31.5.07

NÃO, EU NÃO SABIA

Disso, especificamente, disso eu não sabia.

nota publicada no jornal O GLOBO de 30 de maio de 2007

Mas o Jota - quem mais? - me fez saber.

Torço, agora, para que ele faça o serviço porco por completo e dê o nome dos porcos-sócios do repugnante "clube do talher".

Não interessa a mais ninguém a razão pela qual anseio pela odiosa lista.

E mudando o foco, pra encerrar: que poder tem o homúnculo que o impede de levar um esporro mastodôntico do editor do jornal O GLOBO? A coluneta não chama GENTE BOA e não foi criada para enaltecer o carioca, o carioquismo, as coisas da cidade?

Por que é que temos de ficar sabendo de tamanha podridão e em São Paulo? Que o homúnculo faça, então - repetindo - o serviço completo e dê o nome dos membros da canalha.

É como diria Deus:

- É de foder.

Até.

30.5.07

SIMAS, O POLIGLOTA

Vocês hão de se lembrar o que lhes contei sobre o domingo retrasado, 20 de maio, sobre o qual discorri, brevemente, aqui.

Mas deixei de lhes contar - e agora mais do que contar eu mostro, o que apenas atesta minha condição de preciso do início ao fim, sempre - sobre peculiar faceta daquela tarde, já noite no instante das peculiaridades a que me refiro.

O Simas, esse portentoso brasileiro, esse carioca fundamental, esse historiador maiúsculo, esse amigo imprescindível, pouco depois de ficar extremamente comovido com a lembrança que trouxe à tona - o aniversário de 509 anos da chegada de Vasco da Gama à Calicute -, deu início a uma aula imaginária de História para os presentes. Eu disse "aula imaginária" apenas porque ele não estava no cenário previsível, ou seja, não estava numa sala de aula, lugar onde nosso querido protagonista brilha vivamente - é opinião unânime entre seus milhares de alunos. Mas deu, sim, uma magnífica aula de História, e provarei o que lhes conto. Tenham um pouco de paciência.

Antes, breve confissão.

Tenho uma aguda, corrosiva, destrutiva e intensa inveja dos alunos do Simas. Não há uma única vez em que eu esteja com ele - e são muitas as vezes, ainda bem - e que não chegue um, dois, três alunos que dizem quase que batendo continência:

- Professor! Fui seu aluno!

E há, no olhar desses alunos, um orgulho que me dá dores de úlcera.

Todo mundo foi aluno do Simas. Menos eu.

Já vi velhos, velhas, gente que está, digamos, a um passo da cidade do pé junto, rendendo homenagens a ele. Até esses, eu testemunho, põem as mãos trêmulas e enrugadas sobre a calva cabeça do bom Simas e dizem, sibilando entre as pererecas:

- Professor...!

Voltemos.

Pois a princípio, mantendo uma tradição sua de há séculos, o Simas cantou o hino de Portugal. Notem, ao fundo, o Felipinho, num gesto de nobreza-zona-norte, pagando a conta da mesa inteira.


Não satisfeito, nosso herói, numa afinação germânica, passou a cantar, dando explicações sobre a letra e sobre a melodia - "belíssima", é o que ele diz - do hino da Alemanha. Eu, vão tomando nota do nosso estado, disse apenas:

- Eu conheço a versão húngara!

Eu a cantei, inclusive. Para minha sorte, nada foi gravado.

Mas eis a atuação do Simas:


E fechando a noite, um filme com 3 minutos de duração, com Luiz Antonio Simas dando aulas sobre o hino da África e mais que tais. Notem o dedo indicador apontado na fuça dos alunos imaginários. Notem o olhar virado para as câmeras. Notem que os presentes tiram dúvidas, fazem perguntas... E notem a beleza do momento. Ah, sim. E notem, ao fundo, Joaquim e Terezinha fechando o Rio-Brasília...


Faço aqui, publicamente, uma sugestão ao meu irmão paulista, o Szegeri. Pensemos noutros países, noutros hinos, para que façamos nova rodada em São Paulo com nosso mestre, o Velho!

Até!

29.5.07

OS EMAILS DO SZEGERI

Sempre que espoca um email do Szegeri no monitor de meu computador - seja o de casa ou o do escritório -, e eles espocam como pipoca na panela e não no odioso microondas, dá-se em mim uma sensação quase juvenil de festa. Sinto-me prestigiado, sinto-me lembrado, e ser prestigiado e lembrado pelo maior ser humano vivo sobre a Terra é, convenhamos, um privilégio. Feito o intróito, vamos aos fatos.

Pois na semana passada, mais precisamente no dia 24 de maio de 2007 - exatamente um mês antes de seu aniversário, e eu atribuo a isso o teor do troço... - espocou, logo pela manhã, um email do Szegeri, lindíssimo, como todos os que ele escreve (notem que hoje, como se isso fosse possível, acordei admirando ainda mais o meu irmão paulista).

Li.

E respondi apenas:

"Publicarei, amanhã, este email no Buteco."

Não o fiz, mas o faço agora. Leiam o teor da mensagem, na íntegra:

"Querido, voltei a beber de maneira imunda. Tenho consumido uma quantidade industrial de coisas gordurosas, frituras, acepipes das piores procedências. Voltei à dezena dos 90kg. E o pior: estou gostando.

Atribuo tudo isso à vossa pessoa. Ou, melhor dizendo, a ausência da vossa pessoa.

Bebo sozinho, assisto o futebol sozinho, leio sozinho, escrevo sozinho. Vivo sozinho nesta cidade horrorosa, onde a Barra da Tijuca não é exceção, é regra.

E pra piorar, o inverno hoje instalou-se cruelmente e promete permanecer por uns quatro anos.

Pra piorar tudo ainda mais, 90% dos butiquins desta triste cidade não tem Macieira 5 estrelas, a única coisa capaz de aplacar as minhas aflições.

(ontem fui obrigado a ficar bebendo Jurubeba, como nos velhos tempos, por causa de um ligeiro incômodo hepático)

Há, de maneira geral, uma acentuada tendência para se beber.

Os doces montes cônicos de feno.

Amo você de maneira única."


Antes que alguém julgue louco meu irmão paulista, um aviso. O decassílabo solto no email, "doces montes cônicos de feno" é referência a uma mensagem, belíssima, dirigida a Rubem Braga e escrita por Vinícius de Moraes. Feita a explicação que julguei necessária - e o Szegeri detestará que eu a tenha dado, eu sei - vamos em frente.

Como eu já disse, quando recebi e li esta mensagem, comuniquei - achei ético, e sei que o Szegeri detestará esta justificativa - que a publicaria no BUTECO. E como resposta, veio novo email, no mesmíssimo dia, pouco antes das sete da noite:

"Por causa da sua mensagem, tomei uma dupla batida de pêssego no almoço (feita, como se deve, de uma cachaça abaixo da linha da pobreza) e uma Caracu, o que me custou uma dor de cabeça que persiste até o presente momento (18h23min).

Tomei um comprimido desconhecido oferecido por um colega, que pareceu estar vencido (o comprimido; e agora eu).

Acho que não durarei muito."


Vejam que o assola uma espécie de depressão às vésperas de seu dia de anos. E - o que é pior - toda a sorte de conseqüência decorrentes da dita cuja é atribuída a mim. O que me consome, quero lhes dizer.

E quero lhes dizer outra coisa antes de me despedir: irei a São Paulo, como em todos os anos, passar o aniversário do Szegeri a seu lado, apesar dele nunca ter feito o mesmo comigo (fez esse ano, é verdade, mas por mero acaso, já que veio, mesmo, para faturar o cachê da apresentação no Trapiche Gamboa).

Vou com Dani, é evidente.

Mas a boa nova é que vão, também, Luiz Antonio Simas e Candida.

Eis então o que queria lhes contar desde o princípio: o Szegeri escreveu-me os emails antes de saber que o Simas estava indo a São Paulo também. Como eu acho que faremos São Paulo tremer quando sentarmos à mesa, vi, na frase "há, de maneira geral, uma acentuada tendência para se beber" uma verdadeira profecia. Acho, também, que não duraremos muito.

Até.

27.5.07

TIA LILA FOI OLÓ

O sábado teria sido perfeito se não tivéssemos recebido a notícia, tristíssima, que foi a antítese da alegria que durou o dia inteiro.

Sobre o sábado, suas alegrias e suas surpresas, falo outro dia.

Falo hoje, agora, onze da noite de domingo, recém-chegado de São Lourenço, sobre a tia Lila, Marília Aparecida de Miranda Albim, irmã mais velha do Comandante, meu legendário sogro, que virou saudade pouco depois das nove da noite de ontem.

tia Lila em São Lourenço, ano de 2001

Virou saudade é mera poesia, artifício barato pra diminuir a dor.

Vi a Lila em apenas duas ocasiões: quando estive em São Lourenço, com a Dani, em 2001 - quando foram feitas estas fotografias -, apenas para conhecê-la e quando ela esteve no Rio, pouco tempo depois, para visitar a sobrinhada carioca.

Amamo-nos, entretanto, de maneira torpe, desde o primeiro olhar. Tipo do troço que não se explica.

E falo de um amor que não exigia a presença, se é que me entendem.

Adiei diversas vezes uma nova ida à São Lourenço. Poderia, por isso, ser agora o piegas previsível e dizer que arrependo-me profundamente de ter adiado tantas idas programadas e prometidas. Mas não me arrependo. Ainda que seja mais bonito dizer que sim, que me arrependo.

Ao contrário, guardo intenso orgulho do enredo que vivemos desde o primeiro abraço.

eu e tia Lila em São Lourenço, ano de 2001

Há poucas semanas bati o telefone pra São Lourenço, tarde da noite. Atendeu-me a Patrícia, sua filha. Eu mal disse o "alô" e ela gritou:

- Mãe! É o seu amor...

Fiquei com a tia Lila coisa de dez, quinze minutos, conversando. Lembro-me com nitidez olímpica - Dani por testemunha - de ter dito a ela algumas muitas vezes, encorajado - se é que me entendem - pelas generosas doses de RedLabel daquela noite, que eu a amava intensamente. Ela ria. Até que estendi o telefone pra Dani.

E vi minha garota rindo, rindo muito, até que desligaram. Disse-me a Sorriso Maracanã:

- Tia Lila disse que gosta mais de você do que de mim...

Como diria o Szegeri, meu mano paulista, foi mentira, mas foi lindo.

De pé diante do balcão imaginário do buteco, ergo meu copo - realíssimo, agora! - com muito gelo e uma fabulosa dose de GreenLabel em homenagem a ela. Com meu amor, pra sempre.

Até.

25.5.07

A CANALHA: MODUS OPERANDI

Tudo pode sempre ser pior quando estamos falando do jornal O GLOBO e de sua dispensável revista RioShow, publicada às sextas-feiras. Por exemplo? Uma matéria a quatro mãos, evidentemente que pior graças aos donos das mãos. Os donos das mãos? A Éle e o Jota Éle, duas figurinhas fáceis aqui no balcão do BUTECO.

O título da matéria?

matéria publicada na revista RioShow, de O GLOBO, de 25 de maio de 2007

E sobre o quê é a podre matéria? Sobre os diferentes tipos de cobrança que há nos restaurantes da zona sul da cidade (sempre na zona sul da cidade, não há outra cidade na cabeça dos membros da pandilha que trabalha para o mencionado jornal).

O troço é de fazer vomitar. Ou de revoltar alguns. O que me faz ter certeza de que o dia da grande revolta não tarda. Mas isso é assunto pra outro dia. Vamos a alguns trechos.

A duplinha que assina a matéria conta que "andam um tanto ácidas as relações de alguns clientes do Carlota com a chef Carla Pernambuco desde que a concorrida casa do Leblon instituiu a cobrança de uma taxa para quem quiser dividir prato por lá".

É isso mesmo! Você chega, escolhe um prato e decide que quer dividir com quem lhe acompanha.

Os dois jornalistas (pausa para rir) dão um exemplo: "O acréscimo é de 40%, o que faz com que a partilha do risoto de presunto de Parma com camarões grelhados que ilustra a nossa capa, por exemplo, pule de R$62 para R$86,80".

E a dona da casa-de-merda justifica:

matéria publicada na revista RioShow, de O GLOBO, de 25 de maio de 2007

Ninguém se sente enganado, é verdade, já que o assalto está anunciado no cardápio. Mas quem entra no jogo é, convenhamos, um tremendo otário. E otário tem mais é que se foder mesmo.

No Rio-Brasília, por exemplo, chegou um dia desses um casal fresquinho, egresso do Leblon, freqüentador do Carlota e doido por um programa selvagem escolhido durante folheada no Guia RioBotequim. Deus os atendeu:

- Tem rabada?

E ele:

- Arrã.

- Quanto é?

- Dez paus.

- Dá pra dividir?

- Arrã - tirou cera do ouvido com a ponta da tampa da caneta Bic e continuou - Uns quatro comem pra caralho...

- Mas somos só os dois...

- Então, patrão! ´cês podem se entupir até o talo!

A mulher não escondia o pavor. Ele até que estava achavando divertido. Prosseguiu:

- Dez reais, a rabada?

- Arrã...

- E dividindo uma só pra nós dois, fica quanto?

Deus tirou uma meleca diante do casal:

- Cinco pra cada um. Dez paus.

- Mas vocês aqui não cobram taxa de partilha? - disse ele.

- E se dividir... a rabada não vai ficar feia? - ela disse, histérica.

- Feio é isso aqui, ó! - disse pondo as mãos em concha diante do saco.

Deus ainda mandou os dois à merda e foi intensamente aplaudido pela assistência enquanto o casal partia em direção ao Ford EcoSport amarelo estacionado do outro lado da Almirante Gavião. Eu estava lá com o Simas e vi.

Voltemos à matéria-de-merda.

A duplinha responsável pelo texto (péssimo) dá, ainda, outros exemplos.

Contam que um restaurante japonês, à maneira do que ocorre nos restaurantes que cobram a chamada taxa de rolha - que é cobrada quando o cliente leva o vinho de casa - passou a cobrar a taxa de rosca. E contam que a rosca, no tal restaurante - no Leblon, onde mais? - custa R$50.

Voltemos ao Rio-Brasília. Outro domingo. Outro casal à mesa. Só que dessa vez, um casal gay, frise-se. Ambos vestiam a camisa do Fluminense. Era dia de jogo no Maracanã. Pediram dez sardinhas fritas a Deus, que os atendida contrariado. Até que um deles o chamou à mesa:

- Fala, porra.

- Eu tenho uma garrafa de saquê no cooler, dentro do carro...

- O cu é teu, faz dele o que tu quiser. Quê que tu quer?

A bichinha riu.

- Podemos beber a bebida que trouxemos aqui?

- Pode.

- Mas quanto você cobra pra taxar a nossa rosca?

Ambos deram entrada, vinte minutos depois, na Ordem Terceira da Penitência com várias escoriações pelo corpo.

Mas vamos voltar à matéria para finalizar.

Também é citada na matéria a cozinheira Roberta Sudbrack, ex-empregada doméstica de FHC no Palácio do Planalto - nada contra as empregadas domésticas, é evidente, mas é que a frescona-mór nega suas origens e isso me dá raiva.

Já a citei aqui, quando ACR, a plagiadora, a exaltou em razão de fazer "cozinha autoral das boas". Um nojo, tudo um nojo!

Pois bem. A Sudbrack, hoje dona de um restaurante na zona sul - onde mais? - bateu todos os recordes de preconceito, de falta de sensibilidade, de escrotidão mesmo - por que não dizer a verdade? Leiam vocês mesmos:

matéria publicada na revista RioShow, de O GLOBO, de 25 de maio de 2007

Em apertada síntese, pra quem não teve saco de ler o depoimento da cozinheira: ela cobra R$200,00 por 15 pessoas que ocupam uma mesa de 18 lugares. Fatura, portanto, R$3.000,00. Ou R$3.300,00, porque é claro que ela cobra os 10%. Mas por ficar putinha com o "prejuízo", cobra R$600,00 pelos três lugares vazios.

Essa gentalha - tomem nota - não perde por esperar. O povo não suportará por muito tempo tamanha nojeira em torno de si.
Ah, sim. Só pra fechar. No final da matéria, dão a dica de 12 restaurantes que comungam da mesma prática. TODOS, eu disse TODOS, na zona sul da cidade.

Até.

ERRO CRASSO

Foi o Arthur - ou o 4rthur, que é como ele assina -quem cantou a pedra comentando o texto "INFAME", leiam aqui:

"Edu, infelizmente, creio que essa sua nova seção, tal qual a dedicada ao Jota tende a crescer..."

Referia-se, o 4rthur, à nova seção BARBARIDADES DA ANNA RAMALHO, no link à direita, no menu.

E hoje apresento o terceiro atentado cometido pela citada que - pasmem!, pasmem! - conta, em sua execrável coluna "UI!", com a colaboração de mais dois coleguinhas, Christovam de Chevalier e Bruno Ryfer:

nota publicada no JB de 25 de maio de 2007

Mauricio Shermann, o "bem afinadinho", deu uma PALINHA, foi o que quis dizer a empregada do JB.

PALHINHA pode ser uma porção de coisas, inclusive um grande jogador do Cruzeiro. Menos o que o trio tentou dizer.

Lamentável.

Vai pra galeria de atentados. E este já é o terceiro!

Ah, sim... Notem que acima da nota podre (aliás... que conteúdo, que conteúdo!) há o nome de duas senhoras da alta sociedade da Barra da Tijuca: Vera Loyola e Hosana Pereira, as duas sem o negrito, é claro.

Da primeira eu já tinha ouvido falar. Da segunda, não. Fui tentar saber. Vejam o que achei (neste site, sobre os estrangeirismos na Barra Cada Vez Menos da Tijuca):

"Os moradores se orgulham do aspecto que o bairro vem tomando. Hosana Pereira, casada com "o rei do ferro-velho" (todo mundo na Barra é rei de alguma coisa, já que os emergentes são os ricos que prosperaram graças a negócios pouco prováveis, como padarias, entrega de quentinhas, etc.): "a Barra tem um clima de Miami. Qual é o problema? A gente tem de copiar o que é melhor. E o melhor são os Estados Unidos"

Precisa dizer mais alguma coisa? Não, né?

Até.

24.5.07

O COORDENADOR EDITORIAL

Volto ao balcão pra bater, de novo, com renovado prazer, nesse projeto nojento chamado AMORES EXPRESSOS, sobre o qual já falei aqui (gerando acalorado debate, com 27 comentários até o momento), e que gerou, inacreditavelmente, um site que, na verdade, é um coletivo de blogs desprezíveis, como demonstrei aqui.

E volto ao tema porque deparei-me, hoje cedo, com um email enviado por um leitor do BUTECO, recomendando (se é que me entendem) a leitura do blog do coordenador editorial do tal projeto.

capa do blog de João Paulo Cuenca

O blog, abrigado no jornal O GLOBO, que emprega o coordenador editorial - além do referido blog - intitulado BLOG DE ANOTAÇÕES o coordenador editorial também escreve para o suplemento MEGAZINE, direcionado ao público jovem e que vem encartado no jornal às terças-feiras - trouxe, no dia 20 de maio, um lamentável texto chamado - pausa para a golfada olímpica - "YOU´RE INVISIBLE NOW". Leiam:

"Chegar a Paris depois da canseira que tomei de Tóquio é um alívio. Como aqui não tenho a obrigação de ter idéias e experiências geniais e estrambóticas todos os dias, me sinto descansado e confortável. Tudo aqui é fácil, ao contrário do Japão, onde qualquer saída era um desafio.

Ao mesmo tempo, cada esquina carrega uma lembrança, algumas agradáveis, outras nem tanto. Mas sei conviver com cada uma delas, e nada me tira o prazer de andar por essas ruas.

Sobre voltar, sinto saudades bastante localizadas e específicas. Nenhuma do Rio de Janeiro. Para sentir saudades genuínas da minha cidade em pedaços, acho que precisaria multiplicar a duração dessa viagem por alguns anos.

Não sinto que pertença ao Rio. Não sinto que pertença a nenhum lugar.

Encaro cada viagem dessas como um exercício de desapego. E me surpreendo como me sinto plenamente capaz de abandonar este jornal, minhas publicações passadas e futuras, meus leitores, coleguinhas e editores, para trabalhar como barman numa biboca em Asakusa ou Belleville. Mandaria uma passagem só de ida (vinda) para a menina e não pensaria em retorno.

Por que na verdade não há retorno possível. No final de cada viagem, não sinto que volte para o mesmo lugar – por mais que seja o mesmo lugar. Eu é que nunca volto o mesmo."


Que tal?

O sujeito reclama do projeto que ele mesmo coordena e para o qual foi escalado (por ele mesmo) para escrever quando diz que "(...) aqui não tenho a obrigação de ter idéias e experiências geniais e estrambóticas todos os dias, me sinto descansado e confortável.".

O sujeito reclama, de certo modo, da cidade em que vive quando diz que "(...) sinto saudades bastante localizadas e específicas. Nenhuma do Rio de Janeiro.".

E por fim reclama do jornal que o emprega, dos colegas, dos leitores e de seus editores quando diz que "(...) me surpreendo como me sinto plenamente capaz de abandonar este jornal, minhas publicações passadas e futuras, meus leitores, coleguinhas e editores, para trabalhar como barman numa biboca em Asakusa ou Belleville.".

É como diz Deus:

- É de foder.

Até.

23.5.07

DEPOIS, A CANALHA RECLAMA

Sempre que um imbecil chega pra mim e diz a frase-feita "Direitos Humanos só pra bandido, né?", eu digo, pacientemente - mas minha paciência já acabou - que não. Digo que os Direitos Humanos existem para proteger todo e qualquer homem. Digo que a tortura é desumana, crime inafiançável, e que se o papel do bandido - uso essa linguagem tosca para os imbecis entenderem o troço - é ser malvado, torturar mesmo, matar, roubar etc etc etc (incluídos os bandidos-filhos-das-putas que a classe média condescendentemente chama de "bandidos de colarinho branco", como se isso diminuísse a violência de seus crimes), o papel do Estado é manter a ordem e cumprir a lei.

Razão pela qual me revolta ler o que acabo de ler no site do jornal EXTRA.

Depois, quando esses caras partem pra cima em busca de vingança, sem medir conseqüências e sem escolher alvos, a canalha bate pezinho, veste branco, abraça a Lagoa, estende faixa na janela e depois, como se nada tivesse acontecido, vai ao cinema.

"RIO - Acusados em inquérito policial de torturar, espancar e humilhar com sevícias sexuais detentos do Presídio Evaristo de Morais, o Galpão da Quinta, em São Cristóvão, agentes penitenciários - 36 deles integrantes do Grupo de Intervenções Táticas (GIT) - também poderão responder a processos por homicídio e formação de quadrilha. A polícia está investigando se, entre as vítimas do GIT, acusado de ocupar violentamente a unidade entre os dias 4 e 6 deste mês, está José Januário Pereira Filho, de 24 anos, condenado por assalto.

Internado no hospital penitenciário do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste, o detento morreu no último sábado. A certidão de óbito, do Instituto Médico Legal (IML), informa que o preso morreu de broncopneumonia. Porém, um documento da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) revela que José Januário morreu devido a agressões físicas.

Na notícia-crime que deu origem a um inquérito na 17ª DP (São Cristóvão), 14 presidiários figuram como vítimas. O deputado estadual Alessandro Molon (PT) solicitou à promotora Vera Regina de Almeida que inclua a morte de José Januário na investigação.

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Ministério Público estadual, da Defensoria Pública e da Assembléia Legislativa já entrevistaram mil presos no Galpão da Quinta.

- O estado que descumpre a lei tem de ser punido. Quem paga por esse tipo de violência é a sociedade - disse o presidente da comissão de direitos humanos da seção Rio de Janeiro da OAB, João Tancredo.

As denúncias levaram a Seap a abrir uma sindicância. O coordenador de segurança do órgão e toda a equipe do GIT foram exonerados. O ouvidor da Seap, Paulo Baía, também foi demitido, após enviar ao governador Sérgio Cabral um dossiê sobre o caso.

Segundo as denúncias, os agentes dispararam balas de borracha. Encapuzados e armados com cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, teriam posto os presos nus. Os detentos teriam sido obrigados a rastejar, comer lixo, imitar animais e, entre outras sevícias, desfilar de calcinhas.

Irmã mais velha de José Januário, Andréa Dutra Pereira, de 27 anos, chorou quando viu o detento vivo pela última vez, na quarta-feira passada. Ela afirma ter ouvido do irmão o relato detalhado das agressões sofridas por ele durante a ocupação do Galpão da Quinta.

- Informei o estado dele à Vara de Execuções Penais (VEP) - contou Andréa, cujo irmão só foi internado após a denúncia.

José Januário, que na cadeia se tratava de hanseníase, morava com os pais, em Realengo, antes de ser preso. Abandonou os estudos no 4º ano do Ensino Fundamental. Trabalhava como auxiliar de serviços gerais numa firma de montagem de estandes.

Segundo o pai, o ambulante José Januário Pereira, de 52 anos, se ele estivesse vivo, teria o emprego de volta em breve.

- Meu filho tinha se convertido ao Evangelho na cadeia. Tinha até conseguido o regime semi-aberto, só faltava usufruir do benefício na prática - lamentou o pai, que pretende processar o estado."


Até.

EXAME DE FEZES

Vamos fazer, juntos, e publicamente, uma espécie de exame de fezes, devendo ficar claro que uma matéria podre publicada - onde mais? - no jornal BARRA, que vem encartado em O GLOBO aos domingos, fará o papel das fezes. Leiam comigo, façam seus comentários (fazendo o papel de examinadores), e perceberemos juntos que a podridão, a nojeira, a escrotidão, não têm limites.

Eis o título da merda, que não está sequer assinada:

publicado no GLOBO BARRA de 20 de maio de 2007

Vomitaram? Pois nem comecei.

Desde quando boemia tem grife? Vou recorrer ao Houaiss.

"* substantivo feminino
1 roda de intelectuais, artistas etc. que leva a vida de modo hedonista e livre, bebendo e divertindo-se
2 Derivação: por metonímia.
a vida dessa roda ou vida semelhante que levam outras pessoas
3 Derivação: por extensão de sentido.
vida de quem ama dormir a desoras, divertindo-se em grupo e ger. ingerindo bebidas alcoólicas
4 Derivação: por extensão de sentido. Uso: pejorativo.
procedimento de quem é vadio e pândego
Ex.: vida de b."


Boemia em shopping é coisa de viado.

Mas vamos em frente.

publicado no GLOBO BARRA de 20 de maio de 2007

Nauseados? Pois o exame das fezes ainda não começou!

Notem que informação interessante... E de fato é interessante, pois dá intensa e sólida coerência ao discurso contra esses bares-de-merda. Onde já se viu buteco em centro comercial de luxo? E que bostas são RioDesign e Fashion Mall se não dois miomas ainda não extirpados do corpo da resistente e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro? Heróica e resistente, sim! Foi a Betinha quem me contou, por exemplo, que na semana passada foi almoçar no Bar Brasil, patrimônio da cidade, na Lapa. E o Bar Brasil lotado, com fila! Para que vocês entendam a auspiciosa notícia, basta dizer que o Bar Brasil, hoje, encontra-se cercado, literalmente, praticamente espremido, entre o Antonio´s e o Botequim Informal... que estavam, vejam que beleza, às moscas! A canalha não passará! Voltemos ao exame.

publicado no GLOBO BARRA de 20 de maio de 2007

Esse cidadão, o investidor Leonardo Rezende (sem o negrito, evidentemente), notem bem!, diz que achava que shopping não tinha a ver com buteco. Mas - prossegue - ele notou uma demanda muito grande de clientes e atrativos como estacionamento regular, cinemas e segurança. Com licença... PUTAQUEPARIU! Quem foi a besta que publicou uma merda dessas, minha gente?! Quem? Como se permite isso?

Encerrando a análise da matéria-de-merda, vou deixá-los com a pérola que soltou a superintendente de marketing da empresa que administra o Fashion Mall (!!!!!):

publicado no GLOBO BARRA de 20 de maio de 2007

Quer dizer... a mulher (notem o cargo que a mesma ocupa...) só agora percebeu que buteco (o "pé-limpo" fica por conta da escrotidão da hora) é o que é.

Não passarão! Não passarão!

Diz a matéria-de-merda, ainda, que o Fashion Mall abriga um lixo chamado Metido a Besta - como já havia informado a lamentável Anna Ramalho, aqui -, e o RioDesign o Botequim Informal.

Eu sugiro ao meu irmão Luiz Antonio Simas - e o Felipinho bem que poderia nos acompanhar - que façamos o seguinte... A gente dá uma passada na Rocinha e traça uma picanha na Via Apia com umas casco-escuro e algumas muitas doses de cana. Daí convidamos uma dúzia de malandros da pesada, que - isso é fato - serão amigos de infância depois do primeiro engradado, e vamos todos ao Metido a Besta, dentro do Fashion Mall, mioma maior da cidade ao lado de lixos como New York City Center e Downtown, todos na Barra Cada Vez Menos da Tijuca.

Vai ser divertidíssimo. Até porque poderíamos convocar dona Anna Ramalho, com seus dois ajudantes, para cobrir, digamos, o evento.

Até.

UMA TARDE PORTUGUESA COM CERTEZA

Domingo, 20 de maio. Bateu-me o celular, cedíssimo, Luiz Antonio Simas:

- À feira?

- Desça em dez minutos. Passo aí de carro.

Simas desceu em dez minutos e eu fui, no instante em que o vi, um homem afogado numa certeza: a de que o domingo prometia.

Pequena pausa: essa frase foi de um cinismo olímpico. Todos os domingos me trazem a mesmíssima sensação. Todos.

Rimos de engasgar, os dois, quando percebemos que - é evidente que sem querer - estávamos vestidos rigorosamente iguais. Éramos um par ridículo, bermudas verdes, camisas de malha cinza, tênis e a indefectível bolsa de palha.

Fizemos a feira e fomos, digamos, ao que interessa: à cerveja no Bar do Chico. Bebemos uma, bebemos duas, até que Candida bateu ligação pro marido. Ouvi o Simas dizer, seriíssimo:

- Claro, meu amor, claro. Você deu sorte... Estou exatamente em frente à barraca da pêra... Claro, claro... Quantas? Claro, Candida, claro... Não, não... Nem encontrei o Edu... Não... Chego em dez minutos. Beijo.

Bebemos a terceira e despedimo-nos.

Tínhamos, eu e Dani, marcado para o meio-dia, o almoço de aniversário de 60 anos da Raquelina, surpresa armada pelas filhas, Guerreira e Kaká (sobre a Guerreira e a mãe, leiam aqui).

Fomos.

Fomos - no clube português Trás-os-Montes, na Tijuca - e lá sentamos com duas mais-que-queridas: Sônia, a amada Manguassônia, e a Betinha, amada também.

Vão tomando nota dos desenhos do domingo!

Sônia, Dani e Betinha, no Clube Trás-os-Montes, 20 de maio de 2007

Lá ficamos até às quatro da tarde, quando partimos, os quatro, para o Rio-Brasília. Objetivo? Assistir Flamengo X Goiás.

Pouco antes do jogo começar, chega o Felipinho, ele sim o comandante-em-chefe do Rio-Brasília - o Joaquim bate continência quando o cara aparece e Deus - eis o mais incrível - pede-lhe a benção.

O Flamengo vence o Goiás por 3 a 1, e aparece, sem que tenhamos combinado nada, o Simas.

O relato do Felipinho é fiel - leiam aqui -, não vou me ater aos detalhes, eis que quero lhes contar outra coisa.

Luiz Antonio Simas, Felipinho e Eduardo Goldenberg

À certa altura da noite, já todos calibradíssimos, Flavinho, Manguaça, Guerreira e Marcy já integrando a mesa, Luiz Antonio Simas cai num choro de fazer tremer a pacata Almirante Gavião.

Agarrado a uma garrafa de Mercedes, cachaça oferecida pelo Felipinho (que ainda pagou a conta inteira sozinho, gentileza que a canalha só conhece quando atrelada a alguma troca suja de favores sujos), o nosso historiador maior, Simas, urrava (para desespero do Joaquim, que pedia silêncio):

- Há exatos 509 anos, queridos, Vasco da Gama aportava em Calicute, porra! Em 20 de maio de 1498, Vasco da Gama, o bravo navegador português... - e chorava mais, interrompendo o discurso.

Até que sorveu o que restava da garrafa pelo gargalo.

Ficou de pé.

E comovendo os presentes, cantou, altaneiro, o hino de Portugal, chorando como uma criança.

Brindávamos, ali, à arte do encontro.

Fomos para casa - creiam - dançando em fila indiana, e eu cantarolando a canção que aprendi à tarde, com a apresentação do Grupo Folclórico Guerra Junqueiro durante o almoço lusitaníssimo.


Você está achando que o Simas, por estar bêbado, falou besteira? Enganou-se! Leia aqui!

Até.

22.5.07

E O BRUNO DISSE TUDO!

Há exatamente uma semana eu postava aqui o texto "E O SIMAS DISSE TUDO", leiam aqui.

Comentando o imprescindível texto do igualmente imprescindível Simas, escreveu o Bruno Ribeiro, lá de Campinas:

"Dizer o que diante disso? Camaradas, às armas! Salve nosso Comandante!"

E como o Bruno não é homem de descumprir a palavra, e como o Bruno é também imprescindível na luta pelo que é nosso, faço questão de transcrever, na íntegra, seu fundamental texto "VIRADA CULTURAL É O CARALHO", publicado no excelente PÁTRIA FUTEBOL CLUBE.

Pátria Futebol Clube

É preciso perceber, de cara, a beleza do título do texto, a agressividade contida no título de texto, que demonstra que o camarada Bruno segue à risca o ensinamento que manda endurecer sem perder jamais a doçura. Leiam o texto, do início ao fim, e vocês perceberão que eu assino embaixo, na íntegra. Há tempos eu defendo deixar a resignação e a política da boa vizinhança de lado. É dedo na cara da canalha, mesmo!

"Durante toda a semana passada só se falou na Virada Cultural Paulista, que pela primeira vez teve uma edição campineira. De sábado para domingo foram 24 horas ininterruptas de música, teatro, cinema e exposições. Trabalhei na cobertura do show do grupo Sistema Negro, no Jardim Ieda. A expectativa (não a minha, evidente) era de que o show de rap, que ocorreu diante do sexto distrito policial de Campinas, acabasse em confusão - à exemplo do show dos Racionais, em São Paulo. Típica associação preconceituosa que a classe média faz do rap com a violência - reforçada depois que a Rede Globo culpou o público pelo confronto com a polícia militar. Não cabe agora discutir de quem foi a culpa pela pancadaria, mas é sempre bom lembrar que o problema é o homem e não o lugar de onde ele vem. Só discorda quem não conhece a periferia de perto.

Eu já sabia que seria um show tranqüilo. Depois fui para a redação escrever a matéria, mas não quis participar da Virada Cultural. Comprei um vinho na volta e fiz uma sopa na santa paz do lar, ouvindo a música que gosto, na altura que gosto, na companhia de quem gosto. E isso me basta.

Não participei em nenhum momento do oba-oba geral. Primeiro porque, danem-se os politicamente corretos, esse papo de virada é coisa de viado. E segundo que não tenho mais paciência para shows. Não agüento mais encontrar a mesma "turminha da balada" ou, como gosto de chamar, a "turminha do u-hu". Ela está no "samba-rock pra quem começou a gostar de preto há pouco tempo"; ela está no "rock psicodélico com influências de folclore pernambucano e literatura de cordel"; está no "forró sem cabeça-chata para meninas que dançam ciranda" e agora também na "gafieira que acha que é gafieira só porque tem sax e trombone na formação, mas que não canta samba sincopado e nem samba de breque". Estou cantando a bola em primeira mão: atentem para o surgimento da mais nova moda universitária: a gafieira. E eu, como estou cada vez mais decidido a firmar um pacto com a vida, pacto de só viver o que for verdadeiro, me recuso a estar nesses lugares onde todo mundo se acha o i do mississipi.

A Virada Cultural é feita para essa classe média que, além de não ser produtora de cultura, não entende picas do assunto (embora se ache a grande mantenedora das vanguardas artísticas) e se limita apenas a consumir shows sem qualquer critério. Aliás, o critério que ela conhece é sempre o da quantidade e nunca o da qualidade: se o show está lotado, então é bom. E mesmo assim não pode estar lotado de pobre: tem que ter muita "gente bonita". Cultura no cu dos outros é refresco. Essa é a mentalidade da classe média e é por isso que me recuso terminantemente a compartilhar de seus mesmos gostos e interesses. Venho da classe média também, mas nunca aderi ao seu modo de vida. Estou seguro de não estar falando nenhum absurdo.

Vou explicar melhor a minha bronca. Antes, porém, peço licença ao Eduardo Goldenberg para roubar descaradamente uma citação do Ariano Suassuna publicado primeiro no seu Buteco do Edu:


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O Ariano disse tudo: se for preciso assumo essa briga sozinho, como já tenho feito nos últimos dez anos. O país ainda não está pronto para ser nação e é por isso que alguém tem de meter o dedo no nariz da classe média e dizer para ela: "Você está errada". Também estou certo de não cometer nenhuma injustiça. Injustiça, por exemplo, é o que fizeram com o samba e o choro na programação da Virada. À eles foram dedicados os piores horários e locais: ao grupo Choro Bandido, que está lançando seu segundo CD e tem entre seus integrantes craques como Chiquinho do Pandeiro e Daniel Romanetto, foi reservada uma apresentação às 8h de domingo, no Bosque dos Jequitibás. A mentalidade é: "chorinho é coisa de velho; velho acorda cedo; chorinho é bucólico; manda o chorinho para o bosque". O samba também foi tratado como moeda de troca: apenas Ilcéi Miriam e o grupo do Cupinzeiro foram convidados, entre tantos grupos bons que poderiam ter ocupado outros horários do programa. Sem falar que samba é sempre na praça e nunca no teatro ou nas grandes salas de espetáculo. E também ao samba deram um horário ingrato, quando as pessoas estavam saindo do trabalho. Muita gente saiu da periferia para ver o samba e não conseguiu chegar a tempo, porque dependia de ônibus e às seis da tarde não há ônibus para quem mora do outro lado da ponte. Engraçado como as duas maiores expressões da música popular brasileira são sempre tratadas com desdém pelo poder público e pela classe média - a mesma que gosta de "valorizar" o samba e "resgatá-lo" de algum lugar que ninguém sabe qual seja.

As noites são reservadas sempre aos ritmos estrangeiros (rock, blues, jazz) ou à música com discurso pop de bandas como Cordel do Fogo Encantado. O argumento - posso até ouvir vozes aí do outro lado da tela - é de que o samba não é capaz de lotar o espaço público. Não fossem a hipocrisia e o eufemismo, diriam abertamente: "O samba não é capaz de lotar o espaço público de gente bonita, de gente da nossa laia". Mas então é a hora de nos perguntarmos por que e para quem é feita a Virada Cultural. Para que tipo de público os governos municipais movem seus esforços e investem o dinheiro de nossos impostos? E, Deus meu, de onde tiraram a idéia de que em Campinas não há cultura acontecendo o ano todo?

Domingo, enquanto muita gente ia para a Estação Cultura gritar u-hu, eu fui para a periferia, onde me criei com muito orgulho. E só me arrependo de não ter uma máquina fotográfica para mostrar aqui no blog, batendo o pau na mesa, que o samba não precisa de cartaz e nem do aval da classe média para acontecer e reunir muita gente. A roda, aliás, não é show, é cultura no sentido profundo do termo. Está acontecendo porque tem de acontecer, porque é passada de pai para filho, porque é uma necessidade e toda a comunidade está ao seu redor, confraternizando, dividindo a garrafa de cerveja, o churrasquinho feito na hora, a alegria e a tristeza da vida real. A vida de verdade, sem que ninguém precise fazer tipo para se sentir inserido ou representado. As relações não passam pela questão da roupa, do padrão de beleza, do julgamento moral. Todo mundo é truta, todo mundo é irmão, a partir do momento em que o samba pega e você o respeita. Estou falando do Pagode da Vó Tiana, terreiro localizado na Vila Teixeira, comandado pelo parceiro Juninho Fortaleza (com quem emplaquei Salve a Defumação, um sambão de macumba que já anda nas bocas da negrada da Vila).

"Pessoal, andaram dizendo que a roda de hoje ia ficar vazia por causa da Virada Cultural. Falaram que tava todo mundo indo ver o jazz e ver o rock. E a Vila Teixeira disse não. Todos aqui disseram não à esse papo furado de que a cultura estaria lá, do outro lado da ponte, e que a gente só teria uma opção: atravessar a cidade para poder se divertir um pouco. E nós dissemos não. Dissemos que não é verdade. Porque nós somos a cultura de Campinas. Ela está aqui, na periferia. E não precisa ser convidada para subir no palco. A casa cheia de amigos em dia de samba é a prova de que a nossa cultura é viva e é forte" - disse o pandeirista Cilão, na abertura dos trabalhos, sendo aplaudido de pé por cerca de 300 pessoas.

Lá encontrei Amaury "Velha Arte" e Nelsinho Fidélis - este o maior cantor de samba do Estado de São Paulo. E banco a afirmação se alguém duvidar. Terminada a roda - que contou com a presença de Sombrinha, parceiro de Arlindo Cruz - fomos de táxi para a Vila União, no maravilhoso Bar do Neto. Detalhe: fomos tão longe que o taxímetro marcou R$ 80 ao final da corrida. Adivinha se pagamos? É claro que não! Na quebrada é todo mundo camarada e uma mão lava a outra. E o Amaury tinha crédito na praça. De modo que o taxista também entrou para beber com a gente. E o samba comendo solto na mesa do butiquim. Candeia, Aniceto, Xangô. Vou repetir: Candeia, Aniceto, Xangô. Só sabe a dimensão disso quem é do riscado. E ouvir o primeiro verso é sacar que a cidade não conhece a cidade. E ainda tem muito o que aprender se quiser falar em cultura.

Pergunta se eu paguei a conta? Claro que não de novo! Aliás, acho que ninguém nunca paga a conta. Porque sempre tem alguém que se oferece para pagar a sua, da mesma maneira que alguém pagou a dele e assim por diante. No fim, vai ver, o sujeito pendura e acerta no fim do mês. Eu volto lá em outra oportunidade, deixo uma meia dúzia de Brahmas pagas na conta do cidadão, sem esperar nada em troca. E essas pequenas gentilezas vão gerando mais gentilezas, de modo que cria-se uma espécie de segunda família (para muitos, a primeira) e a roda de samba é onde estas relações se exacerbam, como que num transe. A roda de samba propicia um momento mágico em que você se sente realmente parte de um grupo e sua pessoa passa a ter alguma importância. O sujeito deixa de ser um consumidor passivo para ser agente histórico do que está acontecendo naquela hora. E a alma do bairro, da cidade, da pátria, da humanidade, percorre cada músculo e cada nervo de seu corpo. Sem luxo, sem frescura, sem glamour. Na vivência da única democracia que conheço, que é a roda de samba feita na mesa do buteco. Ali, onde a vida acontece e as pessoas são naturalmente felizes (sem esconder suas dores), a cultura é parte integrante do cotidiano. Não precisa que lhe dediquem um final de semana, nem que a classe média reconheça sua existência e seu valor. O povo lhe faz imortal, não é meu camarada?

PS: O endereço? Não dou nem sob tortura."


Vão, o texto do Simas e o texto do Bruno, para a sessão "EU ASSINO EMBAIXO".

Até.

20.5.07

OUTRO PRESENTE IRRETRIBUÍVEL

Eu digo freqüentemente - e não me canso de fazê-lo - que o cultivo da gratidão é um troço que me ocupa a cabeça e o coração, graças à educação que recebi - e vejam que foi pouco o que absorvi! - de meus pais, Isaac e Mariazinha.

Essa a precípua razão que me fez escrever, em setembro de 2006, uma espécie de inventário dos presentes irretribuíveis que ganhei ao longo da vida até aquele dia, quando meu irmão Luiz Antonio Simas me fez privilegiado, leiam aqui.

Essa a precípua razão que me fez escrever, em janeiro de 2007, um texto agradecendo publicamente o carinho comovente que me fizeram Rodrigo Folha Seca, Daniela Folha Seca e o Bruno, timaço da livraria do meu coração, leiam aqui.

Essa, também, a precípua razão que me fez expor, na vitrine do BUTECO, os presentes que recebemos, eu e Dani, das mãos - literalmente, eis que ela mesmo os fez - da Sônia, leiam aqui e aqui.

Pois bem...

Ontem estivemos, eu e a minha garota, a mulher que me ensinou a sorrir, minha Sorriso Maracanã, na casa de Sonia e Benjamim, para um jantar que nos foi, carinhosa e acolhedoramente, oferecido por eles.

Presentes, também, Marquinhos, Tetela, Regina e Sílvio.

Noite agradabilíssima - voltamos, eu e Dani, encantados com tudo -, samba como música de fundo, boa comida, boa bebida, bom papo, até que aguardávamos o táxi, convocado por telefone.

A menos de 15 minutos da hora de descermos, bati os olhos numa das paredes da sala.

E disse ao anfitrião:

- Há gelo?

Ele, espirituoso, já sacando minhas intenções, respondeu de primeira:

- Há, e há esperança! - e foi buscar o balde de gelo e a garrafa de Chivas Regal.

Pois enquanto eu bebia a saideira - que eu não seria o tijucano íntegro que sou sem ela - percebi Sonia e Benjamim cochichando.

E segundos antes de descermos, já durante a despedida, enquanto fazíamos promessas mútuas de mais noites como aquela, Benjamim foi à parede, tomou a placa entre as mãos e estendeu-me o mais recente irretribuível.

Sou - faço essa confissão com um certo ar de estranho orgulho - um sujeito de sorte.

Vai, a placa, para a parede do BUTECO DO EDU, o real.

Cheguei a brincar com eles, ontem à noite, que poderia, inclusive, ser minha lápide.

Enquanto não chega a hora, que seja apenas um de meus lemas!


enquanto houver gelo, há esperança


De pé diante do balcão imaginário ergo o copo à noite agradabilíssima e ao carinho - irretribuível - dos dois.

Até.

ARIANO SUASSUNA

Às vésperas de completar 80 anos:

publicado no JB de 20 de maio de 2007

Não é à toa que a canalha tenta - sempre em vão, diga-se - denegri-lo.

Ao centenário!

Até.

19.5.07

INFAME

Vejam como é engraçadíssima - permitam-me o deboche olímpico - a coluneta da Anna Ramalho, já devidamente esculhambada aqui.

Saquem a tirada de hoje - na legenda da fotografia -, no caderno BARRA do JB:

publicado no JB de 19 de maio de 2007

De foder, não?

Inauguro hoje, no menu à direita, a seção BARBARIDADES DA ANNA RAMALHO!

Até.

JOTA NA KOMBI

Uma maravilha a atuação do exército que combate a invasão da cidade por parte dos bares-de-merda e pelas frescuras importadas de São Paulo como grande sensação. Ontem à tarde foi o Arthur Mitke quem me deu a dica, veja aqui.

E ontem à noite bateu-me o telefone, o Fraga:

- Edu! Tome nota e saia na frente! Estou saindo da casa do meu irmão e acabei de ver que o homúnculo está na porta do Nakombi, essa excrescência no Jardim Botânico... Em questão de dias... Já sabe, né?

Então, meus poucos mas fiéis leitores, está pontuado.

O jota, como de costume, em sua coluneta, porá o Nakombi nas alturas. É esperar pra ver.

Até.

18.5.07

ANTONIO´S, UMA MERDA ROTUNDA

Foi o Arthur Mitke, grande praça, soldado do nosso exército, quem me deu a dica. E eu, de voleio, divido com vocês.

E divido com vocês cheio de alegria. E por quê?, dirão vocês.

Porque eu tenho uma satisfação extraordinária quando vejo que meu discurso, que nosso discurso, tem de sobra o que anda cada vez mais em falta por aí: coerência.

Vejam que NOJO (em caixa alta, para que eu seja veemente) a propaganda que o Antonio´s, esse bar-de-merda que conspurcou sem qualquer pudor o legendário e verdadeiro Antonio´s (esse sim, em negrito), comandado pela máfia espanhola e pelo testa-de-ferro que atende pelo mesmo nome, faz no site RioFesta (o site também é um nojo, o que dá contornos ainda mais bonitos de coerência a tudo).

Eu vou transcrever o texto, já que possivelmente o link não é permanente:

"Antônio´s é um dos botecos pé-limpos que faz parte da Lapa. A casa aposta em um segmento raro no Rio, o uísque e também em bebidas elaboradas especialmente para as mulheres. No cardápio, opções de acepipes e pratos criados especialmente para o novo empreendimento, como o pastel de pêra com gorgonzola a R$ 3,50; medalhão ao molho de açafrão e pimenta rosa por R$ 42,00 ou a truta ao molho de castanha de caju e manjericão, acompanhada de purê de batata doce a R$ 38,50."

Com licença...

PUTAQUEPARIU!!!!! !!!!! !!!!! !!!!! !!!!!

"segmento raro no Rio, o uísque", "opções de acepipes", "novo empreendimento"... notem que a podridão não tem limite.

Agora... pastel de pêra com gorgonzola?!

Coisa de viado!

À merda, os empreendedores.

Ah, sim. O link é esse aqui.

Até.

PROGRAMÃO EM SÃO PAULO

Eu não sou homem dado a sentimentos baixos, como a inveja, por exemplo, que é o sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade e pela prosperidade de outrem, ou pelo desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído ou gozado por outrem. Mas deve haver - pensei na cobiça, mas não gostei do resultado final... - um nome para o desejo irrefreável de gozar, não em caráter exclusivo, o que é gozado por outrem. Explico.

Antes de explicar, brevíssima pausa para ainda mais breve relato sobre a noite de ontem.

Mamãe completou ontem, como lhes contei aqui, 60 anos. E houve, no Alto da Boa Vista, um jantar para nossa pequena tribo.

Jantávamos todos, à mesa, quando estrilou meu celular. E o nome piscando no azul, SZEGERI CELULAR. Eu disse:

- Ih! É o Szegeri!

Deu-se o rebuliço.

- É pra mim! - disse uma orgulhosa mamãe.

- Deixa eu falar com ele! - gritou meu pai.

- Ah, meu netinho de São Paulo... - gemeu vovó.

- O melhor ser humano que já conheci! - imitou-me o Fefê.

- Quero contar que comprei um apartamento, me passa o telefone - pediu o caçula.

- Quero dar um beijo no meu quelido... - disse lânguida, minha menina.

- O barbudo? Quero também! - urrou a cozinheira, da cozinha.

Nisso, eu atendi:

- Alô?

- Será que você não dimensiona que é com minha mãe que eu quero falar?! Chame-a! - foi a ríspida resposta - estou acostumado... - que recebi.

E mamãe era só sorrisos enquanto falava com o Szegeri.

Nem quando eu cheguei com uma braçada de sessenta rosas mamãe foi tão efusiva. Aliás, ao contrário.

Eu estendi a imensa braçada e ela disse, muxoxando:

- Sessenta?

E eu, crente que abafava:

- São...

- Que coisa mais óbvia, Eduardo. Ridículo.

E lançou as flores atrás da porta da sala.

Falou mamãe, falou papai, falou vovó, falou Fefê, falou o Cristiano, falou a Dani, falou a Marina, até que o telefone chegou a mim.

- Alô?

- Tchau.

E senti a porrada que foi o telefone no gancho.

Eu lhes contei sobre isso apenas para fazer o gancho (notem como é multifacetada a palavra "gancho").

Eu daria tudo para estar hoje à noite em São Paulo. Os Inimigos do Batente, grupo do qual faz parte meu mano Szegeri, a quem amo deslavadamente mesmo sofrendo as piores humilhações, recebem ninguém menos do que Wilson Moreira, para uma puta roda de samba a partir das dez da noite.

Eu ia pedir a ele, Szegeri, uma passagem para que eu pudesse ir assisti-los. Devido ao tratamento recebido, nem tentei de novo.

Fica, porém, a dica.

Programaço imperdível para quem está em São Paulo.

Clique na imagem para maiores detalhes.



Até.

ESPELUNCA CHIC: MODUS OPERANDI

Não! Você não está maluco se está com a ligeira sensação de que já leu algo aqui no BUTECO com esse mesmo título! Leu aqui, sim. Da mesma forma como leu, aqui, "BOTEQUIM INFORMAL: MODUS OPERANDI".

É que esses bares-de-merda têm uma única preocupação: o lucro a qualquer preço, a multiplicação de sua rede, o fortalecimento de sua marca e outras baboseiras do gênero.

publicado no RioShow, de O GLOBO, em 18 de maio de 2007

O que dizer, além de um rotundo bem feito, para o incauto freqüentador do bar-cocô?

Até.

17.5.07

SESSENTA ANOS

Eu não sei decifrar, exatamente, que espécie de emoção é essa, a que umedece os olhos do filho mais velho da mulher que completa sessenta anos, atônito, dentro do metrô, no meio do dia. Dirão os insensíveis que trata-se apenas e tão-somente de um número bonito, redondo, e só. Mas hoje, passava um pouco do meio-dia, senti sobre meus ombros, aparentemente mais fortes do que são graças ao volume do terno preto, o peso dos sessenta anos da minha mãe, a Formosa, que é como a chama o caboclo, amigo meu desde antes de eu nascer.

minha mãe e eu, 1969

Não foi o freio brusco do metrô que me fez quase cair, foi o violento arremesso em direção ao passado, e busquei, com as mãos trêmulas, o telefone celular no bolso superior esquerdo do paletó. Bati ligação pra Dani, a mulher que me ensinou a sorrir, e só consegui dizer, comovidíssimo:

- Mamãe faz sessenta anos hoje...

É que a voz da Dani remete-me à sua imagem, e aquele sorriso iluminado foi que manteve-me de pé no trajeto da Carioca até o Largo do Machado, apenas por ter me dito um ou outro carinho quando notou-me mexido.

Haverá, hoje à noite, na contramão dos estardalhaços que costumam marcar datas como essa, um jantar simples, como ela, a aniversariante, que reunirá o cacique, sua formosa, três curumins, a mulher mais velha da tribo e vai haver, tenho olímpica certeza, festa no terreiro, se é que vocês me entendem.

Axé, minha mãe.

Até.

16.5.07

BANHO DE CAPUCCINO

Depois não sabem a razão (e essa é uma dentre tantas...) pela qual eu implico, olimpicamente, com a Barra Cada Vez Menos da Tijuca.

Fui dar uma sacada no suplemento BARRA do JB de hoje.

E deparei-me com a seguinte imagem...

E deparei-me com o seguinte texto...

"A Dicorp preparou um programa especialíssimo chamado Dinoivo. O pacote inclui esfoliação corporal, limpeza de pele, banho de capuccino e massagem relaxante. Tudo para o noivo sentir-se belo e relaxado. (...) O pacote faz o maior sucesso e reforça que os homens modernos não têm medo de mostrar a vaidade."

Eu não sei, exatamente, se vocês vão me entender. Mas numa hora dessas dá um tremendo orgulho de ser da zona norte, de ser doido pelas biroscas e pelas ruazinhas do subúrbio, de ter sido criado com os pés no chão, com joelhos esfolados de tanto jogar botão ajoelhado, de ter tido um pai que ansiava pelo carnaval pra poder mostrar pros filhos as mulatas monumentais do Bafo da Onça ou do Cacique de Ramos.

Eu sou do tempo - e do bairro - em que noivo, pra se sentir belo e relaxado às vésperas do casamento, contratava meia-dúzia de moças lindas, lindíssimas, chamava uma pá de amigos pra farra, e varava a noite numa tremenda carraspana, amanhecendo com as meninas em flor, nuas em pelo, fazendo cafuné e massagem relaxante no pessoal.

Até.

RESPOSTA A UM DESAVISADO

Recebi hoje, às 18h40min, para aprovação através do sistema de moderação do BUTECO, um comentário anônimo feito ao texto "E O SIMAS DISSE TUDO!", que pode ser lido aqui.

É evidente que não o aprovei. Comentários anônimos nunca são, nem jamais serão, aceitos no balcão imaginário do meu buteco. O anonimato, nesses casos, está sempre de mãos dadas com a covardia, com a frouxidão, com a falta de caráter.

Mas começa assim o comentário (escroto do início ao fim, diga-se):

"Bem, se vocês forem democráticos, aceitarão a minha opinião: (...)"

E dirigindo-me ao covarde (que eles sempre voltam pra checar se obtiveram êxito em suas empreitadas), digo: "se vocês forem democráticos" quem, ô, babaca? Essa porra desse blog é meu. Eu já disse, inclusive, sobre o assunto, o seguinte:

"Um blog é público, isso é fato. O que não significa que o público que o visita pode dele (e nele) fazer o que quiser. O BUTECO DO EDU, inclusive, tem esse nome porque pretendi, desde que o inaugurei, em março de 2004, fazer dele um buteco virtual, com balcão, porradaria entre os clientes e essas bossas que nos comovem. Mas é meu. E eu não quero, aqui, gente da laia de um cidadão que escreveu um comentário na madrugada de ontem pra hoje, dizendo algo como "que absurdo essa campanha contra os pés-limpos". Quem acha isso um absurdo que vá a uma merda dessas com o Segundo Caderno d´O Globo aberto pra ler o jota (minúsculo e sem negrito, que ele não merece) ou o Caderno Ela, do mesmo jornal, editado pela ACR, a plagiadora (leia aqui). Aqui não terão mais vez nem espaço no balcão. O balcão é imaginário mas é meu. E os tempos, meus poucos mas fiéis leitores, estão muito mais para o enfrentamento e o radicalismo do que para a convergência hipócrita e a resignação."

Está respondido.

Mas para que vocês, meus poucos mas fiéis leitores, tenham vaga idéia do nojo que é o comentário da lavra do covarde, eis as últimas palavras contidas no troço:

"Por tudo isso, sou mais o Devassa e outros que o texto mete o pau. Muito mais bonitos..."

É ou não é coisa de viado?

E tem mais...

Ficou irritadinho com essa expressão "coisa de viado"? Então leia isso aqui.

Até.

15.5.07

O NOJO ANUNCIADO EM FORMA DE BLOG

Em 23 de março de 2007 eu escrevi "AMORES EXPRESSOS: NOJO ANUNCIADO", que pode ser lido aqui, texto que rendeu, até o momento, 27 comentários.

O projeto - tão discutível quanto nojento - caminha a passos largos, e é interessante conhecer o site que - como dizer? - abriga o troço (basta clicar na figura para conhecer a coisa).

site do projeto ´Amores Expressos´

É interessante porque lendo o que vai ali você tem exata noção da dimensão da baboseira que é.

Até.

E A MERDA SE ESPALHA...

Há que se ter estômago pra conseguir ler a coluneta que descobri só hoje, xeretando alguns jornais na grande rede...

Chama-se UI! (isso mesmo... "ui!"...), é publicada no caderno BARRA, do JB, e é assinada por uma jornalista (?!) chamada Anna Ramalho, que conta com a colabroração de Christovam de Chevalier e Bruno Ryfer, todos sem o negrito.

Façam uma idéia do nojo que é.

É sobre a Barra Cada Vez Menos da Tijuca e assinada por esse trio, ó... genial!

Até.

E O SIMAS DISSE TUDO!

No dia 09 de maio, quarta-feira passada, quando escrevi valendo-me do dosador imaginário (leiam aqui), escrevi o seguinte, grifado o trecho que importa:

"Na sexta-feira passada, 04 de maio, eu, Simas e Rodrigo Ferrari demos uma pequena entrevista para uns estudantes da PUC que estão fazendo um trabalho sobre butecos, e justo comprando a briga que eu compro aqui, há anos, contra esses bares-de-merda que invadem a cidade. Foi no segundo andar da livraria Folha Seca, e foi - confesso com a modéstia deixada de lado, que modéstia demais também é coisa de viado - absolutamente divertido. Seguramente a repercussão será mínima, ínfima, já que trata-se de um trabalho para a faculdade... Mas que foi muito bom ver que tem gente pensando como a gente e disposta a divulgar a coisa, foi. O astral na livraria estava, pra variar, perfeito - Cassio Loredano e Betinha regendo o furdunço - e vou tentar, em breve, pôr aqui umas imagens da entrevista na qual, é claro, destacou-se o monstruoso Luiz Antonio Simas, dando a mim e ao Rodrigo a perfeita dimensão de nossa importância: nenhuma."

Feitas a transcrição e o grifo necessário, vamos ao que interessa.

O Simas domina as palavras como se fosse, delas, o criador. É claro. É suscinto. É direto. É sábio...

(estou aqui, adjetivando Luiz Antonio Simas e me dando conta de que, além do medo que tenho dele - confessado aqui - tenho pelo caboclo uma extremíssima admiração, crescente a cada dia)

Enfim... Conto-lhes tudo isso apenas para dizer que eu, que faço do BUTECO uma trincheira em defesa dos butecos mais vagabundos, aos quais não resisto, nunca consegui dizer tanto em tão poucas palavras, como meu querido Luiz Antonio Simas, em seu obrigatório blog HISTÓRIAS DO BRASIL. Leiam vocês mesmo, ou confiram aqui:

"RESISTIR É PRECISO

Vivemos, e isso não é novidade alguma, uma época de uniformização dos costumes, fruto deste tal "mundo globalizado". Em todo canto desse mundo velho sem porteira, gerido por mega-redes transnacionais de telecomunicações, são consumidos os mesmos filmes, utilizadas as mesmas roupas, ouvidas as mesmas músicas, falado o mesmo idioma, cultuados os mesmos ídolos. Nessa espécie de culto profano, em que a vida cotidiana é regida pelos rituais em louvor ao mercado, esse profano deus, o bicho pega e as idéias morrem.

Vivemos o fracasso das ideologias e das grandes instituições. Eu, que trabalho com alunos adolescentes e adultos, percebo que as crenças e projeções de futuro da rapaziada foram substituídas pelo pânico cotidiano - do assalto e das doenças, no âmbito pessoal, às catastrofes ambientais, na esfera coletiva. Cria-se uma lógica perversa - como posso morrer de bala perdida ou sucumbir ao aquecimento global, preciso viver intensamente o dia de hoje.

Ocorre que essa valorização extremada do tempo presente é acompanhada pela morte das utopias coletivas de projeção do futuro. Não há mais futuro a ser planejado. Somos guiados pelos ritos do mercado e abandonamos o mundo do pensamento, onde se projetam perspectivas e são moldadas as diferenças. Restaram, talvez, duas tristes utopias possíveis, em meio ao fracasso dos sonhos coletivos - a de que seremos capazes de consumir tal produto e a de que poderemos ter um corpo perfeito.

Transformam-se , nesse tempos depressivos, os shoppings centers e as acadêmias de ginástica nos espaços de exercício da utopia, onde poderemos comprar produtos e moldar o corpo aos padrões da cultura contemporânea - o corpo-máquina dos atletas ou o corpo-esquálido das modelos.

É aí, e eu queria falar disso desde o início, que localizo na minha cidade o espaço de resistência a esses padrões uniformes do mundo global - o botequim. Ele, o velho buteco, o pé-sujo, é a Ágora carioca. No botequim não há grifes, não há o corpo-máquina, o corpo-em-si-mesmo, a vitrine, o mercado pairando como um deus a exigir que se cumpram seus rituais.

O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da porrada, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da alegria do novo amor, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar.

É nessa perspectiva que vejo a luta pela preservação da cultura do buteco, capitaneada por gigantes no assunto como meu mano Edu Goldenberg e o mestre Fernando Szegeri, como algo com uma dimensão muito mais ampla que o simples exercício de combate aos bares de grife que , como praga, pululam pela cidade.

A luta pelo buteco é a possibilidade de manter viva uma Ágora efetivamente popular, espaço de geração de idéias e utopias - sem viadagens intelectuais, mas fundadas na sabedoria dos que tem pouco e precisam inventar a vida - que possam nos regenerar da falência de uma (des)humanidade que limita-se a sonhar com a roupa nova e o corpo moldado. O botequim é o anti-shopping center, é a anti-globalização, é a recusa mais veemente ao corpo-máquina dos atletas olímpicos ou ao corpo doente das anoréxicas - doença comum nesse mundo desencantado.

Ali, entre garrafas vazias, chinelos de dedo, copos americanos, pratos feitos e petiscos gordurosos, daquele mar de barrigas indecentes, onde São Jorge é o deus e mercado é só a feira da esquina, a vida resiste aos desmandos da uniformização e o ser humano é restituído ao que há de mais valente e humano na sua trajetória - a capacidade de sonhar seus delírios e afogar suas dores e medos na próxima cachaça. É onde a alma da cidade grita - Não passarão!

Essa guerra, amigos, é muito mais significativa do que imaginam os arautos do bom gosto e da tolerância."


Até.

12.5.07

O JOTA FAZ MESMO ESCOLA...

Ontem fui, a trabalho, a Cabo Frio. Como tenho ligeira aversão a dirigir e como ler durante meus deslocamentos de ônibus por aí é troço que me dá intenso prazer, decidi ir e vir - evidentemente - e no mesmo dia, de 1001.

Na pasta, além de "O quinteto de Buenos Aires", do estupendo Manuel Vázquez Montalbán - que estou relendo - os jornais do dia.

Antes de mergulhar no policial - que recomendo calorosamente - fui aos folhetins.

Fui aos folhetins e, confesso, quase chorei de desânimo.

Quase chorei de desânimo porque é triste, tristíssimo, eu que sempre fui um ardoroso leitor do JB, perceber que tem gente empregada no outrora glorioso e hoje claudicante diário carioca, que não merece, simplesmente não merece, estar ali.

E notem que falo de uma jovem, pelo que pude xeretar na grande rede - chequem aqui.

Trata-se de Carol Zappa.

A moça - e posso estar equivocado, mas é o que dá a entender a revista que li ontem! - é responsável pelas seções GASTRONOMIA e HUMPF!, sendo aquela primeira, é claro, dedicada à gastronomia e esta última uma coluna bem semelhante à coluna PROGRAMA FURADO, d´O GLOBO, onde os leitores fazem suas queixas, como aqui e aqui.

Mas vamos ao que li.

Na coluna GASTRONOMIA, a moça já me causou ânsia de vômitos só com o título da matéria. Ei-lo: "Abaixo a ditadura da cerveja - nada contra a loura gelada, mas restringir-se à cerva é como contentar-se com uma piscina enquanto há um oceano a explorar. Oceano de bebidas variadas, como as mais saborosas misturas. A ´Programa´ dá o caminho das pedras (de gelo, claro)".

Daí ela parte para exaltar bebidas-babacas como "Apple Martini", "Cosmopolitan", "Piscinão", "Double G", bebidas que - diria meu irmão Simas e eu corroboro - são coisas de viado. Imagina o Borgonovi entrando no Rio-Brasília e pedindo a Deus:

- Um Double G, por favor...

A resposta, digo sem medo do erro, seria um "aqui, ó!", com as mãos em concha avolumando o saco.

Mas vamos seguir.

A matéria é uma ode à babaquice. A repórter entrevista gente que não gosta de cerveja e exalta uns bares que devem ser - não conheço nenhum, graças a todos os deuses - um lixo. Eis alguns nomes: Miam Miam, Bar d´Hôtel, Caroline Café, 00, Drinkeria Maldita, Two Lounge, Zazá Bistrô Tropical, e outras merdas do gênero. Aliás, eu me dei ao trabalho de contar os eleitos pela moça e tenho um motivo de intenso orgulho e quero dividi-lo com vocês...

São vinte - eu disse vinte - endereços indicados. TODOS, sem exceção, na zona sul da cidade. Aqui na Tijuca, pedaço carioca da cidade, e no glorioso e ainda mais agudamente carioca naco do Rio de Janeiro, o subúrbio, essas bostas não chegam. Chegando, não vingam. Vamos seguir.

O ápice-babaca da matéria?

Vejam.


Carol Zappa entrevista e fotografa três pessoas. E o que têm, essas três pessoas, como credencial para estarem na matéria? Fundaram - vejam se pode haver coisa mais babaca, como diria minha velha mãe - a Confraria do Cranberry (peço seus comentários, Luiz Antonio Simas!).

O trecho destacado na imagem aí de cima diz que a jornalista (risos) Verônica Bittencourt, tem como lema (pra vocês verem que não se faz mais jornalista como antigamente, salvo raras exceções) "a procura pela bebida perfeita".

E então diz (ou "protesta", como prefere a repórter) Julio Teixeira, 23 anos, "outro componente da confraria":

"O drinque - coquetel predileto das moçoilas do seriado "Sex and the City" - não é muito difundido por aqui, e muitos não são preparados com os ingredientes originais - suco de cranberry e triple sec, uma espécie de cointreau. Aí ficam horríveis".

Não vou dizer mais nada para não ser acusado de intolerante. Mas eu imagino como devem ser divertidos esses encontros da confraria dessa porra.

Terminei de ler a matéria nauseado. E pensei - juro - que a moça, a tal Carol Zappa, não seria capaz de nada pior.

E tomem nota! Eu nunca, nunca mesmo, lera nada da lavra zappiana.

Mas ela conseguiu se superar. E a tristeza veio daí... Que ela não saiba escrever, que ela cometa erros bárbaros como esse que mostro a seguir, vá lá. Afinal, uma moça que tem coragem de assinar uma matéria como essa a que me referi, não tem pudor mesmo, nem mesmo o pudor gramático, basilar para um jornalista. Mas e os editores? E os revisores? Passou por todo mundo isso?


Solenemente puto, despeço-me.

Até.

11.5.07

BOTEQUIM INFORMAL: MODUS OPERANDI

Na mesmíssima linha do que apontei aqui, expondo uma carta publicada no jornal O GLOBO na seção Programa Furado, que demonstra bem o modus operandi dessas redes de bares-de-merda que empesteiam a cidade - no caso a insatisfação de uma cidadã que foi maltratada e lesada no Espelunca Chic -, volto a gritar, de pé diante do balcão imaginário, um BEM FEITO rotundo, dessa vez em direção a essa incauta, coitada, que foi tratada como lixo pelo segurança (!!!!!) do lugar.

Importante, também, prestar atenção na resposta estúpida do sócio do Botequim Informal, filial Ipanema, que convida a moça e suas amigas "a voltarem à casa para conhecer nossa equipe e desfazer a má impressão".

Muito provavelmente a pobrezinha NUNCA (com ênfase szegeriana) lerá isso que agora escrevo...

Mas se por acaso ler, ficam minha sugestão e meu convite: não voltem jamais àquela bosta. E dêem um pulinho no Rio-Brasília para conhecer a equipe de lá (se você disser ao Joaquim que quer conhecer sua equipe... sei não...). Deus, eu garanto, abençoará vocês!

Até.

9.5.07

DO DOSADOR

Quando o tempo é escasso - como hoje - preciso que as coisas sejam ditas todas quase que ao mesmo, em conta-gotas, como se servidas com o auxílio luxuoso de um dosador.

* falar sobre a comemoração pública de meu aniversário (houve a privada, familiar, fechadíssima) ficou, em função das finais do Campeonato Carioca, pra depois. As fotos estão todas aqui, e não há muito, mesmo, o que falar. Apenas que, como sempre acontece, eu fiquei com a sensação, que é realíssima e mais forte a cada ano, de que vi muita gente e não falei com ninguém. Mas é preciso dizer uns troços, ainda que rapidamente. Ganhei de presente da Marluci o que encarei como uma espécie de patuá, e acabou dando certo! A camisa 14 do Paulo Sérgio, a maior promessa e a maior aposta do Flamengo, com apenas 17 anos de idade. Egressa do Maracanã, depois do eletrizante 2 a 2, assim que recebi a camisa decidi que a guardaria para sempre, até que se torne uma relíquia. Eis a minha aposta privada, particular, fechadíssima. Foi comovente ver duas pessoas, dois meninos (se comparados comigo, uma múmia), saindo no tapa pra decidir quem pagaria minha conta e de Dani. Não lhes direi os nomes, que vaidade é coisa de viado (sempre que puder repetirei isso, já que o Simas provocou em mim o desejo da campanha cívica e politicamente incorreta, leiam aqui). Falei em camisa de time de futebol, falei em Simas e preciso dizer que ganhei, do meu amigo querido, a camisa do Íbis, o pior time do mundo, que eu vesti, orgulhoso, durante toda a noite. Ah, sim. E pra terminar o capítulo sobre meu aniversário. Deve ser a crise econômica, mas foi o ano em que ganhei menos presentes. Mas o que ganhei de promessa de presente não no gibi: "o pre-sen-ti-nho vem de-pois..." (por que as pessoas que dizem isso separam tão nitidamente as sílabas das palavras da frase feita?), "puxa esqueci sua lembrancinha...", essas merdas. Lembro que pra uma pessoa (não digo o sexo nem a porrada), hexacampeã em mãos-abanando, eu disse:

- Porra... se tu for deixar pra me entregar os presentinhos que vêm depois desde 2002 tu tá fodida...

Ela (a pessoa) sorriu amarelo; e não me dirigiu mais a palavra durante toda a noite. Ser sincero é foda!


* no dia primeiro de maio o Fefê, meu irmão siamês, que faz anos hoje, decidiu receber em sua casa - que ele divide com o Victinho - a trupe Szegeri: Fernando, Stefânia, Iara, Rosa e Cecília. A belezura que é o Rio de Janeiro e o modus operandi de seus moradores do Túnel Rebouças pra cá fez com que o petit comité se transformasse numa festa de proporções bíblicas. Eu sempre digo que depois do advento do celular tornou-se impossível calcular as coisas mais simples do mundo, como a quantidade de pessoas que vai almoçar na sua casa. Os celulares tocavam e a casa foi enchendo... Betinha, Flavinho, Alex Justo, Márcia Frantz, Guerreira, Marcy, Mariana Blanc, Marquinho Presidente, papai, mamãe, e a noite acabou se transformando numa festa de despedida - ou, como prefiro, de até breve! - do meu mano paulista. Fizemos, nós dois, a feira pela manhã, bebemos com o Simas num buteco que descobrimos há pouco numa ruazinha escondida da Tijuca, e fizemos, juntos, a bóia enfezada que sustentou a macacada durante a gloriosa tarde do feriado.


* na véspera, o grande Nézio recebeu em sua casa os Inimigos do Batente para uma feijoada e um churrasco. Como na casa do Fefê, o troço cresceu e no final da noite fomos brindados pela presença do Wilson Moreira, que cantou acompanhado pelo violão endiabrado do Prata, convocado por mim pelo celular, às pressas! E salve a zona norte!


* na sexta-feira passada, 04 de maio, eu, Simas e Rodrigo Ferrari demos uma pequena entrevista para uns estudantes da PUC que estão fazendo um trabalho sobre butecos, e justo comprando a briga que eu compro aqui, há anos, contra esses bares-de-merda que invadem a cidade. Foi no segundo andar da livraria Folha Seca, e foi - confesso com a modéstia deixada de lado, que modéstia demais também é coisa de viado - absolutamente divertido. Seguramente a repercussão será mínima, ínfima, já que trata-se de um trabalho para a faculdade... Mas que foi muito bom ver que tem gente pensando como a gente e disposta a divulgar a coisa, foi. O astral na livraria estava, pra variar, perfeito - Cassio Loredano e Betinha regendo o furdunço - e vou tentar, em breve, pôr aqui umas imagens da entrevista na qual, é claro, destacou-se o monstruoso Luiz Antonio Simas, dando a mim e ao Rodrigo a perfeita dimensão de nossa importância: nenhuma.


* É evidente que por se tratar de um queridinho da TV Globo, a máquina produtora de cocô em série no Brasil desde que foi implantada no país por um nefasto e obscuro acordo - engraçado como vai ter gente que vai julgar esse discurso antigo, mas mais adequado que nunca em tempos de emburrecimento massificante - o Miguel Falabella será poupado por tudo e por todos. Ocorre que recentemente, num desses domingos em que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro oferece, em suas salas, ingressos para o teatro a R$1,00 (um real), durante a apresentação do musical "Império", no Teatro Carlos Gomes, o afrescalhado ator esqueceu a fala de seu personagem. E dirigiu-se assim ao público:

"Mas também por R$ 1 eu não tenho a obrigação de decorar o texto".

E ainda acrescentou outra fala ao personagem:

"E quero baixar um decreto: nas noites de R$ 1, fica proibido o uso do banheiro. Ora, por R$ 1 ainda querem o quê? Vão fazer xixi na rua!"

O imbecil disse que tratou-se, apenas, de uma brincadeira.

Brincadeira de mau gosto, covarde e humilhante com o povo que vai ao teatro nesse dia não porque quer, mas porque é quando pode. Um comportamento arrogante que deveria merecer uma resposta à altura dada pela Prefeitura, que patrocina o musical, e um intenso repúdio por parte da impresa que bajula esses babacas.

Aliás... coisa de viado, isso que ele fez.


* Faz anos hoje, como já disse, o Fefê, meu irmão. Ergo, do balcão imaginário do buteco, meu copo à sua saúde pedindo a todos os deuses proteção a quem não pode - peço isso todos os dias - me faltar.

Até.

8.5.07

A VÉSPERA DA FINAL

No sábado, véspera da grande final entre Flamengo e Botafogo, dia 05 de maio, fez anos a Beth Carvalho, alvinegra desde que o samba é samba. Estive em sua casa e assim que cheguei, e assim que a vi, disse, sinceríssimo:

- Felicidades hoje e sempre, querida... Menos amanhã!

Ela riu, achou graça, e eu fui recuperando, aos poucos, a cor (trata-se de mera força de expressão, estou branco como nunca). E por que - hão de perguntar vocês - recuperando a cor?

Porque fui de carona com o Prata. E o Prata, vocês sabem, dirige com habilidade inversamente proporcional à habilidade com que maneja o sete cordas. Se não sabem, saibam lendo isso aqui.

Estava eu, na manhã do sábado (conto-lhes depois sobre isso), no glorioso Mercadão de Madureira, quando estrilou meu celular:

- Edu?

- Fala, menino!

- Não sei como chegar na casa da Beth. Vamos juntos?

- Evidente. Vamos de táxi.

- Não! Eu passo e pego vocês.

- Não... Eu prefiro ir de tá...

- Pego vocês às duas.

E desligou.

Ele desligou e eu entrei, imediatamente, em pânico, numa daquelas lojas especializadas do Mercadão, se é que vocês me entendem, e pedi uns troços bem fortes como proteção emergencial. Saí de lá com velas e defumadores, chifres de vários bichos, plantas diversas, alguidares e moringas, que subir o Alto da Boa Vista dentro do Dorival pilotado pelo Prata não é pra qualquer um.

Voltamos, de Madureira pra casa, eu e minha garota, já entoando cânticos religiosos durante o trajeto, imaginando o pior.

Até que às duas da tarde, em ponto, o menino de 87, implacável, estaciona diante de nosso prédio. Estaciona é também força de expressão. Ele literalmente destrói o canteiro diante do edifício com o pára-choque dianteiro do Dorival. Seguimos caminho e preciso lhes dizer em nome da precisão que não me larga: tivéssemos optado pelo 233, eu e Dani teríamos chegado ainda uns 45 minutos antes do Prata. O Dorival não subiu o Alto da Boa Vista, o Dorival escalou o Alto da Boa Vista com a habilidade de um escanifre assolado pela tísica praticando montanhismo. Tossia, o carro do Prata. Pigarreava. Morria. Para que vocês tenham uma sombra de idéia do que foi isso - estou novamente sendo preciso - o Prata sofreu o assédio de meia-dúzia de buzinas impacientes pedindo passagem. E eram, meus poucos mas fiéis leitores, seis ciclistas atléticos querendo ultrapassar o Dorival que ocupava a pista inteira sem dar passagem. E foi assim que levamos um bom tempo, um considerável tempo, até aportarmos diante da casa da aniversariante.

Breve pausa: a volta foi infinitamente pior. O Dorival era o mesmo anti-carro. Só que o motorista estava implacavelmente bêbado. Voltemos.

O churrasco e a tarde foram maravilhosos.

Com orgulho, vimos o menino de 87 brilhando na roda, fazendo o diabo com o violão nas mãos.

aniversário da Beth Carvalho, 05 de maio de 2007, foto de Thiago Côrtes

As fotos são do Thiago Côrtes, que pode ser melhor conhecido aqui.

Comovido - comovidíssimo, eu diria - eu assisti a uma cena que eu reputo antológica. E explico. Conta a lenda - e a música brasileira é cheia delas... - que "em 1973, Elis radicaliza e faz o disco mais difícil e sombrio de sua carreira. E, talvez por isso mesmo, um dos mais interessantes. O repertório é quase todo dividido entre Gilberto Gil (recém chegado do exílio londrino) e João Bosco (com seu parceiro Aldir Blanc), quatro canções de cada um. As duas únicas exceções são "Folhas Secas", de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito (que Elis roubou do repertório de Beth Carvalho antes daquela lançá-la em seu disco, o que gerou uma briga eterna entre as duas) e "É Com Esse Que Eu Vou", de Pedro Caetano." (retirado daqui).

Pois bem. Eu vi Tiago Prata, o menino de 87, acompanhando Beth Carvalho e Maria Rita, cantando juntas, justamente, "Folhas Secas". Foi bonito demais.

Foi um grande sábado.

Comecei em Madureira e terminei no Joá. Cercado de amigos, ao lado da mulher que me ensinou a sorrir - e esse flagrante de nós dois com esses dois queridos, Gilda e Serjão, é prova evidente da festa que foi a festa (trocadilho de propósito) -, nem senti - é verdade - o drama da volta no combalido Dorival.

aniversário da Beth Carvalho, 05 de maio de 2007, foto de Thiago Côrtes

Só percebi que havia algo de errado quando chegamos em casa. O Prata conseguiu a proeza de conseguir acabar de destruir o mesmíssimo canteiro avariado à tarde.

Até.