fenômeno, do lado do Luizão, tem o corpinho da Raica.

Close no Toró. E diz o locutor:

- Taí o Toró! Ex-atacante do Fluminense, grande promessa do rubro-negro essa noite...

Daí replicam:

- Quanta merda! O Toró nem chuviscar chuvisca!

Começa o jogo. Falta a favor do Vasco. Vai cobrar o Andrade. Um grito enquanto o Andrade ajeita a bola:

- Seu merda! Herege! Um Andrade deveria ser proibido de jogar contra o Flamengo! - lembrando o velho Andrade, glória rubro-negra na década de 80.

Daí emendam:

- Genérico! Genérico!

Já dois a zero e eu afagando o Pepperoni:

- Grande garoto! Pata quente! Pata quente!

O Fefê, que adora o meu cachorro, com os olhos rasos d´água:

- Quarta que vem não quero ver esse filhodaputa aqui!

Emenda o Marreco:

- Deixa ele trazer, Fefê! Deixa! Eu trago o meu também! Mas trago com um casaquinho escrito VAS CÃO! - e rosna na direção do Pepperoni.

O Vidal se empolga:

- Ah, então eu vou trazer os dois gatos da Gláucia também, pô!

O Flavinho, sem a pistola, com a mão direita apontada pro alto imitando um 38:

- Fechado! Virei com a Betinha e com nossos dois felídeos, o Leopoldo e a Nina!

Fefê chorando:

- ´cês tão achando que isso aqui é a Arca de Noé, porra? Vão todos pra putaqueospariu, porra! Vas-co! Vas-co! Vas-co!

E foi chorar no colo da Brinco.

Até.

PS: só um último comentário... Recebi ontem, durante o jogo - e só vi depois, evidentemente, três mensagens pelo celular. Duas do Borgonovi, paulista, comunista, noveleiro e palmeirense (não necessariamente nessa ordem) e uma da Lelê Peitos. É o seguinte: uma pessoa séria não fica mandando mensagenzinha de celularzinho durante uma partida de futebol.

19.7.06

JOTA DE FÉRIAS, MANTIDA A FÉRIA

Aqui mesmo no Buteco, no dia 14 de julho desse ano, eu avisei que o Jota estava de férias. O que não significa - isso eu não sabia - que a féria da coluneta foi cortada. Vejamos.

Eu digo "vejamos" e confesso que me impressiono com a coisa. E antes de dizer por que me impressiono vou lhes contar um troço rápido.

Indignado desde o dia em que descobri o asqueroso plágio da ACR (leia essa vergonha aqui), indignado semana após semana com o nível pífio dos jornalistas (na mais baixa caixa que o blog permite, para não ofender os verdadeiros jornalistas) que escrevem n´O GLOBO, decidi escrever um email para os Editores-Chefes do jornal, mais especificamente para Rodolfo Fernandes, Luiz Antônio Novaes, Ascânio Seleme e Orivaldo Perin, apontando o escandaloso plágio e anunciando meu eventual e iminente pedido de cancelamento de assinatura por não compactuar com a nojeira que é - não exagero - o plágio. Alguma resposta? Alguma espécie de retratação? Um mísero e tímido pedido de desculpas? Evidentemente que não. Vejam, por aí, como andam as redações. Dito isto, vamos em frente. Vou, na verdade, trazer mais uma prova evidente de que, além do salário, o pessoal que escreve ali (pelo que li, a coluneta de hoje foi escrita a seis mãos, e eu não sujo nem a boca nem os dedos digitando o nome da mesma) recebe um agrado dos empresários que faturam horrores construindo mentira em cima de mentira.

nota publicada no jornal O GLOBO de 19 de julho de 2006

Notem bem. Vamos aos fatos que devem ser destacados para que essa exegese (como disse outro dia, salvo engano, o leitor Roberto Romualdo, a quem agradeço desde já o elogio) faça cada vez mais sentido.

Em primeiro lugar: a nota dá destaque a uma loja de "hot dog gourmet" (pausa para vomitar) sem sequer citar seu nome, isso porque os empresários ali citados (curiosamente ex-sócios do Botequim Informal, um bar de merda, uma mentira olímpica que infesta a cidade) não tiveram ainda uma idéia brilhante para batizar o negócio. Mas mesmo sem ter nome, já é notícia. Vão me dizer que isso não é estranhíssimo e suspeito? Mas vamos seguindo. Antes de seguir quero fazer o registro das expressões nojentas que já emergiram dessa coluneta:

- pé-sujo fashion
- pé-sujo grifado
- Cordon Bleu da baixa-gastronomia

E a elas soma-se, agora:

- hot-dog gourmet

Vou explicar resumidamente o que deve ser um "hot dog gourmet". Num cachorro-quente aqui na Tijuca paga-se entre R$1,00 e R$3,00. Os podrões, então, os meus favoritos, costumam custar R$2,00 com direito a um refrigerante, ideal para as madrugadas. Pois bem. Um "hot dog gourmet" dessa loja-ainda-sem-nome dos ex-sócios do Botequim Informal deverá custar de R$10,00 para cima. E neguinho vai lamber os beiços soltando "ohs" e "ahs" por lá. Esperem. Mas, voltando.

Em segundo lugar: vou fazer a pergunta de praxe (e não pensem, vocês de fora do Rio, que não reconhecem os nomes das ruas, que é sacanagem minha):

Onde vai ficar a "primeira loja de hot dog gourmet da cidade"?

No Leblon!!!!!

Penso que por hoje está bom. Há apenas quatro meses eu marco a coluneta do Jota em cima. Com esse atentado de hoje, já são TREZE as citações suspeitas.

E faz-se silêncio nas redações.

Até.

18.7.06

ELE, QUE É BIÓLOGO

"Divulgar a ciência - tentar tornar os seus métodos e descobertas acessíveis aos que não são cientistas - é o passo que segue natural e imediatamente. Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar a todo mundo. Este livro é um testemunho pessoal de meu caso de amor com a ciência, que já dura toda uma vida"

(in O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro / Carl Sagan; tradução Rosaura Eichemberg - São Paulo: Companhia das Letras, 1996 - título original: The demon-haunted world. Bibliografia. ISBN 85-7164-606-6 - 1. Ciência e civilização I. Título - pp. 38-39)


Lembro-me como se fosse hoje de dois momentos envolvendo o Mauro, para quem posso repetir o jargão "meu irmão e cada vez mais meu irmão" com tanto ou mais entusiasmo do que quando valho-me dele para referir-me ao Dalton, que ainda não descobri se é brasileiro ou argentino, sendo que nessa dúvida reside toda uma gama de posturas, mas isso, como diria Stanislaw Ponte Preta, deixa para lá.

O primeiro momento: o Mauro estava fazendo Doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) na UFRJ (onde hoje é Professor Adjunto) quando eu li, no JB, em 2000, um brilhante artigo de sua autoria chamado "Descaso em Sepetiba". Mandei a ele um email e ele bateu o telefone pra mim pouco depois:

- Dudu... - visivelmente emocionado - ... você foi a única pessoa que leu meu artigo!

Bem. Sejamos francos. Desta afirmação podemos tirar duas conclusões. A primeira é que eu sou fã do Mauro desde priscas eras (lembrem-se, sempre, de que foi ele quem salvou a vida do Fefê na França, e de que é, ele, um parceiro dos grandes, vejam que sempre repito isso, como aqui e como aqui). A segunda é que a ciência dá, no mais das vezes, pouca audiência.

O segundo momento: dei de presente a ele, logo depois de ter lido o artigo no JB, um livro que eu havia acabado de ler, que é o livro do qual extraí o trecho que abre esse texto de hoje, do Carl Sagan. Isso foi, seguramente, o ponto de partida para que elegêssemos, eu e ele, a ciência como um dos amálgamas capazes de sustentar horas intermináveis de conversa e, conseqüentemente, de auto (e recíproco) conhecimento, se é que me entendem, mesmo que a construção da palavrinha auto-conhecimento tenha ficado ligeiramente torta para que eu pudesse ser preciso.

E por que estou a falar do Mauro hoje?

Simples.

Muito provavelmente motivado pelas conversas que tivemos em São Paulo neste último final de semana, eu, ele e o Pompa (que chama o Mauro de "a verdadeira beleza acachapante", humilhando o Márcio Branco sem dó nem piedade), o Mauro resolveu reativar uma antiga idéia.

Ontem mesmo (re)começou a escrever seu blog, que tem tudo para ser um arraso, o Você que é Biólogo.

E por que tem tudo para ser um arraso?

Ora, ora, ora, simples!

Primeiro que há, na abertura do blog, uma frase que a princípio parece boba - "fazer ciência é legal" - mas que encerra uma porção de verdades que pouca gente enxerga: que fazer ciência é, de fato, legal, que é ainda mais legal entender e compreender a ciência e que é impressionante perceber o quanto é importante ter a ciência como um assunto de bolso, quase que como o futebol.

Mas há mais razões.

O Mauro é a antítese da figura do cientista maluco que nos é imposta, desde cedo e que é provavelmente um dos fatores responsáveis pelo distanciamento que tomamos da ciência sem que percebamos isso.

Mauro, Praia de Ipanema, 21 de abril de 2006

Dono de beleza acachapante, o que atesta o incontestável Szegeri, dono de humor e inteligência refinados, atesto eu, gênio, gênio, gênio (confiram aqui), o Mauro é daqueles sujeitos capazes de nos fazer, a certa altura, vez por outra, dizer pra dentro:

- Eu sou um sujeito de sorte por poder desfrutar de sua companhia.

Portanto, meus poucos mais fiéis leitores, estejam à vontade pra abusar do Mauro (as moças, por favor, não se empolguem que o meu irmão está ocupado, se é que me faço entender). Ele se predispõe, na medida do possível - e eu sei que ele o fará, já que além de tudo é um generoso e um apaixonado pelo que faz, o que o enquadra no mesmíssimo sentimento do Carl Sagan - a esclarecer todas as dúvidas de seus leitores.

Afinal, o próprio Carl Sagan, no mesmíssimo livro, que recomendo, escreveu um capítulo chamado "Não Existem Perguntas Imbecis". Então... sem medo, todo mundo !

Até.

17.7.06

MEU LAR É O BOTEQUIM ALÉM-MAR!!!!!

Foi de fato uma surpresa!

Estava eu, hoje cedo, vasculhando os blogs dos amigos, e me deparei com isso!

Quem diria que a escumalha da Tijuca e de Vila Isabel chegaria tão longe, hein!?

Até.

SAMPOMPA

E lá fomos nós, eu e Dani (com o Mauro novamente), para São Paulo, na sexta-feira à noite.

São Paulo, carinhosamente chamada de Sampa por uma multidão. Mas eu hei de mudar isso. Para mim, um obsessivo, fomos à Sampompa. E não há necessidade de qualquer explicação.

Nosso objetivo precípuo era a festa da mais-que-querida Roberta Valente, e lá desembarcamos às onze e meia da noite depois de uma agradabilíssima viagem. O Mauro é, dirigindo, quase uma Guerreira. Eu, que sou preciso do início ao fim, devo dizer que, exatamente como quando estou em um carro conduzido pela Guerreira, como contei aqui, dormi e sonhei durante parte do trajeto, o que demonstra uma segurança semelhante a que sinto dentro de um avião (eis a frase impensável, mas verdadeira).

Encontramos Augusto, Ju (de quem eu tinha olímpica saudade, e é sempre uma pena nossos encontros serem sempre a jato), Capitão Leo Golla, Marina, Wanderley Monteiro, até que a festa parou. Eu vi! Eu vi!

Pensam vocês, seguramente, que tudo o que eu digo a respeito desse homem é mentira. Mas não, como se verá.

Como a noiva no dia do próprio casamento, ele foi o último a chegar.

Foi o Szegeri, meu pomposo irmão, aparecer no portão e tudo emudeceu. Violões silenciaram, o sopro das flautas e do saxofone enfraqueceu, pandeiros congelaram, a cozinheira deixou cair um pirex, e uma seqüência de "ohs" e "ahs" invadiu aquela casa no bairro da Pompéia (e notem a beleza da coisa... ver o Pompa na Pompéia é, também sonoramente, um impacto que justifica os 450km de estrada que nos separavam).

festa da Roberta Valente, SP, 14 de julho de 2006

É preciso dizer que quando chegamos, os três (eu, Dani e Mauro), assim saudou-nos a Roberta:

- Ôba! Chegou a comitiva carioca!

Eu, na hora, cochichei no ouvido do Mauro:

- Tadinha... chegou a comitiva da Tijuca, isso sim, e ela já, já, vai se arrepender.

E assim foi.

Quer dizer, ela se arrependeu mesmo. Mas não "já, já", como eu previra. No dia seguinte. Explico.

A certa altura minha irmãzinha Stê, que está bonita como nem-sei-dizer, disse-me:

- Hummmmmmmmmmmmmmmm...

E eu:

- Que foi?

- Eu amo Bis azul. - e apontou pra mesa.

Fui à mesa.

Havia, de fato, um pote de cristal finíssimo ("cristal tcheco", como me avisou uma senhora empalhada que devorava os chocolates), que aqui na Tijuca a gente chama de bacia de vidro, lotado de Bis. Havia Bis azul. Bis branco. E Bis vermelho. Minha irmãzinha disse "eu amo Bis azul".

Subi para o segundo andar da casa onde havia deixado minha mochila.

Desci com a mochila.

Pus a mochila debaixo da mesa.

E pus, um a um, dentro da mochila, que ficou pesadíssima, alguns Bis azul.

Detalhe: a senhora empalhada a tudo assistia atônita, e ainda disse:

- O que é isso?! Esses chocolates são para os convidados!

Eu fiz "dã" e continuei.

BIS

Ao chegarmos em casa - é evidente que dormimos, como sempre, na pomposa casa da rua Camilo - eu fiquei quicando em volta da mesa:

- Stê! Stê! Venha ver! Venha ver!

E fui tirando meu presente de dentro da mochila, e contando os Bis.

Ainda bem que Dani, Mauro, Szegeri e Stê são testemunhas.

E a Roberta também, que lá apareceu no sábado à noite.

Para demonstrar meu carinho, minha dedicação e minha fidelidade com os que amo, entreguei cem - vou repetir em negrito... CEM - chocolates para minha irmãzinha.

Com o ritmo dos locutores de futebol, ó: Tijuca-ca-ca-ca!!!!!

Até.

MSG SEMI-CIFRADA

Eu vi a mulher preparando outra pessoa, o tempo parou preu olhar para aquela barriga.

Quando eu me toquei do tempo despendido com os olhos fixados ali, eu chorei.

15 de julho de 2006

E só mesmo os ombros do meu irmão para me servir de amparo.

E só mesmo o estado interessante da minha irmã para me derrubar durante uma feijoada.

Ó.

Amo vocês.

14.7.06

INVEJA DE TU, TATU?

O GLOBO tem se mostrado um jornal surpreendente. Quando não é a ACR plagiando matérias inteiras (veja aqui), quando não é o Jota (no momento, de férias) adulando os bares-mentira que são citados com constância franciscana em sua coluneta, quem comparece é o Jota Éle, personagem já citado aqui, na inauguração da seção BARBARIDADES DO JOTA ÉLE aqui no Buteco.

Como a semana esquentou com a discussão sobre chope (acompanhe aqui) achei que seria interessante fechá-la (a semana, nunca a discussão) trazendo para vocês mais um atentado cometido por mais um jornalista (tenho que rir) d´O GLOBO que luta, com as armas que tem, contra a mais genuína das instituições cariocas, que é o buteco.

Em sua coluneta de hoje, publicada de 15 em 15 dias na revista que vem encartada às sextas-feiras no jornal, Jota Éle exalta mais um pé-limpo (que é, aliás, o nome do lamentável espaço).

trecho da coluna Pé Limpo da revista RioShow de 14 de julho de 2006

E lanço uma pergunta, meus poucos mas fiéis leitores: onde fica o tal pé-limpo?

Onde?

No Leblon, evidentemente.

Afinal o Leblon é a obsessão de todos esses pseudo-jornalistas que não têm faro jornalístico, que sequer têm cacoete de jornalista e que babam o Leblon de uma maneira abjeta, salivando aquelas ruas onde há apenas pose, pose, pose. Mas vamos em frente, e de cara vamos demonstrar como é rico (preciso rir mais um pouco) o vacabulário do Jota Éle.

Eis trecho do texto que publiquei em 16 de junho de 2006 (veja aqui), grifado por mim:

"O bobalhão exalta o que ele chama de "o mais novo representante dessa safra de bares bacanas", um troço chamado Mofo. E o trecho da fotografia é o mais revoltante de toda a matéria-paga, e também o mais elucidativo, pois cita alguns dos bares-de-merda que têm assessoria de imprensa, donos-investidores etc etc etc"

Guardem a expressão "bares bacanas". Guardaram?

Pois vamos transcrever trecho da coluneta do Jota Éle de hoje, grifos meus novamente:

"Como toda boa irmã, a minha demonstra um entusiasmo por mim muito maior do que mereço. E adora dizer para os amigos que é seu irmão mais velho quem escreve esta coluna. Já os tais amigos, conta-me ela, adoram dizer que se roem de inveja do cara (eu) que é (abre aspas) pago para freqüentar bares bacanas (fecha aspas). Esses moços, pobres moços... Ah, se soubessem o quanto a gente pena para descobrir os tais bares bacanas... Afinal, bares sempre haverá. Bacanas, queridos, são raros, muito raros."

Notem isso! A expressão "bares bacanas" é outra obessão do Jota Éle, além do Leblon. E pequena pausa, se me permitem... O único momento de lucidez do Jota Éle na tal matéria é justo aquele em que ele reconhece o excesso de entusiasmo da irmã. Pigarrinho e vamos em frente.

Até agora eu não disse o nome da mentira exaltada pelo Jota Éle: é Bar Boemia.

A certa altura, quando refere-se à tapioca com recheio de camarão, diz:

"Dos deuses é um clichê culinário que resumiria bem a experiência.".
Porra... Precisa dizer mais alguma coisa? Dá, sinceramente, pra suportar tamanha frescura, tamanha babaquice, tamanha nojeira numa matéria-de-merda só? Não, não dá. Mas também não, ele não pára por aí. Ele se supera.
trecho da coluna Pé-Limpo da revista RioShow de 14 de julho de 2006

Quando vai comentar as cachaças (e eu duvido que ele entenda do assunto, duvido!), escreve a seguinte barbaridade grifada por mim:

"Em nome da sobriedade obrigatória num começo de semana, abandonamos a idéia de provar as cachaças da carta, que inclui as mineiras Rochinha (R$3, a dose), Salinas (idem) e a inacreditável Anísio Santiago (a igualmente inacreditáveis R$26,50, a dose, quase dada em se tratando de Leblon)."

Olha. Esse cidadão exalta a Anísio Santiago apenas porque a Anísio Santiago é uma grife. Mas quero repetir: eu duvido, e duvido com todas as minhas forças, que o Jota Éle reconheça uma Anísio Santiago com vendas nos olhos, que é o mínimo que um conhecedor pode fazer. E chego a quase duvidar (só não duvido porque sei da capacidade desses pseudos-jornalistas d´O GLOBO) que ele realmente ache que uma dose de cachaça a R$26,50 seja dada. Mas a frase está lançada ali, e apenas para dar a moldura pernóstica que esses caras (ele, ACR, Jota, a corja toda) adoram.

E vocês querem mais nojo? Tudo grifado (e comentado por mim, em vermelho). Lá vai:

"A esta altura da coluna, eu deveria falar da luz suave (troço de boiola), da decoração aconchegante (idem) e do atendimento impecável. Mas prefiro voltar aos sonhos de aipim. Eles são da lavra (no Leblon ninguém cozinha) de Sonia Ruas, criadora do cardápio do bar. Crocantes por fora e aerados por dentro (aerados? PQP!!!!!) graças a um ingrediente secreto na massa, não se confudem com reles bolinhos (o que quer dizer com "reles bolinhos" esse imbecil?). Vou voltar para provar um de cada (shiitake, salmão, frango e carne moída, cada um na casa dos R$4, e cavaquinha, a R$13,90). E tenho certeza de que, mais uma vez, terei uma surpresa. Roam-se de inveja, amigos.".

trecho da coluna Pé-Limpo da revista RioShow de 14 de julho de 2006

Inveja, de tu, Jota Éle?

Eu tenho é nojo!

Até.

13.7.06

HOJE É DIA DE CRESPITA

Hoje é dia de Crespita, a queridíssima Maria Eduarda, mana da Inês, filhas, ambas, dos meus igualmente queridos Próspero e Cidália.

Falei há pouco com a Crespita pelo telemóvel.

E foi um festival de "crido!" de lá pra cá, "crida!" daqui pra lá, e há de haver um dia em que hão de me explicar cadiquê, como diz a minha Sorriso Maracanã, os Baptista me chegaram assim, tão de repente e definitivamente.

Desliguei o telefone cheio de uma saudade que não cessa.

Crespita e Dani em Setúbal, primeiro de junho de 2006

Eis aí o que tenho de mais bonito pra desejar pra Crespita, e que fica sendo, mesmo à distância, minha prenda: o sorriso da minha Dani.

Saúde, Crespita, "crida"!

Bem haja!

É assim, né?

Até.

NOVA ATLANTA FUTEBOL CLUBE

(pro Fernando Szegeri)

Dirão os zagueiros das almas: "Mas pro Szegeri? De novo?".

Pro Szegeri. De novo.

Ocorre o seguinte.

Na segunda-feira, como há mais de vinte vidas, fui com Dani jantar na casa de papai e mamãe. E dessa vez, como ocorre há talvez uns vinte dias, com mais o Fefê, a Brinco, a Shaianny e a Yasmim.

Antes porém de irmos até o Alto da Boa Vista, passei na casa do Fefê para - notem os efeitos colaterais em ano de Copa do Mundo - jogar com ele umas partidinhas de futebol no PS2. Se você não sabe o que é PS2 procure saber. Eu não vou explicar.

Jogamos duas partidas, eu perdi as duas (desde cedo tenho mania de deixar o meu irmão ganhar tudo de mim), bebericamos uma cervejas e meu siamês disse-me com o polegar fremilúcilo:

- Venha ver uma coisa! Venha ver uma coisa!

E continuem notando os efeitos colaterais em ano de Copa do Mundo.

Fefê tomou pelas mãos uma lata do perfume Blue Jeans, seu preferido (que informação indispensável!), escondida no alto de um armário, abriu com cuidado a tampa, seus olhos espargindo luz, e ele repetiu, baixinho despejando seu conteúdo sobre a mesa:

- Venha ver uma coisa! Sabe o que é isso?

Antes mesmo dele terminar de dizer a frase "sabe o que é isso?" eu já tinha os olhos marejados, brilhando feito galalite, enquanto repetíamos quase que juntos o nome daqueles santos, um a um.

meu time de botão

Era seu time de botão.

Ao chegar em casa, mais tarde, depois do jantar, fui - notem a semelhança dos esconderijos - ao alto do armário onde ficam meus CD´s e tomei pelas mãos a lata verde, de papelão, de cuecas slip club man, da Temper - e vejam, apenas por aí, como sou antigo, bolorento e matusalênico, as gerações de hoje nunca ouviram falar na Temper - e, como se fosse a lâmpada do gênio, esfreguei a lata por alguns segundos antes de abri-la e de lá soltei, um a um, os bravos e aguerridos jogadores do Nova Atlanta Futebol Clube: Boréa, seu irmão Moréa, o Tita, o Toninho, o Ivo, e eu estava, em segundos, de calças curtas, descalço e ajoelhado no chão da vila da São Francisco Xavier 84 jogando botão com o Fefê, com o Ricardo, com o Renato, com o Camilo, com o Sílvio, e fui capaz de ouvir o chamado de minha bisavó pro lanche das quatro, interrompendo uma das partidas de um dos tantos campeonatos que realizávamos ali, naquela vila, que até hoje existe e ainda dói em mim.

Mas por que raios o texto é dedicado ao Szegeri? Não é isso o que querem todos saber? Pois então.

Disse-me o Fefê, enquanto me mostrava orgulhoso o seu escrete, que o Índio, amigo lá do Estephanio´s, mora num prédio na Tijuca (onde mais? onde mais?) onde até hoje são organizados torneios e mais torneios de futebol de botão. E que ele, Índio, havia convidado o Fefê para participar do próximo. E que ele, Fefê, gostaria que eu também fosse (topei na hora!).

Vai daí que lembrei-me de meu irmão paulista naquele instante do convite-feito, convite-aceito (mentira minha: quando pus a mão no primeiro jogador de botão do time do Fefê me veio à mente a imagem do Szegeri e de sua barba amazônica).

É que por uma dessas razões que a própria razão desconhece, o velho Zé Szegeri, durante uma arrumação qualquer de um qualquer quarto, achou por bem jogar no lixo uns botões velhos guardados dentro de uma lata semi-enfurrejada.

Era o time de botão do meu mano paulista, que sofreu um bocado - o assunto é um tabu até hoje.

Como eu disse, vou participar do torneio no prédio do Índio.

Vencendo ou não vencendo o torneio, sendo ou não o campeão, jogarei cada partida pensando no Szegeri.

E oferecendo a ele cada gota de suor dos meus jogadores.

Ah... botões não suam?

Vocês que pensam assim é que não entendem rigorosamente nada.

Até.

12.7.06

O OLHAR NATIVO, AGORA SIM

Hoje eu vou contar o que lhes contaria ontem, não tivesse eu desviado no meio do caminho e tropeçado nesse engodo que é a Brasserie Rosário. Brevíssima pausa: ao escrever engodo senti agudíssima saudade do eterno Leonel de Moura Brizola, fazendo tanta falta ao país neste ano de eleições.

Mas vamos lá.

Não.

Antes quero chamar a atenção de vocês para dois pequenos fenômenos interessantes, ambos acontecendo no balcão do Buteco. O primeiro passa-se aqui, onde se discute a origem da palavra "queijo" para definir a plataforma, geralmente de madeira, onde ficam os destaques de uma escola de samba e as putas nos cabarés-não-família, para aproveitar uma expressão imunda citada na coluna igualmente imunda do Jota (que está de férias). O segundo passa-se aqui, onde a discussão tem ares quase que sagrados. Quase que discute-se o pão e o vinho. Quase. A discussão é sobre o pão e o chope, e estão todos convidados a dar palpites para tornar o balcão ainda mais tumultuado, instante ápice de qualquer buteco que se preza.

Mas então vamos lá.

Eu fui ao centro da cidade para comprar os pães na Brasserie Rosário, atendendo sugestão da Betinha, na manhã de um sábado, e lá cheguei às 9 horas. Dei de cara com um funcionário pernóstico (envenenado pelos proprietários da padaria) varrendo a calçada que me disse:

- A Brasserie Rosário abre apenas às 10 horas, senhor, com os melhores pães da cidade do Rio de Janeiro e será um prazer recebê-lo para que...

Dei as costas e segui em frente.

Eu tinha uma hora para andar, à toa, pelo Centro. É preciso lembrar que eu havia chegado há pouquíssimo de Portugal, onde andei quilômetros, embevecido com tudo o que vi. Daí pensei o que todos pensam n´alguma altura mas raramente põem em prática: é preciso ter, na nossa própria cidade, o olhar nativo que nos permitirá saber o que ver e ao mesmo tempo o olhar do imigrante, curioso, sem pressa, atento aos detalhes que nos escapam na correria do dia-a-dia. É preciso reduzir à metade a velocidade dos passos, é preciso olhar mais pra cima, é preciso estar atento a tudo, aos movimentos, à luz, às sombras, e eu tinha, ali, uma hora para tanto. E que manhã de sábado, e que manhã de sábado!

Centro do Rio, Rua do Rosário

Saí dali, daquele canto da Rua do Rosário, e tomei a direção da Rua do Ouvidor e, surpresa!, dei de cara com o Rodrigo Ferrari, que escreveu essa resenha sobre meu livro (nunca é demais uma propaganda) e que estava abrindo a Folha Seca, livraria que comanda com tremendo carinho. Nova pausa para mais uma propaganda: a Folha Seca é, de longe, a mais carioca das livrarias da cidade e, seguramente, a que tem o melhor acervo nas matérias que são a essência da minha mui amada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Fica na Rua do Ouvidor 37, telefone 2507-7175 (nunca é demais uma propaganda). Papo rápido e segui caminho.

Tomei o caminho da Praça XV, atravessando o Arco do Teles, e tomei o rumo da feirinha de antigüidades que acontece ali, todos os sábados, debaixo do viaduto, bem em frente ao Paço Imperial.

Igreja da Ordem Terceira do Monte do Carmo, na Rua Primeiro de Março, centro do Rio de Janeiro
Paço Imperial

Munido da câmera (é impressionante como andar com uma nos faz mais atentos a tudo em volta) fui, como um turista (eis o agá da questão!), fazendo fotografias e me emocionando, de verdade, com o tanto de história que escorria diante de mim.

Percorri as barraquinhas da feira, sentei-me depois diante do Paço Imperial e fiz a indispensável viagem no tempo que monumentos históricos geralmente nos impõem, numa das mais doces imposições.

centro do Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor
casario no Arco do Teles
Igreja de Nossa Senhora do Carmo

Uma hora depois, embevecido e comovido, amando ainda mais - como se possível fosse - a minha cidade, fui à tal padaria, a Brasserie Rosário.

Ansioso pelo pão, sofrendo a nostalgia do pão, como lhes contei ontem, deparei-me com uma grande mentira. A Brasserie Rosário não vale uma migalha.

Mas o Centro do Rio vale. E muito.

Até.

11.7.06

O OLHAR NATIVO

Quando voltei de Portugal, vejam vocês como são impensáveis determinados desejos, voltei com a nostalgia do pão de lá. O hábito de ter o pão à mesa em todas as refeições somado à delícia que são os pães que lá comemos - é horrível o pão que se encontra no Rio - deixou-me com uma ponta farinácea de tristeza. Eu disse que é horrível o pão que se encontra no Rio e é mesmo. Em São Paulo, por exemplo, terra do meu colossal amigo Pompa, o pão é o que há. Morasse eu em São Paulo e a tal nostalgia da qual falei não me vitimaria.

Feita a introdução, vamos aos fatos.

Tão logo chegamos ao Rio voltando de Lisboa convidamos Betinha e Flavinho para um jantar em nossa casa. Confessando à Betinha minha nostalgia de pão, ela deu-me uma dica para que comêssemos pães com vinho antes do jantar:

- Vá à Brasserie Rosário!

Eu fui.

Antes de entrar na beleza do que me move a escrever-lhes nessa manhã de sol, uma constatação: os pães na Brasserie Rosário são caríssimos, caríssimos, e não chegam à sola dos pés dos pães de Portugal e nem aos calcanhares dos pães da terra do Pompa. Fraquíssimos. O que há ali, na Brasserie Rosário, é pose e apenas pose. O sujeito sai de lá - eu vi - com a bisnaga debaixo do braço como se carregasse um cajado dourado cravejado de brilhantes. Dito isso, em frente.

Em frente, não. Mais uma da Brasserie.

Cheguei ao balcão e disse ao rapaz da padaria (dissesse eu a palavra "padaria" ali dentro referindo-me ao local e eu seria linchado pelos funcionários envenenados pelos proprietários):

- Por favor, eu vou levar duas bisnagas.

Tivesse eu chamado o rapaz de filhodaputa pra baixo e ele não se ofenderia tanto:

- Bisnaga? Bisnaga? - rosnava, o moço.

- Sim. Duas. - disse eu ainda sem perceber o crime que cometia.

- Isso é uma baguete, senhor! Uma baguete! - e dizia esse "baguete" com o "t" dito assim, "tezinho" mudo, sabe como? Um nojo!!!!!

Paguei uma fortuna pelas duas bisnagas e mais uns pães que me pareceram interessantes - tinham, percebi comendo, a textura de um paralelepípedo - e voltei pra Tijuca com uma saudade olímpica dos pães da Panificação Estudantil, mais conhecida como Fenômeno, na esquina da Hadock Lobo com a Almirante Gavião.

Eu ia lhes contar um troço totalmente diferente.

Fica pra amanhã.

Até.

10.7.06

RANKING DO JOTA

E não é que o Jota voltou à carga hoje?

Hoje o Consoante lança seu holofote em direção à mentira chamada Devassa.

nota publicada no jornal O GLOBO de 10 de julho de 2006

E Devassa da Barra, o que é bastante pior, como se isso fosse possível.

E para que a marcação cerrada sobre esse homúnculo seja ao menos divertida, inauguro hoje, no Buteco, um painel com o ranking das citações espontâneas (um segundo que engasguei de tanto rir) desses estabelecimentos de merda que infestam a cidade como câncer feitas pelo Jota.

Talvez fique ainda mais claro que ele é honesto na hora de distribuir as benesses. Vejamos a situação desde 17 de março de 2006, quando passei a marcá-lo sob pressão:

Com 2 citações Belmonte, Informal, Bracarense, Pizzaria Bráz, Gula-Gula e Capricciosa.

Com 1 citação Manoel & Joaquim, São Carlos, Rebouças, Saturnino, Academia da Cachaça, Na Pressão e Devassa.

Até.

ITC² - I

(da série Internet Tem Cada Coisa...)

Um dos troços mais interessantes e, às vezes, mais engraçados de se perceber quando se tem um blog, é acompanhar os movimentos em torno dele apontados pelos contadores. Aqui no Buteco eu tenho três contadores e um sistema que me permite saber quantos leitores estão online.

Pois bem.

Agora cedo, verificando o trânsito de leitores através do Extreme Tracking, um dos contadores, verifiquei que às 8h25min22seg alguém de Portugal, de Angra do Heroísmo, no Arquipélago dos Açores, lia o Buteco. E de dentro da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo!!!!! Notem o requinte de informações de um sistema desses!

Como os contadores são mais precisos a cada dia, fui verificar como o tal visitante foi parar no Buteco.

E vejam que hilariante...

A pessoa, provavelmente um estudante de enfermagem, foi ao Google e fez a pesquisa valendo-se dos seguintes termos: relato de histórias verídicas queimaduras

Chegou aqui.

E veio dar no Buteco!

Até.

9.7.06

JABÁ É COM JOTA

O incansável Consoante, o minúsculo (como gosta o Fraga) Jota, fez sua última firula no dia 15 de junho como se pode acompanhar na lista de atentados aí à direita. Menos de um mês depois - notem a regularidade, igualzinho pagamento de salário - volta a fazer propaganda (de graça? nunca!) da Pizzaria Bráz, que já havia sido citada aqui, no dia 05 de maio, há dois meses portanto.
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Está em sua coluneta de hoje. E notem que ele cita, assim como quem não quer nada, mais um de seus... humm... patrões, a Capricciosa.

Somos nós, do Buteco, marcando em cima o tolo Jota.

Até.

7.7.06

HOJE É DIA DE ROBERTA VALENTE

(pra Roberta, com amor)

Dia desses, respondendo a um email meu através do qual eu agradecia seu carinho por nos ter dado carona, mais uma vez, até o aeroporto em SP, ela me respondeu dizendo que lamentava o tempo perdido, por ela, nutrindo tanta antipatia por mim. E que hoje, verdadeiramente, nos amava, a mim e à Dani (é recíproco, é recíproco!).

É verdade. Nós nos olhávamos um tanto quanto atravessados, e eu confesso que o fazia para me defender daqueles dois olhos-lanças apontados em minha direção em sinal de guerra.

Tudo esfumou-se, lembro-me bem, em Pouso da Cajaíba. Dali em diante - e eu sempre atribuo essas mudanças de comportamento em relação a mim, um sujeito de temperamento ligeiramente difícil, à presença da Sorriso Maracanã - fomos dois apaixonados um pelo outro, e tome emails, e tome declarações de amor, e tome carinho, e tome vontade de recuperar o que a minha queridíssima Roberta Valente, a maior pandeirista do Brasil (o que significa dizer "do mundo", e eu digo isso, ó, faz tempo!), chamou de "tempo perdido". Já recuperado, quero dizer. Afinal diz o ditado que tudo tem seu tempo e foi esse o nosso.
A Roberta tinha mesmo que viver de música. Com ela, a música, teve contato desde muito cedo. A menina de olhos claros fez parte de coral, tocou na banda da escola, estudou violão, cavaquinho, percussão.

É competentíssima pesquisadora da música brasileira - é impressionante a quantidade de informação em seu blog, o São Coisas Nossas - formada em Letras (ufa, ufa, ufa!), e principalmente - qualidade que só aos chegados é dado perceber - uma das mais ternas pessoas que jamais conheci. E digo isso a duas bocas: Dani grita "eu também acho" do meu lado!
Essa geniazinha atua como pandeirista em diversos grupos de choro como o Bola Preta, o Choro Rasgado, o Chorando as Pitangas, o Trio Mandando Bala entre muitos outros, sendo considerada por quem entende do riscado (Pompinha não me deixa mentir) uma especialista no gênero.

Essa virtuose ainda encontra tempo pra editar notícias do site Samba & Choro, como encontrou tempo, por amor à arte, para participar como pesquisadora e como redatora do livro "Antologia Musicial Popular Brasileira - As marchinhas de carnaval", marchinhas, aliás, que espalhou por aí quando participou da série de shows que fez como integrante do "Bando da Rua", conjunto que tinha por finalidade divulgar a obra de grandes nomes da música brasileira.

Roberta, São Paulo, 09 de abril de 2005

Agora... querem babar de vez e sacar a competência da moça? Robertinha - ah, as intimidades... - já se apresentou ao lado de nomes como Beth Carvalho, Raul de Barros, Wilson das Neves, D. Ivone Lara, Maurício Carrilho, Pedro Amorim, Wilson Moreira, Moacyr Luz, Jair do Cavaquinho, Celso Viáfora, Nelson Sargento, Monarco, Nei Lopes, Walter Alfaiate, e mais, e mais, e mais, e mais.

Que tal?
Roberta, São Paulo, 09 de abril de 2005

De pé, mas muito de pé, empertigado mesmo, no balcão imaginário do Buteco, ergo a caldeireta com quatro dedos de espuma (pra formar um bigodão espesso e estalar um beijo daqueles) em direção à São Paulo, cidade muito mais bonita por causa dela. De mãos dadas com a minha Sorriso Maracanã, bicando seu chope também, torcemos por muita saúde e por uma sexta-feira lindíssima, que ela mais-que-merece.

Na semana que vem eu levo, pessoalmente, o seu presente.

Mas querem saber?

O presente que ela merece mesmo, como reconhecimento por tudo o que é, é o Prêmio Tim de Música, pelo qual ela briga na categoria "Revelação", com o CD "Baba de Calango", do Grupo Choro Rasgado, do qual faz parte ao lado de Rodrigo y Castro, Zé Barbeiro e Alessandro Penezzi. Agora babem de invejinha boa... Eu estarei lá, no Teatro Municipal, torcendo feito louco por ela.

Já sei, já sei... Vocês, meus poucos mas fiéis leitores, estão daí pensando... "Como é passional, o Edu...". Ah, é?

Então eu fecho minha homenagem com um depoimento do Luís Nassif, jornalista insuspeitado:

"Do pandeirista, diz-se que é como o juiz da partida: quanto melhor, menos percebido é; por isso mesmo, apenas os ouvidos apurados e os instrumentistas experientes podem aquilatar a verdadeira importância do pandeira de Roberta para o conjunto, a maneira como segura o ritmo, sem abafar os solistas, com o desprendimento e a segurança presentes apenas nos grandes ritmistas. Além do pandeiro, Robertinha tem se convertido, ao longo dos últimos anos, em uma das principais referências do choro no país. Com seus modos delicados, sua atenção, tornou-se a pessoa a quem todos recorrem, quando querem localizar ou conhecer qualquer chorão em qualquer parte do Brasil."

bom assim?

Até.

6.7.06

MORRERAM DE PÉ

Ontem fomos, todos, portugueses até a alma contra a França. E fomos, pela segunda vez em menos de uma semana, eliminados pela seleção francesa mas com uma diferença fundamental: ontem Portugal morreu de pé.

Para que a torcida fosse autêntica e verdadeiramente lusitana propus assistirmos ao jogo no clube português defronte ao prédio onde moro, o Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria. Lá chegamos às 15h eu, Guerreira com sua mãe, a Raquelina (portuguesa com certeza), Kaká, Maria Paula, Manguaça e Fernanda.

Guerreira, foto de celular

O clube estava em festa com uma bandeira de Portugal monstruosa estendida na entrada. Assim que chegamos espantou-se a Raquelina:

- Mas que zorra está isso aqui!

Eu de voleio:

- Mas você acha que nós, brasileiros, somos assim por que?

Um telão enorme, um sistema de som perfeito, uma multidão que se espremia pelas centenas de mesas espalhadas pelo salão, grupos de dança típica se apresentando, e eu tive um ligeiro mau pressentimento quando aquela horda, em coro, cantou, segundos antes do jogo começar, o hino do Vasco da Gama.

No momento do pênalti contra Portugal, cobrado pelo carrasco, uma moça a poucas mesas de nós ergue uma imagem de Nossa Senhora de Fátima mas foi em vão. Um a zero para a França, placar que manteve-se até o apito final.

Guerreira, foto de celular

Mas até o apito final o que se viu, como bem escreveu o Borgonovi nos comentários ao texto de ontem, foi a pátria portuguesa em chuteiras.

Foi o FUTEBOL, em maiúsculas, citando o Borgonovi mais uma vez.

Eu confesso que, no minuto final, quando o goleiro Ricardo atravessou o campo inteiro em direção à grande área francesa para tentar o milagre do empate, com a mesmíssima bravura com que os navegadores portugueses atravessaram os mares bravios ainda desconhecidos, eu chorei pra burro.

Emocionado.

E com uma pontinha de inveja.

Meu carinho e meus parabéns aos meus queridos amigos d´além-mar!

Afinal, Portugal morreu de pé!

Até.

PS: ah, sim. Na grande final de domingo, pelo Dedé e pelo Gianluca, pela Cecilia, pela Margherita e pelo Ruggero, pela Maria, pela Alessandra, pela Miriam, pela Michela, pela Paola e pelo Ciccio, e contra nossos algozes, sou pela Itália!

5.7.06

A MÁGICA DO FUTEBOL

(pro Dedé, a quem não conheço)

Meus poucos mas fiéis leitores, com licença.

Escrevo enquanto choro e vou explicar o por quê, vou explicar. É preciso lhes dizer isso para que faça algum sentido o que poderá lhes parecer pieguice (lhes garanto que não é).

Ontem, segundos após o apito final do sensacional e dramático jogo entre Alemanha e Itália, enquanto eu ainda me encontrava abraçado e já chorando com o Pepperoni (um puta companheiro, diga-se de passagem), tocou meu telefone. Piscando no azul da tela o santo nome "SZEGERI CELULAR".

E eis o princípio do diálogo que durou uns bons 10 minutos, o que me deixa razoavelmente satisfeito. Só assim o Pompa gastará, quem sabe, 10% do que eu gastei no mês passado batendo o telefone pra ele. Mas vamos ao início da conversa. Como o celular dispensa o "alô" graças ao BINA que permite a preparação do humor e da primeira fala, eu mandei de primeira:

- Que jogo! Que jogo! Que jogo! - enxugando os olhos.

E eis a resposta. Quando a ouvi imaginei a cena. Meu pomposo irmão (siamês também) sentado na repartição, solitário (uma de suas sinas no trabalho), cotovelos apoiados num risque-rabisque, as lágrimas saltando dos olhos como sapos no brejo (só quem já viu o Pompa chorando sabe o quão perfeita é a imagem), e uma babinha formando estalactites em sua barba amazônica.

- Cara... - longa pausa entremeada por soluços - ... chorando tanto...

Parecíamos duas crianças. E eis aí uma verdade que ninguém ataca: o futebol transforma o adulto, o velho, numa criança de calças curtas e pés descalços com olhos vidrados, o coraçãozinho batendo mais forte. Por isso, e quase que apenas por isso, pro cacete as teorias que arrotam jornalistas afetados diante das câmeras de TV ou a partir das redações dos jornais, pro inferno babaquices como "meio-campo cerebral" (merda repetida inúmeras vezes pelo Escobar, um comentarista do SPORTV que infelizmente largou a profissão de comissário de bordo), "quadrado mágico" e outras imbecilidades que não resistem a um time que joga com o coração e com a alma na ponta das chuteiras.

Meu irmão paulista soltou uma frase célebre:

- Quem quiser assistir show de técnica que vá ver motocross!

E depois de muito choro dissemos essa juntos, aos gritos:

- Isso é o futebol!

E "isso é o futebol" pode soar como uma frase idiota. Assim pensarão elementos como o Jota, como o Clóvis Rossi (que ontem escreveu na Folha de São Paulo que "... o fato de ser brasileiro não me obriga a torcer pelo Brasil no futebol." e por aí notem o caráter do sujeito que deveria, só por isso, ser sumariamente demitido), como esses jornalistas-teóricos-de-merda que, por exemplo, bradavam aos ventos que havia uma conspiração para que a Alemanha vencesse a Copa do Mundo. Dirão o quê, agora, esses bostas? E os jornalistas-babaconautas-de-plantão que atribuíam à Itália apenas a capacidade de se defender e de fazer um golzinho apenas num golpe de sorte? Dirão o quê, agora, esses imbecis?

Não compreender que a magia do futebol reside justamente na surpresa permanente, na impossibilidade aguda de previsão de resultados, na capacidade de, num lance, termos uma partida decidida, é não compreender rigorosamente nada.

Lembramos, eu e meu irmão Szegeri, durante o telefonema, de uma frase da sábia Iara, sua filhota, nossa afilhada, dita na manhã de 25 de junho, quando o Brasil ainda disputava a Copa:

- Diiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo... se o Brasil sair eu vou torcer pra Itália por causa do Dedé.

Dedé

O Dedé (esse figurinha aí em cima) é filho da Cristina, irmã do meu mano Szegeri, minha mana portanto, por tabela, e quem também não compreender isso, lamento, mas não vou explicar.

Hoje serei Portugal até a alma, contra os franceses que trago entalados na garganta há muitos anos.

Mas ontem, com os olhos cheios d´água diante da vitória maiúscula da squadra azzurra lembrei-me do meu sobrinho.

Disse-me o Szegeri que, conversando com a Cristina dia desses, ficou sabendo que o Dedé, nascido na Itália, estava torcendo para a seleção italiana. E completou, orgulhoso do moleque, e eu notei que de dentes cerrados:

- Edu... o cara que não ama a terra onde nasceu... - e danou de chorar.

Dedé, eu também estou violentamente orgulhoso de você. Aproveite, bambino!

Até.

4.7.06

IDI-JOTA

Antes de mais nada quero lhes dizer que estou com minha câmera digital no conserto, razão pela qual não poderei publicar aqui, como sempre faço em nome da precisão, a nota imunda que este escroque a quem chamo Jota publicou hoje em sua coluneta no jornal O GLOBO que, francamente, mais se assemelha, ultimamente, a um balaio de ratos. Eu não quis dizer gatos, não. Ratos mesmo.

Vamos à nota, na íntegra:

"ATESTA QUALIDADE

Ronaldo, ex-Fenômeno, de agora em diante apenas "O Gordo", está em baixa, mas sua namorada, a magérrima Raica, alavancou a vida de modelo com a relação. Disse sim, no fim de semana, para o pedido de Mario Testino. Vão fazer um ensaio, possível capa, para a "Vogue" francesa. Ser fotografado por Testino é uma espécie de ISO 9000 no mundo da moda."


Não interessa, para o que quero lhes dizer, o que escreveu o lamentável Jota sobre a Raica, atual namorada de Ronaldo, muito embora seja irresistível dizer que esse comentário "a magérrima Raica" deixa evidente a preferência do jornalista (sempre gargalho quando escrevo jornalista ao me referir a esse elemento).

O que me interessa - e tenho tido discussões homéricas com o Szegeri sobre o tema, e concordamos sempre, por isso peço sua intervenção nos comentários - é a forma desrespeitosa, a desconsideração, a maneira desonesta como refere-se a um ídolo da seleção brasileira.

Ronaldinho Fenômeno

Eis aí uma das gritantes diferenças entre o povo argentino e o povo brasileiro (aí incluída, evidentemente, a classe dos jornalistas): se algum jornalista argentino se referisse dessa forma ao Maradona estaria morto, linchado, no mesmíssimo dia, por uma turba enfurecida que defende seus símbolos, lato sensu, com a própria vida se necessário.

E notem que o Maradona foi ao fundo do poço, foi dominado pelas drogas, envolveu-se em inúmeras confusões com Deus e o mundo. Ele sim, engordou a ponto de de se deformar, e jamais - eu disse jamais - foi alvo de qualquer outro gesto que não o gesto de carinho, de apoio incondicional, de gratidão (gratidão sim, por que não?), tanto do povo como dos jornalistas esportivos, incapazes de derrubar ou pôr pra baixo o maior ídolo do futebol argentino.

Pequena pausa: um dos troços mais lindos que li na blogosfera a respeito do Maradona está aqui. Eu não consigo, confesso, ler esta carta sem chorar à chafariz da Praça Paris. Destaco o seguinte trecho (que arrisco traduzir), e notem, por favor, a diferença do que vai na alma dessa senhora, Mirta Berttoti, (recomendo o blog, sempre muito bom!) e do que vai na alma (risos) do Jota:

"Dentro de muitos anos, os filhos dos filhos de Sofi vão viver em um país muito melhor que este que temos agora. Estou segura. E nada vai registrar que eras um fanfarrão e um boca-suja. Nos livros se vai dizer de você apenas o importante, que aqui nasceu um dia um "negrito" que jogava bola mais que todos, e que era capaz de levantar um povo triste e deixá-lo louco de alegria, de fazê-lo feliz inclusive nas épocas mais negras. Para que não se morra isso, rezo.

Para que te cures, para que possas descansar de todo o esforço de haver sido único e que tu tenhas tempo para ser um tipo comum. Para que possas ver teus netos, abraçá-los, e contar a eles quem foste tu. Deve ser muito lindo envelhecer, mirar os olhos de um neto e dizer a ele com o coração desperto: "Sabes quem eu era? Eu era Diego Maradona!" E estar vivo para contar isso."


Enxugo os olhos e sigo em frente.

Quer dizer, não sigo.

Já disse o que tinha que dizer.

Maldito seja esse infeliz que assina - ironia das ironias - uma coluna chamada "Gente Boa". Tudo o que ele não é.

E salve, pra sempre, Ronaldo Fenômeno.

Permitam-me, apenas (desculpo-me desde já), um pequeno desabafo à Tijuca:

- Ô, Jota... "ex-Fenômeno" e "O Gordo" é a putaquetepariu!

Até.

PS: você também ficou com raiva? Você também marejou os olhos lendo a carta de Mirta Bartotti para o Maradona? Então diga isso ao Jota! Exija respeito! Proteste! Aqui, ó!