15.12.06

NATAL NA TIJUCA

É inegável que o Simas é uma figura impagável. Basta, para concordar com esta estrondosa afirmação, não apenas ler o que dele eu conto mas ler, principalmente, o que ele mesmo conta, no sensacional blog "Histórias do Brasil". E quero, hoje, contar-lhes mais uma história real, como são todas as que conto aqui, envolvendo essa doce, calva, loura e impoluta figura de olhos claros.

Na terça-feira fomos eu, Dani Sorriso Maracanã, Rodrigo Folha Seca, Joana e Simas (tristíssimo sem a Candinha, que trabalhava...) ao show em homenagem aos 70 anos do Wilson Moreira, no Café Guarani, no segundo andar do Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Fomos e muito não ficamos. Valeu pela oportunidade que tivemos de abraçar, pessoalmente, o grande (lato sensu) Alicate. No mais, a tristeza de verificarmos o de sempre (ou quase sempre) quando se trata de samba: som péssimo, o palco tratado como a casa da Mãe Joana - sobe qualquer um, até político pra fazer homenagem oportunista -, um horror, um horror. Pigarreio e sigo.

Seguimos, de lá, para o Galeto Columbia, na gloriosa Tijuca.

Duas mesas na calçada, pedimos chope, lingüiças, farofa, dois galetos, e ficamos ali, na esquina da Hadock Lobo com a Afonso Pena, jogando conversa fora, curtindo a - ainda - amena temperatura da noite nesse atípico mês de dezembro.

Vou localizá-los melhor, geograficamente.

Estávamos na esquina das tais duas ruas, bem diante do Clube Municipal, um pouco depois do Largo da Segunda-Feira, a poucos metros do motel Palácio do Rei, na própria Hadock Lobo.

Seguíamos conversando quando o Rodrigo me cutucou.

- O que foi? - eu disse enquanto roía um osso de coxa.

Ele fez sinal de silêncio apondo o indicador sobre os lábios e disse sussurrando:

- O Simas chorando.

Cutuquei o Simas com a ponta afiada do osso:

- O que houve, Simão?

Ele tinha as duas postas verdes molhadas, as lágrimas caindo sobre o rosto, as orelhas vermelhíssimas, e a Sorriso Maracanã interrompeu:

- Saudade da Candinha, né? Ela é tão sweet...

E ele, fungando:

- Também, também! Mas não é exatamente por isso...

Nós quatro, em respeitoso silêncio, esperávamos o prosseguir da história. Fiz sinal com a mão aberta em direção ao garçom pedindo mais cinco chopes.

- Olhem aquele painel! Olhem! - era o Simas, de pé, urrando e apontando em direção ao painel gigantesco de neon do motel.

Entreolhamo-nos. O Rodrigo, íntimo do Simas há décadas, disse:

- Lá vem merda...

O bom Simas virou bicho:

- Merda? Merda é aquela árvore de Natal da Lagoa, meu querido! Merda são todas as árvores dos shoppings da cidade! Notem a beleza, a imponência, a suntuosidade deste painel luxuoso à nossa frente! Notem! Notem, porra! - e já se dirigia à freguesia, atônita diante do espetáculo.

Pausa breve para contar sobre o painel.

Trata-se de um painel, de fato gigantesco, com a figura de um rei do baralho, no qual se lê "PALÁCIO DO REI", com um jogo de luzes de neon rigorosamente feérica, que pisca, que pulsa, que acende, que apaga, que dá - confesso - até tonteira.

- Precisamos iniciar uma campanha cívica para promover esse ponto turístico! Sim, turístico! Notem a beleza do movimento das luzes! Notem o espetáculo que é aquele Papai Noel acendendo e apagando...

- É o rei do baralho, Simas... - Rodrigo, de novo.

- Rei do baralho é o caralho, Digão! Cala a boca! - e não parava de chorar.

Pedimos a conta, a saideira, e o Simas ali, soluçando, fazendo juras de amor à Tijuca e à zona norte, dizendo que iria mandar emails para os jornais, o diabo, para fazer justiça, era o que ele dizia.

Até.

3 comentários:

Anônimo disse...

Edu, pelo que o Simas me disse, vocês dançaram um ballet debaixo do letreiro. Procede?

Eduardo Goldenberg disse...

Candinha: que lindo... Eu sei que é o Simas escrevendo, até mesmo porque a essa hora você está trabalhando. Mas procede. Dançamos coreografados pela Dani e fomos aplaudidos de pé por toda a assistência. Com testemunhas!

Anônimo disse...

O Edu, claro, dançou fora do ritmo...