Conforme lhes prometi
aqui, conto hoje sobre a segunda razão pela qual eu sou, desde a semana passada, um ser em estado agudo de angústia.
Antes, porém, uma alvissareira notícia: acabou a porra - peço perdão pela incontinência verbal - da
FLIP. E eu
ODEIO, de modo maiúsculo, a porra da
FLIP, como já lhes contei
aqui. Lá, durante a porra da
FLIP, há (e houve, seguramente, eu não preciso estar lá pra saber disso...) um permanente desfile da tribo abjeta dos que se dizem descolados. E confesso que esse ano, especialmente esse ano, em que o homenageado foi
Nelson Rodrigues, o maior, minha ojeriza atingiu o pico. Vivo fosse e ele
JAMAIS - com a ênfase szegeriana - teria estado em Parati, misturado à canalha que geme com um livro de capa lindíssima na mão enquanto tropeça nas pedras irregulares da cidade histórica durante a porra da
FLIP mas que ao longo do ano é incapaz de ler um prefácio que seja. Fechando: quando você lê, desavisadamente, no
blog alheio, a frase
"fliparemos todos", aí o vômito é inevitável. Dito isto, em frente.
Em frente e voltando ao tema!
Bateu-me o telefone, na sexta-feira passada, o
Szegeri. Minto. Enviou-me, o bom barbudo, uma mensagem para o aparelho celular. Enigmática, como sói acontecer:
"Encontre-me às sete da noite no bate-papo do Gmail"Notem que o tom foi exatamente esse - o de uma ordem, a qual eu obedeci, é claro, como obedeço sempre - e que é exatamente essa a realidade que se destaca do fato: o
Szegeri JAMAIS bate o telefone pra mim (ou muito raramente). Eu recebi no final da semana passada, quero fazer a confissão pública, minha conta telefônica. Apenas com ligações para o
Szegeri (o que inclui ligações do meu fixo e do meu celular feitas para seu celular, para sua casa ou para seu trabalho) eu gastei - façam silêncio -
OITOCENTOS REAIS. E pedi a ele, a título de curiosidade, que me mandasse por fax sua conta de telefone. Eis o que me doeu e que ainda agora me dói... Não há, em toda a extensa conta telefônica do
Szegeri, uma única ligação tendo a mim como alvo. Há, isso sim, uma aridez impressionante de meus números naquelas incontáveis folhas que compõem suas contas telefônicas.
Isso se deu por volta das treze horas. Fui, então, creiam firmemente nisso, um homem catatímico dali em diante. Houve, em mim, uma tal ebulição de excitação graças àquela mensagem, que eu não fui capaz de mais nada, a não ser ficar olhando, compulsivamente, os ponteiros do relógio à minha frente, fazendo contas e imaginando o que me seria dito por meu irmão paulista.
Mas o troço não parou ali, naquela mensagem que ficou arquivada em meu aparelho celular. Mandou-me, o dono daquela barba amazônica,
email às duas e meia, mais ou menos:
"----- Original Message -----
From: Fernando Szegeri
To: Eduardo Goldenberg
Sent: Friday, July 06, 2007 2:27 PM
Subject: a conversa de hoje
Esteja às sete horas em ponto à minha espera. O assunto é muito urgente. E não me pergunte nada por email. Não tenho tempo para você agora.
Fernando Szegeri
Visite minha revista "Só dói quando eu Rio..."
http://sodoiquandoeurio.blogspot.com
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No virus found in this incoming message.
Checked by AVG Free Edition.
Version: 7.5.476 / Virus Database: 269.10.1/888"Quem me conhece minimamente sabe o que foi capaz de gerar em mim o teor do
email acima transcrito.
Dentro de minha cabeça, no interior da minha caixa craniana, ecoava, num eco de cem mil vozes em uníssono, a frase curta "o assunto é muito urgente, urgente, gente, gente, ente, ente, ente, o assunto é muito urgente, urgente, gente, gente, ente, ente, ente..." e até febre eu tive.
Tive febre e não suportei. Bati o telefone pro
Szegeri. E ele, numa impiedade jamais vista, não me atendeu. Liguei uma, duas, cinco, dez, doze vezes. Na décima-terceira, ele atendeu:
- O que foi, porra?! Não posso falar!
E bateu com o telefone no gancho, humilhando-me ainda mais.
Vai daí que o relógio marcou dezenove horas. Eu estava há mais de meia-hora, num plantão de enfermeira de CTI, à espera de um sinal de vida seu. Foi quando acendeu-se a luz verde que indicava
Fernando Szegeri on line. Eu disse, sôfrego e com a respiração curta:
- E aí? E aí?
- E aí o quê?
- O que você queria me contar? Muito urgente. O quê?
- Nada.
Quebrei o
mouse, de ódio, diante dessa resposta.
Arranquei o
mouse de outro computador, conectei-o à minha máquina, e disse, minutos depois:
- Nada?
- Nada.
Respirei fundo.
- Mas você disse que queria falar comigo...
- E quero.
- Então diga... - eu esfregava as mãos como se quisesse produzir fogo.
- Estou indo ao Rio.
- Sim. E?
- Vou ficar na sua casa.
- Sim. E?
Em condições normais eu já estaria feliz com a notícia.
- E vamos ficar 10 dias hospedados aí.
- Sim. Mas e aquele assunto urgente?
- Aí eu te conto.
- Não... Não... Por favor, conte...
Eu estava tentando fingir calma com as reticências, mas fervilhava e socava a mesa como um tocador de tímbalo.
- Pessoalmente.
- Mas você não disse que me contaria por aqui?
- Mudei de idéia.
- Adiante-me o assunto.
- Não.
Tentei argumentar mas o ímpio desconectou.
Sei que chega ao Rio ainda esta semana.
E só.
Até.