5.9.07

EXTRA, EXTRA, URGENTE!

Exatamente no dia 15 de maio de 2007, um leitor daqui do BUTECO, cujo nome não divulgo pois não tive autorização para tal, mandou-me email do seguinte teor:

"Edu, para seu conhecimento, não sei se é verdade pois nunca pisei nestas bostas de Belmonte, mas me foi passado por pessoas da minha família que não têm o menor interesse nisto. Um abraço."

E mandava, anexado, o seguinte texto:

"Ontem verifiquei meu extrato online e me deparei com saques e despesas no meu cartao de débito que não foram efetuadas por mim. Isso mesmo, meu cartão de débito havia sido clonado. Preenchi a carta de contestação de despesas e fui na agência do Citibank entregar. Quando mencionei com o gerente o ocorrido, ele me perguntou se eu havia usado o cartão em algum Boteco Belmonte. Pasmen, uma semana antes eu tinha almoçado lá e pago com meu cartão de débito. O gerente do Citibank disse que os garçons recebem 100 reais por cada clonagem. Como eles conseguem a senha? Você acha que digita tão rápido assim? Parece que existe um dispositivo que é acoplado à máquina do cartão, capaz de armazenar informações de até 5.000 cartões. Imaginem o estrago!!!

Há algum tempo investigações das empresas de seguro que prestam serviço às empresas de cartão de crédito descobriram o esquema montado nos Botecos Belmonte. Todas as máquinas de todas as filiais foram trocadas, mas parece que as novas já estão devidamente grampeadas.

Fica a dica: Boteco Belmonte só em dinheiro."


Eu, atilado que sou, esperei - digamos - uma prova mais contundente.

Pausa: isso não significa que eu não acreditei. É evidente que eu acreditei. TUDO - com a ênfase szegeriana - que parte do Belmonte (e do Informal, e do Espelunca Chic, e de todos os congêneres) cheira à merda. Mas preferi a cautela antes mesmo da divulgação sensacionalista.

Eis que hoje recebo novo email. E eis o sugestivo título do mesmo... "DOCE VINGANÇA DO DESTINO".

Cecília Giannetti, de quem falei aqui (justamente sobre sua coluna na FOLHA DE SÃO PAULO), publicou texto - sem dar nome aos bois, é claro, mas só um néscio não liga uma história a outra... -, também na FOLHA, na mesmíssima coluna.

Os grifos são meus.

"Onze garçons e um segredo

--------------------------------------------------------------------------------
É a moda criminosa deste pré-verão. Fui traída pelos garçons simpáticos, pelo gerente galanteador
--------------------------------------------------------------------------------

FUI TRAÍDA. No choque da descoberta, de pacífica espectadora de um documentário na televisão fui ao clichê da mulher dramática passada para trás. Rodrigueana, fiz voar objetos pela casa.

Bem, um só e sem intenção. Joguei o controle remoto da TV no sofá, ele quicou e, espatifado no chão, exibiu desavergonhadamente -tudo naquele dia terrível era desavergonhado! - suas entranhas eletrônicas.

Traída. E tudo esteve bem debaixo do meu nariz durante uma semana. Recusei-me a ver. Esquecido dentro da minha bolsa, o extrato da conta corrente do banco, quando parei de ignorá-lo, me revelou: farras na zona norte, noitadas na zona oeste, roupas caras, lojas de estranhos acessórios. Tudo somando quase R$6.000 debitados em meu cartão.

Meu cartão foi clonado -é a moda criminosa deste pré-verão carioca, garante uma amiga advogada.

Mas não é nisso que consiste a traição. A infidelidade - e é aí que me dói- é que o cartão foi clonado no meu bar.

O bar onde leio jornal quando acordo tarde no domingo, que cura minhas gripes com caldinho de feijão e pimenta, onde já ouvi Moacyr Luz ao vivo, a capela, alegre de chopes, numa mesa adjacente. Onde tantas vezes a visão de um casal que palita os dentes junto, após uma refeição em mudez total, me fez desenvolver teorias sobre a instituição que começa com "c".

Fui traída pelos garçons simpáticos, pelo gerente galanteador, pelo caixa entediado. É pior do que se me vendessem caldinho com cabelo do saco do feijão.

A advogada me aconselha: "Tá acontecendo com todo mundo. Depois de alertar o banco e mudar a senha, faz um boletim de ocorrência. Mas não denuncia o bar. É ninho de bandido, não arruma confusão com essa gente".

Lembro uma conversa que não pude deixar de ouvir na rua: a mulher sacudia uma das mãos no ar e com a outra segurava o celular, contra o qual gritava que jamais estivera em Jacarepaguá, muito menos para comprar pranchas de surfe. Ela falava ao atendente do banco, agora sei, tentando explicar o rombo em sua conta.

Ainda bem que eu tinha nas mãos apenas um controle remoto de TV quando descobri o roubo na minha: atirar o celular no chão teria sido outro prejuízo.

Nunca estive numa churrascaria em Rocha Miranda, jamais fui ao boliche do Norte Shopping nem gastei mais de R$200 em sua choperia. Não comprei toneladas de equipamentos eletrônicos, nem R$1.400 em acessórios esportivos. Não estive no meu bar às 3h da madrugada do domingo passado pagando bebida e petiscos para o que, pelo prejuízo registrado naquela data e hora, com o nome do estabelecimento no extrato bancário, parece ter sido um batalhão. Os amigos da quadrilha, em seu QG.

Uma quadrilha de garçons. Tão elegantes que podiam estrelar "Onze Homens e um Segredo". Seus uniformes preto-e-branco, os sapatos que imitam couro. Dignos, tão dignos."


Não dá pra dizer exatamente "bem-feito!", já que o perrengue a ser enfrentado pela amiga do João Paulo Cuenca e agraciada com uma vaga no projeto AMORES EXPRESSOS - com site novo, vejam aqui - será gigantesco.

Lamento, sinceramente, por ela.

Mas não posso deixar de lamentar, também, - eis o que também emerge da leitura de seu pequeno drama privado - o nojo com que se refere à zona norte e à zona oeste.

Até.

7 comentários:

Anônimo disse...

Realmente o preconceito fica evidente no texto. Em outras palavras, o que a moça diz é: "como o banco pode pensar que eu - euzinha! - almoçaria em ROCHA MIRANDA ou faria compras no NORTE SHOPPING?!?!"
Nojento. Tão nojento quanto a "traição" dos garçons.

Eugenia disse...

Ai, q meda. Bem, lembram qd isso aconteceu - teve ação penal e tudo - anos atrás, no Cervantes?

Craudio disse...

Pois é, Edu... A culpa não é do bar que faz esquema pra roubar cliente, mas dos lugares onde foram gastos o dinheiro. Que ótima análise dessa mulher...

Mas no caso específico, também dá pra ser mais radical e dizer que foi redistribuição de renda, já que os 6 mil da dita cuja vieram do Amores Expressos - dinheiro público, como você vem alertando. É correto esse meu raciocínio?

Abraços!

Anônimo disse...

bicho, destas porcarias que servem chope numa torneira e espuma na outra - parodiando você, pausa pro vômito - é melhor manter distância. quem mexe em bosta acaba todo sujo...
bom, e se a moça tem nojinho de determinados locais, bem feito. não sabe o que está perdendo. ou se sabe, bem feito também. quem manda tomar café da manhã num lugar destes? usando as palavras dos frequentadores dessas coisas, "disgusting!"
abraço.

Anônimo disse...

Edu: há um outro texto da Cecília Giannetti em que ela condena a sujeira dos botecos pés-sujos e diz que prefere os lugares que são limpinhos. Vou encontrar depois esse texto e te passo. Pois bem, a limpeza desses bares é como a beleza das capas de livros à la Flip: elegantes por fora, podres por dentro.

Nem ela nem ninguém deve sentir medo de ladrão. Na condição de colunista de um jornal com o peso da "Folha", ela devia tomar a frente e se unir às outras vítimas desse golpe.

Um abraço.

Anônimo disse...

Trecho de um texto de cecília, publicado na Folha de São Paulo e, respectivamente, em seu blooorrg: "...Ipanema e Leblon têm mesas de bar melhor dispostas, mais limpas. É a impressão que fica da displicência estudada de seus assépticos botequins (...) Quase consultórios médicos, se comparados a verdadeiros pés-sujos de outros cantos. São bairros sem bares imundos..."

Após o diagnóstico, Edu, uma receita de responsa pra curar a doença da giannetti: que a levem, urgentemente, a uma clínica especializada, lograda na Feirinha da Pavuna, um louvável pé-sujo, e a mediquem com chouriço, ovo colorido, Brahma e, de quebra, uma cachacinha curtida em carquejo.

Vai ser batata, mermão, garanto!

Anônimo disse...

Taí, Edu. O Bezerra já citou o texto que eu queria te passar.
abraço,
Andre.