28.11.07

PROJETOS, PROJETOS, PROJETOS...

Muito já se falou - e muito mal - sobre essa praga que invadiu, de uns anos pra cá, o Brasil: os projetos culturais. Explico (serei breve pois meu foco hoje é outro).

Tudo - dito com a ênfase szegeriana - agora é projeto. E na esteira desse troço vieram os (pausa para o vômito) formatadores de projeto, os captadores de verbas para projeto, os divulgadores de projeto e outras profissões, ó, daqui (polegar e indicador apertando e balançando, de leve, o lóbulo da orelha direita), que vivem, mesmo, e bem, é disso.

Não vou ficar aqui citando nomes de projetos pois já disse, no primeiro parêntese do primeiro parágrafo, que meu foco hoje é outro. Mas todos vocês devem conhecer alguém que já ganhou um bom dinheiro (embolsou um bom dinheiro, pra ser mais claro) com uma merda dessas. Não são poucos, por exemplo, os projetos faraônicos que captam uma fortuna, prevendo 1.001 eventos, e que na hora agá rendem uma coisinha humilde, uma festinha estranha pra gente esquisita que não consome nem dez por cento da verba captada e que é, ploft!, desviada pra dentro do bolso do povo que - repetindo - vive disso. É o que se vê embora haja exceções, o que confirma a regra.

Mas não é sobre isso que quero falar, como já lhes contei. Quero lhes contar sobre a noite de ontem.

Fomos, eu e Dani Sorriso Maracanã, ao lançamento da segunda caixa, contendo três livros, do projeto ÁLBUM DE RETRATOS (também não é sobre ele que quero falar), patrocinado pela PETROBRAS com base nas leis brasileiras de incentivo à cultura e realizado por uma empresa chamada TRIO DE JANEIRO PRODUÇÕES ARTÍSTICAS, que captou, para executá-lo, segundo o site do Ministério da Cultura, R$1.187.200,00 (um milhão cento e oitenta e sete mil e duzentos reais) embora tenha sido solicitada a módica quantia de R$2.245.128,00 (dois milhões duzentos e quarenta e cinco mil e cento e vinte e oito reais). Mas isso não vem, definitivamente, ao caso.

Fomos convidados pelos mais-queridos Rodrigo Folha Seca e Daniela Duarte, editores dos livros.

A noite tinha tudo pra ser agradável e, de certa forma, foi. Encontrei-me com gente que não via há algum tempo, como a Mary Debs, o Hugo Sukman, o Marcelo Ferreira, o Lan, a Valéria, e com gente que está sempre (e nunca é demais!) por perto, como o Prata, a Maria Helena, o Leal, o Miguel Folha Seca, Bruno César, e o Rodrigo e a Dani, é claro.

Antes, uma breve pausa.

Como bons tijucanos, fomos dos primeiros a chegar. Pouco depois de nós chegou o Moacyr Luz, autor do projeto, e é sobre uma tirada sua, iluminada, que quero lhes contar para amenizar o azedume do que quero, de fato, lhes dizer.

Caminhava pelo salão um rapaz com o corpo todo pintado, semi-nu, visivelmente um desses artistas que interpretam estátuas vivas e que faria, digamos, parte da decoração.

Perguntou-me o Môa olhando pro cara e já rindo:

- Edu, que horas são?

Eu, sacando que vinha sacanagem:

- Sete e cinqüenta e sete...

E o Môa, dirigindo-se ao sujeito:

- Ô, meu irmão... Anda enquanto você pode, hein!, faltam só três minutos!

Escangalhou-se de rir, o cara.

Dito isso, em frente.

A festa, para 400 convidados (informação que colhi com um dos quatro seguranças de plantão na porta de entrada), não juntou mais do que 80, 90, 100 pessoas.

Dentre essas 100 pessoas, um caricaturista. Foi fácil reconhecê-lo. Uma prancheta na mão com várias cartolinas, dois ou três lápis na outra. Esbarramo-nos à certa altura, nos apresentamos, apresentei Dani a ele, e ele:

- Muito bonita, a senhora. Posso desenhá-la?

- Claro... - disse minha garota já com o sorriso mais bonito do mundo estampado no rosto.

E eis que o caricaturista é interrompido por uma mulher mal-ajambrada:

- O que é que você está fazendo? - o tom era arrogante, pernóstico, humilhante.

Ele, sem interromper o trabalho:

- Como assim?

E notem a pérola que saiu da boquinha da mulher:

- Cheio de gente famosa... Lan, Nelson Sargento, Ruth de Souza, Cacá Diegues, e você fica aí desenhando desconhecidos?!

O cara:

- Posso acabar?

E a chucra, com o tonzinho autoritário que é comum a quem detém, ainda que por uma noite, o poder:

- Rápido! Rápido!

Ele, com a autoridade que os cabelos brancos dão, pondo a mão no meu ombro:

- Deixa pra lá, amigo. Falta finesse...

E foi em respeito a ele, ao pedido dulcíssimo da minha menina, em respeito ao convite que me fora feito por dois amigos queridos, que evitei dizer à chucra o que ela merecia ouvir.

Até.

PS: Aldir Blanc manifestou-se sobre o mesmo tema em 08 de dezembro de 2007, em seu próprio blog, o PALMEIRA DO MANGUE, com o texto PAU NO LOMBO, que pode ser lido aqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

Capitão,

É possível divulgar o nome da cavalgadura?

saravá!

Anônimo disse...

Projeto. Saco esse negócio. Agora todo mundo faz "projeto". Vale lembrar que prá mim, projeto tem uma conotação especial: eu sou arquiteto, cacilda! E vem uns bundas dizendo que tem um "projeto" disso, "projeto" daquilo... e eu pergunto: major, sua profissão qual é? "agitador cultural"! ora então vá fazer agitação cultural, cojones! Projeto quem faz sou eu!
Abraço, Edu.

Eduardo Goldenberg disse...

Fraga: recuso-me, terminantemente - por questões de higiene, que seja -, a dar o nome da chucra. Mas você saberá, tenho certeza, quem é. Saravá!