18.1.08

DO BALCÃO AO DIVÃ

Vou dar início, hoje, a uma série chamada DO BALCÃO AO DIVÃ. Sempre que escrever DO BALCÃO AO DIVÃ vou tratar de assuntos rigorosamente meus, pessoais, tentando melhorar, num tratamento moderno e diferente, sob vários aspectos, rindo do meu próprio ridículo.

Vão lendo que vocês vão entendendo.

Quem me conhece, quem me vê por aí, sabe da minha obsessão (eu as tenho, preciso fazer a confissão pública, em profusão) pelas batas africanas desde que ganhei minha primeira, vai fazer - o quê? - uns três anos.

Eduardo Goldenberg e Débora Denizot, a Fumaça, na Lapa, Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2008

Quando a Fumaça (na foto acima, comigo, eu com uma das tais batas, que na verdade são abadás, nome conspurcado pelos baianos e pelos babacas-seguidores-de-baianos espalhados por todo o Brasil) me trouxe a primeira bata de presente, com aquele confessado medo de não agradar, fui um homem em estado bruto de alegria.

Lembro-me bem.

A vesti na hora, pedi aprovação da Dani, que sorriu o mais bonito sorriso do mundo, e a própria Fumaça não escondeu a alegria por ver a minha alegria quase-de-criança com o presente recebido.

Volta a Fumaça para a África.

Meses depois, com nova viagem para o Brasil já marcada, manda-me um email e pergunta se quero mais.

Digo que quero.

E ela vem com duas novas batas, lindíssimas.

Isso se repetiu mais duas vezes, e a gentilíssima Fumaça sempre me dando os abadás (fodam-se os seguidores do Camaleão e outros bichos) de presente, recusando-se a me cobrar o preço pago, mesmo eu tendo dito, em todas as oportunidades (menos na primeira, é evidente), que faria questão de pagar, eu mesmo.

Até que, meses atrás, disse a ela, por email:

- Fumaça, traga mais dessa vez, querida! Mais! Mais! Não apenas duas... E dessa vez faço questão absoluta de pagar!

Ela, internacionalíssima, respondeu-me:

- OK!

Chegou ao Brasil, há semanas (já está de volta...), e bateu-me o telefone:

- Edu?

Eu, sem disfarçar a ansiedade e com uma polidez que só mesmo na Tijuca, fui direto ao ponto:

- Quantas? Quantas? Trouxe quantas batas?

E ela, sorrindo (pude ouvir seu sorriso):

- Cinco.

Até que no dia 12 de janeiro, sábado passado, marcamos na Lapa.

Ela, cedinho:

- Confirmado, Edu?

E eu, sem conseguir manter o controle:

- Cinco, né?

- Cinco? Muito cedo... Mais tarde, Edu...

Eu, tijucaníssimo:

- Referia-me às batas... São cinco, né?

Notei alguma coisa quando ela respondeu:

- Até mais tarde!

Fui um homem aflito no decorrer do dia.

Fomos à praia e Dani notava-me esquisito:

- O que tanto você olha as horas?

- Nada.

Assim foi até a noite.

Quando chegamos, Dani me passando instruções mínimas de etiqueta no caminho, tentei manter a calma e fingir naturalidade. Mas tudo foi por água abaixo quando demos com a Fumaça sentada à mesa, nos esperando, sem nenhuma bolsa por perto.

Fiz força mas não me contive.

Ela deu-me um beijo, um abraço, e eu dei de apalpá-la, farejá-la, apertá-la, até que disse, esganado pela ansiedade:

- Cadê? Cadê? Cadê?

Tomei um leve chute da Dani, e a Fumaça disse, sorrindo (a Fumaça tem essa característica, a de sorrir até em velório):

- Esqueci! - e riu de dar guinchos - Mas minha mãe está trazendo.

Disse a frase mais falsa que já pronunciei na vida:

- Ah! Sem problema...

Por dentro, eu queimava. A ansiedade, como um exército de traças, me corroía.

Uma hora. Duas horas. Três horas.

Disse:

- Fumaç...

Fui cortado:

- Tá chegando, tá chegando! - riu mais, muito mais, riu mais solto graças à cerveja - Espera! Espera! Espera!

Luiz Antonio Simas, nesse exato instante, bateu o telefone pra mim. Convocou-me para um chope, em regime de urgência, no glorioso Galeto Columbia, na Tijuca, na companhia do Mussa.

Dei as coordenadas pra Dani que sugeriu que eu fosse. Disse, cândida:

- Eu levo suas batinhas, amor...

Despedi-me, posei pra foto acima (o sorriso amarelo não disfarça minha decepção com a situação) e às duas da manhã chego em casa, passo a chave na porta e vejo minha garota bebericando uma Brahma sentadinha com uma sacola no colo.

Salto olimpicamente e abro a bolsa, babando indisfarçavelmente.

Uma bata. Duas batas. Três batas. Quatro batas.

Viro do avesso a bola, numa busca estúpida. Não há a quinta bata.

Dani, com doçura:

- Ela pediu mil desculpas, meu amor... Disse que se confundiu... Disse que você ficaria triste... Que besteira, né, amor?

Fui conseguir falar com a Dani apenas no dia seguinte, domingo pela manhã, os olhos vermelhos de tanto chorar.

Minha menina fazia cafuné e dizia:

- Puxa vida, por causa de umazinha só?

E eu, voltando a soluçar - eis a confissão ridícula:

- Por que, meu Deus, por que ela foi dizer CINCO! A expectativa, Dani, minhas expectativas...

As quatro batas - lindíssimas, diga-se de passagem - foram incapazes, naquele momento, de fazer frente à alegria explosiva da primeira bata que ganhei. Tenho, como diz minha menina, mamãe fazendo coro, cinco, seis anos de idade.

Até.

5 comentários:

evaodocaminhao disse...

meus sentimentos...

Anônimo disse...

Sua bata Verde Imperial foi a coisa mais comentada do show do Império na Quarta Feira...

Beijo

Szegeri disse...

Querido, será que as pessoas tem noção de quanto essa história é a expressão mais lídima, escorreita e irretocável da verdade sobre a vossa pessoa?

Eduardo Goldenberg disse...

Szegeri, meu irmão: acho que não, querido, sinceramente acho que não.

Mas note bem que estou fazendo a minha parte, me expondo de maneira olímpica diante do balcão.

Quem não quiser crer... que não creia.

Dia desses conto sobre o episódio da agenda, ?, que é bastante elucidativo também.

Beijo.

4rthur disse...

Muito elucidativa a história. Eu, que te conheci antes da chegada da primeira bata, mal conseguia segurar a curiosidade e já estava pra te perguntar sobre essa obsessão. Hoje, só consigo te imaginar de três maneiras: de terno, de bata ou de manto sagrado - como na foto acima.