23.5.07

DEPOIS, A CANALHA RECLAMA

Sempre que um imbecil chega pra mim e diz a frase-feita "Direitos Humanos só pra bandido, né?", eu digo, pacientemente - mas minha paciência já acabou - que não. Digo que os Direitos Humanos existem para proteger todo e qualquer homem. Digo que a tortura é desumana, crime inafiançável, e que se o papel do bandido - uso essa linguagem tosca para os imbecis entenderem o troço - é ser malvado, torturar mesmo, matar, roubar etc etc etc (incluídos os bandidos-filhos-das-putas que a classe média condescendentemente chama de "bandidos de colarinho branco", como se isso diminuísse a violência de seus crimes), o papel do Estado é manter a ordem e cumprir a lei.

Razão pela qual me revolta ler o que acabo de ler no site do jornal EXTRA.

Depois, quando esses caras partem pra cima em busca de vingança, sem medir conseqüências e sem escolher alvos, a canalha bate pezinho, veste branco, abraça a Lagoa, estende faixa na janela e depois, como se nada tivesse acontecido, vai ao cinema.

"RIO - Acusados em inquérito policial de torturar, espancar e humilhar com sevícias sexuais detentos do Presídio Evaristo de Morais, o Galpão da Quinta, em São Cristóvão, agentes penitenciários - 36 deles integrantes do Grupo de Intervenções Táticas (GIT) - também poderão responder a processos por homicídio e formação de quadrilha. A polícia está investigando se, entre as vítimas do GIT, acusado de ocupar violentamente a unidade entre os dias 4 e 6 deste mês, está José Januário Pereira Filho, de 24 anos, condenado por assalto.

Internado no hospital penitenciário do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste, o detento morreu no último sábado. A certidão de óbito, do Instituto Médico Legal (IML), informa que o preso morreu de broncopneumonia. Porém, um documento da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) revela que José Januário morreu devido a agressões físicas.

Na notícia-crime que deu origem a um inquérito na 17ª DP (São Cristóvão), 14 presidiários figuram como vítimas. O deputado estadual Alessandro Molon (PT) solicitou à promotora Vera Regina de Almeida que inclua a morte de José Januário na investigação.

Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Ministério Público estadual, da Defensoria Pública e da Assembléia Legislativa já entrevistaram mil presos no Galpão da Quinta.

- O estado que descumpre a lei tem de ser punido. Quem paga por esse tipo de violência é a sociedade - disse o presidente da comissão de direitos humanos da seção Rio de Janeiro da OAB, João Tancredo.

As denúncias levaram a Seap a abrir uma sindicância. O coordenador de segurança do órgão e toda a equipe do GIT foram exonerados. O ouvidor da Seap, Paulo Baía, também foi demitido, após enviar ao governador Sérgio Cabral um dossiê sobre o caso.

Segundo as denúncias, os agentes dispararam balas de borracha. Encapuzados e armados com cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, teriam posto os presos nus. Os detentos teriam sido obrigados a rastejar, comer lixo, imitar animais e, entre outras sevícias, desfilar de calcinhas.

Irmã mais velha de José Januário, Andréa Dutra Pereira, de 27 anos, chorou quando viu o detento vivo pela última vez, na quarta-feira passada. Ela afirma ter ouvido do irmão o relato detalhado das agressões sofridas por ele durante a ocupação do Galpão da Quinta.

- Informei o estado dele à Vara de Execuções Penais (VEP) - contou Andréa, cujo irmão só foi internado após a denúncia.

José Januário, que na cadeia se tratava de hanseníase, morava com os pais, em Realengo, antes de ser preso. Abandonou os estudos no 4º ano do Ensino Fundamental. Trabalhava como auxiliar de serviços gerais numa firma de montagem de estandes.

Segundo o pai, o ambulante José Januário Pereira, de 52 anos, se ele estivesse vivo, teria o emprego de volta em breve.

- Meu filho tinha se convertido ao Evangelho na cadeia. Tinha até conseguido o regime semi-aberto, só faltava usufruir do benefício na prática - lamentou o pai, que pretende processar o estado."


Até.

4 comentários:

Anônimo disse...

A OAB/RJ está atenta a isso, Edu. Ouviu os detentos e já acionou o Ministério Público

Eduardo Goldenberg disse...

Eu sei, Moutinho. A nova OAB, se é que me faço entender, estará sempre atenta a isso enquanto o Lauro estiver na frente de batalha. Trabalhei com ele em inúmeras eleições, como já tive oportunidade de lhe dizer, sempre em prol do meu eterno e saudoso governador Leonel de Moura Brizola. A canalha vai ter que aturar a nova OAB, a velha OAB (se é que me faço entender ainda mais a fundo), por muito tempo!

Elton Cruz disse...

Ótimo protesto. Se a cultura em geral fosse usada para melhorarmos o Brasil, nossa nação finalmente estaria nas mãos do povo.
Muito bom.

Unknown disse...

O problema da canalha é que ela acha que sua violência se justifica porque é destinada à uma raça inferior de homens e que, além de serem próximos aos animais, têm de pagar pelos crimes que cometeram com o castigo físico. Dessa forma, o Estado - ou a classe que ele representa - se equipara ao assassino e não há futuro possível para ninguém: nem para "eles", nem para "nós". Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro profetizaram quando escreveram que "O dia em que o morro descer e não for Carnaval, ninguém vai ficar pra assistir o desfile final".