8.10.07

DOMINGO

Quando Luiz Antonio Simas, esse brasileiro máximo, esse carioca imprescindível, apareceu, na sagrada feira de todos os domingos, na rua Vicente Licínio, com uma camisa rubro-negra, pensei, com a classe que a Tijuca me deu, com meus botões:

- Fudeu!

Luiz Antonio Simas, Bar do Chico, Tijuca, 07 de outubro de 2007

Eu, já ansioso com a partida do final da tarde, mais um Fla x Flu dentre os tantos a que já assisti, sem prestar muita atenção à estampa da camisa do malandro, disse:

- Belíssima caricatura do Adílio. De quem é?

O Simas, mastigando o pastel, respondeu:

- Não é o Adílio, Edu, é Exu, Edu... É Exu...

Pedi perdão ao poderoso deus negro, dividi minha cerveja com ele - já bebíamos às dez da manhã - e seguimos de papo naquela sacrossanta esquina de Pardal Mallet com Afonso Pena, no monumental Bar do Chico, parada obrigatória depois das compras.

Não vi com bons olhos aquilo, as cores rubro-negras sob o peito do bom Simas. Afinal, todos sabem, o Simas é um botafoguense daqueles e a camisa escolhida pareceu-me, sem sacanagem, prenúncio de derrota (que por fim verificou-se).

Foi, de fato, um grande domingo (mais um grande domingo, devo dizer em nome da precisão que me é companheira). Fui à feira, fui ao Bar do Chico, fui à rodoviária buscar meu sobrinho querido, o Henrique (já falei dele, aqui), que veio de Volta Redonda para ver o jogo, fomos almoçar no glorioso Salete (onde encontrei-me novamente com o Simas e a Candinha a caminho do jogo de cadeira especial, com a Joana e com Flavinho e Betinha, que na última hora decidiu ir conosco de arquibancada!), paramos pra beber mais uma cerveja a caminho do estádio, e assistimos, in loco, à partida que terminou com a vitória do Fluminense por dois a zero.

Um grande domingo.

E eu fiz questão de escrever IN LOCO por algumas razões que farão sentido a partir daqui.

Eu já disse - e repito - que só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente. Eu já havia escrito isso, aqui, num texto que escrevi em homenagem ao Botafogo.

Escrevi esse tal texto em homenagem ao Botafogo, e já havia escrito, em 18 de abril de 2005 - leiam aqui - um texto em homenagem ao Fluminense. Deste texto, escrito logo após a conquista do campeonato pelo Fluminense em cima do Volta Redonda, destaco alguns trechos:

"(...) Logo, loas aos tricolores.

Mas é preciso fazer a ressalva: aos tricolores que prestam. E quero explicar.

Sou Flamengo há mais de trinta encarnações. (...) E embora o gol de empate do tricolor tenha sido irregular, embora a expulsão do jogador do Volta Redonda tenha sido vergonhosa, não importa, o Sobrenatural de Almeida se fez presente e aos 47min do segundo tempo o Fluminense pôs por terra a ambição do corajoso time do Voltaço. Fiquei triste? Não. Aliás, nem um pouco. Fiquei onde estava, no mesmo bar, e segui bebendo aguardando a chegada dos campeões.

E eles foram chegando. Mas ali, no meio da turba, um me incomodava. Um, não. Dois. Aliás, nem dois. Três. O terceiro eu nem sequer conhecia, mas ele babava, rosnava, vociferava palavras que eu nem entendia em minha direção. Um desprezível, pensava. O segundo, que atende pela alcunha de Velho (uma tremenda injustiça com o Nelsinho Rodrigues, que atende pelo mesmo apelido), agredia, vejam a insanidade, o Flamengo, que já havia sido escorraçado dentro do campo pelo próprio Fluminense há 15 dias. Um insano, eu pensava. A velha mania de não-comemorar, mas de pisotear no derrotado. O primeiro, Lennon. Não, não se tratava de um médium incorporado pelo ex-Beatle. Ele mesmo, que presentou-me com sua ausência prolongada por muitos meses, tornando respirável a atmosfera naquela esquina, estacionou o carro bem à minha frente, abriu as portas, a mala, estendeu a bandeira do Fluminense, que não merece aquelas mãos pelo que tem de História, e ficou ali, quicando e sorrindo em minha direção.

E eis que, em segundos, uma chuva torrencial, de derrubar árvores, de encher ruas, de entupir bueiros, de transbordar rios, pôs pra correr aquela corja, arrefecendo, digamos, os instintos animais. Era o Sobrenatural de Almeida chorando cântaros pela plebe ignara que ele mesmo ajudara há pouco.

(...)."


E vejam bem...

O jogo de ontem deve ter terminado por volta das 20h05min, 20h10min, algo assim. Cheguei em casa com o Henrique por volta das 21h. Tomei meu banho, levei o garoto na rodoviária de volta, e fui, finalmente, ao computador pra dar uma olhada de praxe nos comentários do BUTECO antes de dormir. Havia um enviado às 20h11min, segundos depois do apito final. Eis a íntegra do comentário-babaca que não autorizei mas que torno público, agora, para que tudo tenha cores de coerência, uma virtude que admiro e cultuo:

"Eduardo: só para não esquecer: saudações tricolores novamente. Agora, com abraços calorosos de Somália e Tiago Neves"

Ora, ora, ora.

Eu não costumo discutir com torcedor de tela plana, com gente que não vai ao estádio (ou "ao campo", como diz o Szegeri), mas que tem a marra e a pachorra de, exclusivamente, fazer troça com a cara dos outros, sem se preocupar com a festa, com a comemoração, com a alegria da SUA vitória, não da derrota do OUTRO.

Quero destacar que em 08 de março de 2007, meu queridíssimo Rodrigo Ferrari, o bom Folha Seca, fazendo um comentário no blog PENTIMENTO, escreveu por ocasião da final da Taça Guanabara (notem o que friso, acompanhem o quebra-pau virtual a que me refiro aqui):

"Caro Moutinho, quanto ressentimento, hein? Que tristeza o Mengo campeão mais uma vez... Deve ser triste mesmo... Mas se apegar a questões morais para questionar outro sucesso rubro-negro, sei não... Notei que seu desabafo foi imediato, minutos após o Mengo ser campeão. Não deu para disfarçar a decepção. Lendo seu relato fiquei encafifado. Depois lembrei que você é muito próximo de Madureira, daí ter visto o Bruno passar "os 90 minutos cuspindo nos atletas do Madureira e chamando os adversários de 'pobres' e 'mortos de fome' (...)". Querido, devagar com o andor. Afinal, se o 'boa gente' Branco tivesse contratado um bom goleiro como o Bruno, seu discurso seria outro... E cá pra nós: gente boa é o Djair, né? Abre o olho, tricolor..."

Quer dizer... o sujeito é especialista na coisa. Fica diante da TV secando agudamente o Flamengo e, segundos após o apito final, parte em direção ao monitor, mouse na mão direita, com a intenção, única, de sacanear quem JAMAIS o sacaneou, o que é o meu caso, por exemplo.

Rigorosamente desprezível.

E hoje, publicando em seu blog um video no qual aparece a aguerrida torcida do Fluminense, da qual ele não faz parte (sei que me faço entender), deu o nome à publicação de CADÊ A TORCIDA QUE GANHA JOGO?, mas depois, sabe-se lá por quê, voltou atrás e tascou lá SAUDAÇÕES TRICOLORES (vejam aqui, basta ler o endereço do link).

Covardia?

Não sei.

Sei que ele cutucou com vara curta algumas feras que estão sempre aqui no balcão, em especial o Fraga, amigo querido (leiam tudo aqui), respondendo, também, é verdade, a algumas provocações que recebeu, mas pisando feio quando meteu o Flamengo no meio.

E isso é troço sério, sabe-se. Volto a repetir: só uma besta humana para não perceber que o futebol é mágico e misterioso demais - perigoso, até - para que haja espaço, no coração de um aficionado, para o deboche inconseqüente.

É preciso, depois e diante disso, agüentar o tranco.

Até.

8 comentários:

Anônimo disse...

COmo de hábito, Edu, tiraste conclusões precipitadas. O comentário que vc reprovou (pois é, e a democracia?) era dirigido ao "Eduardo" que comentou no outro post, não a você, a quem sempre chamei de "Edu". Ou seja, tanta virulência gratuita por nada, pois assim como vc jamais me sacaneou, eu jamais te sacaneei. Aliás, essa "virulência" exagerada, que alguns dos comentadores crêem ser sinal de macheza, anda estragando este blog, o qual sempre tive grande prazer em ler. Portanto, diante triste episódio, digo que vc pode ficar tranquilo, pois aqui não voltarei.

Eduardo Goldenberg disse...

Não, Moutinho, não foi uma conclusão precipitada. Em primeiro lugar não me atinei para o fato de que Eduardo não era eu. Mas isso não faz, sinceramente, nenhuma diferença. O que me impressiona é essa sua pressa, essa sua rapidez, essa sua vontade infantilóide de agredir o derrotado no futebol, num gesto que eu considero - já disse isso e repito mil vezes! - extremamente reprovável. Em segundo lugar... sacaneando o Flamengo você me sacaneia. E pra fechar, por enquanto, não fico mais ou menos tranqüilo com sua anunciada ausência. Fico um pouco aborrecido, isso sim. Escrevo para ser lido por muita gente, isso é um dos troços que me motiva. Saber de uma, digamos, deserção, não é exatamente agradável. E festeje, Moutinho, comemore a boa fase de seu time. Deixe os outros pra lá. É sinal de sanidade em termos de futebol, vá por mim.

Anônimo disse...

Capitão,

Alçou o rapaz à categoria de besta humana por que razão?

Saravá!

Anônimo disse...

edu, confesso que li o texto de cabo a rabo (inclusive o adendo do rodrigo. o cara é gente fina...). o domingo quando o meu flamengo perde, fica meio chato... e eu que achei que com aquela multidão a festa era nossa. não deu. paciencia. pros malucos por velocidade (e eu sei que na tijuca tem muitos), pelo menos a ferrari chegou lá. agora, tremi nos sapatos quando você disse que foi almoçar no salete... putz! tem tempo que eu não vou lá. eu trabalhava num escritório de arquitetura no jardim botânico, e dava carona prum chapa meu que mora ali pertim. daí ia prá itaipú. até meu filho dhani (vascaíno) é LOUCO pelas empadas do salete.
valeu bro. caíque.

Felipe Quintans disse...

SANGUE!!!
SANGUE!!!
SANGUE!!!

Com vitórias ou derrotas, viva a cultura do futebol brasileiro. O que seria do futebol se todos tivéssemos os mesmos times? Não haveriam as conversas de botequim entre AMIGOS, que podem durar um dia inteiro. Não haveria graça alguma. Viva o América, o Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Bangu, Canto do Rio, Madureira, Bonsucesso, Campo Grande, Olaria, São Cristóvão, e todos outros.

Amo todos os times, porque sem eles o meu não existiria!

Até mesmo o Fluminense do rapazinho aí em cima, mesmo depois de sair da terceirona, onde se encontra o meu América hoje, e mesmo depois de ter virado a mesa para subir para a primeira, tem o seu valor na história do futebol.

Até.

Anônimo disse...

Eduardo, você fala de comentário-babaca que você não autorizou e depois publicou, ou seja, só lemos aqui o que te interessa. Fala ainda de "que tem a marra e a pachorra de, exclusivamente, fazer troça com a cara dos outros"....você faz isso a toda hora no blog....Tem a marra de tijucano que conhece todos os bares bons e faz troça com os demais. Cuidado, a cada dia o blog fica mais em questionamento...a não ser pelos seus amigos que são tão exaltados aqui. Bola no chão, meu garoto

Eduardo Goldenberg disse...

Pedro H.: é evidente que aqui só se lê o que me interessa, pô... Afinal isso aqui é um blog pessoal, é meu, e eu vou publicar, sempre, apenas aquilo que está em consonância com o que penso. Outra coisa: não faço troça com a cara de quem quer que seja. Aponte-me um troço desses e eu me renderei. Mais: marra de tijucano? Não entendi. E pra fechar... Eu não sabia que o BUTECO era posto em questionamento por quem quer que seja... Mas se é... bom sinal! Abraço.

Eugenia disse...

...ô, MM, vc é meu amigo, mas pô, zoar o Flamengo no blog do Edu??? Ñ tinha noção de como seria o fidibéqui??? :)))