3.8.06

PASSANDO DOS LIMITES

Ontem, comentando o texto "DEBOCHE E BOM HUMOR", exatamente aqui, o leitor Caio Vinícius, a quem não conheço pessoalmente mas que mostrou-se, com isso, ser um dos meus na defesa da mais carioca das instituições, os butecos, chamou-me a atenção para uma anomalia anunciada no jornal de bairro de O GLOBO, da Barra da Tijuca, no domingo passado: o "boteco itinerante". Custei a crer. Mas fui conferir, já que o Caio teve a pachorra de me mandar o link da matéria. Li, vomitei, revoltei-me mas fiz um "tsc" e deixei isso para lá, como diria o Stanislaw Ponte Preta.

Hoje cedo, chegando ao escritório, deparei-me com um email curtinho da Maria Paula:

"Boteco itinerário?

Era só o que faltava..."


Daí fui ao jornal.

Mais precisamente, fui à coluneta do Jota. Nada.

Para minha decepção - e não entrarei em mais detalhes na esperança de que tenha havido apenas um deslize cometido por uma estagiária idiota - dei de cara com a seguinte nota na coluna de um amigo:

nota publicada no jornal O GLOBO de 03 de agosto de 2006

Ser na Barra não me assusta.

Pequena pausa: eu vou propor a algum vereador corajoso que proponha a retirada do possessivo "da Tijuca" da Barra da Tijuca. A Barra é, como eu já disse, cada vez menos da Tijuca. Aliás, deixou de ser da Tijuca há muitos anos. Um bairro que tem um shopping chamado "New York City Center", um bairro que tem uma gigantesca Estátua da Liberdade, um bairro que tem um "Loft", um "Barra Point", um "Barra Garden", não é da Tijuca em nenhuma hipótese. Mas vamos em frente.

O que me assusta é ser "itinerante".

Vejam que nojo!

Outra pausa: quando eu leio o que escreveram sobre mim o meu querido e saudoso amigo Fernando Toledo e o Pompa, no Conexão Irajá, animo-me mais a brigar. Vejam só:

"Conheci o Edu brigando, para variar. (...) Nunca vi um cara mais passional que o Eduardo: capaz de empurrar um caminhão de merda de freio de mão puxado por um amigo, e de despertar, em proporções semelhantes, o ódio dos idiotas e o amor dos seres humanos que valem a pena.", escreveu o Fernando Toledo.

"Eduardo Goldenberg é um sujeito que se define basicamente por quatro adjetivos: apaixonado (não conhece limites para entrar de cabeça nas coisas que o movem), obsessivo (de assistir a um filme que gosta DEZENAS de vezes seguidas, até decorar os diálogos), combativo (gosta de briga como só meu avô, com a diferença que não usa os punhos nem pra matar mosquito) e fiel (um cão para com aqueles que ama).", escreveu o pomposo Szegeri.

Voltando.

É revoltante essa agora de "boteco itinerante". São os investidores - no caso os do Conversa Fiada, bar de merda no qual já bati dezenas de vezes aqui mesmo no Buteco - querendo imitar o artista, que tem que ir aonde o povo está.

Onde já se viu um buteco, e refiro-me aos sérios, como o Rio-Brasília, como o Bar do Chico, como o Quitutes da Vovó, como as dezenas de butecos gloriosos da Rua do Matoso, montado numa kombi, num caminhão, nem sei de que forma esses imbecis transportarão o "boteco itinirante", indo para lá e para cá atrás de dinheiro apenas?

O buteco tem sua alma, e sua alma tem muito a ver com sua localização.

Qual a graça do Bar da Amendoeira sem a sombra da amendoeira, santo Deus?

Qual a graça do Rio-Brasília sem aqueles azulejos azuis e pretos nas paredes?

Qual a graça do Bar do Chico sem aquela esquina da Pardal Mallet?

Volto ao tema, evidentemente, qualquer dia desses.

Mas "boteco itinerante", numa boa... tirou-me do sério.

Deixa esses caras pintarem aqui na minha área.

Até.

9 comentários:

Anônimo disse...

Edu você está merecendo uma medalha de honra ao mérito dos vereadores do Rio de Janeiro. Sua luta em defesa dos "butecos" é muito coerente. Estou nela contigo! Abração do Roberto.

Unknown disse...

Briga boa. Briga justa. Eu, que já tive o privilégio de ter brigado com o Edu por causa de uma acusação de plágio, ofereço-me à engrossar as fileiras, caso seja necessário. Às armas, Comandante Edu, que esta briga é dever de todo bom brasileiro!

Anônimo disse...

De certa forma a Barra é da Tijuca, sim. Boa parte dos moradores atuais no bairro saíram justamente de lá, Edu! Morei lá de 1979 a 1999 e vi a invasão in loco...

Eduardo Goldenberg disse...

Ô, Bruno: mate minha curiosidade e/ou clareie minha obnubiladíssima memória... Quer dizer, ... isso se o Edu a que você se refere sou eu... Nós brigamos por causa de uma acusação de plágio? Diga aí! Do que se trata?

MM: ouso - mais uma vez! - discordar de você e com ainda mais veemência. Um tijucano de quatro costados NUNCA trocaria a Tijuca pela Barra. Mas NUNCA. A escumalha a que você se refere, responsável pelo êxodo que melhorou a Tijuca, nunca bateu no peito com o orgulho que eu bato a cada dia que piso nas ruas do meu bairro. Nunca! Abraço.

Anônimo disse...

Êxodo é a palavra, Edu! Mas sabia que qdo eu morava em Madureira, a fama da Tijuca era ser uma espécie de "zona sul" do subúrbio? (rs). Em tempo: mesmo morando na Barra, para onde fui levado por meus pais, freqüentava um legítimo boteco, talvez o único que havia lá. Não sei se vc chegou a conhecer, mas se chamava Maracujina e era objeto de comentários maledicentes da maioria dos moradores da Barra. Eu batia ponto lá pelo menos duas vezes por semana, mas eles infelizmente sucumbiram e venderam o bar aos donos do Siri...

Anônimo disse...

Continuando: o Maracujina, como todo bom bar, tinha suas singularidades. Eu cheguei a ter um prato especial lá: um frango com batata frita e salada de batata que mandava fazer assim que aportava por lá (que outro ser comeria batata frita com salada de batata?), o garçon deprimido, que bebia escondido com a gente etc. São coisas que, de fato, não comportam franquia...

Eduardo Goldenberg disse...

MM: vamos por partes.

É evidente que eu acredito em você quando você diz que o povo da gloriosa Madureira dizia que a Tijuca era uma espécie de zona sul no pior sentido da expressão.

E sabe por que?

Porque eu concordo.

Veja bem. Quando você morava em Madureira o êxodo não havia começado, ou seja, o povo de Madureira se referia, com razão, à escumalha que deixou a Tijuca, igualmente gloriosa Tijuca, para ir em direção à Barra.

Quanto ao Maracujina, meu caro... é evidente que eu conhecia. Mais-que-conhecia, eu freqüentava o Maracujina quando ia à Barra. Sim, eu já fui bastante à Barra, quando a Barra era uma terra primitiva sem aquela nojeira que grassa por lá.

E ia também ao Oswaldo, pra comprar batidas. Outro belo lugar.

Igualmente inimaginável no detestável e nojento sistema de franquias.

Eduardo Goldenberg disse...

Bruno! Lembrei!

Do lance do "Cartas Idiotas"... Matei?

Anônimo disse...

Edu,

Essa briga depende muito da gente também, por que se esses pseudo-butecos estão se espalhando é por que eles têm público e um público que com certeza não se identifica com a filosofia do buteco carioca...

A do Beco da Sardinha, a do Beco dos Poetas, na Cinelândia, dos botecos de esquina do Centro da cidade.

Se esses caras se multiplicam é por que tem gente que banca a conta.

E quanto à área da Barra da Tijuca, realmente, em termos de butecos, ela é um zero a esquerda, mas como o Edu disse, o Oswaldo tá lá, firme e forte e pra quem não conhece o eixo Itanhangá-Muzema-Rio das Pedras e gosta de freqüentar um bom boteco, por favor, deêm uma passeada pela Estrada Velha da Barra e vejam a riqueza de opções da região.

Cerveja Brahma a R$1,80 a garrafa em alguns casos.

Eu sempre, eu disse sempre, quando passo por lá a caminho de casa, vindo de Ipanema, aonde trabalho, desço por ali, tomo umas e bato um papo com a galera nordestina e engraçadíssima que nessa região vive.

Recomendo!!

Forte abraço!

Caio Vinícius