13.7.06

NOVA ATLANTA FUTEBOL CLUBE

(pro Fernando Szegeri)

Dirão os zagueiros das almas: "Mas pro Szegeri? De novo?".

Pro Szegeri. De novo.

Ocorre o seguinte.

Na segunda-feira, como há mais de vinte vidas, fui com Dani jantar na casa de papai e mamãe. E dessa vez, como ocorre há talvez uns vinte dias, com mais o Fefê, a Brinco, a Shaianny e a Yasmim.

Antes porém de irmos até o Alto da Boa Vista, passei na casa do Fefê para - notem os efeitos colaterais em ano de Copa do Mundo - jogar com ele umas partidinhas de futebol no PS2. Se você não sabe o que é PS2 procure saber. Eu não vou explicar.

Jogamos duas partidas, eu perdi as duas (desde cedo tenho mania de deixar o meu irmão ganhar tudo de mim), bebericamos uma cervejas e meu siamês disse-me com o polegar fremilúcilo:

- Venha ver uma coisa! Venha ver uma coisa!

E continuem notando os efeitos colaterais em ano de Copa do Mundo.

Fefê tomou pelas mãos uma lata do perfume Blue Jeans, seu preferido (que informação indispensável!), escondida no alto de um armário, abriu com cuidado a tampa, seus olhos espargindo luz, e ele repetiu, baixinho despejando seu conteúdo sobre a mesa:

- Venha ver uma coisa! Sabe o que é isso?

Antes mesmo dele terminar de dizer a frase "sabe o que é isso?" eu já tinha os olhos marejados, brilhando feito galalite, enquanto repetíamos quase que juntos o nome daqueles santos, um a um.

meu time de botão

Era seu time de botão.

Ao chegar em casa, mais tarde, depois do jantar, fui - notem a semelhança dos esconderijos - ao alto do armário onde ficam meus CD´s e tomei pelas mãos a lata verde, de papelão, de cuecas slip club man, da Temper - e vejam, apenas por aí, como sou antigo, bolorento e matusalênico, as gerações de hoje nunca ouviram falar na Temper - e, como se fosse a lâmpada do gênio, esfreguei a lata por alguns segundos antes de abri-la e de lá soltei, um a um, os bravos e aguerridos jogadores do Nova Atlanta Futebol Clube: Boréa, seu irmão Moréa, o Tita, o Toninho, o Ivo, e eu estava, em segundos, de calças curtas, descalço e ajoelhado no chão da vila da São Francisco Xavier 84 jogando botão com o Fefê, com o Ricardo, com o Renato, com o Camilo, com o Sílvio, e fui capaz de ouvir o chamado de minha bisavó pro lanche das quatro, interrompendo uma das partidas de um dos tantos campeonatos que realizávamos ali, naquela vila, que até hoje existe e ainda dói em mim.

Mas por que raios o texto é dedicado ao Szegeri? Não é isso o que querem todos saber? Pois então.

Disse-me o Fefê, enquanto me mostrava orgulhoso o seu escrete, que o Índio, amigo lá do Estephanio´s, mora num prédio na Tijuca (onde mais? onde mais?) onde até hoje são organizados torneios e mais torneios de futebol de botão. E que ele, Índio, havia convidado o Fefê para participar do próximo. E que ele, Fefê, gostaria que eu também fosse (topei na hora!).

Vai daí que lembrei-me de meu irmão paulista naquele instante do convite-feito, convite-aceito (mentira minha: quando pus a mão no primeiro jogador de botão do time do Fefê me veio à mente a imagem do Szegeri e de sua barba amazônica).

É que por uma dessas razões que a própria razão desconhece, o velho Zé Szegeri, durante uma arrumação qualquer de um qualquer quarto, achou por bem jogar no lixo uns botões velhos guardados dentro de uma lata semi-enfurrejada.

Era o time de botão do meu mano paulista, que sofreu um bocado - o assunto é um tabu até hoje.

Como eu disse, vou participar do torneio no prédio do Índio.

Vencendo ou não vencendo o torneio, sendo ou não o campeão, jogarei cada partida pensando no Szegeri.

E oferecendo a ele cada gota de suor dos meus jogadores.

Ah... botões não suam?

Vocês que pensam assim é que não entendem rigorosamente nada.

Até.

9 comentários:

Anônimo disse...

"Zagueiros das almas", Edu!

Que golaço!

Anônimo disse...

Vc sabia que eu era bom nisso? Cheguei a disputar campeonato carioca! rs

Anônimo disse...

Muito emocionante. E concordo com o Roberto numa coisa: se "zagueiros das almas" quer dizer o que eu imagino, ou seja, todos aqueles que vivem na defesa impedindo as emoções que sentimos, foi um golaço mesmo :-)

Parabéns.

Cheguei aqui via VanOr e AMEI!

Andréa Bitton

Szegeri disse...

Edu: não comentarei absolutamente nada sobre o assunto. De qualquer forma, obrigado.

Marcelo: conta outra...

Andréa: obrigado pela explicação.

Menina: deixa pra lá...

Dinda: você pensa que nós somos otários? Tá com tempo sobrando, né? Não perdes por esperar.

Anônimo disse...

Du , não se esqueça que esses botões , seus e os do seu irmão , eram meus , né ?? Herança minha .....e como lembrete , fui campeão várias vezes nos " campeonatos mundiais " que fazíamos na rua Santa Alexandrina , onde esses botões sempre representaram o México do famoso jogador " Lamadrid " ( não me pergunte a razão .... )

Eduardo Goldenberg disse...

Meu Deus, anda tumultuadíssimo o balcão do Buteco, como eu sempre sonhei, embora nos meus sonhos houvesse menos cotovelada e canelada em busca do primeiro chope. Mas vamos lá:

Roberto Romualdo: obrigado pelo elogio, camarada, você que está sempre na área. Também gostei, sem modéstia, da sacada que, francamente (aproveito pra responder à Andréa Bitton), dispensa explicações.

MM: eis a curiosidade olímpica: o time ainda existe?

Menina Carioca: tá bem. Vá lá escrever seu blog, então, que ele ainda não existe. E, ah, sim, obrigado.

Szegeri, meu Pompa: não comentará nada por que, mano? Não gostou? O tiro foi pela culatra?

Papai: grande equívoco, grande equívoco o seu! Tanto o meu time como o time do Fefê foi formado nas divisões de base da Puma Sports, ali na Conde de Bonfim (não existe mais...), em transações milionárias entre os times de botão da Tijuca, e eu, pelo menos eu (não sei o Fefê, mas acho que ele também não), não tive a honra de tocar num único jogador de seu time.

Anônimo disse...

Du ....... quer dizer que MEU time se evaporou entre os dedos de voces...... contra outra mané !!!

Anônimo disse...

Edu esse bate-boca com seu pai está me lembrando muito os que eu tinha com meu saudoso pai por causa de futebol. Ele Flamengo doente e eu vascaíno, sempre nos espetando até o fim da vida dele! E eu também jogava botão com ele. Que saudade dele... Obrigado. Mais um bonito quadro.

Anônimo disse...

Szegeri e Edu: mas é sério. Era viciado em jogar botão e acabei sendo convidado para jogar na "regra oficial", na qual cada jogador (não os botões, mas quem o movia) só pode dar um toque. A idéia era dificultar. Claaaaaaro que ainda tenho o time, guardadinho numa caixa especialmente feita por um camarada lá de Jardim América. Em tempo: disputei o tal campeonato vestindo a gloriosa camisa do Madureira Esporte Clube!