12.5.07

O JOTA FAZ MESMO ESCOLA...

Ontem fui, a trabalho, a Cabo Frio. Como tenho ligeira aversão a dirigir e como ler durante meus deslocamentos de ônibus por aí é troço que me dá intenso prazer, decidi ir e vir - evidentemente - e no mesmo dia, de 1001.

Na pasta, além de "O quinteto de Buenos Aires", do estupendo Manuel Vázquez Montalbán - que estou relendo - os jornais do dia.

Antes de mergulhar no policial - que recomendo calorosamente - fui aos folhetins.

Fui aos folhetins e, confesso, quase chorei de desânimo.

Quase chorei de desânimo porque é triste, tristíssimo, eu que sempre fui um ardoroso leitor do JB, perceber que tem gente empregada no outrora glorioso e hoje claudicante diário carioca, que não merece, simplesmente não merece, estar ali.

E notem que falo de uma jovem, pelo que pude xeretar na grande rede - chequem aqui.

Trata-se de Carol Zappa.

A moça - e posso estar equivocado, mas é o que dá a entender a revista que li ontem! - é responsável pelas seções GASTRONOMIA e HUMPF!, sendo aquela primeira, é claro, dedicada à gastronomia e esta última uma coluna bem semelhante à coluna PROGRAMA FURADO, d´O GLOBO, onde os leitores fazem suas queixas, como aqui e aqui.

Mas vamos ao que li.

Na coluna GASTRONOMIA, a moça já me causou ânsia de vômitos só com o título da matéria. Ei-lo: "Abaixo a ditadura da cerveja - nada contra a loura gelada, mas restringir-se à cerva é como contentar-se com uma piscina enquanto há um oceano a explorar. Oceano de bebidas variadas, como as mais saborosas misturas. A ´Programa´ dá o caminho das pedras (de gelo, claro)".

Daí ela parte para exaltar bebidas-babacas como "Apple Martini", "Cosmopolitan", "Piscinão", "Double G", bebidas que - diria meu irmão Simas e eu corroboro - são coisas de viado. Imagina o Borgonovi entrando no Rio-Brasília e pedindo a Deus:

- Um Double G, por favor...

A resposta, digo sem medo do erro, seria um "aqui, ó!", com as mãos em concha avolumando o saco.

Mas vamos seguir.

A matéria é uma ode à babaquice. A repórter entrevista gente que não gosta de cerveja e exalta uns bares que devem ser - não conheço nenhum, graças a todos os deuses - um lixo. Eis alguns nomes: Miam Miam, Bar d´Hôtel, Caroline Café, 00, Drinkeria Maldita, Two Lounge, Zazá Bistrô Tropical, e outras merdas do gênero. Aliás, eu me dei ao trabalho de contar os eleitos pela moça e tenho um motivo de intenso orgulho e quero dividi-lo com vocês...

São vinte - eu disse vinte - endereços indicados. TODOS, sem exceção, na zona sul da cidade. Aqui na Tijuca, pedaço carioca da cidade, e no glorioso e ainda mais agudamente carioca naco do Rio de Janeiro, o subúrbio, essas bostas não chegam. Chegando, não vingam. Vamos seguir.

O ápice-babaca da matéria?

Vejam.


Carol Zappa entrevista e fotografa três pessoas. E o que têm, essas três pessoas, como credencial para estarem na matéria? Fundaram - vejam se pode haver coisa mais babaca, como diria minha velha mãe - a Confraria do Cranberry (peço seus comentários, Luiz Antonio Simas!).

O trecho destacado na imagem aí de cima diz que a jornalista (risos) Verônica Bittencourt, tem como lema (pra vocês verem que não se faz mais jornalista como antigamente, salvo raras exceções) "a procura pela bebida perfeita".

E então diz (ou "protesta", como prefere a repórter) Julio Teixeira, 23 anos, "outro componente da confraria":

"O drinque - coquetel predileto das moçoilas do seriado "Sex and the City" - não é muito difundido por aqui, e muitos não são preparados com os ingredientes originais - suco de cranberry e triple sec, uma espécie de cointreau. Aí ficam horríveis".

Não vou dizer mais nada para não ser acusado de intolerante. Mas eu imagino como devem ser divertidos esses encontros da confraria dessa porra.

Terminei de ler a matéria nauseado. E pensei - juro - que a moça, a tal Carol Zappa, não seria capaz de nada pior.

E tomem nota! Eu nunca, nunca mesmo, lera nada da lavra zappiana.

Mas ela conseguiu se superar. E a tristeza veio daí... Que ela não saiba escrever, que ela cometa erros bárbaros como esse que mostro a seguir, vá lá. Afinal, uma moça que tem coragem de assinar uma matéria como essa a que me referi, não tem pudor mesmo, nem mesmo o pudor gramático, basilar para um jornalista. Mas e os editores? E os revisores? Passou por todo mundo isso?


Solenemente puto, despeço-me.

Até.

11 comentários:

Luiz Antonio Simas disse...

Edu, querido, vamos por partes. Mais uma vez você, paladino implacável da justiça, faz um gol de placa. As observações que me ocorreram sobre essa matéria foram as seguintes:
1- Se essa cidadã me pergunta se eu gosto do Double G, eu digo que prefiro um meia-nove básico, mas que posso tentar o Double;
2- O Julio Teixeira, da Confraria do Cranberry, é, evidentemente, viado; tudo leva a crer que seja, inclusive, bicha sensível, daquelas que tentam cortar os pulsos por amor;
3- Estou cada vez mais abismado com a qualidade dos jovens jornalistas cariocas. Isso é, em parte, culpa da proliferação dos cursos de Comunicação Social, que tem currículos em que o sujeito aprende um pouquinho de tudo, mas não aprende muito de nada.
Minha proposta é a seguinte (falo sério) : - os cursos de comunicação social tem que ser extintos. Hoje, eles funcionam como cursos técnicos, desprovidos da idéia de produção do conhecimento que caracteriza o princípio da Universidade. Manda esses garotos pro SENAI e ponto.
4- Se os deuses me permitissem a dádiva de encontrar a Carol Zappa, eu perguntaria pra ela:
- Carol, vamos de Piscinão?
No que ela respondesse que sim, eu chamava o Paulinho do Taxi e zarpava até Ramos. Me agradaria ver a rapariga em flor tomando um banho no glorioso piscinão, sendo observada por uns crioulos tarados do Complexo. Eu assistiria a tudo tomando uma gelada, que ninguém é de ferro.
Não Passarão!

Eduardo Goldenberg disse...

Meu irmão Simas: pra variar, meu velho, comentário superior ao texto. Gênio, gênio!

Algumas perguntas, medite comigo:

01) será que o nosso bom e combativo Marecha conhece a Zappa?

02) conhecendo, será que nos apresentaria?

03) nos apresentando, será que Candinha e Dani nos liberariam para um Double G (o nome remete-me ao óbvio ménage, e salve o hedonismo!) com a moçoila nas águas do Piscinão?

Beijo!

Anônimo disse...

Esse "solenemente" me agrediu ontem logo pela manhã. Concordo com o Simas qto ao curso de Comunicação, com uma diferença: acho que o Jornalismo deve ser ums curta pós-graduação para quem tem alguma formação humanística, seja Ciências Sociais, seja Direito, seja História etc. Assim como sou contra a exigência de diploma para jornalista. Mas essa minha posição é totalmente minoritária entre meus coleguinhas...

Unknown disse...

Edu: maravilha seu texto e lamentável o texto da moça. Agora querem combater a santa cervejinha? Como se ela fosse uma bebida inferior à essas merdas inspiradas em um seriado americano babaca que, pior, é tido como referência de humor inteligente no seio da classe média. Trata-se de uma merda retumbante, de quem não conhece o Brasil ou não faz a mínima questão de conhecer - a última opção é mais provável e ainda mais triste. Estou com Simas e não abro em relação a não-obrigatoriedade do diploma para jornalistas. Aquele repórter de Porto Ferreira, que foi assassinado, não era diplomado e botou os vereadores pedófilos na cadeia com sua série de reportagens-denúncia. Aí somos obrigados a ler uma carta escrota da Fenaj dizendo que "Luiz Barbon não pode ser considerado jornalista porque não era formado". Diploma de cu é rola! Ele era muito mais jornalista do que essa corja que infesta as redações e o sindicato da classe! E escrevia muito melhor, pode crer. Quanto ao "Solenimente", devo livrar a cara da dona Carol Zappa: geralmente títulos e legendas são assinados pelos editores da página, o que torna ainda mais grave a situação vexatória a que a imprensa nativa se encontra metida. Beijo.

Craudio disse...

Boa, Edu! Só digo que quem prefere essas coisas com alcool à cerveja é um tremendo imbecil.

Desculpe a agressividade.

E deixo aqui um pedido, já que sei da presença de Borgonovi - acompanhado de outro porco - no "doutor Rio de Janeiro" neste domingo. Convença-o, com todas as forças, que essa H2OH que ele anda bebendo diariamente em butecos paulistanos não é legal para a imagem de um ser do Jaçanã.

Abraços! E que seu Flamengo dê uma força pra nós Corinthianos e enfie um saco no parmeirinha...

Eduardo Goldenberg disse...

Craudio: não posso desculpar a agressividade se acho, mesmo, que ela - hoje, mais que nunca - é mais-que-necessária para combater essa onda de babaquice que só faz crescer. Tem que ser na base da porrada!

Quanto ao Borgonovi e ao outro porco, só lamento. Porque um sujeito que pisa no pescoço da própria mãe, a abandona no segundo domingo de maio, e viaja para ver seu time apanhar, merece porrada.

O Flamengo não irá decepcioná-lo. E eu escrevo bem antes do jogo. Anote: se perdermos, será roubo do ladravaz do Gaciba (sem negrito), que persegue o Flamengo há trinta vidas.

4rthur disse...

Edu, quando abri o jornal na sexta de manhã e vi a matéria de capa da Programa, logo tive a certeza de que aquilo renderia um protesto acalorado aqui no Buteco.

Simas, creio que o único Piscinão que chegará perto da tal Zappa é o drinque divulgado na matéria, feito com caju e vodca. aliás, troque a vodca pela cachaça 88, retire a viadagem de colocar uma fatia de caju na beira do copo, e você chegará à velha receita do Caju Amigo, tradicional "drinque" servido num boteco de Barra de São João chamado Pau de Lenha (e em outras praças, evidentemente) há mais de vinte anos.

Bruno: o "seio da classe média" está com um grande caroço, e que tende a se alastrar, uma vez que a tal classe não realiza, há muito, o auto-exame - físico e mental.

Finalmente, pensei em fazer uma troça a respeito do "solenimente", sugerindo que, além dos horóscopos, os estagiários estariam também cuidando da revisão ortográfica. Mas voltei atrás. Não seria justo com os estagiários.

Anônimo disse...

Confesso que, após ter lido a infeliz matéria publicada no JB, na sexta última, assim como o Arthur, especulei comigo mesmo que isso renderia assunto neste Balcão. O que não deu outra - com total razão, claro.

Na minha opinião, matérias como a da tal jornalista (?), definitivamente, só acentuam e ostentam o podre ego da lastimável e alienada parcela da juventude carioca.

E é uma pena que essa medíocre ostentação preencha com freqüencia as páginas dos jornais. É uma pena...

Szegeri disse...

"...para ver seu time apanhar..."

Carece algum comentário?

Eduardo Goldenberg disse...

Comentário: sempre que o filhodaputa do Gaciba apitar jogos do Flamengo, perderemos.

Anônimo disse...

"..." (hehehe)