5.7.06

A MÁGICA DO FUTEBOL

(pro Dedé, a quem não conheço)

Meus poucos mas fiéis leitores, com licença.

Escrevo enquanto choro e vou explicar o por quê, vou explicar. É preciso lhes dizer isso para que faça algum sentido o que poderá lhes parecer pieguice (lhes garanto que não é).

Ontem, segundos após o apito final do sensacional e dramático jogo entre Alemanha e Itália, enquanto eu ainda me encontrava abraçado e já chorando com o Pepperoni (um puta companheiro, diga-se de passagem), tocou meu telefone. Piscando no azul da tela o santo nome "SZEGERI CELULAR".

E eis o princípio do diálogo que durou uns bons 10 minutos, o que me deixa razoavelmente satisfeito. Só assim o Pompa gastará, quem sabe, 10% do que eu gastei no mês passado batendo o telefone pra ele. Mas vamos ao início da conversa. Como o celular dispensa o "alô" graças ao BINA que permite a preparação do humor e da primeira fala, eu mandei de primeira:

- Que jogo! Que jogo! Que jogo! - enxugando os olhos.

E eis a resposta. Quando a ouvi imaginei a cena. Meu pomposo irmão (siamês também) sentado na repartição, solitário (uma de suas sinas no trabalho), cotovelos apoiados num risque-rabisque, as lágrimas saltando dos olhos como sapos no brejo (só quem já viu o Pompa chorando sabe o quão perfeita é a imagem), e uma babinha formando estalactites em sua barba amazônica.

- Cara... - longa pausa entremeada por soluços - ... chorando tanto...

Parecíamos duas crianças. E eis aí uma verdade que ninguém ataca: o futebol transforma o adulto, o velho, numa criança de calças curtas e pés descalços com olhos vidrados, o coraçãozinho batendo mais forte. Por isso, e quase que apenas por isso, pro cacete as teorias que arrotam jornalistas afetados diante das câmeras de TV ou a partir das redações dos jornais, pro inferno babaquices como "meio-campo cerebral" (merda repetida inúmeras vezes pelo Escobar, um comentarista do SPORTV que infelizmente largou a profissão de comissário de bordo), "quadrado mágico" e outras imbecilidades que não resistem a um time que joga com o coração e com a alma na ponta das chuteiras.

Meu irmão paulista soltou uma frase célebre:

- Quem quiser assistir show de técnica que vá ver motocross!

E depois de muito choro dissemos essa juntos, aos gritos:

- Isso é o futebol!

E "isso é o futebol" pode soar como uma frase idiota. Assim pensarão elementos como o Jota, como o Clóvis Rossi (que ontem escreveu na Folha de São Paulo que "... o fato de ser brasileiro não me obriga a torcer pelo Brasil no futebol." e por aí notem o caráter do sujeito que deveria, só por isso, ser sumariamente demitido), como esses jornalistas-teóricos-de-merda que, por exemplo, bradavam aos ventos que havia uma conspiração para que a Alemanha vencesse a Copa do Mundo. Dirão o quê, agora, esses bostas? E os jornalistas-babaconautas-de-plantão que atribuíam à Itália apenas a capacidade de se defender e de fazer um golzinho apenas num golpe de sorte? Dirão o quê, agora, esses imbecis?

Não compreender que a magia do futebol reside justamente na surpresa permanente, na impossibilidade aguda de previsão de resultados, na capacidade de, num lance, termos uma partida decidida, é não compreender rigorosamente nada.

Lembramos, eu e meu irmão Szegeri, durante o telefonema, de uma frase da sábia Iara, sua filhota, nossa afilhada, dita na manhã de 25 de junho, quando o Brasil ainda disputava a Copa:

- Diiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo... se o Brasil sair eu vou torcer pra Itália por causa do Dedé.

Dedé

O Dedé (esse figurinha aí em cima) é filho da Cristina, irmã do meu mano Szegeri, minha mana portanto, por tabela, e quem também não compreender isso, lamento, mas não vou explicar.

Hoje serei Portugal até a alma, contra os franceses que trago entalados na garganta há muitos anos.

Mas ontem, com os olhos cheios d´água diante da vitória maiúscula da squadra azzurra lembrei-me do meu sobrinho.

Disse-me o Szegeri que, conversando com a Cristina dia desses, ficou sabendo que o Dedé, nascido na Itália, estava torcendo para a seleção italiana. E completou, orgulhoso do moleque, e eu notei que de dentes cerrados:

- Edu... o cara que não ama a terra onde nasceu... - e danou de chorar.

Dedé, eu também estou violentamente orgulhoso de você. Aproveite, bambino!

Até.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que texto emocionante, Edu.

Parabéns.

Snif.

Anônimo disse...

Eu também chorei.
Emocionante também foi, e muito, a atitude da torcida alemã para com sua seleção.

Bj

Anônimo disse...

Edu,
também me contou a Kika que, nos jogos do Brasil, o Dedé deixou falar mais alto sua "metade brasielira" e torceu por nós.
E é por ele que, assim como a Iara, estarei torcendo pela Itália na final...FORZA AZZURRA!
Baci

Anônimo disse...

Edu, meu cumpadre. Praqueles que não sabem o que é o futebol, que vejam também apenas os acréscimos do jogo de Portugal hoje. Conhecerão o que é uma "pátria em chuteiras".

Pra terminar, o Clóvis Rossi bem mereceu o texto que o nosso cumpadre Szegeri enviou pra ele, hein?

Abraço e vida longa aos que vivem o FUTEBOL, assim, em maiúsculas!

Fernando Borgonovi