Eu, já ansioso com a partida do final da tarde, mais um Fla x Flu dentre os tantos a que já assisti, sem prestar muita atenção à estampa da camisa do malandro, disse:
- Belíssima caricatura do Adílio. De quem é?
O
Simas, mastigando o pastel, respondeu:
- Não é o Adílio, Edu, é Exu, Edu... É Exu...
Pedi perdão ao poderoso deus negro, dividi minha cerveja com ele - já bebíamos às dez da manhã - e seguimos de papo naquela sacrossanta esquina de Pardal Mallet com Afonso Pena, no monumental
Bar do Chico, parada obrigatória depois das compras.
Não vi com bons olhos aquilo, as cores rubro-negras sob o peito do bom
Simas. Afinal, todos sabem, o
Simas é um botafoguense daqueles e a camisa escolhida pareceu-me, sem sacanagem, prenúncio de derrota (que por fim verificou-se).
Foi, de fato, um grande domingo (mais um grande domingo, devo dizer em nome da precisão que me é companheira). Fui à feira, fui ao
Bar do Chico, fui à rodoviária buscar meu sobrinho querido, o
Henrique (já falei dele,
aqui), que veio de Volta Redonda para ver o jogo, fomos almoçar no glorioso
Salete (onde encontrei-me novamente com o
Simas e a
Candinha a caminho do jogo de cadeira especial, com a
Joana e com
Flavinho e
Betinha, que na última hora decidiu ir conosco de arquibancada!), paramos pra beber mais uma cerveja a caminho do estádio, e assistimos,
in loco, à partida que terminou com a vitória do Fluminense por dois a zero.
Um grande domingo.
E eu fiz questão de escrever
IN LOCO por algumas razões que farão sentido a partir daqui.
Eu já disse - e repito - que só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente. Eu já havia escrito isso,
aqui, num texto que escrevi em homenagem ao Botafogo.
Escrevi esse tal texto em homenagem ao Botafogo, e já havia escrito, em 18 de abril de 2005 - leiam
aqui - um texto em homenagem ao Fluminense. Deste texto, escrito logo após a conquista do campeonato pelo Fluminense em cima do Volta Redonda, destaco alguns trechos:
"(...) Logo, loas aos tricolores.
Mas é preciso fazer a ressalva: aos tricolores que prestam. E quero explicar.
Sou Flamengo há mais de trinta encarnações. (...) E embora o gol de empate do tricolor tenha sido irregular, embora a expulsão do jogador do Volta Redonda tenha sido vergonhosa, não importa, o Sobrenatural de Almeida se fez presente e aos 47min do segundo tempo o Fluminense pôs por terra a ambição do corajoso time do Voltaço. Fiquei triste? Não. Aliás, nem um pouco. Fiquei onde estava, no mesmo bar, e segui bebendo aguardando a chegada dos campeões.
E eles foram chegando. Mas ali, no meio da turba, um me incomodava. Um, não. Dois. Aliás, nem dois. Três. O terceiro eu nem sequer conhecia, mas ele babava, rosnava, vociferava palavras que eu nem entendia em minha direção. Um desprezível, pensava. O segundo, que atende pela alcunha de Velho (uma tremenda injustiça com o Nelsinho Rodrigues, que atende pelo mesmo apelido), agredia, vejam a insanidade, o Flamengo, que já havia sido escorraçado dentro do campo pelo próprio Fluminense há 15 dias. Um insano, eu pensava. A velha mania de não-comemorar, mas de pisotear no derrotado. O primeiro, Lennon. Não, não se tratava de um médium incorporado pelo ex-Beatle. Ele mesmo, que presentou-me com sua ausência prolongada por muitos meses, tornando respirável a atmosfera naquela esquina, estacionou o carro bem à minha frente, abriu as portas, a mala, estendeu a bandeira do Fluminense, que não merece aquelas mãos pelo que tem de História, e ficou ali, quicando e sorrindo em minha direção.
E eis que, em segundos, uma chuva torrencial, de derrubar árvores, de encher ruas, de entupir bueiros, de transbordar rios, pôs pra correr aquela corja, arrefecendo, digamos, os instintos animais. Era o Sobrenatural de Almeida chorando cântaros pela plebe ignara que ele mesmo ajudara há pouco.
(...)."E vejam bem...
O jogo de ontem deve ter terminado por volta das 20h05min, 20h10min, algo assim. Cheguei em casa com o
Henrique por volta das 21h. Tomei meu banho, levei o garoto na rodoviária de volta, e fui, finalmente, ao computador pra dar uma olhada de praxe nos comentários do
BUTECO antes de dormir. Havia um enviado às 20h11min, segundos depois do apito final. Eis a íntegra do comentário-babaca que não autorizei mas que torno público, agora, para que tudo tenha cores de coerência, uma virtude que admiro e cultuo:
"Eduardo: só para não esquecer: saudações tricolores novamente. Agora, com abraços calorosos de Somália e Tiago Neves"Ora, ora, ora.
Eu não costumo discutir com torcedor de tela plana, com gente que não vai ao estádio (ou
"ao campo", como diz o
Szegeri), mas que tem a marra e a pachorra de, exclusivamente, fazer troça com a cara dos outros, sem se preocupar com a festa, com a comemoração, com a alegria da
SUA vitória, não da derrota do
OUTRO.
Quero destacar que em 08 de março de 2007, meu queridíssimo
Rodrigo Ferrari, o bom
Folha Seca, fazendo um comentário no
blog PENTIMENTO, escreveu por ocasião da final da Taça Guanabara (notem o que friso, acompanhem o quebra-pau virtual a que me refiro aqui):
"Caro Moutinho, quanto ressentimento, hein? Que tristeza o Mengo campeão mais uma vez... Deve ser triste mesmo... Mas se apegar a questões morais para questionar outro sucesso rubro-negro, sei não... Notei que seu desabafo foi imediato, minutos após o Mengo ser campeão. Não deu para disfarçar a decepção. Lendo seu relato fiquei encafifado. Depois lembrei que você é muito próximo de Madureira, daí ter visto o Bruno passar "os 90 minutos cuspindo nos atletas do Madureira e chamando os adversários de 'pobres' e 'mortos de fome' (...)". Querido, devagar com o andor. Afinal, se o 'boa gente' Branco tivesse contratado um bom goleiro como o Bruno, seu discurso seria outro... E cá pra nós: gente boa é o Djair, né? Abre o olho, tricolor..."Quer dizer... o sujeito é especialista na coisa. Fica diante da TV secando agudamente o Flamengo e, segundos após o apito final, parte em direção ao monitor,
mouse na mão direita, com a intenção, única, de sacanear quem
JAMAIS o sacaneou, o que é o meu caso, por exemplo.
Rigorosamente desprezível.
E hoje, publicando em seu
blog um video no qual aparece a aguerrida torcida do Fluminense, da qual ele não faz parte (sei que me faço entender), deu o nome à publicação de
CADÊ A TORCIDA QUE GANHA JOGO?, mas depois, sabe-se lá por quê, voltou atrás e tascou lá
SAUDAÇÕES TRICOLORES (vejam
aqui, basta ler o endereço do
link).
Covardia?
Não sei.
Sei que ele cutucou com vara curta algumas feras que estão sempre aqui no balcão, em especial o
Fraga, amigo querido (leiam tudo
aqui), respondendo, também, é verdade, a algumas provocações que recebeu, mas pisando feio quando meteu o Flamengo no meio.
E isso é troço sério, sabe-se. Volto a repetir: só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente.
É preciso, depois e diante disso, agüentar o tranco.
Até.