26.4.07

O ESPELHO DO BANHEIRO

Escrevo a pouco mais de 24h de meu aniversário de 38 anos (escrevi 38 anos e ecoou, atrás de mim, a gargalhada estrepitosa do Prata, menino de 87).

Se você é velho como eu há de se lembrar da mulher loura, um fantasma. A mulher loura, com algodões nas narinas, que assombrava os alunos dentro dos banheiros das escolas. Sua imagem surgia no espelho e ficava a repetir "Belmel, Belmel, Belmel...". Caso você não saiba do que falo, leia mais aqui.

Falei da mulher loura apenas para falar do espelho do meu banheiro.

Breve pausa para uma explicação necessária: Dani, minha Sorriso Maracanã, está viajando a trabalho. O que significa dizer, por óbvio, que estou sozinho em casa com o Pepperoni. E eu, que sou um poltrão olímpico, ando para lá e para cá, dentro de casa, convocando sempre a companhia do meu personal vira-latas. Estar sozinho em casa, e saber, de antemão, que acordarei sozinho no dia de meus anos, que é amanhã - não custa repetir -, é, para mim, um troço rigorosamente deprimente. Deprimente e desanimador, eis que a primeira coisa que farei amanhã, ao levantar, será escovar os dentes. E por que desanimador?, vocês me perguntam. E eu responderei.

Fui, hoje, escovar meus dentes.

A mulher loura não estava lá, evidentemente. A mulher loura só aparece em banheiros de colégios, escolas, cursinhos. Quem estava lá era meu próprio fantasma, como já lhes adiantei ontem, leiam aqui.

E me submeti ao ritual humilhante de, com a boca cheia de espuma, ficar ouvindo, em silêncio quebrado apenas pelo atrito das cerdas da escova com meus dentes, palavras que me machucam:

- Velho! Múmia! Caduco! Arruinado! Senil!

Em som surround, como se meu banheiro fosse equipado com o mais moderno sistema de home theater, no mais alto volume, a gargalhada do Prata.

Falei em Prata e quero lhes contar uma coisa. Bateu-me o telefone, ontem à tarde, o meu caçula. Foi brevíssimo:

- Quantos anos você faz depois de amanhã?

- Trinta e oito.

Esperei uns quarenta, quarenta e cinco segundos de ruidosa risada.

- A Luísa faz 19.

E desligou.

Notem que sofro às vésperas de meu aniversário. Amanhã, aliás - desculpo-me desde já -, nada escreverei aqui. Antevejo que acordarei amaríssimo.

Minha coluna range, meu osso-do-pai-joão (que na zona sul neguinho chama de cóccix) dói de forma aguda, sofro de ptose parcial na pálpebra direita, estou pesado feito um paquiderme, tusso com uma regularidade de sino beneditino, tenho doída saudade dos meus que já partiram, e ajudando a piorar tudo, Fernando Szegeri, o maior ser humano de nossa época, a quem devoto amizade, dedica-se a me humilhar com requintes crudelíssimos.

Eu disse ajudando a piorar porque nada pode ser pior do que acordar, e justo no dia 27 de abril, sem a minha garota a meu lado.

Até.

25.4.07

EU, COADJUVANTE

(ou CONVITE PÚBLICO PARA ANIVERSÁRIO)

Caso vocês leiam ABRIL, O MÊS CRUEL, TEMA DE TODO ABRIL, A ESPIRAL - PARTE I, A ESPIRAL - PARTE II e A ESPIRAL - PARTE III, FINAL perceberão o que foi meu abril no ano de 2006.

Perceberão o que foi meu abril no ano de 2006 e por isso perguntarão:

- Onde a dor neste abril de 2007?

E eu, sincero:

- Em mim.

Tava demorando.

Acho, pensando agora enquanto escrevo, que eu não dei foi tempo pra sentir a pegada de abril.

Agora pela manhã, a 48h do dia 27, quando cravo 38, no instante em que fui escovar os dentes - vejam que horripilante - minha imagem no espelho vaiava a mim mesmo de maneira ultrajante. E gritava:

- Velho! Múmia! Idoso! Decrépito! Candidato a cemitério! - e ainda havia a trilha incidental, a gargalhada estridulosa do Prata.

Parei de escovar os dentes.

E eu - ou minha imagem, confesso que fiquei confuso - não parava com a auto-imolação sonora e gestual. E a gargalhada só fazia aumentar. E eis-me aqui, sem coragem para acabar de escovar os dentes, fazendo essa confissão patética.

Mas não estou aqui apenas para isso.

Estou aqui, precipuamente, para dizer a vocês que - PRESTEM ATENÇÃO - Fernando Szegeri, esse mito brasileiro, o maior ser humano de nossa época, está chegando ao Rio de Janeiro depois de amanhã, 27 de abril, justamente o dia de meu aniversário (meu aniversário e aniversário, também, de minha nora, se é que vocês me entendem).

E Fernando Szegeri vem, mas não vem sozinho. Vem com a família toda: a doce Stê, de quem gosto mais a cada dia, minha querida afilhada Iara, sereia de meus rios, Rosa, coisiquinha que está com menos de seis meses de idade mas que é amada de maneira desonesta, e dona Cecília, mãe do meu mano paulista, e que por isso merece todas as homenagens possíveis e imaginárias: foi em seu ventre que foi gerado o Pompa.

Daí dirão vocês:

- Puxa... Vem só para o seu aniversário?

E eu respondo de primeira:

- Cheguei a pensar que sim. Mas é evidente que não!

O Szegeri, que trabalha numa repartição pública e que cuida com denodo de sua família - talvez sejam suas duas principais ocupações - dedica-se, com igual ou maior afinco, a me humilhar de maneira intensa e permanente.

Bateu-me o telefone na semana passada:

- Edu?

- Ô, querido...

- Estou indo praí no dia 27...

Eu, comovido:

- Puxa...

- Mas não tem NADA a ver com seu aniversário, idiota. Vamos tocar no Trapiche Gamboa no dia 29 e eu preciso chegar antes para acertar uns ponteiros.

E desligou.

Isso significa dizer, meus poucos mas fiéis leitores, que dedicarei o dia 27 de abril, quando o Tempo gritará em meus ouvidos durante todo o dia - "velho! velho! velho!" - ao convívio com a família. Reunir-me-ei com meus pais, meus irmãos, minha avó, minha cunhada, minhas sobrinhas e meus sogros, no Alto da Boa Vista, numa espécie de ensaio geral para o meu velório, já que sempre - eu disse sempre -, desde que fiz 30 anos, tenho certeza absoluta de que estou comemorando o último aniversário.

Mas no dia 29 de abril, domingo, estarei no Trapiche Gamboa, na rua Sacadura Cabral 155, na Gamboa, evidentemente, a partir das 19h, comemorando, pela segunda vez (quando a gente acha que é o último tem que aproveitar bem), a passagem dos meus 38 anos.

E lá, ele, o mito, Fernando Szegeri, comandando a roda de samba com os Inimigos do Batente - leiam aqui tudo o que já escrevi sobre eles - diretamente de São Paulo. Dorina é a convidada deles. E meu garoto, Tiago Prata, gênio da raça, o convidado especial, fazendo chover e ventar com seu 7 cordas.

Quero ver vocês todos lá.

Mas notem que lindo: você percebe que não é ninguém quando consegue a proeza de ser coadjuvante na festa de seu próprio aniversário.

Até!

24.4.07

E TUDO SE ENCAIXA...

Quando eu escrevi, no dia 20 de abril, sexta-feira passada, esse texto aqui, escrevi sobre o Botequim Informal:

"Este é, na minha opinião, o site mais nojento, o mais podre, o mais escroto, o mais abjeto, o mais anti-buteco.

Só vocês lendo, que eu não vou nem reproduzir. Mas dêem um pulinho no link TAXAS, e fiquem sabendo que com R$90.000,00 você pode se filiar à rede, "adquirir os conhecimentos prévios de instalação e planejamento de uma unidade de franquia e pelo direito de uso da marca por um tempo determinado"!!!!! E mais! E mais! (mais dinheiro, é claro) Cinco por cento do faturamento bruto de cada unidade é repassado aos franqueadores (os investidores que posam de donos de buteco na imprensa vendida) a título de royalties mensais.
E um por cento desse faturamento vai para... vai para...

...

o fundo de propaganda! Maravilha! Vamos em frente
."


Os grifos são meus. A nojeira que envolve fundo de propaganda, agência contratada e a imprensa, é deles, investidores donos do negócio.

E vejam o que o JB publicou ontem:

publicado no JB de 23 de abril de 2007

Que tal?

Até.

21.4.07

E SALVE O SACI-PERERÊ!!!

Os amantes do futebol - sou um deles - vibraram, na semana que está prestes a terminar, com o golaço feito pelo Messi, jogador argentino que defende o Barcelona, em jogo pelas semifinais da Copa do Rei, contra o Getafe. Foi, de fato, um gol antológico, quase-idêntico (ou idêntico como querem alguns) ao gol de Maradona contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986. Deve-se comemorar tudo: a vitória do drible, acima de tudo, uma das razões do futebol e um de seus momentos mais sagrados, e a coincidência entre os dois lances (que tem dois argentinos como protagonistas) que pode soar aos supersticiosos - como eu - como um capricho dos deuses do futebol. Ou de um deusinho só. Acompanhem.

É que algo me comoveu ainda mais no curso da semana no mundo do futebol.

Num tempo em que pululam jogadores que comemoram seus gols levantando suas camisas e exibindo outras com dizeres como "ESSE GOL É PRA JESUS", "SÓ JESUS EXPULSA O DEMÔNIO DAS PESSOAS" e outras merdas congêneres; num tempo em que virou moda entre jogadores e goleiros - como o Bruno do Flamengo, o que me entristece profundamente - o gesto de erguer os braços em direção ao céu com os indicadores para o alto, seguido de uma expressão contrita e de falas em tom de súplica; num tempo em que times inteiros, durante as cobranças de pênaltis, se ajoelham pateticamente; num tempo em que a tradicional corrente entre os onze guerreiros antes do início do embate deixou de ser para o "vamo lá, porra!", "sangue, caralho!", "vamo atropelar, cacete!" para dar vez ao "em o nome do Senhor", "se Deus é por nós quem será contra nós?", esses troços; num tempo em que no lugar do hino do clube vencedor, após a conquista do título, times inteiros cantam hinos religiosos e orações estranhíssimas; num tempo em que o fair play (a sentença de morte do futebol) se sobrepõe à malandragem, enfim, é de se louvar o gesto sacana do sacana Fábio Saci, do Bahia, que no jogo contra o Fluminense, pela Copa do Brasil, comemorou seu gol, como faz costumeiramente (mas pela primeira vez no Maracanã), pulando numa só perna com um gorro vermelho.

Image Hosted by ImageShack.us

Salve o Saci-Pererê que, como dizia o Tio Barnabé, "não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça".

Em tempos de trevas no futebol, um corropio de vento e luz.

Desconfio, aliás, que o negrinho andou aprontando das suas durante o jogo do Barcelona...

Até.

20.4.07

QUATRO BARES-DE-MERDA

Hoje trago para vocês um troço entre o trágico e o hilariante (estou discursando como um feirante imaginário, gritando bem alto dentro do ouvido do prefeito da cidade de São Paulo (minúsculo), ex-cambono do Pitta (sem o negrito), que pretende, com um decreto-de-merda, calar os vendedores da feira livre, mais detalhes na semana que vem).

Para dar cores de ainda mais coerência a esse meu odioso discurso contra os bares-de-merda que empesteiam a cidade (assim como o prefeito de são paulo empesteia a cidade de lá com suas idéias-de-merda), eis o site dos quatro lixos. E acompanhem (ordem alfabética):

BOTECO BELMONTE

Vamos a trechos nojentos do site:

"Tradicional boteco berço da boemia carioca desde 1952, cresceu, apareceu e abriu cinco filiais: Leblon, Ipanema, Jardim Botânico, Copacabana e atualmente o último lançamento, Lapa, primeira fora da Zona Sul da cidade. A primeira casa da rede, no Flamengo, comprada por Antonio foi reaberta em 2002. O Flamengo voltou a ter em sua orla o nobre e tradicional espaço para chope, bate-papo e petiscos. Tomar chopp em pé na calçada se tornou um verdadeiro hábito entre os freqüentadores do boteco."

Vejam como mentem! O Belmonte de 1952 NADA TEM A VER com essa merda em que se transformou o negócio comandado pela - dizem - máfia espanhola. E ainde se contradizem! Porra... se era, desde 1952, tradicional boteco da boemia carioca desde 1952, como pode ter o Flamengo ter voltado a ter em sua orla o nobre e tradicional espaço etc etc etc?

Mais mentira com cara de novidade pra enganar otário?

"A última novidade do Boteco Belmonte é o chopp em caldereta que contém alguns mls a mais para matar a sede do grande calor do Rio de Janeiro."

Que novidade, hein?! Digam vocês... Antes desse lixo... Vocês sabiam o que era chope em caldeireta? (com "i", eles não sabem nem escrever)


BOTEQUIM INFORMAL

Este é, na minha opinião, o site mais nojento, o mais podre, o mais escroto, o mais abjeto, o mais anti-buteco.

Só vocês lendo, que eu não vou nem reproduzir. Mas dêem um pulinho no link TAXAS, e fiquem sabendo que com R$90.000,00 você pode se filiar à rede, "adquirir os conhecimentos prévios de instalação e planejamento de uma unidade de franquia e pelo direito de uso da marca por um tempo determinado"!!!!! E mais! E mais! (mais dinheiro, é claro) Cinco por cento do faturamento bruto de cada unidade é repassado aos franqueadores (os investidores que posam de donos de buteco na imprensa vendida) a título de royalties mensais. E um por cento desse faturamento vai para... vai para...

...

o fundo de propaganda! Maravilha! Vamos em frente.


CONVERSA FIADA

Essa merda desse estabelecimento é o que mais cara de empresa tem. Está em construção a porra do site deles. Mas eles disponibilizam os endereços das filiais-de-merda e os emails da equipe (pausa para vomitar), sempre com a extensão @conversafiadabotequim.com.br

São eles: marketing, eventos, financeiros, compras, rh e sugestões.

Na boa? Vão tomar no cu, porra!

RH em buteco? Não fode! E vamos à última merda.


DEVASSA

Esse não tem porra nenhuma, mas dá o endereço de 11 filiais.

E tenham todos um bom final de semana!

Até.

19.4.07

É HOJE! É HOJE! É HOJE!

Estréia hoje, finalmente - e oficialmente, já que o BUTECO cumpriu seu papel com o furo de notícia que foi anunciar o troço com alguns dias de antecedência! - o BOTECO DO TULÍPIO.

E com vocês, o folder espalhado pelo UOL, hoje, para milhões de usuários no Brasil inteiro! E vejam onde fomos parar eu e meu irmãozinho Luiz Antonio Simas... Clique na imagem e divirta-se!

BOTECO DO TULÍPIO

É como dizia o avô do Simas:

- Se tudo der certo, vai dar uma merda...

Até!

PARECE DEBOCHE!

Já, já, eu mando o texto de hoje.

Mas passando a vista, como de praxe, no jornal digital de O GLOBO - que a cor do meu suado dinheiro eles não vêem mais - eu não pude resistir a expôr o que parece ser, sem sacanagem, um tremendo deboche da turma da coluna do Ancelmo Gois, composta por dez mãos.

Mais grave do que errar, uma coleguinha deles plagia, como eu provei aqui.

Eles mesmos, há uns dias, erraram feio quando ressuscitaram a Rainha Mãe, aqui.

Não satisfeitos, ressuscitaram, logo em seguida, o João Nogueira, aqui.

Hoje, então, numa tremenda caradura, publicam a seguinte nota, e o grifo é meu, evidentemente:

nota publicada no jornal O GLOBO de 19 de abril de 2007

Dá-lhe, ética!

Até.

18.4.07

FALTA DE ÉTICA É ISSO

Desde o dia 25 de janeiro de 2007 que o jota (minúsculo e sem negrito, de propósito) não fazia de sua coluneta outdoor (a que preço?) para os bares-de-merda que, como câncer, se espalham pela cidade. Mas antes de mostrar a vocês a última do empregado de O GLOBO, que irá à FLIP coordenar uma oficina de crônica (com licença, vou vomitar, entenda aqui o por quê), quero expôr - é sempre um prazer - mais uma vez, o modus operandi desse homúnculo, que nesse específico episódio age como um rato sinalizando para os urubus o surgimento da carniça. Acompanhem e vejam se não é um nojo a aguda ausência de ética do indigitado.

Há exatamente uma semana, no dia 11 de abril de 2007, o jota praticamente deu, em destaque absoluto (90% do espaço da coluna, eu diria), voz a um desabafo (justo, friso) do ator Eduardo Moscovis, cujos trechos principais transcrevo abaixo:

destaque da coluna ´Gente Boa´, de O GLOBO, de 11 de abril de 2007

"Esse é um documento-desabafo, um pedido de ajuda, uma denúncia e/ou simplesmente um relato. Não quero parecer egoísta nem alheio a nossa crítica realidade, por isso peço que sejam tolerantes se acharem que o que me angustia é pouco ou de menor relevância diante de tantas barbaridades, injustiças e impunidades. Necessito compartilhar esse momento publicamente. Aliás, é sobre esse termo e suas várias interpretações que gostaria de discutir: o que é ser público? Aparecer em milhões de aparelhos de TV me torna pessoa reconhecida publicamente, mas o que isso quer dizer exatamente? Que devo acatar qualquer tipo de abordagem, educada ou não, a qualquer momento? Como devo agir quando percebo estar na mira de celulares com câmeras de altíssimo alcance e refinamento tecnológico? ´Tu não é público? Paga esse preço´, costumo ouvir. (...) Mas as revistas especializadas (nisso?) oferecem um cachê (ou seria uma recompensa?) caso você, ´mortal comum´, ao se deparar com um desses que são públicos (e são cada vez mais), bata uma foto. Essas revistas estimulam um comportamento furtivo, invasivo e desrespeitoso, incitando os leitores a serem um "paparazzi" também. Como distinguir quem é o fã? (...) Há pouco mais de um mês fui interceptado pelo meu vizinho dos fundos. Ele me contou ter sido abordado por fotógrafos, que lhe ofereceram dinheiro para deixar que fotografassem o quarto das minhas filhas e do bebê que vai nascer. (...) Devo ainda fechar as cortinas, ficar enclausurado porque pode ser que haja em algum apartamento próximo alguém empenhado em expor minha família? Dentro da minha casa? Podem me fotografar com minhas filhas em qualquer lugar sem autorização? Podem mostrar o rosto delas? Mesmo menores? EU sou a "celebridade" e não elas!!! (...) Já que eu não tenho direito ao pacato ir e vir, que elas tenham. Que haja uma proteção para isso e que respeitem os cidadãos que por algum motivo trabalham na TV, cinema, teatro, mas que não optaram/compactuam dessa maluquice sem limite que virou as nossas (de todos nós) vidas. Aproveito para agradecer aos vizinhos que me alertaram e peço aos outros que não cedam a esse assédio desqualificado e desonroso. EDUARDO MOSCOVIS ou apenas Du."

E o que faz hoje, meus poucos mas fiéis leitores, esse homúnculo? Como age, uma semana depois, em relação a Eduardo Moscovis e ao episódio em questão? Sinaliza, como um rato - quero repetir de propósito a imagem - aos urubus que alimentam a tal indústria alvo da queixa do ator o nascimento de sua filha, de madrugada, faltando com a ética, com o respeito, com a coerência, num ato de descompostura que, fosse o jornal um troço sério, acarretaria um pito público ou até mesmo a demissão, tamanho o grau da nojeira do gesto rasteiro.

Agora vamos ao trigésimo quarto atentado desse mesmo homúnculo contra a mais cara tradição carioca, o buteco.

Desde 25 de janeiro de 2007 (mudança de estratégia por parte das assessorias de impresa desses bares-de-merda?) que o jota não citava um único lixo desses.

Hoje - timidamente, é verdade - anuncia (a que preço? - não custa repetir) a inauguração de mais uma filial do Botequim Informal, no Rio Design, na Barra (com licença, vou vomitar mais uma vez).

Aproveitando o gancho - que deve sempre render mais... - anuncia a inauguração de uma champanharia na Rua do Mercado, no Centro da cidade. Pelo nome - The Line - deve ser uma merda sem precedentes.

Image Hosted by ImageShack.us

Até.

17.4.07

AVESTRUZ NA CABEÇA

Estou, agora à noite, mais que nunca, com o desejo da auto-exposição no ápice (e tanto é verdade esta pequena confissão que eu, pela primeira vez, escrevo à noite para o BUTECO). Mas isso é, eu penso, uma maneira de combater a profunda depressão que me abate desde o instante em que abri, no final da tarde, um email que me foi enviado, como resposta a um meu, enviado logo pela manhã, pelo Szegeri.

Meu email foi longo. Nele eu relatei, minuciosamente, as mazelas que me incomodam desde a madrugada da segunda-feira, frutos, seguramente, dos excessos do final de semana. Não vou aqui abusar da paciência de vocês transcrevendo na íntegra minha mensagem dirigida ao portentoso Szegeri. Mas quero lhes dizer, faço questão de lhes dizer, que o email é composto de cinco, eu disse cinco, laudas (imprimi o email para que eu pudesse ser preciso do início ao fim, como sempre).

E eis a resposta do meu irmão paulista:

"Um dia a casa cai."

Fiquei numa alegria - estou sendo irônico, é evidente - que vocês nem podem imaginar.

Para aplacar a tristeza, afastar a depressão, combater o abatimento, preparei para minha Sorriso Maracanã um prato que jamais havíamos comido, ambos.

Um jantar, eu diria, básico, não fosse pela carne (a porção inédita do prato), que a minha garota come assim diariamente, melhor, muito melhor, que em muito restaurante por aí: arroz branco, aspargos frescos e filé de avestruz com molho de cebola, alho e cheiro-verde.

arroz branco, aspargos frescos e carne de avestruz

É meu palpite pra amanhã: avestruz, na cabeça.

Até.

BOTECO DO TULÍPIO

Eu fechei esse texto aqui, com a seguinte frase:

"Eu espero ter novidades pra contar em breve. Torçam. E aguardem."

Pois bem.

Abre amanhã, dia 18 de abril de 2007, o BOTECO DO TULÍPIO, buteco virtual e criação dos dois malucos de quem já lhes contei, meu xará Eduardo Rodrigues e Stocker.

logotipo do BOTECO DO TULÍPIO

E daí? - perguntam alguns de vocês, ouço daqui.

E daí que eu, ao lado do meu irmão querido, Luiz Antonio Simas, tenho - vamos ver até quando - mesa cativa no salão do buteco do Tulípio, tremenda figura.

O lançamento será amanhã, no portal de humor do UOL, aqui.

O endereço do site é esse aqui.

Nossa mesa, a de número 1, fica aqui, e a gente estréia reproduzindo a entrevista que fizemos com o João Bosco. Além disso, tem o meu texto de estréia, aqui, e o do Simas, aqui.

Agora, vocês querem saber minha maior alegria?

(só não sei quanto tempo vai durar)

O site nasceu da revista do Tulípio, criação dos dois malucos já citados. E a revista já é distribuída aqui no Rio de Janeiro em alguns bares.

Quais? - perguntem.

Eu digo: Rio-Brasília (Tijuca), Farani, Belmonte (JB, Flamengo e Ipanema), Devassa (Flamengo), Plebeu (Botafogo), Conversa Fiada (JB), Informal (JB e Leblon), Tô nem Aí (Ipanema), Clipper (Leblon), Cobal (Leblon), Desacato (Conde Bernadote), Pizzaria Guanabara, Jobi e Baixo Gávea.

Aí vocês pensarão... e agora?

E agora eu vou me valer da borduna imaginária com muito mais gana.

Aguardem!

Até.

ERRATA!

Louve-se o gesto de humildade raríssimo em sede de O GLOBO.

Depois de ter ressuscitado a Rainha Mãe na semana passada, leiam aqui, a coluna Ancelmo Gois ressuscitou, ontem, João Nogueira, leiam aqui.

E hoje, ó:

nota publicada no jornal O GLOBO de 17 de abril de 2007

Até.

16.4.07

DÁ-LHE, ANCELMO GOIS!

A coluna Ancelmo Gois, n´O GLOBO, escrita a dez mãos - acho que é um recorde, não sei ao certo -, não satisfeita em ter ressuscitado a Rainha-Mãe - leiam aqui! - há menos de uma semana, 12 de abril, anuncia, hoje, show com João Nogueira, logo mais no Teatro Rival.

publicado no jornal O GLOBO de 16 de abril de 2007

Vamos ver se dessa vez eles se retratam.

São dez mãos, pô!

Um dos cinco bem que podia...

Até.

O DOMINGO

O domingo seria pacatíssimo. Depois de um sábado efervescente - participei à tarde de um campeonato de botão, à noite fomos à festa de 60 anos da Sônia e depois, ainda, à festa da Cris -, quando chegamos em casa às quatro e meia da manhã, o domingo teria de ser - repetindo - pacatíssimo.

Eu, que sempre acordo cedíssimo, mesmo durante os finais de semana, fui acordado ao meio-dia por uma Dani nervosa. Acordei e a vi, aos prantos, me sacudindo violentamente. Abraçou-me quando abri os olhos. Eu disse:

- O que houve?

- Pensei que você estivesse morto! Já é meio-dia!

Vejam como começou bem o meu domingo.

Eu estava - preciso repetir para que vocês entendam o drama - decidido a ficar em casa. Mais precisamente no quarto. E mais precisamente, ainda, na cama.

Mas eis que toca o celular. E pisca, na tela azul, o nome do menino. Comovi-me sobremaneira com o carinho do garoto, tomem nota:

- Edu?

- Fala, Prata!

- Tá em casa?

- Tô.

- Tô com saudade. Em 10 minutos estou no Rio-Brasília!

- Passa de carro aqui. Preciso ir à feira rapidinho!

E ele, velho por um segundo, disse:

- OK!

Olhei pra minha garota, com profundo amor, e disse depois de suspirar:

- Fudeu. Vamos comigo à feira?

Abriu-se o mais bonito sorriso do mundo e descemos, os dois, pra esperar o Prata.

Chega o Prata. Chega o Prata e ele chega, evidentemente, de Dorival. O Prata tem, quando dirige, 120 anos de idade. Tem hábitos avoengos. No banco do motorista - "para não manchar minhas camisas" - uma toalha rosa horrorosa. Espalhados pelo carro, sapatos, cabides, cordas de violão, meias, moedas, um mafuá. E chegamos à feira.

Fui rápido. Comprei um quilo e meio de lula e sugeri que bebêssemos uma Therezópolis Gold no Aconchego Carioca. Assim foi feito. E tomamos o rumo do Rio-Brasília, já que o Prata alegava uma fome olímpica. Lá chegando o menino bateu o telefone pro Simas, com quem combinou de ir ao Maracanã para a primeira partida da final da Taça Rio. Em questão de poucos minutos éramos quatro à mesa: eu, Dani, Prata e Simas.

O menino comeu, sozinho, uma feijoada que daria para quatro pessoas.

- Simão, vinte pras quatro! Vamos!

Partiram os dois e lá ficamos eu e minha garota.

Bate meu telefone.

- Oi, Fefê!

- Tá aonde?

- Rio-Brasília. Quer vir pra cá e depois lá pra casa? Comprei lula na feira. Topa?

- Tô indo praí.

Estávamos os três ali, de papo, cervejinha, maracujá, quando bate outra vez meu telefone.

- Oi, Betinha!

- Oi, Edu... Vocês estão fazendo alguma coisa?

- Estamos no Rio-Brasília com o Fefê, por que?

- Ah... Queria saber se vocês não querem vir aqui pra casa... Nós vamos abrir um 17 anos...

Eu, finíssimo:

- Vocês três não querem ir lá pra casa?

- Três?

- É. Você, o Flávio e o 17 anos.

- A que horas?

- Seis, pode ser?

- Combinado.

Chegamos em casa faltando pouco pras seis horas, com a bolsa cheia de cerveja. Seis em ponto, tijucanos são assim, chegam Betinha e Flavinho com a portentosa garrafa de Ballantine´s 17 anos. E bate meu telefone de novo:

- Fala, Prata!

- Tá no Rio-Brasília ainda?

- Em casa. Quer vir pra cá?

- Vamos passar aí, então. Mas rapidinho, tá? No máximo quinze minutos, que eu tenho uma festa em Santa Teresa...

- OK!

Chegam Prata e Simas.

Fefê, 15 de abril de 2007
Dani Sorriso Maracanã e Tiago Prata, 15 de abril de 2007

E o que vivemos ali, meus poucos mas fiéis leitores, foi de uma boniteza daquelas que chegam a doer.

Preparei uma - modéstia não é o meu forte - monumental lula à vinagrete, derrubamos a garrafa do 17 anos, jogamos muita conversa fora, rimos muito, emocionamo-nos em demasia - o Simas chorava de guinchar -, e foi a boniteza que brotava dali que fez com que todos saíssem lá de casa faltando pouco para a meia-noite.

Flavinho, 15 de abril de 2007
Betinha, 15 de abril de 2007
Pepperoni e Simas, 15 de abril de 2007
Simas, 15 de abril de 2007
Tiago Prata, 15 de abril de 2007

Um domingo que não teve nada, rigorosamente nada de pacato.

Fiquem com o Simas, esse monstro, cantando Cartola aos prantos, acompanhado pelo violão endiabrado do Prata.


Até.

13.4.07

ESPELUNCA CHIC: MODUS OPERANDI

Eu confesso - e tenho a ligeira impressão de que não é a primeira vez que o faço - que as denúncias sobre a proliferação dos bares-de-merda que lanço aqui no BUTECO me rendem muitos frutos: companheiros novos que passo a conhecer depois de uns emails trocados e que se identificam com tudo o que digo e penso a respeito do assunto, uns bons desafetos - e há um impressionante prazer em se saber odiado por um pulha, prova máxima de coerência -, convites incríveis para conhecer butecos vagabundos que eu desconheço, e é absolutamente gratificante perceber que essa briga - sim, é uma briga - arregimenta gente disposta a dar voz e volume à grita que se faz necessária para desmascarar esses mentirosos sórdidos que se arvoram de donos de buteco quando na verdade são investidores, apenas investidores, que destroem dia após dia uma das mais caras instituições cariocas. Gente como Janir Junior, por exemplo, que é o único jornalista que não tem medo de bater sem piedade nessa canalha, que me deu voz aqui. Gente como o Bruno Ribeiro, de Campinas, que comprou a briga e não deixa baixar a guarda, como quando escreveu isso aqui. Gente como Fernando Szegeri, meu mano paulista, o maior ser humano que conheci em 37 anos de vida - às vésperas do trigésimo oitavo aniversário - que escreveu essa belezura aqui, sobre o mesmo tema. E o que não falta, hoje, na blogosfera, é gente engrossando o coro, aumentando as fileiras do nosso exército e expondo esses babacas nas prateleiras imaginárias, num papel ridículo.

Feito o longo intróito, vamos ao assunto de hoje.

Vejam a carta publicada na revista RioShow de O GLOBO de hoje:

carta publicada na revista RioShow de 13 de abril de 2007, de O GLOBO

A Sra. Adriana Meireles conta, na carta, que foi comemorar o aniversário do marido, com trinta amigos, no Espelunca Chic do Jardim Botânico. A escolha da Sra. Adriana já foi de uma infelicidade absurda - se fosse leitora do BUTECO e acompanhasse minhas denúncias, jamais pisaria numa merda dessas, mas isso não vem ao caso. Ela foi. Ela foi e foi com o marido e foi ainda com trinta amigos. Trinta e duas pessoas, portanto, sentadas à mesa. E vem, no final da noite - é ela quem nos conta -, a conta. Vem a conta e a conta é de R$1.770,00. Vou escrever por extenso: mil setecentos e setenta reais. Quase cinco salários mínimos. Pouco mais de R$55,00 por pessoa. Mas não pára por aí a saga da Sra. Adriana Meireles.

Ela nos conta que a conta (foi de propósito a repetição) continha (de novo) comida japonesa e uísque. Comida japonesa em buteco? Tá bom. Vamos seguir analisando a carta da Sra. Adriana Meireles.

Eles reclamam com o gerente. E o gerente, então, revisou a conta.

Vem à mesa a nova conta: R$950,00. Coisa boba, sabem como é? Um errinho besta de R$820,00.

Mas nos conta a Sra. Adriana Meireles que, mesmo revisada, constando R$950,00 (R$30,00 por pessoa), a conta ainda estava errada. E mais não nos conta. Fecha, apenas, a carta, dizendo: "Nos sentimos roubados.".

Antes de dizer um BEM FEITO rotundo para a Sra. Adriana Meireles, seu marido e seus trinta amigos, todos uns incautos, vamos à resposta do bar-de-merda:

"A assessoria de imprensa do Espelunca Chic responde: a casa foi inaugurada há duas semanas e o programa de computador que contabiliza o consumo está em fase de implementação. Pedimos desculpas e comunicamos que o profissional será punidos por não conferir devidamente os gastos."

Vejam que nojo!!!!! O bar-de-merda, que se diz um buteco, tem assessoria de imprensa. E assessoria de imprensa de cu, vocês sabem, é rola. A tal assessoria de imprensa - a mesma que compra espaços semanalmente nas colunetas dos jornalões de merda - alega uma porrada de besteiras para justificar o roubo e promete punir - canalhas! - o empregado, que parece ser, nesse caso, o tal gerente chamado pela Sra. Adriana Meireles para rever a conta do assalto. E pede desculpas.

Eu espero, sinceramente, que a Sra. Adriana Meireles leia isso aqui e siga meu conselho.

Não aceitar, em nenhuma hipótese, as desculpas desses filhosdasputas. Fazer um pacto com o marido para nunca mais pôr os pés nesses bares-mentira, seja ele o Espelunca Chic, o Belmonte, o Devassa, o Codajás, o Antônio´s, o Manoel & Juaquim, o Conversa Fiada, o Tô Nem Aí, esses cocôs que se proliferam como metástase. E convencer os trinta amigos a fazerem o mesmo. Depois mais trinta, mais trinta, mais trinta...

Assim, aos poucos, essa canalha muda de ramo e deixa a cidade em paz.

Até.

12.4.07

BELMONTE EM PARIS

Não, eu não estou delirando, mentindo, inventando, nada disso.

Deu na coluna Ancelmo Gois, escrita a dez mãos, n´O GLOBO de hoje:

"A rede carioca de botecos Belmonte, uma das pioneiras no estilo, digamos, pé-limpo, vai abrir uma franquia em Paris."

Faço, aqui, a reprodução da propaganda (a que custo?), para que meu discurso de há anos ganhe contornos cada vez mais fortes de coerência.

Tomem nota de umas coisas (até mesmo para que seja mais divertido ler a quantidade de besteira que vem por aí, que a assessoria de imprensa que trabalha para esses bares-de-merda não dão ponto sem nó):

* Eu já havia dito aqui, aqui e aqui, que o cidadão que se apresenta como dono dessa rede Belmonte (que ainda engloba Codajás e Antônio´s) é apenas testa-de-ferro de um grupelho de investidores que não poupam esforços para destruir uma de nossas mais caras tradições, enganando milhares de azêmolas que pagam fortunas para fazer pose dentro dos lixos que se espalham como metástase pela cidade. Ou vocês acreditam que o humilde ex-garçom Antônio Rodrigues é, sozinho, como quer fazer crer a imprensa de merda que o bajula, dono dessa bosta toda?

* Que outro buteco - e falo dos autênticos, evidentemente - tem filial? Filial no Brasil? Que dirá, meus poucos mas fiéis leitores, em Paris?

* Muito em breve - logo após a inuguração da anunciada merda em terras francesas - os estabelecimentos da rede, aqui no Brasil, vão reproduzir os acepipes e os petiscos servidos aos europeus.

* Não duvido nada que seja anunciada a contratação do Chico (ex-garçom do Bracarense, sumidíssimo, aliás, e a gente sempre desconfia desses troços...) para trabalhar na primeira - outras muitas virão - franquia internacional da rede.

Tomem nota! Tomem nota!

Ah, sim! Eu ia me esquecendo! Um dos cinco redatores da coluna Ancelmo Góis, escreveu, hoje também, a seguinte nota:

"Tony Blair e a rainha-mãe, que vão assistir ao jogo entre Inglaterra e Brasil, na inauguração do novo Estádio de Wembley, em Londres, dia primeiro de junho, convidaram Lula para ir também."

Segundo minha tijucana ignorância, a Rainha Mãe, Sua Majestade Rainha Elizabeth, nascida em 04 de agosto de 1900, morreu, aos 101 anos, em 30 de março de 2002.

Vamos ver se alguém de lá - em sede de O GLOBO tudo é possível - pede desculpas pela cagada amanhã.

Até.

11.4.07

SENTANDO O CACETE - 03/10/2000

Resolvi, a partir de hoje, aos poucos - valendo-me do dosador imaginário -, dividir com vocês, meus poucos mas fiéis leitores, textos que tenho arquivados e que foram publicados na extinta revista eletrônica SENTANDO O CACETE, que eu mantive por alguns anos no ar - o endereço era www.sentandoocacete.com -, e na qual escrevíamos eu, Aldir Blanc, Mariana Blanc, Mauro Rebelo, Fernando Toledo, ilustrada por Mello Menezes, que fez tremendo sucesso (chegou a ter mais de 1.500 assinantes que eram avisados por email das atualizações) e que acabou por falta de paciência minha pra lidar com a linguagem HTML, troço que deixou de ser importante depois dos blogs.

Deixo com vocês, então, hoje, um texto de 03 de outubro de 2000, de Aldir Blanc, atualíssimo - primeiro porque precisamos, mais do que nunca, ser do-contra, e também porque o PAN vem aí, e com ele, a mesmíssima quantidade de merdas de sempre...

"DO CONTRA

Nós, brasileiros, estamos perdendo a fundamental capacidade de ser do-contra. Se nos privarmos do ceticismo, da gozação, da galhofa, do sarcasmo; se diluirmos o humor nacional (que é ferino com o que gosta: futebol, Guga, Rubinho ...) em baboseiras, estaremos perdidos, à mercê da Quadrilha dos Bem-Intencionados, afinadinhos com o que o poeta Torquato Netto chamava de Coro dos Contentes, viciados para sempre na masturbação coletiva e complacente da auto-ajuda. Qualquer idiotice bostejada por um mago, tipo “sou o porto e a distância”, vira pérola de sabedoria pretensamente oriental.

É preciso voltar a ser do-contra. Aquele sujeito que entra no boteco e, pedindo uma atitude aí, dispara que o Ronaldinho e o Guga nunca jogaram nada, é importantíssimo para a sobrevivência de nossa cultura.

Vejam a cobertura das Olimpíadas. Um festival de “que lindo!”, “que beleza!”. Pois sejamos, sadiamente, do-contra. Por exemplo, aquele tal de “nado sincronizado”: a maior quantidade de dragões com nariz de mocréia por metro quadrado que já vi. Nem em piscina de Iguaba Grande. As feministas devem babar de ódio com aquilo. Será que não há uma dupla de mulheres decidida a acabar com aquelas convenções ridículas, na entrada e na saída, de Barbies movidas a raiovaque? Outra praga: os diretores de tevê de lá, metidos a “artistas”. A atleta da China está na trave, valendo ouro, e a câmera se fixa no rosto? Um grupo de atletas faz exercícios coletivos com bastões e as moças são mostradas individualmente? Outra adolescente vira cambalhotas no ar, como que contrariando a lei da gravidade, e a cama elástica que a projeta quase não aparece? Fusão de rostos com luz dos refletores? Nem na extinta TV Tupi! Um koala selecionaria melhor as imagens.

Ah, uma observação final: chamar medalhas de prata do Brasil de vice, atenção, não é ser do-contra. É ser escroto mesmo.

Aldir Blanc"


Até.

10.4.07

DO DOSADOR

Como o tempo é curto e como são muitas as coisas que tenho a dizer, vamos, hoje, usar o dosador imaginário e servir em pequenas doses os assuntos, quentes, no balcão.

* o jornal EXTRA - do mesmo grupo que controla O GLOBO - acaba de lançar sua versão digital. Com ela, lançou um blog chamado SAIDEIRA, mais um a serviço dos bares-de-merda que, graças ao poder econômico que representam e à impressionante atuação de suas assessorias de imprensa, vivem sendo bajulados por aí. João Arruda e Luiz Júnior (não por coincidência Jota Arruda e Luiz Jota, dois filhotes da mesma escola, por isso sem o negrito) começaram mal, muito mal. Saquem essa, que pode ser conferida aqui:

"A dica vale para quase todos os dias da semana, mas especialmente na quinta e na sexta. A melhor esquina para beber na Lapa, talvez no Rio inteiro, atualmente, é a da Mem de Sá com Lavradio. O Antônio's, recém-inaugurado, mandou muito bem ao seguir o estilo Belmonte (pertence à rede) e espalhar seus tonéis-mesinhas com banquinhos pela calçada."

De fuder, não? Melhor esquina para beber no Rio de Janeiro foi demais. O portentoso Adonis, o glorioso Bar do Amendoeira, o tradicionalíssimo Bar do Costa, todos numa esquina, não contam.

Eles, os dois responsáveis pelo blog, definem assim o conteúdo do troço:

"Bares, noitadas e outras mumunhas"

Lendo isso, fica tudo mais claro. A definição de "mumunha" não é minha, é do Houaiss:

"substantivo feminino
1 emprego de meios ilegais para benefício próprio, ou de um grupo; negócio ilícito; artimanha, corrupção, mutreta
Ex.: a verba destinou-se a alimentar antigas m. dos mesmos senhores"


Até o exemplo do dicionário foi perfeito. Tá tudo explicado. Mumunhão, o desses investidores.


* impressionante o poderio da colônia judaica. Eu, Goldenberg, falo à vontade. O rabino larápio ocupou, por um mísero dia, as manchetes dos jornais. Depois internou-se graças aos distúrbios - coitado - decorrentes da medicação da qual vinha fazendo uso (o que tem cheiro de grossa mentira), que serviram, aliás, de justificativa para o furto das cinco gravatas caríssimas em NY, das marcas Louis Vuitton, Giorgio's, Gucci e Giorgio Armani (o distúrbio não foi capaz de fazê-lo escolher mal). Mesmo expediente nojento do qual valeu-se Ronaldo Esper, que foi pego em flagrante furtando vasos de um cemitério em São Paulo. Impressionante, também, a passividade da imprensa que não imprensa quem merece: o pobre que furta um pacote de biscoito, um tablete de manteiga, um ou dois pães, porque tem FOME (causadora potencial de um quadro agudo de confusão mental e intensos transtornos de humor - as mesmas desculpas dos dois milionários presos em flagrante e já em liberdade), não recebe as mesmas benesses da imprensa e do Judiciário. Nem a piedade do bando que me mandou um email na semana passada - um spam, pra ser mais claro - conclamando as pessoas a assinarem um manifesto pró-Henry Sobel, o rabino em questão - coitado - que ganha 25 mil dólares por mês. Mandei o remetente, um conhecido cineasta, à merda.


* eu tenho - sempre tive - uma olímpica implicância com a FLIP, a Festa Literária Internacional de Parati, vejam aqui. Mas esse ano a minha implicância, antes mesmo da coisa começar, já está nas alturas. E explico. O homenageado este ano será Nelson Rodrigues que, se vivo fosse, vomitaria sobre o convite e não iria, em nenhuma hipótese, à festinha que reúne uma cambada de bobos-alegres que se acha a elite intelectual do país. Bobos que metem suas sandalinhas de corda da Richard´s, suas camisas coloridas, vestem uma bolsa a tiracolo, compram ingressos para diversas tendas - quando, meu Deus, o Nelson Rodrigues entraria numa tenda????? - e saem de lá, ó, a-d-o-r-a-n-d-o tudo. Mas isso só não é o suficiente para que eu odeie ainda mais a FLIP. A FLIP, acompanhando essa mania insuportável, promoverá diversas oficinas (peço licença para vomitar). Voltei. E uma das oficinas, a oficina de crônica, estará a cargo do Jota. Sem mais comentários. Oficina, aqui na Tijuca, é onde se põe o carro pra consertar. O resto é viadagem. Como a FLIP, por exemplo.

Era isso, por hoje.

Até.

9.4.07

DE VOLTA...

... mas em ritmo lentíssimo.

É que depois de quinta, sexta, sábado, domingo e mais a manhã de segunda-feira em Cabo Frio, somente nós dois - mais o Pepperoni, é verdade -, a preguiça se faz presente de maneira intensa.

Eduardo Goldenberg e Dani Sorriso Maracanã em Cabo Frio em 07 de abril de 2007

Também pudera.

Vinte e quatro garrafas de Brahma, seis pequenas de Brahma Extra, três garrafas de vinho branco, duas de espumante, lula ao vinagrete, churrasco, risotto de camarão, o colo da mulher amada, a mais linda praia do mundo...

Vocês hão de me perdoar.

Mas amanhã eu aterrisso.

Até.

5.4.07

FERIADÃO

E lá vou eu, estrada afora, para quatro dias de merecidíssimo descanso ao lado da mulher que me ensinou a sorrir. Seremos dois, os dois apenas, e isso me basta. Segunda-feira eu reabro as portas de ferro imaginárias do BUTECO.

céu da praia de Ipanema

Até.

4.4.07

SIMAS NO MARACANÃ

Minha intenção, hoje, era escrever sobre o Prata. Mais especificamente sobre a reunião ocorrida na semana passada em meu escritório, quando recebi o menino como cliente, pela primeira vez. A situação foi tão dantesca que merece destaque. De semana que vem, prometo, não passa. Mas faço questão de lhes adiantar: durante os primeiro quinze minutos de reunião o Prata apenas riu. Riu, não. Gargalhou. Relinchou. Guinchou. Coinchou diante de mim. Eu, de terno e gravata, diante daquele menino de bermudas e sandália, interpretava as ruidosas gargalhadas:

- Velho! Múmia! Empalhado! Defasado!

Na semana que vem, prometo, conto tudo.

E não escreverei sobre o assunto, hoje, graças ao comentário deixado pelo Marechal, alcunha do jornalista Álvaro Costa e Silva, editor do JB, no texto de ontem:

"Notem, que delicadeza!, na terceira foto, logo atrás do Simas (no bom sentido), a presença do botafoguense tijucano, de olho já turvo àquelas horas da manhã. Era o prenúncio do que seria o baile, à noite."

Fui, confesso, pautado imaginariamente pelo Marechal, e explico.

Eu fui ao "baile". E fui, confesso, com a ânsia do milésimo gol e apenas com a ânsia do milésimo gol. Rubro-negro que sou - e há uma especial delícia no fato de estar num Maracanã fervendo com a leveza de um espectador não envolvido passionalmente no espetáculo - fui, apenas - repito - para poder dizer às próximas gerações:

- Eu assisti ao milésimo gol do Romário.

E eu estava tão alheio ao duelo entre Vasco e Botafogo que fui demonstrando isso, alegoricamente, portando uma bandeira que eu, e apenas eu, expunha orgulhoso.

Edu Goldenberg no Maracanã, primeiro de abril de 2007

Mas não fui sozinho.

Fui com ele, Luiz Antonio Simas.

Eu já havia estado no Maracanã, algumas vezes, com o Simas. Mas sempre em jogos do Flamengo. E o Simas é, vocês sabem, um botafoguense empedernido. A visão que eu tinha, então, de Luiz Antonio Simas no Maracanã, era a de um pacatíssimo torcedor, de um fleumático espectador, um mansarrão.

Qual o quê!

Aquele homem, baixinho como o Romário, calvo como uma bola de sinuca, gordo como eu, foi, no domingo, um homem possuído.

Luiz Antonio Simas no Maracanã, primeiro de abril de 2007

Eu tenho verdadeiro horror de ficar citando ditados. Acho que são todos, na massacrante maioria das vezes, bobos, maçantes e enfadonhos - como eu, aliás.

Mas é preciso lhes dizer: uma imagem vale mais que mil palavras.

Eu poderia dizer a vocês tudo o que vi.

E vocês me apontariam o dedo - eis a imagem que não me sai da cabeça sempre que escrevo - aos gritos:

- Mentiroso sórdido! Exagerado! Hiperbólico! Difamador!

Mas eu tenho, meus poucos mas fiéis leitores, fotografias e filminhos que não me deixam mentir.

Eu vi um possesso Luiz Antonio Simas descer as rampas do Maracanã deitado, rolando ladeira abaixo, gritando coisas como "respeitem o Botafogo!", "o Botafogo não é coadjuvante!", merecendo, no hall dos elevadores, o beijo de J. Moura, mais conhecido como Beijoqueiro, célebre desde que tascou um beijo em Frank Sinatra, no mesmo Maracanã, depois de invadir o palco.

Luiz Antonio Simas e o Beijoqueiro, no Maracanã, primeiro de abril de 2007

Se eu não tivesse a imagem, eu sei, eu ouviria:

- J. Moura? Nem vivo está, Edu! Não minta!

Mas eu tenho a imagem.

Como tenho a imagem desse homem, em estado de graça, deitado - eu disse deitado - no chão do estádio, no anel externo, com os braços para cima da cabeça, vociferando aos céus:

- Obrigado, Garrincha! Obrigado, Manequinho! Obrigado por tudo! Todos têm que respeitar o Botafogo!

Luiz Antonio Simas no Maracanã, primeiro de abril de 2007

Se eu não tivesse a imagem, eu sei, eu ouviria:

- Deitado naquele chão imundo do Maracanã? Ora, Edu... Menos, menos!

Mas eu tenho a imagem.

E se eu lhes contasse que do chão ele se levantou apenas quando viu passar o irmão do Romário?

O irmão do Romário, portando um crachá com a cruz de malta onde se lia "ROMÁRIO 1000 GOLS", foi parado por um transtornado Luiz Antonio Simas que lhe lançou perdigotos no rosto:

- Vira pra lá, porra! Faz uma foto comigo, caralho!

O irmão do Romário, coitado, mudo, sem graça, sem jeito, fez a fotografia, ouvindo depois:

- Respeite o Botafogo!

Luiz Antonio Simas com o irmão do Romário no Maracança, primeiro de abril de 2007

Se eu não tivesse a fotografia, eu sei, eu ouviria:

- O irmão do Romário tirou uma fotografia com o Simas, que ainda por cima tirou onda com a cara dele? Edu, tenha paciência...

Mas eu tenho a imagem.

Como tenho, meus poucos mas fiéis leitores, cinco filminhos.

Tirem as crianças da sala que as imagens são fortíssimas.

Nesse primeiro filminho vocês verão Luiz Antonio Simas dizendo coisas lindas em direção à torcida do Vasco segundos depois do primeiro gol.


Nesse segundo filminho - o único leve da série - Luiz Antonio Simas, sempre com o copo de cerveja na mão, canta, rubríssimo (notem a vermelhidão no rosto do homem), o hino do Botafogo. Notem que, logo atrás dele, um outro botafoguense tenta pegar carona na história que minha Canon PowerShot A530 registra.


Nesse terceiro vocês verão Luiz Antonio Simas já na rampa de descida do estádio e sabe-se lá por quê, deitado no chão. Deitado no chão, mas pregando. Ele diz "o Botafogo não é coadjuvante, porra!" e depois emenda "respeitem o Botafogo, porra!". No início do filme, comovido com aquela cena insólita, um botafoguense abaixa-se para dar um abraço no pastor imaginário.


Nesse quarto filme, um pouco mais à frente mas ainda na rampa de descida, vemos Luiz Antonio Simas novamente deitado no chão. E é importante notar que um aluno seu passa, o reconhece e grita seu nome. Inabalável, Simas comemora o fato e grita, em resposta, o nome de seu sagrado time.


Fechando a sensacional série, vocês verão - tirem as crianças e as mulheres da sala! - Luiz Antonio Simas no papel de Manequinho. Dirigido por mim.


Até.

3.4.07

SIMAS NA FEIRA

Eu vivo, durante as manhãs dos sábados e dos domingos, a viuvez antecipada, conforme lhes contei aqui:

"E curtindo minha viuvez de feriado - sou viúvo nas manhãs dos feriados, sábados e domingos, que eu acordo com os primeiros cantos dos bem-te-vis enquanto a Dani dorme até o meio-dia, no mínimo! - fui à sala acompanhado de um copinho de Maria da Cruz, de um cigarrinho (não voltei a fumar, mas estou fumando, o gerundismo me salva nessas horas) e do fascículo contendo todo o primeiro semestre d´O PASQUIM de 1975."

Neste último domingo, primeiro de abril (e o que lhes contarei é rigorosamente verdadeiro, como de hábito), não foi diferente. Acordei com a ânsia da feira, que tem sido assim há muitos meses (acho que anos). Não quero, nas manhãs de domingo, nem o café e nem o leite. Acordo, dou meus beijinhos numa Dani imóvel, mergulhada em seu sono inabalável, e parto, aflito, em busca da bolsa de palha, minha companheira inseparável à feira da gloriosa rua Vicente Licínio, na Tijuca, evidentemente.

Pausa para brevíssima explicação.

Quando eu morava na Lagoa, e sofria de um banzo agudíssimo - e refiro-me à época em que vacas tentavam, sem êxito, destruir meu pasto - era também na Tijuca que eu fazia minhas feiras.

Voltemos, então.

Anteontem acordei e bati o telefone pro Simas. Passava um bocadinho das oito:

- Vamos à feira?

- Na Vicente Licínio? Mas é claro! - respondeu como se fosse um contumacíssimo freguês da dita feira.

- Desça em dez minutos.

E ele, como eu, antiqüíssimo:

- OK!

Fomos, então, eu, Simas e Candida Carneiro, sua doce companheira, desbravar a feira livre.

Eu, antevendo viver, in loco, merdas olímpicas, levei minha câmera fotográfica.

Simas e Candida na feira, primeiro de abril de 2007

E eu estava certo.

O Simas é, fazendo a feira, um troço indizível.

E faço nova pausa para uma brevíssima correção: o Simas é, todo, indizível.

Ocorre que, fazendo a feira (e sou capaz de jurar que foi, anteontem, sua primeira incursão numa feira livre), o Simas ganha contornos que beiram o inacreditável.

Peço licença para a terceira pausa para uma necessária descrição geográfica: a feira da Vicente Licínio fica na Tijuca, pertinho da Praça da Bandeira, nos fundos do Instituto de Educação. Tem, numa extremidade, o Bar do Chico e o Salete. Na outra, o Aconchego Carioca.

Mal pisamos na feira e o Simas:

- Edu, vamos tomar uma gelada...

Candida, puxando o marido pela manga da camisa:

- Luiz Antonio! Eu sabia! Vá comprar rúcula pra mim, por favor, que eu vou comprar umas frutas! - e disse isso apontando para a barraca das verduras e dos legumes.

Ele olhou-me com um olhar de pânico. Mas nada disse. E eu resolvi segui-lo.

Vejo o meu irmão remexendo as folhas, atônito.

Finjo estar distraído e faço minhas compras.

Volta ele, e eu a segui-lo.

Estaca diante da Candida.

Simas e Candida na feira, primeiro de abril de 2007

Abre a bolsa de palha - ele adquiriu uma idêntica à minha, na mesma barraca - e mostra orgulhoso:

- Candinha! Escolhi bem?

- Luiz Antonio... Isso é chicória, Luiz Antonio!

E ela arranca a bolsa da mão do marido que me diz, cabisbaixo:

- Vamos beber uma gelada, Edu...

Candida passou-lhe novo pito, para depois dizer:

- Luiz Antonio, venha comigo. Vou ensiná-lo o básico do básico!

Simas e Candida na feira, primeiro de abril de 2007

Passamos por uma barraca sobre a qual estendia-se imensa faixa: "ACEITAMOS VISA".

Pra quê?

O Simas, um brasileiro máximo, um carioca urgente, um suburbano nato, um homem sempre em defesa dos pequenos, tomou-se de fúria e deu de discursar diante da barraca:

- Meus senhores, minhas senhoras! Uma barraca de feira, na Tijuca, aceitar cartão de crédito é rigorosamente inaceitável, como é inaceitável a balança digital que alguns feirantes estão usando. Porra! - começou a chorar - Mil vezes porra! Eu quero a balança tradicional, com os pesinhos enferrujados, honestos, a barraca humilde que não admite a possibilidade de uma sociedade com um cartão de crédito, porra... - gania, à essa altura, de tanto que chorava.

Candinha, coitada - uma santa -, pedia baixinho:

- Luiz Antonio, você não vai mudar o mundo, Luiz Antonio...

Ele, que estava cercado por fregueses que pareciam concordar com aquilo, parou de chorar.

Foi quando Candinha disse:

- Sabe que essas ameixas estão até bonitas, Luiz Antonio?

- Nessa barraca não, meu amor! Nunca! Nunca, porra!

E eu vi - juro que vi! - fregueses pedindo estorno da quantia paga e devolvendo a mercadoria comprada, para completo desespero da pobre dona da barraca.

Pra acalmar o marido, Candida diz:

- Luiz Antonio, vá com o Edu comprar bananas e uvas... Vou comprar flores para levar pra Dani... É de bom tom chegar com flores...

Nova pausa: Candinha, Simas e Rodrigo Ferrari eram nossos convidados para o almoço de domingo.

Luiz Antonio Simas voltou a chorar, dessa vez no meu ombro:

- Você ouviu, Edu? É de bom tom... É de bom tom... Ninguém mais fala isso! Ninguém!

E beijou, acintosamente, a boca da própria mulher, num ataque passional.

Simas e Candida na feira, primeiro de abril de 2007

E com as frutas, a superação.

Chega-se ele.

O feirante:

- Bom dia, freguês!

Ele, puto:

- Freguês tu vai ver depois do jogo, otário. Fooooogo!

Vai à outra barraca.

A feirante:

- Vai de banana, freguês?

- Freguês é o caralho, vascaína de buço!

Eu rolando de rir.

Vamos à terceira barraca. Ele chega atropelando:

- Tem banana?

O feirante tentou segurar o riso, cercado por bananas de todos os tipos:

- Tem.

- Me vê cinco.

- Dúzias?

- Bananas.

- Qual?

- Uma de cada.

Expliquei a ele a praxe com relação às bananas. Depois de uns dez minutos ele convenceu-se e levou uma dúzia de banana-prata.

- Faltam as porras das uvas...

- Ali! - apontei.

Simas pergunta ao camarada:

- doce?

- Um mel.

- Posso provar?

- Claro!

Provou e disse:

- Excelente! Me veja cinqüenta, por favor.

- Cinqüenta?

- É muito, Edu? - me perguntou.

Fingi que não ouvi.

- Me vê então vinte e cinco, moço.

- Vinte e cinco? Tem certeza?

Simas já estava ficando puto quando eu intervi:

- Simão... Uva vende por quilo...

Simas comprou, então, um quilo de uva rubi.

Tomamos a direção do Bar do Chico.

Uma, duas, três garrafas.

Ele, à moda do velho Osório, arrota já de camisa aberta e diz, alisando a protuberante barriga:

- Bela feira, Candida... Virei todos os domingos... Bela feira... Obrigado, Edu, pela dica! Eu costumo, mesmo, fazer nossa feira na Morais e Silva, mas essa de hoje, puta merda... Que feira! Que feira!

Candinha piscou o olho em minha direção e ficamos ali, de papo, até a hora do almoço. Sobre ele, falarei ainda nessa semana.

Até.

2.4.07

UM DOC LITERÁRIO

Eu sei que não se deve começar uma frase com "que".

Que a livraria Folha Seca é a livraria do meu coração, não é novidade pra ninguém.

Eu sempre que falo sobre ela, sou um comovido, como aqui:

"Mas antes de encerrar, quero lhes contar um troço bonito que me dá a certeza de que aquela livraria é mais, é muito mais que um livraria, um simples ponto comercial. É o bunker da paixão do carioca por sua cidade, assentamento sobre o qual a força que mantém viva essa paixão desmedida se consagra."

Hoje, quase três meses depois de escrever isso, carrego ainda mais forte nas tintas apaixonadas que dão o tom do meu carinho pelo lugar e pelos dois corações que pulsam forte dentro daquele imóvel na rua do Ouvidor, o de Daniela Duarte e o de Rodrigo Ferrari.

E não me faltam razões para tal.

Não bastasse o acervo da livraria ser capaz de alucinar um sujeito apaixonado pelo Rio de Janeiro, pela música brasileira, pelo futebol. Não bastassem os permanentes dengos de Dani e Digão, um uísque pros amigos, um papo fundamental no final da tarde, sempre uma dica valiosa, sempre uma atenção e um carinho capazes de comover as pedras seculares daquele tradicionalíssimo canto da cidade.

Eles são mais.

E vejam que lindeza de história.

Eu tenho, dentre tantos privilégios na vida, graças a todos os deuses, o de estar na seletíssima lista de clientes da livraria que mantêm uma conta, uma espécie de conta corrente, cuidadosamente anotada num livro que diz muito sobre a história pessoal de cada um que lá está. E que diz muito, é claro, sobre a livraria, sua personalidade e sua vocação, mantendo essa tradição de há séculos da qual faziam uso as melhores casas do ramo na gloriosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Pequena pausa para brevíssimo aviso: não sejam inconvenientes. Eu consigo ver um chato lá chegando, forjando intimidade, dando tapinhas nos ombros ou do Rodrigo ou da Dani, dizendo com aquela cara de babaca:

- Quando é que eu vou ter conta aqui, hein?

Para que eles não tenham de gritar o NUNCA que eu gritaria, não façam esse papel. Eis aí o tipo de privilégio que é concedido sem o necessário e inconveniente requerimento.

Feito o comentário que acreditei necessário, vamos em frente.

Eu lhes contei, aqui, que comprei, na semana passada, seis caixas de Therezópolis Gold. Quatro pra mim, duas pro Simas.

Paguei tudo, eis que recebi a preciosa encomenda em casa.

O Simas ficou me devendo, portanto, R$54,00.

Encontramo-nos, como é praxe, na tarde de sexta-feira, na Folha Seca.

Disse-me o Simas, a certa altura:

- Lembre-me de lhe dar o dinheiro antes de sairmos!

E eu:

- Não.

- Não?

E propus ao Rodrigo - que consultou, na hora, a Dani, responsável pelas finanças da casa, que por sua vez aprovou o pleito - que concedesse um crédito de R$54,00 na minha conta e, conseqüentemente, debitasse R$54,00 da conta do Simas.

Uma espécie - vê-se - de DOC literário.

Troço comovente.

Até.