Eu dei como título a este texto, de hoje, O BACALHAU DE DOMINGO, mas minha vontade inicial, confesso, era que fosse FLAVINHO, O ANFITRIÃO, e explico.
Antes de explicar, porém, quero pedir a vocês que leiam os textos ROYAL SALUT E UMA DO PAPAI (aqui) e PRATO CHEIO PARA O SUICÍDIO (aqui), ambos contendo importantes dados sobre essa faceta, de anfitrião, do meu dileto e querido amigo Flavinho, o Xerife do balcão imaginário do BUTECO.
Flavinho e Betinha nos receberam no domingo passado para uma bacalhoada - essa monumental que se vê, abaixo, sendo cuidadosamente preparada (clique na imagem para que sua boca encha d´água) por uma Betinha a cada dia mais apurada na cozinha.
Antes de explicar, porém, quero pedir a vocês que leiam os textos ROYAL SALUT E UMA DO PAPAI (aqui) e PRATO CHEIO PARA O SUICÍDIO (aqui), ambos contendo importantes dados sobre essa faceta, de anfitrião, do meu dileto e querido amigo Flavinho, o Xerife do balcão imaginário do BUTECO.
Flavinho e Betinha nos receberam no domingo passado para uma bacalhoada - essa monumental que se vê, abaixo, sendo cuidadosamente preparada (clique na imagem para que sua boca encha d´água) por uma Betinha a cada dia mais apurada na cozinha.
Mas vamos ao Flavinho.
O Flavinho, já lhes contei, é egresso do Cachambi, bairro onde já exercia com maestria - é preciso fazer justiça - o papel de anfitrião. Com maestria, é verdade, mas com ingredientes bem diferentes, vou explicar melhor.
O Flavinho recebia seus convidados na laje de sua casa pedindo a todos, sempre, - prática lamentável... - que levassem cerveja. Servia, como entrada, pãozinho sacadura, broas de milho e pão careca. E o almoço era, geralmente, churrasco de músculo ou, num dia de vaca gorda, de chã de dentro.
Para que salte aos olhos de vocês a diferença que se vê agora, vou transcrever meu breve diálogo com o Xerife na manhã do domingo. Estava eu no Mundial da Matoso:
- Flavinho, quer que leve alguma coisa? Cerveja?
E ele, do outro lado, telefone na mão esquerda e a pistola na direita apontada para o alto:
- Nada! Nada! Rigorosamente nada! Dinheiro há! Dinheiro há! Dinheiro há!
E desligamos.
É preciso que se diga, ainda, em nome da precisão, que a catapulta que o arremessou do Cachambi em direção ao Flamengo tem um nome: Roberta Oliveira, minha querida e cada vez mais querida Betinha, que já morava lá. Foi, portanto, um movimento conveniente, prático, óbvio, natural. Mas é preciso que se diga mais!
O que moveu meu emérito amigo foi a obsessão e o amor que nutria - e ainda nutre, lhes garanto - pela mulher com quem hoje divide a vida, o apartamento, as contas, tudo.
Pequena pausa: num desses domingos recentes almoçávamos, no Salete, eu, Dani Sorriso Maracanã, papai, mamãe, e justamente eles, Flavinho e Betinha. E meu protagonista de hoje fez, a certa altura, tão comovida declaração de amor à Betinha, que meu pai, já levemente embriagado, chorou de soluçar diante de uma mamãe enternecida. Voltemos ao assunto.
Faço questão de lhes dizer isso já que a regra - bem sei a regra, eu que tanto tempo convivi com vacas que tentaram, em vão, destruir meu pasto - é um movimento semelhante ao protagonizado pelo Flavinho - de ascenção social - por meios e interesses menos nobres. Há os pobres de espírito que têm a obsessão do apart-hotel na zona sul da cidade, a obsessão doentia da caminhada no calçadão do Leblon, a cupidez desmedida que a mim, pelo menos, enoja.
Ele, não. Ele, batalhador como pouca gente, estudioso até o último fio de cabelo (fadado aos primeiros lugares, aguardem), mudou-se para o Flamengo por questões meramente práticas. E foi lá, no Flamengo, que adquiriu gostos refinados.
No lugar da cerveja pedida (e as marcas que chegavam eram Malt 90, Belco, Cristal), litros e mais litros de Therezópolis Gold, Erdinger, Stella Artois, Guinness. No lugar do pãozinho sacadura, da broa de milho e do pão careca, pães caseiros feitos com farinha de trigo e semolina, ambos os produtos importados, por ele mesmo, que exibe orgulhoso, como um Olivier Anquier, tesouros recheados com cebola argentina, camembert francês, azeitonas gregas, rúcula italiana. E no lugar do churrasco, pratos refinados como o bacalhau, servido com fartura impressionante.
E cutucava os convidados:
- Quer mais azeite?
Um "não, obrigado" era tomado como ofensa:
- Não?! Custou 80 reais o vidro! É italiano!
E derramava azeite no prato alheio, depois de tirar o dosador:
- Prove! Prove!
Eu vi - eis a confissão final - o Flavinho servindo azeite na boca de Rodrigo Ferrari, com o auxílio de uma colher de sopa, dizendo baixinho:
- Degusta, Digão! Sinta o sabor das oliveiras em flor...
Foi, mesmo com a derrota do Flamengo (que ainda assim manteve-se, até então, entre os classificados para a Libertadores 2008), um domingo auspicioso.
Até.
O Flavinho, já lhes contei, é egresso do Cachambi, bairro onde já exercia com maestria - é preciso fazer justiça - o papel de anfitrião. Com maestria, é verdade, mas com ingredientes bem diferentes, vou explicar melhor.
O Flavinho recebia seus convidados na laje de sua casa pedindo a todos, sempre, - prática lamentável... - que levassem cerveja. Servia, como entrada, pãozinho sacadura, broas de milho e pão careca. E o almoço era, geralmente, churrasco de músculo ou, num dia de vaca gorda, de chã de dentro.
Para que salte aos olhos de vocês a diferença que se vê agora, vou transcrever meu breve diálogo com o Xerife na manhã do domingo. Estava eu no Mundial da Matoso:
- Flavinho, quer que leve alguma coisa? Cerveja?
E ele, do outro lado, telefone na mão esquerda e a pistola na direita apontada para o alto:
- Nada! Nada! Rigorosamente nada! Dinheiro há! Dinheiro há! Dinheiro há!
E desligamos.
É preciso que se diga, ainda, em nome da precisão, que a catapulta que o arremessou do Cachambi em direção ao Flamengo tem um nome: Roberta Oliveira, minha querida e cada vez mais querida Betinha, que já morava lá. Foi, portanto, um movimento conveniente, prático, óbvio, natural. Mas é preciso que se diga mais!
O que moveu meu emérito amigo foi a obsessão e o amor que nutria - e ainda nutre, lhes garanto - pela mulher com quem hoje divide a vida, o apartamento, as contas, tudo.
Pequena pausa: num desses domingos recentes almoçávamos, no Salete, eu, Dani Sorriso Maracanã, papai, mamãe, e justamente eles, Flavinho e Betinha. E meu protagonista de hoje fez, a certa altura, tão comovida declaração de amor à Betinha, que meu pai, já levemente embriagado, chorou de soluçar diante de uma mamãe enternecida. Voltemos ao assunto.
Faço questão de lhes dizer isso já que a regra - bem sei a regra, eu que tanto tempo convivi com vacas que tentaram, em vão, destruir meu pasto - é um movimento semelhante ao protagonizado pelo Flavinho - de ascenção social - por meios e interesses menos nobres. Há os pobres de espírito que têm a obsessão do apart-hotel na zona sul da cidade, a obsessão doentia da caminhada no calçadão do Leblon, a cupidez desmedida que a mim, pelo menos, enoja.
Ele, não. Ele, batalhador como pouca gente, estudioso até o último fio de cabelo (fadado aos primeiros lugares, aguardem), mudou-se para o Flamengo por questões meramente práticas. E foi lá, no Flamengo, que adquiriu gostos refinados.
No lugar da cerveja pedida (e as marcas que chegavam eram Malt 90, Belco, Cristal), litros e mais litros de Therezópolis Gold, Erdinger, Stella Artois, Guinness. No lugar do pãozinho sacadura, da broa de milho e do pão careca, pães caseiros feitos com farinha de trigo e semolina, ambos os produtos importados, por ele mesmo, que exibe orgulhoso, como um Olivier Anquier, tesouros recheados com cebola argentina, camembert francês, azeitonas gregas, rúcula italiana. E no lugar do churrasco, pratos refinados como o bacalhau, servido com fartura impressionante.
E cutucava os convidados:
- Quer mais azeite?
Um "não, obrigado" era tomado como ofensa:
- Não?! Custou 80 reais o vidro! É italiano!
E derramava azeite no prato alheio, depois de tirar o dosador:
- Prove! Prove!
Eu vi - eis a confissão final - o Flavinho servindo azeite na boca de Rodrigo Ferrari, com o auxílio de uma colher de sopa, dizendo baixinho:
- Degusta, Digão! Sinta o sabor das oliveiras em flor...
Foi, mesmo com a derrota do Flamengo (que ainda assim manteve-se, até então, entre os classificados para a Libertadores 2008), um domingo auspicioso.
Até.
17 comentários:
kkkkk!!!
depois dizem que churrasco de pobre só tem lingüiça e asa!
Colherzinha na boca, é? Sei não, sei não...
Rigorosamente fiel aos fatos!!!
Foi um prazer enorme ter vocês aqui em casa.
Zé Sergio, madrinha de nós todos, velha coroca querida: o pior é que a verdade é rigorosa, como atesta o anfritrião, imediatamente após seu comentário! Beijo.
Flavinho: no que diz respeito a mim, meu caro, o prazer foi meu. Só os idiotas - os beócios olímpicos e integrais - recusam convites similares ao que vocês me fizeram. Eu é que agradeço, querido. Beijo enorme.
Caracas... fiquei com inveja Edu. Gostaria de ser convidado para uma boca livre dessas. Posso retribuir o convite com um almoço no meu muquifo aqui no Lins (Boca do Mato). A minha esposa faz um Calango com Farinha maravilhoso. De entrada tem Chique-Chique. : )
Roberto Fraga Jr., com o perdão da franqueza e da sutileza tijucana que me caracterizam segundo alguns, e dentro do princípio prefiro-sempre-a-piada-ao-homem:
01) eu fui convidado, não poderia tê-lo convidado... Primeiro porque não lhe conheço pessoalmente, segundo porque a casa não era minha e terceiro porque quem ofereceu a boca-livre não fui eu;
02) é inadmissível, em terras tijucanas, negociatas gastronômicas nestes termos toma-lá-dá-cá;
03) querendo me convidar, esteja à vontade, como eu e minha mulher (na Tijuca não há esposas) estaremos à vontade para aceitarmos ou não;
04) vovó morou muito tempo na Conselheiro Ferraz, no Lins; a princípio, seria um prazer voltar à tão querida terra.
Fortíssimo abraço!
Porra Edu, tu é grosso pra caralho, parece até que foi nascido e criado na Abolição! Custava convidar o cara e depois comer a porra do calango com farinha lá no Lins com o primo do Fraguinha e sua digníssima? Vai ver que o tempero salvava a mistureba. Caralho, esse buteco prima pela falta de etiqueta!!! Repara não, ô Fraga do Lins!
Dada a popularidade do Buteco (blog é o caralho!!!), acredito que muito em breve choverão convites e pedidos de receita. Já posso visualizar o Flavinho ao lado do Renato Machado degustando vinhos caríssimos, cuidadosamente aromatizados a famosa Bacalhoada.
P.S.: Porra Edu, colocar uma foto dessas é sacanagem, um ato vil de covardia. Eu, por exemplo, deparei-me com ela na hora que tava indo almoçar numa espelunca aqui ao lado do trabalho. Senti-me um merda. Nem preciso mencionar qual foi o castigo...
R Fraga Jr., essa história de calango com farinha é verdade mesmo??
Saudações e parabéns a todos os envolvidos no evento.
Daniel A.
Daniel,
Já pedi e fui atendido em dois pedidos de receita. A rabada que fiz com a receita do Edu é espetacular, a feijoada, confesso que ainda não fiz. Acho que todos os pratos citados aqui no Buteco, deveriam vir com a receita. E ainda, concordo com você. Buteco, sim, blog é coisa de viado.
Szegeri,
Acompanho o voto do relator, velho, também entrego os pontos ...
Saravá!
Lamentável a postura fraguiana de entregar os pontos, se ela significar o abandono do barco, na esteira da mesma condenável postura szegeriana, a demonstrar a intolerância de ambos para o convívio que o balcão pede. Lamentável.
Capitão,
Szegeri com a palavra ...
Saravá!
Fraga velho, em consideração à tua nobre pessoa, e tão somente por isso, volto aqui para dizer somente o seguinte: venha para cá semana que vem e beberemos de verdade em um(ns) butiquim(ns) de verdade, com balcão de verdade que não peça nada, onde não tenha ningém pra ditar o que seja lamentável, condenável, lavável ou injetável. E onde otário não se cria. Deixe a patuléia virtual trocando receita de foagrá.
Saravá!
Pois é Edu, diante do excessivo número de erros de português no meu último post que fariam o seu "Creyçon" ficar envergonhado (espero que tenham sido causados por alguma configuração do teclado já que eu nem tinha bebido), aqui vai...
Como eu ia dizendo, o negócio do Calango é uma receita da família da minha "digníssima". Eles desenvolveram seus dotes culinários por conta das inúmeras "gerações famélicas" no sertão nordestino (a teoria Darwinista explica isso). O Calango é a ponta do iceberg das iguarias nordestinas. No sítio do meu sogro nenhum semomente que "cruze a roça" escapa ileso. Todos vão para a panela (tatus, cotias, micos, capivaras...).Tomara que o IBAMA não tome conhecimento desse post. Ainda bem que a maior parte da família veio para o "sudeste maravilha". Os que ficaram na "terrinha" arrumaram parceriros por lá. Esses, em duas ou três gerações, voltarão a viver em cavernas.
corrigindo... nenhum "semovente".... : )
Lembrei de uma das histórias do teu livro, na qual o Flavinho aparece berrando aos 4 ventos o valor daquela bebida cara (100 reais, né? Segunda-feira sou péssimo pra lembrar as coisas...)
Cem dólares, 4rthur, cem dólares.
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