31.10.07

SANDÁLIAS HAVAIANAS

Alguns amigos me disseram, por email, por telefone e até mesmo pessoalmente:

- Muda o rumo da prosa já que de droga você não entende!

Como sou um poltrão, adjetivo que minha saudosa bisavó adorava!, mudo, hoje mesmo, o rumo da prosa. Vejam vocês que o 4rthur (assim mesmo, com 4 no lugar do A, como ele prefere) precisou vir a público - vejam aqui - me ensinar, por exemplo, que ecstasy e bala são a mesmíssima coisa. Confesso, também publicamente, que eu já sabia disso. Certa vez, eu e a Sorriso Maracanã estávamos em uma festa estranha com gente muito esquisita, numa casa ainda mais esquisita que os donos da festa e seus convidados juntos, a título de obrigação profissional (e mais não digo). Estava eu no bar, bebendo uma cerveja e contando os minutos, quando aproximou-se um casal de jovens imberbes. Disse-me o cara:

- E aí? Vai uma bala aí?

- Soft ou Kids?

O casal guinchava de rir diante de minha resposta, apontando os indicadores cheios de anéis mais esquisitos que eles em minha direção, até que fui salvo pela minha garota, doce como as balas da minha infância, que me explicou o merdelê todo.

Diante, então, da minha aguda ignorância, mudo o rumo da prosa.

E quero lhes contar, hoje, sobre as sandálias havaianas. E quero lhes contar sobre as sandálias havaianas como forma de expôr, de forma indelével, a podridão da massa consumista que idolatra o mercado e marcha, como uma massa de idiotas, conforme as ordens do marketing, um dos maiores responsáveis pelos males do mundo.

As sandálias havaianas são capazes de dizer mais sobre a burguesia brasileira, mais sobre a classe média brasileira, mais sobre a podre elite brasileira do que qualquer tratado sociológico. Explico.

Tinha eu 18 anos de idade - estamos em 1987 - quando ingressei na PUC para cursar Direito. Fazia parte de meu, digamos, uniforme, o par de sandálias havaianas. E se eu pudesse descrever para vocês as carinhas de reprovação de meus coleguinhas de turma que, desde o primeiro período, iam para a aula, pateticamente, de terno e gravata (mesmo sem emprego ou mesmo estágio), a cara de nojo das mocinhas que rodavam, pelos corredores da universidade, suas bolsas mais caras do que a mensalidade que papai pagava com dificuldade, vocês poderiam atestar a profunda reprovação, o intenso nojo, o intenso desprezo que aquela gente tinha pelas coisas do povo - as sandálias havaianas eram, impressionantemente, uma marca do povo.

Basta dizer que o garoto-propaganda das sandálias havaianas era o Coalhada, o personagem peladeiro, vesgo e cabeludo do Chico Anísio.

Meu apelido - pasmem!, pasmem! - passou a ser Operário, Peão-de-Obra, Pedreiro... tudo por causa das minhas sandálias havaianas.

Até que os marqueteiros decidiram, e isso não tem muito tempo, que as sandálias havaianas eram uma coisa chique, que dava status.

Foi quando, então, a canalha, que até então tinha nojo, ojeriza, verdadeiro asco da coisa, passou a usá-las, agindo, mais uma vez, como uma vara que, do chiqueiro, não dispensa o que se apresenta como pérola.

Na Europa, por exemplo, uma sandália dessas, que na Tijuca custa R$8,00 (em Ipanema não sai por menos de R$20,00), é vendida, em Londres, por quase R$500,00. Vejam aqui, no site da BBC.

Até.

30.10.07

DIRECTA PRODUÇÕES

Preparem o saco de vômito. Eis o texto contido no site da empresa Directa Produções, produtora da festa rave - ilícita do início ao fim! - realizada no final de semana que passou, leiam mais aqui, aqui, aqui e aqui:

"Atuar na vanguarda das tendências com uma visão globalizada do mercado: esta é a missão da Directa.

Especializada na criação e execução de projetos de entretenimento, artísticos e musicais, a Directa busca imprimir em todas as suas produções o que há de mais moderno e contemporâneo, da seleção artística ao conceito e estrutura de seus eventos.

Fundada em 1998, é referência em projetos de entretenimento para o público AB, jovem-adulto da região Sudeste. Sua multifacetada área de atuação permite acesso às diversas esferas culturais, sendo atualmente responsável por algumas das principais produções do cenário eletrônico nacional, e uma das líderes de mercado neste segmento no Brasil.

Sua versatilidade se estende para o ramo de bares, restaurantes e casas noturnas sendo atualmente proprietária dos Bares Devassa Ipanema e Flamengo."


Um nojo.
Retirado, na íntegra, do site da empresa, vejam aqui.

Até.

DIRECTA PRODUÇÕES: UM COMENTÁRIO

São exatamente 20h e eu recebi, às 19h30min (notem a precisão costumeira), um comentário ao texto DEU NO JORNAL O DIA publicado hoje cedo, leiam aqui, contendo acusações gravíssimas envolvendo sócios da Directa Produções, um membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, privilégios e outras mumunhas. O comentário não veio assinado, razão pela qual não autorizei sua publicação. Caso o(a) anônimo(a) mude de idéia, quem sabe?

Até.

DEU NO JORNAL O DIA

A leitora (ou o leitor) que assina Wan chamou minha atenção com o comentário que fez, vejam aqui. Corri atrás da informação e a confirmei no site do jornal O DIA, em matéria intitulada MILHÕES DE LUCRO COM AS BALAS, que pode ser lida, na íntegra, aqui. Eis os trechos que quero destacar:

"Traficantes de drogas sintéticas chegam a negociar de 30 mil a 40 mil comprimidos de ecstasy às vésperas de festas como a Tribe Rio, realizada no fim de semana em Itaboraí, de acordo com investigadores que calculam o faturamento dos criminosos entre R$ 750 mil e R$ 1 milhão. O lucro é semelhante ao obtido pelos organizadores de grandes eventos de música eletrônica, segundo agentes. Ontem, o sítio Happy Land, onde aconteceu a rave, foi interditado por 30 dias, para a conclusão das investigações sobre a morte do estudante Lucas Francesco Amêndola Maiorano, 17 anos.

Policiais estiveram no local e encontraram pequena quantidade de cocaína e papelotes vazios em um banheiro químico, além de vestígios de consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Pelos canteiros do terreno, muitas garrafas de uísque, vinho e vodca. Também havia palitos de pirulito espalhados pelo chão e centenas de garrafas de água — artifícios para evitar overdose e hidratar o corpo. Na comunidade oficial da rave no Orkut, pessoas que estariam no mesmo grupo de Lucas comentaram que ele teria consumido 10 comprimidos de ecstasy.

Segundo o delegado Antônio Ricardo Lima, da 71ª DP (Itaboraí), a Directa Produções, empresa que promoveu a Tribe Rio, e a Guepardo Vigilância, responsável pela segurança do evento, podem ser indiciadas por não reprimir o tráfico e o consumo de drogas. A pena é a mesma para o crime de tráfico — 5 a 15 anos de prisão. O delegado também não descarta a possibilidade de indiciá-las por homicídio.

Segundo ele, os produtores da festa tinham todas as autorizações e cumpriram as exigências de uma resolução da Secretaria de Segurança para a realização de eventos. No entanto, no Orkut, freqüentadores disseram que não precisaram apresentar documentos, que não houve revista e que até os seguranças estariam vendendo drogas.

“Quero saber se os organizadores da festa e os seguranças foram coniventes. Quem não reprime o tráfico e o consumo exagerado também responde por isso. É associação. Pelo que parece, o consumo foi praticamente liberado e a segurança não deteve ninguém e não fez nenhuma apreensão”, disse ele, que espera o resultado do exame toxicológico feito no corpo de Lucas, que deve ficar pronto em 10 dias. A polícia pedirá as imagens do circuito de câmeras do sítio.

O dono da Guepardo Vigilância, Cristiano Lobo, prestou depoimento ontem. Ele afirmou que 380 seguranças trabalharam em dois turnos e que nenhum dos vigilantes flagrou freqüentadores usando entorpecentes no Happy Land. Cerca de 30 funcionários ficaram encarregados da revista na entrada do sítio. Segundo ele, para burlar a segurança, muitas mulheres servem de ‘mula’, levando ecstasy para a festa.

“Depois da revista, é difícil identificar os usuários.Eles já chegam como vocês viram aí. Muitos bebem antes de entrar e as mulheres levam os comprimidos escondidos na vagina. Quando a gente se aproxima, eles jogam o comprimido fora ou engolem”, contou Cristiano.

Na manhã de ontem, o carro-pipa que refrescou o público ainda estava no terreno, de cerca de 750 mil metros quadrados. Um caminhão recolhia os engradados de cerveja.

O dono do sítio, José Roberto Vidal, prestou depoimento e disse que apenas alugou o espaço para a Directa Produções. Em contrato, a empresa assume as responsabilidades civis e criminais com a festa.

Três amigos de Lucas, que estavam com o estudante na rave do fim de semana, devem depor. O dono da Directa, Pedro Schmitt, também terá que prestar esclarecimentos. A empresa já fez outras festas de música eletrônica e é proprietária dos bares Devassa no Flamengo e em Ipanema."


Ninguém, por favor, venha me falar em coincidência.

Até.

29.10.07

ELES TÊM, SIM, SUA PARCELA DE CULPA

Conforme eu lhes contei aqui, com o texto UM ROTEIRO PREVISÍVEL, sobre as barbaridades que são esses caldeirões do inferno que atendem pelo nome de raves, tenho uma pergunta a fazer, cuja resposta (minha, é evidente!) é SIM.

Têm, ou não, essas bestas que escrevem para os jornais hoje em dia, sua parcela de responsabilidade no fomento do uso de drogas, já que até uma samambaia de xaxim sabe que rave é sinônimo de drogas sintéticas, tráfico de drogas sintéticas, consumo de drogas sintéticas e, vez por outra, morte?????

O GLOBO, cumprindo seu papel de destruir gerações e estuprar nossas mais caras tradições, fez sua parte na sexta-feira, através de um sujeito chamado Ronald Villardo (sem o negrito imerecido) que - pausa para o pigarro, o escarro e o sorriso de satisfação diante da coerência de meu discurso - assina, na mesma revista, a RIOSHOW, uma coluna chamada GAY.

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Até.

UM ROTEIRO PREVISÍVEL

Em novembro de 2006, quando publiquei o texto TÁ DIFÍCIL - leiam aqui - escrevi o seguinte, que quero grifar antes de entrar no tema de hoje propriamente dito:

"Numa nota publicada hoje, intitulada "Turismo de alegria", denotando que o Jota anda numa fase afetadíssima, diz o consoante:

"O Rio, que só perde em turismo gay para São Francisco, já tem cinco grandes festas raves programadas entre 29 de dezembro e 1º de janeiro: Alegria, X-Demente, R.Evolution (duas edições) e Pool Party."

Sobre essa propaganda imunda do homúnculo (ganhando o quê em troca?), tenho a dizer o seguinte: todo mundo sabe, até o Pepperoni, meu fiel vira-lata, que festa rave nada mais é do que um pretexto para uso indiscriminado de drogas sintéticas, ecstasy, bala (como eles chama essas merdas, nem sei direito o que vem a ser) e outras bostas do gênero.

E isso é anunciado com festa (da alegria, segundo o Jota) em um dos mais importantes jornais do país. Agora... baile funk no morro é motivo para que os pais dos merdas que se drogam nas raves estendam faixas escrito "BASTA" em suas varandas. Tá difícil, tá difícil..."


Em dezembro de 2006, escrevi O JOTA E ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O JORNALISMO - leiam aqui - cujo trecho destaco:

"Quando deparei-me, no sábado, com uma coluna fétida assinada por um tal de Ximenes (recuso-me a procurar, agora, o nome do empregado do jornal que escreve no caderno editado pela Ana Cristina Reis) na qual o infeliz exalta o Trem do Samba pelo que ele tem de épico e pela diversão que é um zona-sul ir ao subúrbio comer acarajé sem ser visto pelos seus pares, tive vontade de vomitar, Juarez. Ali, ele deseduca. Não sabe, o infeliz, a origem da festa. E dá a ela um tratamento degradante. Quando a própria Ana Cristina Reis plagia, flagrantemente, uma matéria como eu provei aqui, ela deseduca (e mente). Quando o jornal noticia (sem errar, observe isso) as festas raves que se espalham como câncer pela cidade com o único intuito de drogar a juventude seca por drogas sintéticas ele deseduca e ajuda a destruir uma geração. Quando o jornal dá, através da coluna do homúnculo, destaque evidente e vergonhoso a mentiras como Belmonte, Informal e outras merdas do gênero, ele mente e ajuda a destruir uma tradição. Quando o jornal toma partido ao longo de uma eleição presidencial, como essa nossa última, e chuta para escanteio um troço chamado isenção, ele mente e ajuda a impedir o amadurecimento e o crescimento de eleitores ávidos por informação equilibrada. Quando o jornal dá voz a uma série de empregados que não sabem nada, que não conhecem nada sobre o Brasil, sobre o ser-brasileiro, sobre a cidade e sobre o ser-carioca, ele de novo deseduca e vende, sorrateiramente, nossa alma ao diabo."

Feito o intróito, sigamos.

O repórter Janir Junior, jornalista de O DIA, irmão de sangue de meu irmão Luiz Antonio Simas, assina, hoje, corajosa matéria, que ganhou capa.

capa do jornal O DIA de 29 de outubro de 2007

Ganhou capa e amanhã, como diz o ditado, estará embrulhando peixe na feira da Soares da Costa, aqui na Tijuca.

Ler a matéria do Janir, que acompanhou, do início ao fim, o que significa dizer da madrugada de sábado até o final do dia de ontem, a tal rave realizada em Itaboraí, com a conivência do Governo do Estado, da Prefeitura de Niterói, do Corpo de Bombeiros e até do CREMERJ, é tomar contato, ainda que na confortável condição de leitor, com um verdadeiro circo dos horrores.

Cerca de 10 mil jovens, acéfalos, carentes, doentes, filhotes de uma sociedade consumista, hedonista, egoísta e pouco preocupada com a formação de seus filhos, lotaram, durante mais de 20 horas, o local, um sítio chamado Happy Land.

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Se a matéria impressiona pelo que revelam as fotografias, pelo chocante relato das barbaridades e das atrocidades cometidas pelos pimpolhos da classe média - os ingressos varivam entre 40 e 70 reais -, ela não traz, francamente, nenhuma (com a ênfase szegeriana) novidade.

Trata-se, a bem da verdade, de um roteiro até chato, de tão previsíveis que são as conseqüências de um troço desses.

Pelo menos um jovem, de 17 anos, cujo pai é morador da Barra da Tijuca (mera coincidência?!), morreu de overdose. Outros tantos, que foram à festa em vans alugadas pelos organizadores (!?!?!?!?!?) que saíram de Ipanema (mera coincidência?!), também passaram horas, segundo nos conta o Janir, dançando ao som de música (!?!?!?!?!?) eletrônica, e abusando das drogas sintéticas, as que não incomodam tanto à escumalha da classe média já que são vendidas por seus próprios meninos, isolando-os dos traficantes dos morros da cidade.

Um nojo, um verdadeiro nojo.

Uma parcela da juventude perdida.

Que ainda cobrará - anotem - sua conta, altíssima.

Até.

27.10.07

AMANHÃ É DIA DE PRATA

Faz anos amanhã, mais precisamente vinte anos, Tiago Prata, o Pratinha, gênio da raça, querubim carioca, anjo torto das sete cordas que domina como gente grande que, pra sua sorte, ainda não é - troço que torço para que não seja nunca.

Tiago Prata na Folha Seca, 25 de agosto de 2007

O malandro, a quem amo profundamente - e notem que, ao longo das histórias que conto nesse velho balcão de mármore, jamais escondi isso - comemorará a data amanhã, domingo, 28 de outubro de 2007, no Estephanio´s Bar, na Rua dos Artistas 130, em Vila Isabel, numa área íntima pra feras como Benedito Lacerda, Nelson Rodrigues e Aldir Blanc, que por ali viveram.

O Prata então, amanhã, estará, através de um acorde mágico, como os tantos que produz, dobrando o tempo, primas e bordões, dando mais coerência à sua própria história e mais graça àquela esquina.

Tenho um tremendo orgulho de ser amigo do cara e de ser - ainda que em meus delírios de febre - seu pai mais novo. Um estranho orgulho, é verdade, como se fosse ele obra minha e não o agudo oposto, eis que eu - taí a confissão que nem eu sabia que faria - remoço muitos anos a cada vez que o encontro, em sôfregos arremessos ao passado que não me dão refresco.

Tiago Prata na Folha Seca, 25 de agosto de 2007

Amanhã, como dizia o avô do Simas, se tudo der certo vai dar uma merda tremenda. E daqui, desde já, ergo o copo com o chope mais bem tirado, em homenagem ao menino em cujas mãos deposito muitas das minhas esperanças.

Até.

26.10.07

UM FIM DE TARDE, UMA NOITE, UM PRESENTE

Quem acompanha minhas confissões feitas quase que diariamente, aqui, no balcão de mármore do BUTECO, sabe que dentre as lições que recebi, e ainda recebo de meus pais, está a de ser grato, permanentemente grato, e a de cultivar a gratidão por todos aqueles que, por qualquer razão, merecem esta deferência, este carinho, este reconhecimento.

Não por outra razão escrevi, em junho de 2006, DE VOLTA!!!!! (leiam aqui), homenageando Próspero, Cidália, Crespita, Eurico e Inês. Não por outra razão escrevi, em setembro de 2006, OS PRESENTES IRRETRIBUÍVEIS (leiam aqui), homenageando uma pá de gente querida e especialmente o Simas. Não por outra razão escrevi, em janeiro de 2007, MAIS UM PRESENTE IRRETRIBUÍVEL, homenageando os queridíssimos amigos da Folha Seca (leiam aqui). Não por outra razão escrevi, em fevereiro de 2007, UM IRRETRIBUÍVEL, DE NOVO (leiam aqui), em homenagem à Sônia. E, por fim, não por outra razão escrevi, em maio de 2007, OUTRO PRESENTE IRRETRIBUÍVEL (leiam aqui), agradecendo à Sonia e Benjamim.

Ontem, no final da tarde, tive uma reunião, profissional, evidentemente, com o Fraga. Fui, a bem da verdade, apresentá-lo a um amigo de infância, o Serginho (dia desses conto a vocês sobre as aventuras do cara). Terminada a reunião, disse-me o Fraga visivelmente mal intencionado:

- Folha Seca?

Parti pra lá e, em coisa de vinte minutos, chegava o malandro trazendo nas mãos, orgulhosíssimo, uma sacola da Lidador, de onde sacou uma garrafa de Grant´s 12 anos. Ficamos ali, eu, Fraga e Rodrigo Folha Seca, até que chegou o Bemoreira, quando passamos a ser, então, quatro homens em estado de graça diante da graça do encontro.

E eis o que eu queria lhes contar.

O Bemoreira, num gesto que me comoveu de forma aguda, cochichou alguma coisa no ouvido do Folha Seca e em minutos estendeu-me um livro.

dedicatória de Leo Boechat, o Bemoreira, no livro Leão-de-chácara, de João Antônio

Dali em diante, após receber o ABRAÇO EDU dado pelo Bemoreira, dois ou três telefonemas depois, estava costurada a noite.

Partimos, eu e Bemoreira, para o Bar Brasil, onde encontramos o Vidal e o Dalton, a quem não via, ó, há tempos. Bebemos uma quantidade monumental de chope e comemos fartamente. Horas depois, o Bemoreira, que tinha uma festa, partiu. Dalton, que também tinha um compromisso, partiu.

E eu parti com o Vidal para a Toca da Lapa, uma espelunca na Mem de Sá, onde bebemos confissões inconfessáveis. Como eu havia estado ali com o Mitke há coisa de umas semanas, na companhia, também, do Daniel A., bati o telefone pro malandro apenas pra dizer da lembrança e da saudade.

Isso porque aprendi com meus pais, também, a não deixar pra depois qualquer lembrança, qualquer carinho, qualquer gesto de amor. Arrepender-se, depois, do não-fazer, dói pra burro.

Até.

25.10.07

O DEPOIMENTO DO ZÉ SERGIO

O texto À MODA DA TIJUCA, leia-o aqui, no qual eu conto como agi com duas sobrinhas amadas diante de uma babaquice olímpica imposta às meninas pelo colégio rendeu, até o momento, vinte e oito comentários. Nenhum tão significativo e tão no espírito da história que contei como o do meu queridíssimo José Sergio Rocha. Fala, :

"Tenho quase certeza de que sou um dos mais veteranos do grupo que está lhe dando os parabéns, com exceção do Isaac (porra, Isaac, é o animal do teu filho que te chama de mais velho, eu só estou chamando de veterano).

Por isso mesmo, estou ainda mais perplexo com essa porra toda que está acontecendo nos costumes. Por isso, não me surpreendem absurdos como este que foi comentado pelo Daniel A., aí mais pra cima.

Um dia, numa festinha de aniversário de criança, em Icaraí, há uns 10 anos, quase saí na porrada com a mãe e o babaca do padrinho de uma menina, por incentivarem a guria e os outros pivetes da festa a dançarem com a porra da garrafinha.

O próprio pai da menina, meu chapa, com quem eu tomava algumas na merda do plei, ficou sem fôlego quando viu a filha de uns cinco anos chegar fantasiada de Carla Peres, com shortinho cavado, bustiê, maquiadinha feito uma barbie. Quase teve um troço, mas não falou nada.

Eu é que não me aguentei e fiz um discurso contra aquela bosta.

Aí vieram o babaca do padrinho, a escrota da madrinha e a mais escrota de todas, a mãe, tentando me desqualificar, dizendo que eu estava velho e biritado. Porra, aí o tempo quase fechou. Chamei aqueles putos todos de idiotas, pedófilos enrustidos, o caralho a quatro.

Somente outro convidado da merda da festa, que o Edu conheceu por eu ter levado uma vez no Estephanio´s, é que entrou também na confusão. Saímos ou fomos convidados a sair, nem me lembro.

O meu outro chapa, pai da aniversariante, quase veio junto, mas a coisa estava feia demais. Quem mandou casar com uma imbecil daquelas e ainda por cima deixar que ela chamasse para padrinhos um casal de cuzões?

A "Pequena Miss Sunshine" lavou minha alma, mas isso foi dez anos depois. Puta que os pariu!"


Até.

A OPINIÃO DA GÊNIA ESTELA PRESTES

O outrora aguerrido JB abriga, hoje, uma senhora de nome Estela Prestes, sem o negrito, evidentemente, que assina uma coluna chamada VIP (pausa para o vômito). Esta senhora foi autora de uma nota, logo após os Jogos Pan-Americanos, para a qual chamou-nos a atenção o sempre vigilante Luiz Antonio Simas, onde escreveu:

"Com as 59 medalhas de ouro conquistadas, o Brasil ultrapassou seu próprio recorde em Jogos Pan-Americanos. Isso é maravilhoso, mas cabe uma pergunta: por que um país de dimensões continentais como o nosso ficou abaixo de Cuba, uma ilha encravada no OCEANO PACÍFICO?"

O grifo é meu; a ignorância é dela, e isso pode ser conferido aqui.

Até.

24.10.07

À MODA DA TIJUCA

Eu e a Sorriso Maracanã somos padrinhos de seis afilhados. Em ordem alfabética, Alfredinho, Ana Clara, Dhaffiny, Iara, Milena e Raphael. Filhos de Alfredo e Raquel, Ricardo e Magali, Buba e Lu, Szegeri e Railídia, Mariana e Marcelo, Júlio e Ana, talvez não sejam mais meus afilhados quando eu terminar de escrever este texto. Explico.

Antes, porém, quero lhes dizer que vale a pena correr o risco de perder a condição de padrinhos, até mesmo em razão de que, sem modéstia, somos os tios preferidos da molecada, sejamos ou não padrinhos, embora seja comovente demais ouvir, por exemplo, a Milena, minha afilhada mais velha, me chamando de diiiiiiiiiindo e a Iara, a paulistinha, me chamando de diiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo. Mas correrei o risco. Vamos em frente.

Na sexta-feira passada, estrilou meu celular. Era Maria Helena, irmã da Ana Clara:

- Tio Babo?! A gente pode dormir amanhã na casa de vocês?

Depois da agradabilíssima manhã de sábado, que começou na Folha Seca e estendeu-se, à tarde, no Armazém Senado, partimos nós dois para a missão: resgatar as meninas - pobrezinhas... - que moram na Barra Cada Vez Menos da Tijuca.

Lá chegando - o combinado era devolvermos as meninas no dia seguinte na hora do almoço! - a mãe, Magali, irmã da minha Dani, estendeu-nos quatro mochilas, duas de roupa e duas de brinquedo, e com um boneco de pano e feltro, horroroso, parecido com um espantalho, numa das mãos, em tamanho natural (mais alto que as meninas) e um caderno na outra, disse-me, visivelmente para que elas ouvissem:

- Então, tio Babo... As meninas estão levando pra dormir lá, também, o Príncipe João Felipe...

Franzi a testa, tomei um chute na canela, da Dani, e ela prosseguiu a estranha palestra:

- É que a cada final de semana o Príncipe João Felipe dorme na casa de um coleguinha, do colégio, e nós, os pais, precisamos fotografar as atividades do pequeno monarca e colar todas as fotografias neste álbum - estendeu-me o troço - para que os coleguinhas vejam tudo na semana seguinte... Entendeu, tio Babo?

Quase vomitei ali mesmo, na sala, enquanto folheava o álbum, verdadeiro tratado de pedofilia e pederastia - onde o mundo vai parar?!?!?!?!?! Meninos dormindo abraçados com o boneco, meninos brincando de gangorra com o boneco, meninos e meninas sentados à mesa tomando café, almoçando ou jantando com o imbecil de pano, um horror.

Já no elevador, perguntei à Maria Helena:

- Como é mesmo o nome dessa bicha?

Ela riu e disse:

- João Felipe...

Quando fomos entrar no carro - e as meninas simplesmente amam o brizolamóvel graças às seguidas sessões de cataquese a que são submetidas sempre que estão conosco... - Maria Helena, já no meu clima, disse à irmã:

- Ana! Ponha esse idiota na mala junto com nossas mochilas!

Durante o caminho, aquele papo...

- Na Tijuca, minhas queridas, príncipe é o nome de um penteado muito legal, o Príncipe Danilo...

- Se vocês aparecerem com esse babaca lá na rua irão vê-lo sendo espancado pela molecada do São Carlos...

- Vamos limpar o cocô do Pepperoni com ele?

- Ele é meio afrescalhado, né?

Dani até que tentou me repreender, mas as meninas riam tanto, mas tanto, daquilo tudo, que prefiriu manter-se calada.

Até que chegamos. Chegamos e eu propus:

- Vamos fazer a sessão de fotos?

A Maria Helena:

- Ah, não! Joga logo esse idiota no lixo!

Ana Clara, incendiada pela irmã:

- Vamos colocar fogo nele! Tio Babo, tive uma idéia: coloca ele no forno e vamos ficar assistindo com a lâmpada de dentro ligada!

Para que as meninas pudessem cumprir o pedido pela escola (algumas fotografias coladas no álbum e o boneco, inteiro, devolvido na segunda-feira), as convenci de não serem tão radicais.

E fiz três fotos.

Fiz três fotos e ditei a elas as legendas, escritas com letrinhas de forma imediatamente abaixo de cada uma delas:

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FOTO 1: JOÃO FELIPE SE SUBMETENDO A UMA SESSÃO DE DESCARREGO DIANTE DE UM DEFUMADOR GIGANTESCO À BASE DE ALECRIM, ALFAZEMA, SAL GROSSO, INCENSO E BENJOIM, AO SOM DE PONTOS DE CABOCLO, A FIM DE TIRAR DO CORPO E DA ALMA AS NEGATIVIDADES DA BARRA DA TIJUCA

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FOTO 2: JOÃO FELIPE, JÁ UM POUCO MAIS AMBIENTADO, DEPOIS DE BEBER INÚMERAS DOSES DE MARAFO, TENDO DORMIDO COM A GARRAFA E O COPO NAS MÃOS DE TÃO BÊBADO QUE ESTAVA

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FOTO 3: JOÃO FELIPE, TRISTE MORADOR DA BARRA DA TIJUCA E ACOSTUMADO COM A VIDA ARTIFICAL DOS CONDOMÍNIOS DE LUXO DO BAIRRO MAIS PODRE DO RIO DE JANEIRO, ATROPELADO POR NÃO SABER ATRAVESSAR UMA RUA DE VERDADE COM CARROS DE VERDADE NA MANHÃ DO DIA SEGUINTE, AINDA DE PORRE
Até.

23.10.07

ALDIR NA GRANDE REDE OUTRA VEZ!!!!!

O BUTECO, triste desde o final de agosto com a notícia da saída do bardo da Tijuca, Aldir Blanc, do outrora aguerrido JB (salvo raríssimas exceções, antes que o Marechal vocifere contra mim diante do balcão da Folha Seca), que dispensou a caneta do cara, como noticiei aqui, comemora a volta - mais uma!, e o troço já ficando hilariante de tão parecido com as despedidas e com os retornos do saudoso Sílvio Caldas - do cracaço vascaíno, dessa vez por via do blog da minha comadre querida, Mariana Blanc, o CARTA DE HADES.

Vejam aqui, enquanto proponho um brinde, diante do balcão imaginário, torcendo por vida longa à nova coluna.

Até.

DÁ-LHE TIJUCA!

Empolguei-me, há pouco, lendo O GLOBO ONLINE, quando me deparei com a seguinte manchete: VOTE NA SUA VACA FAVORITA

Ah, meus poucos, mas fiéis leitores, não direi um nome sequer para evitar a atuação de advogados oportunistas e surfistas das ondas desonestas da indústria do dano moral, mas pensei, na hora, em pelo menos três vacas que mereciam meu voto. Até que cliquei na tal manchete e percebi que, de fato, o troço se referia à babaquice olímpica que atende pelo nome de Cow Parade (parada das vacas). Sobre isso, recomendo a leitura do elucidativo texto de meu mano Simas, chamado VACAS NA CIDADE, leiam aqui.

Eis que clico no link e sou, do clique em diante, depois de observar, estarrecido, o mapa da cidade com 100 (cem!) vacas, um cara cheio de orgulho.


Notem, clicando sobre o mapa, qual é um dos únicos bairros da cidade sem uma vaca dessas...

Dá-lhe Tijuca!

Até.

22.10.07

A CANALHA PORCA DE SÃO PAULO

A revista VEJA (uma das mais reacionárias do Brasil), através de um suplemento que só circula em São Paulo - a chamada VEJINHA SÃO PAULO -, dá destaque, em matéria de três páginas, a um dos troços mais nojentos a que já tive acesso na imprensa. A bem da verdade, tive acesso graças ao email que acabo de receber de uma leitora do BUTECO, a goiana residente em São Paulo, Lia de Souza, que chegou a este balcão graças ao link que há no blog do meu camarada Arthur Favela - o ANHANGUERA, o que demonstra, ainda que pontualmente, a força do exército que luta contra a canalha porca que não mede esforços para destruir o Brasil.

Falei em Brasil e faço uma pausa... N´O GLOBO de sábado, um jornalista cujo nome não repito sob pena de vomitar sobre o teclado, escreveu a seguinte merda:

"Quando a crônica acima for publicada, vou estar de férias no continente que realmente importa."

Deveria, o coleguinha de caderno da plagiadora (vejam aqui!) - se o jornal O GLOBO fosse sério - ser sumariamente demitido e convidado a passar o resto de seus dias no continente que realmente importa pra ele. Mas é evidente que nada disso acontecerá... Até mesmo porque a editora do caderno ELA, onde foi publicado o lixo acima transcrito, é a própria plagiadora. Dito isso, em frente.

A matéria a que me refiro é intitulada (pausa para uma golfada olímpica) OS MARAJÁS DAS BALADA$ - QUEM SÃO OS ENDINHEIRADOS QUE GASTAM ATÉ 7000 REAIS NUMA ÚNICA NOITADA, assinada por um tal de Filipe Vilicic, sem o negrito evidentemente, e assim mesmo, com um cifrão no lugar do "s" de "baladas".

Eis a íntegra da matéria mais escrota, mais suja, mais imunda e abjeta dos últimos tempos:

""Quando Abdo Habib Barakat, 27 anos, encosta seu Maserati 4 200 GT vermelho na entrada da Pacha, é uma alegria danada. Não pelo jeito boa-praça dele – e olha que o rapaz é bastante simpático – nem pelo carrão de 300 000 reais. Pesa, sobretudo, o fato de o empresário, dono de uma rede de lojas de móveis, nunca desembolsar menos de 1 500 reais em cada ida ao local. Graças à cifra, tem status de vip, lógico. Nunca pega fila, recebe paparicos da equipe do clube e tem sempre lugar garantido, literalmente, no paraíso. É que se chama El Cielo (o céu, em espanhol) o camarote da boate, na Vila Leopoldina, onde ele costuma bancar a diversão de quem o acompanha. Foi assim na quarta-feira 10, quando torrou 1.700 reais em bebida para dois amigos e sete mulheres com quem desfilavam. "Estava com uma namoradinha, daí paguei a comanda dela e as de suas amigas", conta Barakat, integrante de um grupo sempre recebido com tapete vermelho nas casas noturnas paulistanas: os marajás da balada. Barakat sai quatro vezes por semana e gasta, num cálculo aproximado, 24.000 reais mensais só em bebida, energético e afins. "Já cheguei a deixar 7.000 reais numa festa."

Tudo bem, sair à noite em São Paulo não custa pouco para ninguém – mas nada se compara ao que essa turma gasta. Na Pacha, só para entrar e sorrir, o investimento é de 40 reais para mulheres, valor que dobra no caso dos homens. Quem aspira ao posto de vip, e não é famoso, precisa colocar a mão no bolso. Em geral, as casas possuem um cadastro especial do qual fazem parte os clientes que deixam no caixa mais de 1.000 reais por noite. Consta nessas listas o nome do empresário Thiago Francki, 27 anos, habitué de outro reduto dos notívagos abonados e pródigos, o Museum Dining Art, endereço moderninho no Brooklin. Francki freqüenta as top baladas de três a quatro vezes por semana (outros points são o Royal, no centro, o Cafe de la Musique e a Disco, ambos no Itaim). Sempre gasta cerca de 1.500 reais. "Bebo, no máximo, dois drinques", garante. "Mas gosto de bancar a mulherada."

Isso talvez explique por que, apesar de em muitos casos não serem lá nenhum James Bond, eles jamais circulem sem uma beldade a tiracolo. Mais ou menos como o cobiçado Roberto Balcker, 32 anos, proprietário de uma construtora nos Estados Unidos. Que, vá lá, até é bonitão. Mas não a ponto de ser conhecido como "o Ben Affleck do Museum", seu apelido no restaurante. Em geral, gasta 3.000 reais por noite. "Alguns caras pagam a conta da galera porque fica mais fácil conquistar as moças", afirma Maurício Neves, mais conhecido como Mané, promotor de eventos dedicado exclusivamente a encher os clubes de alto padrão com gente idem. "Minha agenda tem 2.200 homens ricos, mulheres de pura beleza e celebridades", diz. Entre os que ele destaca – cheio de dedos, para não perder a freguesia – há sobrenomes famosos como Safra, Ermírio de Moraes e Schahin. "Trabalho com gente que gosta de ir para a balada de helicóptero."."


O janotinha do Filipe Vilicic, que assina a bosta, ainda dá voz aos idiotas citados ao longo do texto. Vamos ao que eles disseram:

""Gosto de bagunçar e pagar bebida para a mulherada. Costumo bancar a conta de quatro meninas por balada." Thiago Francki, empresário

"As pessoas nos tratam melhor quando gastamos mais. Curto muito esse atendimento diferenciado, e faço questão de ir a clubes onde todos me conhecem."
Abdo Habib Barakat, empresário

"Já desembolsei 5 500 reais numa noite. Gosto de lugares onde posso conviver com meninas de nível, pessoas do meu círculo social."
Roberto Balcker, empresário"


Com a palavra - por favor!!!!! - Arthur Tirone, meu querido mano que atende pelo nome de Favela.

Toda essa nojeira, com direito às fotografias dos membros da canalha, pode ser lida aqui.

Até.

MEU PAI, MEU MOLDE

Como eu sou um olímpico cumpridor da palavra que empenho, ainda que com ligeiro atraso, venho, hoje, cumprir o que prometi na sexta-feira passada - "amanhã ou domingo falarei sobre ele e sua influência sobre mim" -, cheio de renovadíssimo orgulho. E quero lhes explicar porque digo que estou cheio de renovadíssimo orgulho, muito embora vá explicar isso, melhor, no decorrer da semana, quando contar a vocês a emoção que foi assistir ao jogo entre Flamengo e Vasco, na quarta-feira passada, ao lado do Fefê, meu irmão siamês, troço que não acontecia desde 1978, quando papai nos levou, juntos, na esperança de me ver triste com a opção de ser rubro-negro. Como se sabe, o Flamengo venceu por um a zero, a data transformou-se numa das mais traumáticas lembranças de minha infância, e nunca mais fomos, eu e Fefê, ao Maracanã juntos para vermos nossos times jogando um contra o outro. Quando, na quarta-feira passada, nos encontramos, antes do jogo, para beber umas geladas e para brindarmos ao monumental reencontro naquelas condições (ele é Vasco, como papai), falamos, durante um bom tempo, justamente sobre papai. Éramos, ali, naquele buteco da rua General Canabarro, dois homens em estado bruto de felicidade - e devemos muito daquilo (e disso, que permanece, evidentemente) ao fato de sermos filhos de quem somos. Dito isso, em frente.

Isaac Goldenberg, meu pai, em Cabo Frio, 22 de setembro de 2007

Meu pai é, seguramente, um de meus mais ferrenhos críticos com relação ao modo como toco a vida. Não vou aqui, por razões que dispensam qualquer justificativa, expôr todas as suas críticas - que são muitas! -, mas quero me ater à mais constante: a de que sou radical, um defeito inaceitável segundo suas falas. Mas sou radical, eis a confissão que faço hoje, publicamente mas com endereço certo, graças a ele. Vou explicar.

Vou explicar mas, antes, gostaria de recomendar a leitura de ARREMESSADO, DE NOVO, AO PASSADO, de 18 de novembro de 2005, de O PAI ME DISSE, de 15 de fevereiro de 2006, de TIJUCA, de 23 de março de 2006 e de A ESPIRAL - PARTE I, de 25 de abril de 2006. E vale dizer que mais importante que o conteúdo dos textos acima indicados (no contexto que pretendo imprimir) são as fotos, slides digitalizados, onde apareço, bebê de colo, sempre ao lado dele.

Tinha eu tenra idade quando comecei a coleção de imagens e de gestos de meu pai: o primeiro cigarro do dia logo depois do cafezinho e sempre acompanhado de uma garrafa d´água com gás, isso diariamente, imediatamente após a corrida antes mesmo do sol nascer; a mão direita afagando o volante do automóvel e a esquerda, apoiada na janela, cofiando o bigode enquanto dirigia, fosse qual o fosse o trajeto; o cachorro-quente da Geneal, na rua Barão de Itapagipe, sempre depois dos jogos no Maracanã; os passeios de quase todo final de semana à Praça Afonso Pena, à Quinta da Boa Vista; a ida ao barbeiro, também na Praça Afonso Pena, para cortar o cabelo sempre com o Jarbas e sempre sentado no carrinho do super-herói preferido, e eu poderia ficar, aqui, desfiando esse novelo de lembranças que não sai de mim e que explica, ao menos pra mim - que é o que importa, no final - meu comportamento obsessivo que vem a reboque - segundo a visão de papai - de meu radicalismo.

Homem de poucos sorrisos, papai tem nos olhos uma ternura sem tamanho, misturada à uma tristeza que vem da beleza de se saber íntegro como poucos. Tem sorrido mais, ultimamente, e não sei bem o por quê disso - e não há porque saber. Também tem bebido mais, e reclamado olimpicamente de minhas performances etílicas, como se não fosse ele o responsável direto pela minha relação de paixão com a birita, e isso desde aquele arremesso certeiro, em meu colo, da primeira lata de Brahma, faltando poucos minutos para o início do jogo de estréia do Brasil contra a Suécia na Copa do Mundo de 1978, seguido de um sugestivo:

- Bebe, porra!

Sou, eis então o reforço da confissão e o começo da conclusão de hoje, um homem construído, tijolo por tijolo, por meu próprio pai. Devo minha fascinação pelas mulheres, pelas mulatas e pelo carnaval, a um pai que levou, ano após ano, o primeiro filho, sôfrego, para ver carros alegóricos e passistas do Bafo da Onça na avenida Presidente Vargas. Devo minha devoção à bebida a um pai que bebeu a vida inteira - menos que eu, é verdade - ao lado do filho que riscava a folhinha esperando o dia do primeiro gole chegar. Devo meus princípios a um homem que repetia frases como "seja o que for quando crescer, seja o melhor", "homem não sente frio", "homem não chora", "não falem palavrão na frente da sua mãe, cacete" (nunca ouvi um caralho dito pela voz de meu pai), e outras pérolas do "folclore isaquiano", expressão criada pela minha Sorriso Maracanã depois de uns poucos anos de convívio.

Talvez, eis aí uma verdade, o resultado final tenha desagradado o arquiteto, e eu não seja - já disse isso uma vez e repito - nem metade daquilo que ele sonhou. Mas eu sou assim. Quem quiser de gostar de mim, eu sou assim.

Até.

21.10.07

O HOMÚNCULO E A FUTILIDADE SEM FIM

Jota e suas asseclas (os quatro juntos são asseclas do jornal O GLOBO), não satisfeitos com a futilidade olímpica a que deram publicidade aqui, quando exaltaram a festa promovidade pela CBF, autêntico nicho de ratazanas obesas que enriquecem ilicitamente com o futebol, para a qual foram convidados apenas os vips, qualificação mais deprimente dentre todas, volta hoje, domingo, a paparicar a canalha com nota intitulada NEGÓCIO QUE VAI NO PULSO VIP.

nota publicada no jornal O GLOBO de 21 de outubro de 2007

A nota, muito elucidativa, comemora o fato de que "o crescimento chegou ao mercado das pulseirinhas vip, aquelas que servem de passe de entrada em eventos e guardam os mais importantes num chiqueirinho" (sobre essa porra de "chiqueirinho", já falou O GLOBO, como demonstrei aqui).

Fica-se sabendo também, com mais essa impressionante contribuição da coluneta mais anti-carioca de que se tem notícia, que para o TIM FESTIVAL, que acontece no próximo fim de semana (e que será, evidentemente, motivo de notas e mais notas imundas no mesmo espaço) estão sendo confeccionadas vinte e duas mil pulseirinhas para os vips e para os vipsvips (pausa para o vômito).

Mas curioso, mesmo, é o fato que nos conta, à certa altura, a nota suja: "além de identificar os vips, as pulseirinhas já serviram para marcar os avestruzes de um fazendeiro. Deu direitinho para encaixar na canela fina dos bichos porque é regulável".

Marca também - me contaram - viado, antílope, galinha, porco, cachorro, cadela... enfim... a festa da bicharada.

Não passarão!

Até.

20.10.07

FOTOTECA

salsichas brancas com mostarda preta
risotto parmiggiano com filet ao funghi
Rendeiras, Cabernet Sauvignon e Syrah, 2004

19.10.07

A CANALHA PORCA

(título do texto em homenagem a Daniel A., caçador de antílopes, que adorou a expressão)

Eu não sei quanto a vocês, mas a coerência é um troço que me comove de maneira aguda. Talvez por isso me doa tanto a determinação de não mais voltar ao Rio-Brasília graças a um desentendimento com o Joaquim, talvez por isso eu pague um preço às vezes altíssimo graças à retidão que julgo trilhar em gestos e posturas, talvez por isso pareça, como diz meu pai (amanhã ou domingo falarei sobre ele e sua influência sobre mim), que eu faço tipo. A tendência de quem é assim, coerente, é o isolamento, e eu confesso que sinto-me preparado para o meu próprio velório com audiência zero - é o que me tem dito, seguidas vezes, o Rodrigo Folha Seca. Vejo a cena e - confesso - divirto-me com ela. Um sujeito que não faz concessões - como eu penso que não faço (e notem que eu digo que penso que não faço, já que nós costumamos ser violentamente benevolentes no auto-exame) - acaba, mesmo, sendo visto como um radical, um chato, um ranzinza. Mas vale a pena.

Vale a pena e vale muito a pena quando podemos verificar que estamos certos dentro dessa postura coerente que desagrada a muita gente. Explico.

Desde que o SEGUNDO CADERNO de O GLOBO passou a publicar a coluna GENTE BOA (que é, a bem da verdade, a antítese disso) que eu, daqui do balcão, marco em cima essa coluneta que representa o que há de pior e de mais fútil na imprensa escrita aqui no Rio de Janeiro. Até onde cataloguei, apontei 34 atentados contra a cidade, contra nossa gente, contra nossas mais caras tradições. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34 atentados que podem ser lidos, um a um, bastando clicar sobre cada um dos números! São radiografias nítidas, límpidas, que prescindem de laudo para que emerja, de cada uma delas, a podridão putrefata (a redundância é proposital) da tal coluna.

E mantendo a coerência, mantendo sua postura de vendida, mantendo sua posição anti-popular, elitista e arrogante, a coluneta faz o quê hoje?

Dá ampla cobertura - é o único assunto - à nojeira amplamente debatida aqui, ontem.

nota publicada no jornal O GLOBO de 19 de outubro de 2007

Com um texto paupérrimo, dando voz e vez à gente fútil como a própria coluneta (mais uma prova inequívoca da coerência de tudo), o homúnculo e seus asseclas escrevem mais uma página triste da outrora brilhante imprensa carioca (há, ainda, raríssimas exceções).

Lendo essa bosta, você fica sabendo que o filho do casal Daniel Oliveira e Vanessa Giácomo vai se chamar Raul, que "é luar ao contrário" como "explicou Vanessa". Uma gênia, como se vê. Fica sabendo, ainda, que Carolina Dieckmann gritou "caraca, mané!" quando viu o filho chegando na área vip. Sabe, também, que "a maioria dos mascotes que tiveram o privilégio de entrar em campo era filho de algum famoso". Sabe-se, mais, que Priscila Fantin "dançava abraçada à caixa de som".

nota publicada no jornal O GLOBO de 19 de outubro de 2007

Ou seja... uma quantidade industrial de futilidade. Coerente, portanto.

O tom da bosta (impossível chamar aquilo de matéria, sinceramente...) é de fofoca, o que é, de novo, coerente. Soube, dia desses, por alguém que já teve a infelicidade de trabalhar com o homúnculo, que a ordem da coluneta é a seguinte: não faça entrevistas, não faça perguntas, fique apenas atento ao que dizem os famosos longe dos microfones, das câmeras, dos gravadores. Uma nojeira sem fim.

Não tenho dúvida alguma de que a lata de lixo da história do jornalismo está reservada para jornalistas (dá vontade de vomitar elevar essa gente a essa categoria...) que se submetem à tamanha nojeira.

Quanto à CBF, patrocinadora dessa vergonha, verifica-se a mesma coerência. Nicho de ratazanas obesas que enriquecem inescrupulosamente em razão do futebol, preferiu convidar vips (a qualificação mais escrota que pode haver) em vez de jogadores, ex-jogadores, treinadores e ex-treinadores, os verdadeiros responsáveis pela história e pela glória do futebol brasileiro, verdadeiros heróis do Maracanã, palco do povo, e que não merece a classe dirigente que tem.

Não passarão!

Até.

18.10.07

O MODUS OPERANDI DA CANALHA

Eu já havia escrito, em 25 de maio de 2007 - leiam aqui - um texto chamado A CANALHA: MODUS OPERANDI. Volto, hoje, em razão dos últimos acontecimentos, que desenredarei ao longo deste texto, ao mesmo tema: o modo de agir da canalha.

Esse que vocês vêem na foto abaixo é meu irmão Luiz Antonio Simas. E isso que vocês vêem meu irmão bebendo é cerveja (duas, eis que ele é, como eu, um exagerado). Luiz Antonio Simas estava, é importante dizer, nesse dia, no Maracanã.

Luiz Antonio Simas, Maracanã, 29 de setembro de 2007

E ontem, quando jogaram Brasil e Equador pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no Maracanã, lá estava Luiz Antonio Simas, com quem falei há pouquíssimo. Disse-me o sábio:

- Edu... o pior programa do mundo, para quem gosta de futebol, é assistir, in loco, a uma partida da seleção brasileira...

E na mesma linha do que lhes contei ontem, leiam aqui, saiu descendo a borduna nas babaquices que a canalha aprontou para o (pausa para o vômito) "jogo da família", como anunciou, incansavelmente, durante a semana, o pentelho do Galvão Bueno (sem o negrito, evidentemente).

Disse-me o Simas que entrou cedo na expectativa de beber umas geladas antes do jogo. Por ordens da FIFA, que como a CBF é um nicho de ladroagem aguda, a venda de bebidas alcóolicas estava proibida. Meu filho, o Prata, que foi com a mãe ao jogo, já havia me ligado, às nove em ponto, já de dentro do estádio, vociferando ao telefone:

- Não tem cerveja! Não tem cerveja! E agora?

Disse-me o Simas, assombrado, que o sistema de som do Maracanã tocou a valsa DANÚBIO AZUL (!!!!!), com incentivos para que a torcida fizesse coreografia. Uma parte - os babacas, evidentemente - atendeu ao patético apelo. Mas a grande maioria alternava cânticos carinhosos em direção ao Galvão Bueno - vejam aqui, imperdível! - com o grito de "CERVEJA! CERVEJA! CERVEJA!". Quer dizer... o tiro saiu pela culatra, já que esse papo de jogo sem palavrão, com toda a licença, é de uma escrotidão sem tamanho.

Dito isso, vamos em frente.

Quero, agora, lançar luzes sobre os comentários deixados aqui, no texto UM SÁBADO MAIS-QUE-CARIOCA, pelo Gabriel Cavalcante e pelo Rodrigo Ferrari, meu querido Folha Seca. Vamos a eles, nos trechos que me interessam. Disse o Gabriel:

"Realmente o dia foi maravilhoso, só teve um contra: ao chegar no Capela ao lado do Rodrigo Folha Seca, fomos informados pelo Cícero que não poderíamos sentar na mesa escolhida pois estava reservada para um grupo de Ipanema que por sua vez só ia pro Capela se fosse atendido pelo Cícero.

Aí já é demais.

Mas não teve problema, fomos atendidos pelo Miro, (...)."


E emendou o Folha Seca:

"Caraca, Gabriel!

(...)

Acho que sublimei esses momentos por conta da decepção ocorrida no Capela. O Cícero era nosso baluarte! Trocados por um grupo (que podia vir de qualquer lugar, mas que sintomaticamente vinha de Ipanema) que talvez nunca tenha ido lá e provavelmente jamais voltará (notei quando entraram que nenhum deles conhecia o Cícero).

Fiquemos então, por algum tempo, com o Miro, também grande figura, até o dia em que o Cícero se redimir com a gente.

Reserva no Capela, nem o Marecha eu tinha visto conseguir...

Mas se a gente viesse de Ipanema..."


Disse bem o poço artesiano de doçura e de ternura... Sintomaticamente o grupelho vinha de Ipanema.

É EVIDENTE que os imbecis não conheciam o Cícero. É EVIDENTE que consultaram um vade-mécum de otário, como bem diz meu mano Szegeri, acharam bonitinho um jantar na Lapa, leram que o Cícero é um craque (e é, como também é vítima dessa história, já que seguramente o dono o obrigou a manter a reserva em detrimento de clientes fiéis, como o Gabriel e o Rodrigo) e bateram o pé com a exigência nojenta.

É assim, a canalha.

Pensa que pode comprar tudo e todos. Pensa que pode tornar tudo asséptico demais, descolado demais, tudo à sua moda.

Mas há de chegar o dia dela.

Não passarão!

Antes de terminar, uma pergunta pública pro Szegeri:

Querido... o que esse seu irmãozinho aqui faria se lá estivesse, hein?!

Até!

GALVÃO BUENO

O sujeito mais chato da televisão brasileira - ao lado de outros insuportáveis que não merecem citação alguma -, o Galvão Bueno (evidentemente sem o negrito), que passou a semana inteira enchendo a porra do saco de todos nós dizendo que o jogo que acaba de acabar (Brasil 5 x 0 Equador, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010) seria o jogo da família (o que significa isso?!), da paz (?!), e - absurdo dos absurdos! - da ausência absoluta dos palavrões, foi brindado, durante grande parte do jogo, com um corinho que ajudei, daqui de casa, a engrossar:

- Ôôôôô, tomar no cu, Galvão... tomar no cu, Galvão... tomar no cu, Galvão-ão...!

Os babacas da TV GLOBO, é claro - são todos uns otários, vejam aqui - abaixaram o volume do som externo (sei lá se é assim que se fala isso) e calaram a voz do povo.

Resta-me o consolo de saber que o babaca do Galvão ouviu - e com todo o volume possível - o recado que eu, daqui, subscrevo.

Até.

17.10.07

UM SÁBADO MAIS-QUE-CARIOCA

Em setembro de 2006, como lhes contei aqui, a rua do Ouvidor foi palco de um troço bonito demais, que me fez escrever, àquela altura, que "havia, entre os presentes, a consciência da beleza contemporânea que a todos envolvia, numa espécie de missa campal, ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, em festa naquele sábado sagrado e profano.". Foi, de fato, um sábado inesquecível, como foram tantos outros sábados para poucos - como este último.

Começamos a tarde, eu e minha Sorriso Maracanã, em Santa Teresa, na agradabilíssima companhia do Fefê e da Lina (na foto, com a Dani) - dona da casa igualmente agradabilíssima - que receberam a nós e a mais alguns poucos amigos para um churrasco que foi prenúncio e parte de um grande dia.

Lina Rivera e Dani Pureza, Santa Teresa, 13 de ouubro de 2007

Partimos de lá, embriagados com a vista da cidade e com o carinho da anfitriã, em direção, justamente, à rua do Ouvidor, já que havíamos combinado, eu, Rodrigo Folha Seca e Arthur Mitke, uma roda de samba na base do chama-um-chama-outro-e-não-espalha - receita que transforma esses encontros em momentos indizíveis!

E foi, ó, batata!

Chegamos e nos encontramos no Al-Fárábi (clica!), do Carlos, na rua do Rosário, centro histórico do Rio.

Moacyr Luz e Gabriel Cavalcante (veja-o aqui tocando ao lado do Prata e acompanhando Moyseis Marques) assistiam ao jogo do Flamengo com o Paraná ali pertinho. E foram chegando os convocados, e o troço foi ficando bonito demais.

Daniel Scisinio, rua do Rosário, 13 de outubro de 2007

Daniel Scisinio tava com a macaca! Mandou ver no cavaco, cantou pra burro, e bem pra burro, e desfiou um repertório impressionante.

Gabriel Cavalcante, coração do tamanho da Tijuca, sentou-se à mesa assim que o jogo terminou, com aquele sorrisão que só os vitoriosos têm, sacou do cavaco e fez o bonito de sempre.

Chegaram Rodrigo Jesus, Jorginho, o Prata acompanhado da minha nora, Luísa, e do sete cordas, e formou-se, então, a roda de samba que deu ao sábado uma cara que só mesmo no Rio, e que me perdoem os que não são daqui...

Chegaram também meu mano Fernando Szegeri com minha sereia, a Iara, e mais a Railídia, a voz que adoça o canto dos Inimigos do Batente (que tocaram na véspera, naquela noite de sábado e no domingo, fechando a visita à cidade) e Maurinho de Jesus, também de São Paulo, que engrossou o coro dos cavacos.

Rodrigo Jesus, rua do Rosário, 13 de outubro de 2007
Tiago Prata, rua do Rosário, 13 de outubro de 2007
Jorginho, rua do Rosário, 13 de outubro de 2007

Daí veio chegando a noite, que é o dia que morre segundo as tradições que vêm lá de Madureira, e nós ali, cantando, bebendo, bebendo e cantando, brindando à arte e à graça do encontro raro que há de se repetir.

roda de samba, rua do Rosário, 13 de outubro de 2007

É coisa fina, sinhá, que (quase) ninguém mais acha.

Até.

16.10.07

É DEMAIS PROS MEUS ANSEIOS

Quando dançamos, alta madrugada, a manhã já quase chegando, no calçadão de Ipanema, entre a Vinícius de Moraes e a Farme de Amoedo, em meados de 1999, e eu cantei, altíssimo, que aquilo tudo era demais pros meus anseios, estava sendo - como sempre - preciso do início ao fim.

Dani Pureza, 14 de outubro de 2007, Itaipava

E quando hoje, voltando do pequeníssimo mas merecido recesso que estabeleci como presente de aniversário da mulher que me ensinou a sorrir, reabro o BUTECO, eu canto, diante do balcão imaginário, a mesma canção com a mesma certeza para a mesmíssima mulher, a única mulher possível.

Até.

12.10.07

AYDANO ANDRÉ MOTTA MARCA UM GOL

Quem acompanha o BUTECO - cada vez mais gente graças aos deuses! - sabe que eu tenho, e sempre tive, os dois pés atrás com tudo, rigorosamente tudo que tem a chancela de O GLOBO.

Essa a razão para a boa surpresa que acabo de ter, lendo o blog de Aydano André Motta - o CHOPE DO AYDANO -, um dos integrantes do grande latifúndio blogueiro comandado pelo Ancelmo Góis.

Um ou outro detrator disparará que falo isso somente porque exaltou, o Aydano, um buteco na Tijuca. Rotunda mentira. O que me deixou satisfeito, mesmo (e mesmo sabendo que em sede de O GLOBO trata-se de gritante incoerência) foi a menção a uma das máximas que defendo, com unhas e dentes, há anos, a de que buteco não pode - não pode!!!!! - entrar para o modorrento mundo das fanquias. Eis o texto, destacado por mim:

"A integridade de um botequim

Faz tempo que o blog não fala de botequim (nem de coisa alguma, porque a coisa anda meio parada por aqui, mas vai melhorar). Esquecer as catedrais etílicas da cidade é crime hediondo, ainda mais para um espaço que tem chope no nome. Então, dívida paga.

Quer saber? Botequim que é botequim não concede franquia. No máximo, abre filial, uma só e olhe lá. Mas o melhor mesmo é ficar no original, no conceitual, no autêntico. Assim se explica a magia de três ótimos exemplos (e, veja só, não necessariamente nesta ordem): Bracarense, Jobi e Salete. O assunto aqui, hoje, será o tijucano.

Encravado no início da Rua Afonso Pena, o Salete parece impessoal, a olho nu. Mas só leigo se engana. Sua empada de camarão concorre em pé de igualdade com outras mais badaladas, como a do Mosteiro, restaurante de primeiro escalão do Centro. Seu chope igualmente não faz feio, tirado com toda a correção devida. Dá para passar a tarde (o lugar fecha lamentavelmente cedo, fazer o quê, também é tradição) à base de boas tulipas.

Mas o brilho da casa está no risoto, também de camarão, farto e delicioso, como convém à melhor comida de botequim. O garçom, honesto conforme reza o protocolo dos botequins, fornece aos amadores a orientação segura: dá para dois. É a pedida. Um espetáculo.

Da empada à escolha de não servir café, o Salete - agora reformado, com segundo andar para atender à freguesia dos almoços lotados durante a semana - mantém-se um pouso seguro para quem é do ramo. Vida longa a ele, vida longa a todos os botequins. Especialmente os que preservam sua dignidade."


Pode ser lido, também, aqui.

E para ler tudo o que já escrevi sobre essa mentira nojenta - estabelecimentos comerciais travestidos de buteco sob o sistema de franquia - leia E PROSSEGUE A PRAGA (abril de 2006), GENTE BOA? NUNCA! (maio de 2006), A FARRA CONTINUA (julho de 2006), MERDA NA TIJUCA (janeiro de 2007), INVESTIMENTO DE QUANTO? (março de 2007), BELMONTE EM PARIS (abril de 2007) e QUATRO BARES DE MERDA (abril de 2007).

Até.

11.10.07

E O GLOBO NÃO SE CANSA...

Quem lê O GLOBO sabe mais?!

Mentira!

O GLOBO, que tem como editora uma plagiadora que nega-se terminantemente a dar uma explicação mínima que seja para o crime grosseiro que cometeu - vejam aqui -, que comete diariamente atentados praticamente terroristas contra a cidade, contra suas maiores instituições (trato, muitíssimo e sempre, do assunto), no dia 09 de outubro de 2007, anteontem portanto, cometeu mais um estupro contra a informação e o jornalismo maiúsculo.

publicado no jornal O GLOBO de 09 de outubro de 2007


Faço minhas as palavras do meu irmão Luiz Antonio Simas:

"Tem gente achando que eu implico com o jornal O GLOBO. É a pura verdade. Ultimamente, por exemplo, o periódico resolveu liderar uma campanha contra livros didáticos de História que são escritos sob, segundo o jornal, a ótica do socialismo. O articulista Ali Khamel, uma espécie de senador Joseph Mccarthy redivivo, diz que os livros deseducam milhões de jovens brasileiros e lamenta pela sorte dos nossos estudantes. Pode ser. Faltou, entretanto, ao Khamel, mencionar o papel d´O GLOBO nesse processo de deseducação cívica. Exemplifico.

Estava lendo a página de esportes d´O GLOBO de ontem, para saber das novas e inacreditáveis aventuras do Botafogo, quando botei os olhos no seguinte:

´Pré- Olímpico de basquete

(...) Além da Rússia, estão garantidos nos jogos: Austrália (campeã mundial), China (país sede), Estados Unidos (campeão do Pré-Olímpico das Américas) , Máli (Ásia)...´

Só pode ser sacanagem. O MÁLI NA ÁSIA????? MEUS DEUSES!!!!! Se o Máli está na Ásia, eu sou Napoleão Bonaparte, a Bolívia fica na Oceania e o México faz fronteira com o Complexo do Alemão. Eu já desconfiava que nós, brasileiros, ignoramos a história e a geografia africanas, mas isso é demais, um jornal de grande circulação escrevendo um troço desses.

O Máli foi um dos impérios mais importantes da África subsaariana. Três cidades malinesas, Tombuctu, Jené e Gaô, foram centros comerciais de tremenda importância no período anterior à chegada dos europeus ao continente negro. Todo o fluxo mercantil que envolveu a região da curva do Niger teve o Máli como maior referência. Há vestígios arqueológicos que indicam a presença de relações de troca e formação de cidades naquela região desde os anos 800 da era cristã.

Sobre a história do Máli, há páginas belíssimas n´ A ENXADA E A LANÇA, obra monumental do embaixador Alberto da Costa e Silva, o maior africanista da língua portuguesa. Há, também, o testemunho de Ibn Batuta, um aventureiro nascido no Tânger que esteve na região malinesa por volta de 1350, e que produziu saboroso relato sobre os costumes do grande império.

Será que O GLOBO não lembrou que, recentemente, naquele concurso sobre as sete novas maravilhas do mundo, uma das concorrentes foi Tombuctu - a impressionante cidade malinesa? Aliás, a cidade só não teve o meu voto porque não me manifestei na disputa. Tá feia a coisa na grande imprensa.

Amigos, eu lamento profundamente pela sorte de milhares de jovens brasileiros que lêem O GLOBO. O jornal anda oferecendo aos leitores sonrisal com prazo de validade vencida, com a empáfia de quem serve champanhe."


Pode ser lido, também, aqui, no monumental HISTÓRIAS DO BRASIL.

Até.

10.10.07

CARIOCA DA GEMA

Foi lançado ontem à noite, na Lapa, mais precisamente no Carioca da Gema, o CD de estréia de Moyseis Marques, pela DECKDISC, produzido pelo Paulinho Figueiredo. Eu disse que foi lançado o CD de estréia de Moyseis Marques e emendo, de voleio: um senhor disco! Repertório irrepreensível com regravações que mostram algo de novo - infelizmente não é a regra - e canções inéditas que evidenciam um bom compositor (Moyseis também compõe).

Cantando - eu já havia dito isso aqui - o malandro é fabuloso. Se no estúdio fica pouco à vontade (confissão feita por ele durante a entrevista coletiva que antecedeu o excelente show que fechou a noite), o palco é, literalmente, dele.

Durante a entrevista - faço questão de dizer isso, talvez para manter firme a polêmica que, dizem por aí, me caracteriza - tentaram meter um carimbo na testa do Moyseis, que saiu-se bem da - pausa para um pigarro - armadilha. Queriam saber - pra quê, meu Deus?! - se ele se considera forrozeiro, sambista, seresteiro, essas bossas. Ele disse, e eu grifo daqui:

- Eu sou cantor, pô! Um cantor que compõe e canta o que gosta!

Mas é o samba, diga-se, a tônica do disco.

Eu disse que é o samba a tônica do disco e quero lhes dar uma dica (além da evidente dica que é o CD do Moyseis): o CD da Cristina Buarque com o grupo Terreiro Grande é, definitivamente, o disco de samba do ano. Esqueçam o lamentável SAMBA MEU, da Maria Rita, um equívoco olímpico do início ao fim, tremendo engodo, ao agudo contrário do que apregoa o pesado merchandising em cima do troço. Mas voltemos ao CD do Moyseis.

Danielli Pureza e Tiago Prata, Carioca da Gema, 09 de outubro de 2007

O disco tem 14 faixas, 16 canções e arranjos de João Callado, Paulão 7 Cordas, Alessandro Cardozo, Jayme Vignoli, Charles da Costa, Alessandro Cardoso, Mará, do próprio Moyseis, Bernardo Dantas, Zé Paulo Becker e Evandro Lima. Essa (a meu ver, sábia) opção pela imensa variedade de arranjadores transforma o disco num trabalho ainda mais interessante, que dá a ele, inclusive, uma faceta que não se encaixa na tacanhice que exige um rótulo, como querem, sempre, alguns.

Abençoado pelos bambas - como escreveu o Ruy Castro no texto que apresenta o disco -, Moyseis começa com pé direito e mão certeira a carreira fonográfica: dois dos bambas, Luiz Carlos da Vila e Wilson Moreira, estavam presentes e deram ainda mais cor à noite.
Uma pá de gente querida - seria chato e impossível citar todo mundo - também esteve lá e pôde ver, in loco, o quanto era justificada e merecida a transbordante alegria do Moyseis.

Pausa para brevíssima confissão. Eu já lhes disse aqui que o sujeito que não tem, pelo pai, pela mãe, verdadeira adoração, uma espécie febril de idolatria, é uma besta fria. Razão pela qual comovem-me, sobremaneira, as demonstrações públicas de carinho dos filhos pelos pais. Eu, já ligeiramente bem - como todos, bebeu-se industrialmente ontem no Carioca da Gema -, fui às lágrimas todas as vezes em que o Moyseis, do palco, pediu:

- Gente... palmas pra minha mãe!

Moyseis Marques e eu, Carioca da Gema, 09 de outubro de 2007

Talvez também imantado por esse carinho filial, Tiago Prata, com o evidente incentivo do álcool em seu franzino organismo (o menino bebeu como eu nunca havia visto) arremessava-se sobre mim e dizia com a boca chapada em meu ouvido:

- Eu te amo, pai! Escuta, escuta...

Eu, disfarçando a emoção:

- Fala, moleque...

- Se eu fizer uma grande bosta você me salva?!

E eu, automático:

- Evidente! Evidente!

Como é evidente que não fez nada, o anjo de olhos claros. Ele queria apenas, percebi quando voltava para casa, uma prova radical de fidelidade da minha parte.

Chorou, o menino, diversas vezes: quando eu apontei o Wilson Moreira (bêbado, ele não via mais nada), quando o Moyseis cantou IMPERIAL, quando eu me despedi, um troço de maluco!

Partimos de carona com o Tartaglia, eu e a Sorriso Maracanã, por volta das duas da manhã.

Danielli Pureza e César Tartaglia, Carioca da Gema, 09 de outubro de 2007

Tartaglia ainda subiu, deu-nos o prazer de uma visita, bebeu uma dose de RedLabel, fizemos planos diabólicos para o final de semana, falamos bem pra burro do Moyseis e foi assim.

Até.

RECORDE ATRÁS DE RECORDE

O BUTECO, que já vinha bem, graças aos deuses, em matéria de visitação, depois dos últimos dias, quando a discussão aqui por essas bandas ficou, digamos, mais acalorada, vive dias de euforia como nas bolsas de valores mundo afora em período de altas (vejam o gráfico abaixo, de um dos contadores).


Prova inequívoca de que o povo gosta mesmo é de ver pau na mesa, porrada estancando, neguinho se valendo da caixa de ferramentas, cobra fumando, pemba girando e sangue no chão.

Já, já, lhes conto sobre a noite de ontem.

Até.

9.10.07

MOYSEIS MARQUES

É hoje o lançamento do primeiro CD de Moyseis Marques, que você pode ver cantando aqui, no Estephanio´s, acompanhado por Gabriel Cavalcante e Tiago Prata, no dia em que eu e Dani comemoramos oito anos vivendo juntos.

convite para o lançamento do CD de Moyseis Marques

Amanhã, se os deuses permitirem, conto tudo sobre a festa.

Até.

DISSIDENTE DE MIM MESMO

Quando o Aldir escreveu o prefácio de meu livro, MEU LAR É O BOTEQUIM, na íntegra aqui, disse muito sobre mim, provando, como se precisasse..., que é um craque, aquele que vê e antevê. Criou, eu digo sempre, meu epitáfio: AQUI JAZ O EDU, QUE NASCEU DISSIDENTE ATÉ DE SI MESMO. Feito o intróito, que pode lhes parecer sem sentido a princípio, vamos ao que quero falar.

Lapa, 06 de outubro de 2007

Antes, porém, um trecho do prefácio, com grifo meu:

"(...) papo em torno do limão da casa, do caldinho de feijão, dos torresmos e moelas, das porções de queijo ou de salaminho; saudade dos amigos de outras épocas, e copo; muito suor e gelo; mulheres e, eventualmente, porrada."

Porrada. Sim, porrada. Sem porrada, na melhor acepção que a palavra pode ter (e tem!), qualquer balcão de qualquer buteco tem menos graça. E aqui, no BUTECO, não é diferente.

Mas a porrada que estanca, aqui, desde que publiquei o texto A MAIOR TORCIDA DO MUNDO (já são 50 comentários!), confesso de pé diante do balcão imaginário, passou dos limites.

Consigo ouvir, daqui, ohs e ahs admirados de gente que me tem na conta dos irracionais. Consigo ver uns pares de olhos arregalados e incrédulos diante do que pode lhes soar como uma mudança de ventos. Consigo notar neguinho fazendo pilhéria com a minha, digamos (pausa para o pigarro), pipocada. Nada disso. Vou explicar.

É preciso que minha trincheira esteja bem estruturada e, conseqüentemente, preparada para qualquer ataque, venha de onde vier. É preciso que eu mantenha firme meus propósitos e altas as bandeiras que defendo aqui (quem lê o BUTECO sabe quais são). É preciso continuar marcando firme os jornalistas que não fazem jornalismo (quem lê o BUTECO sabe quem são). É preciso continuar denunciando as colunetas de jornal que fazem papel de outdoor (quem lê o BUTECO sabe quais são). E é preciso, sobretudo, continuar combatendo a canalha, esteja onde estiver.

Razão pela qual - eis aí o que queria lhes dizer - não mais vou permitir, e para isso me serve o mecanismo de moderação de comentários - ofensas, ataques ou achaques contra quem quer que seja, guardadas as devidas proporções, e explico.

Não mais vou permitir ataques de ordem pessoal, não mais vou permitir ataques de golpe baixo, não mais vou permitir babaquices como a praticada pelo leitor Victor Alves (ao menos é o nome usado para postagem de comentários), que chamou pra porrada, no braço, outro leitor (ou ex-leitor, como ele mesmo anunciou...), Marcelo Moutinho.

Se eu concordo ou não com o que escreve o Moutinho, e ele sabe que discordamos em quase tudo, isso não vem ao caso.

Isto aqui, o BUTECO, não mais será palco para a solução de pendengas de terceiros.

O tempo e a energia que desperdicei ontem administrando essa pancadaria, mesmo que virtual, e pra usar um verbo que vem sendo gasto pela canalha... me cansou. Ainda que eu tenha, a certa altura do dia, me animado com a coisa. Mas passou, eis a confissão impensável, passou mesmo, dos limites do aceitável.

Até.

8.10.07

FOTOTECA

Simas, eu, Flavinho e Candinha, 07 de outubro de 2007
eu e Henrique, 07 de outubro de 2007
Candinha, eu, Flavinho e Betinha, 07 de outubro de 2007
Henrique, Betinha e eu, 07 de outubro de 2007
Simas, Candinha, eu e Henrique, 07 de outubro de 2007

DOMINGO

Quando Luiz Antonio Simas, esse brasileiro máximo, esse carioca imprescindível, apareceu, na sagrada feira de todos os domingos, na rua Vicente Licínio, com uma camisa rubro-negra, pensei, com a classe que a Tijuca me deu, com meus botões:

- Fudeu!

Luiz Antonio Simas, Bar do Chico, Tijuca, 07 de outubro de 2007

Eu, já ansioso com a partida do final da tarde, mais um Fla x Flu dentre os tantos a que já assisti, sem prestar muita atenção à estampa da camisa do malandro, disse:

- Belíssima caricatura do Adílio. De quem é?

O Simas, mastigando o pastel, respondeu:

- Não é o Adílio, Edu, é Exu, Edu... É Exu...

Pedi perdão ao poderoso deus negro, dividi minha cerveja com ele - já bebíamos às dez da manhã - e seguimos de papo naquela sacrossanta esquina de Pardal Mallet com Afonso Pena, no monumental Bar do Chico, parada obrigatória depois das compras.

Não vi com bons olhos aquilo, as cores rubro-negras sob o peito do bom Simas. Afinal, todos sabem, o Simas é um botafoguense daqueles e a camisa escolhida pareceu-me, sem sacanagem, prenúncio de derrota (que por fim verificou-se).

Foi, de fato, um grande domingo (mais um grande domingo, devo dizer em nome da precisão que me é companheira). Fui à feira, fui ao Bar do Chico, fui à rodoviária buscar meu sobrinho querido, o Henrique (já falei dele, aqui), que veio de Volta Redonda para ver o jogo, fomos almoçar no glorioso Salete (onde encontrei-me novamente com o Simas e a Candinha a caminho do jogo de cadeira especial, com a Joana e com Flavinho e Betinha, que na última hora decidiu ir conosco de arquibancada!), paramos pra beber mais uma cerveja a caminho do estádio, e assistimos, in loco, à partida que terminou com a vitória do Fluminense por dois a zero.

Um grande domingo.

E eu fiz questão de escrever IN LOCO por algumas razões que farão sentido a partir daqui.

Eu já disse - e repito - que só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente. Eu já havia escrito isso, aqui, num texto que escrevi em homenagem ao Botafogo.

Escrevi esse tal texto em homenagem ao Botafogo, e já havia escrito, em 18 de abril de 2005 - leiam aqui - um texto em homenagem ao Fluminense. Deste texto, escrito logo após a conquista do campeonato pelo Fluminense em cima do Volta Redonda, destaco alguns trechos:

"(...) Logo, loas aos tricolores.

Mas é preciso fazer a ressalva: aos tricolores que prestam. E quero explicar.

Sou Flamengo há mais de trinta encarnações. (...) E embora o gol de empate do tricolor tenha sido irregular, embora a expulsão do jogador do Volta Redonda tenha sido vergonhosa, não importa, o Sobrenatural de Almeida se fez presente e aos 47min do segundo tempo o Fluminense pôs por terra a ambição do corajoso time do Voltaço. Fiquei triste? Não. Aliás, nem um pouco. Fiquei onde estava, no mesmo bar, e segui bebendo aguardando a chegada dos campeões.

E eles foram chegando. Mas ali, no meio da turba, um me incomodava. Um, não. Dois. Aliás, nem dois. Três. O terceiro eu nem sequer conhecia, mas ele babava, rosnava, vociferava palavras que eu nem entendia em minha direção. Um desprezível, pensava. O segundo, que atende pela alcunha de Velho (uma tremenda injustiça com o Nelsinho Rodrigues, que atende pelo mesmo apelido), agredia, vejam a insanidade, o Flamengo, que já havia sido escorraçado dentro do campo pelo próprio Fluminense há 15 dias. Um insano, eu pensava. A velha mania de não-comemorar, mas de pisotear no derrotado. O primeiro, Lennon. Não, não se tratava de um médium incorporado pelo ex-Beatle. Ele mesmo, que presentou-me com sua ausência prolongada por muitos meses, tornando respirável a atmosfera naquela esquina, estacionou o carro bem à minha frente, abriu as portas, a mala, estendeu a bandeira do Fluminense, que não merece aquelas mãos pelo que tem de História, e ficou ali, quicando e sorrindo em minha direção.

E eis que, em segundos, uma chuva torrencial, de derrubar árvores, de encher ruas, de entupir bueiros, de transbordar rios, pôs pra correr aquela corja, arrefecendo, digamos, os instintos animais. Era o Sobrenatural de Almeida chorando cântaros pela plebe ignara que ele mesmo ajudara há pouco.

(...)."


E vejam bem...

O jogo de ontem deve ter terminado por volta das 20h05min, 20h10min, algo assim. Cheguei em casa com o Henrique por volta das 21h. Tomei meu banho, levei o garoto na rodoviária de volta, e fui, finalmente, ao computador pra dar uma olhada de praxe nos comentários do BUTECO antes de dormir. Havia um enviado às 20h11min, segundos depois do apito final. Eis a íntegra do comentário-babaca que não autorizei mas que torno público, agora, para que tudo tenha cores de coerência, uma virtude que admiro e cultuo:

"Eduardo: só para não esquecer: saudações tricolores novamente. Agora, com abraços calorosos de Somália e Tiago Neves"

Ora, ora, ora.

Eu não costumo discutir com torcedor de tela plana, com gente que não vai ao estádio (ou "ao campo", como diz o Szegeri), mas que tem a marra e a pachorra de, exclusivamente, fazer troça com a cara dos outros, sem se preocupar com a festa, com a comemoração, com a alegria da SUA vitória, não da derrota do OUTRO.

Quero destacar que em 08 de março de 2007, meu queridíssimo Rodrigo Ferrari, o bom Folha Seca, fazendo um comentário no blog PENTIMENTO, escreveu por ocasião da final da Taça Guanabara (notem o que friso, acompanhem o quebra-pau virtual a que me refiro aqui):

"Caro Moutinho, quanto ressentimento, hein? Que tristeza o Mengo campeão mais uma vez... Deve ser triste mesmo... Mas se apegar a questões morais para questionar outro sucesso rubro-negro, sei não... Notei que seu desabafo foi imediato, minutos após o Mengo ser campeão. Não deu para disfarçar a decepção. Lendo seu relato fiquei encafifado. Depois lembrei que você é muito próximo de Madureira, daí ter visto o Bruno passar "os 90 minutos cuspindo nos atletas do Madureira e chamando os adversários de 'pobres' e 'mortos de fome' (...)". Querido, devagar com o andor. Afinal, se o 'boa gente' Branco tivesse contratado um bom goleiro como o Bruno, seu discurso seria outro... E cá pra nós: gente boa é o Djair, né? Abre o olho, tricolor..."

Quer dizer... o sujeito é especialista na coisa. Fica diante da TV secando agudamente o Flamengo e, segundos após o apito final, parte em direção ao monitor, mouse na mão direita, com a intenção, única, de sacanear quem JAMAIS o sacaneou, o que é o meu caso, por exemplo.

Rigorosamente desprezível.

E hoje, publicando em seu blog um video no qual aparece a aguerrida torcida do Fluminense, da qual ele não faz parte (sei que me faço entender), deu o nome à publicação de CADÊ A TORCIDA QUE GANHA JOGO?, mas depois, sabe-se lá por quê, voltou atrás e tascou lá SAUDAÇÕES TRICOLORES (vejam aqui, basta ler o endereço do link).

Covardia?

Não sei.

Sei que ele cutucou com vara curta algumas feras que estão sempre aqui no balcão, em especial o Fraga, amigo querido (leiam tudo aqui), respondendo, também, é verdade, a algumas provocações que recebeu, mas pisando feio quando meteu o Flamengo no meio.

E isso é troço sério, sabe-se. Volto a repetir: só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente.

É preciso, depois e diante disso, agüentar o tranco.

Até.