O batizado foi aquela mixórdia.
Batizado coletivo, mais de vinte crianças, todas, sem exceção, com menos de seis meses de idade e uma única exceção: Adriano Augusto, filho de Waldomiro e Maria Rita. Cinco anos de idade, gordo puxando ao pai, quando chamado pelo padre ao pé da pia batismal, Bigode gritou, da primeira fila da igreja:
- Duvido que ele caiba na banheira!
Vidal deu nova cotovelada no porteiro de seu prédio.
Todos os olhares se voltaram para o Bigode que, envergonhado, pediu desculpa, ainda mais alto, tropeçando na própria língua, que já enrolava:
- Foi mal, gente. Com jeitinho ele entra, sim!
Maria Rita, de tanta vergonha, chorava copiosamente. Waldomiro, segurando a vela, fingia chorar num gesto raríssimo de solidariedade matrimonial, fungando falsamente, assoando imaginariamente o nariz na manga do paletó, deixando pingar cera da vela nos sapatos novos que comprara para a ocasião.
Adriano Augusto não disfarçava o incômodo com aquela situação, pateticamente deitado no colo da mãe que, por sua vez, não escondia de ninguém, bufando sem parar, que não estava mais agüentando o peso do garoto.
E assim, na mais perfeita desordem, transcorreu a cerimônia.
Um tumulto daqueles no altar, e Waldomiro fez questão de posar para umas fotografias com os amigos do bar, implorando ao padre que posasse entre eles. A fim de evitar mais tumulto, postou-se atrás da turbamulta.
- Padre...
- Sim, meu filho... – atendeu pacientemente ao chamado do Bigode.
- Não vai ter vinho que nem em dia de missa comum, não?
Vidal desferiu outro golpe no Bigode, desculpou-se com o pároco e fizeram, todos, o convite coletivo:
- Waldomiro! Maria Rita! Demais familiares! – Amorim era o porta-voz – A gente gostaria, muito humildemente, de convidar todos vocês prum churrasco lá no Xodó... Fizemos uma vaquinha – e Waldomiro olhou pro relógio tomando nota do palpite, vaca! – e compramos tudo. Só a bebida é que é paga por fora! Vamos?
Maria Rita deu um chilique, sem pudor:
- Churrasco em buteco pra comemorar o batizado do Adriano Augusto?
- Calma, meu amor... – Waldomiro tentando pôr panos quentes... – Eu não sabia de nada...
- Não sabia?
- Não!
- Melhor, então! Não vamos!
Houve um conclave familiar no estacionamento da igreja.
Os sete amigos aguardavam a decisão da família.
- Melhor mesmo... – resmungou Bigode – Sobra mais pra gente!
Vidal, concordando, poupou Bigode de mais um safanão.
Waldomiro vem caminhando em passos lentos e diz:
- Eu vou com vocês... Mas Maria Rita prefere ir para uma churrascaria rodízio... Os padrinhos vão pagar...
Ia dizer à mulher que ao menos se despedisse dos amigos, mas quando virou-se a mulher já estava dentro do carro dos padrinhos, que quase o atropelara, com Adriano Augusto em seu colo, no banco de trás, ao lado da mãe e do pai.
Fino, Waldomiro disse:
- Foda-se.
- O que é que tu falou, cavalo? – gritou Maria Rita.
- Cavalo? Eu? – e tomou nota mentalmente de mais um palpite, o segundo para o sorteio das dezoito horas.
O carro arrancou e Amorim disse:
- Vamos conosco, Waldomiro... Vamos a pé mesmo... Vamos?
- Que horas são? – perguntou Waldomiro.
- Duas e quarenta. Vamos ou não?
Não conseguiu disfarçar o nervosismo.
- Vão indo, vão indo! Tenho que pagar o padre.
E voltou, forjando a cena, para dentro da igreja.
(continua)
Batizado coletivo, mais de vinte crianças, todas, sem exceção, com menos de seis meses de idade e uma única exceção: Adriano Augusto, filho de Waldomiro e Maria Rita. Cinco anos de idade, gordo puxando ao pai, quando chamado pelo padre ao pé da pia batismal, Bigode gritou, da primeira fila da igreja:
- Duvido que ele caiba na banheira!
Vidal deu nova cotovelada no porteiro de seu prédio.
Todos os olhares se voltaram para o Bigode que, envergonhado, pediu desculpa, ainda mais alto, tropeçando na própria língua, que já enrolava:
- Foi mal, gente. Com jeitinho ele entra, sim!
Maria Rita, de tanta vergonha, chorava copiosamente. Waldomiro, segurando a vela, fingia chorar num gesto raríssimo de solidariedade matrimonial, fungando falsamente, assoando imaginariamente o nariz na manga do paletó, deixando pingar cera da vela nos sapatos novos que comprara para a ocasião.
Adriano Augusto não disfarçava o incômodo com aquela situação, pateticamente deitado no colo da mãe que, por sua vez, não escondia de ninguém, bufando sem parar, que não estava mais agüentando o peso do garoto.
E assim, na mais perfeita desordem, transcorreu a cerimônia.
Um tumulto daqueles no altar, e Waldomiro fez questão de posar para umas fotografias com os amigos do bar, implorando ao padre que posasse entre eles. A fim de evitar mais tumulto, postou-se atrás da turbamulta.
- Padre...
- Sim, meu filho... – atendeu pacientemente ao chamado do Bigode.
- Não vai ter vinho que nem em dia de missa comum, não?
Vidal desferiu outro golpe no Bigode, desculpou-se com o pároco e fizeram, todos, o convite coletivo:
- Waldomiro! Maria Rita! Demais familiares! – Amorim era o porta-voz – A gente gostaria, muito humildemente, de convidar todos vocês prum churrasco lá no Xodó... Fizemos uma vaquinha – e Waldomiro olhou pro relógio tomando nota do palpite, vaca! – e compramos tudo. Só a bebida é que é paga por fora! Vamos?
Maria Rita deu um chilique, sem pudor:
- Churrasco em buteco pra comemorar o batizado do Adriano Augusto?
- Calma, meu amor... – Waldomiro tentando pôr panos quentes... – Eu não sabia de nada...
- Não sabia?
- Não!
- Melhor, então! Não vamos!
Houve um conclave familiar no estacionamento da igreja.
Os sete amigos aguardavam a decisão da família.
- Melhor mesmo... – resmungou Bigode – Sobra mais pra gente!
Vidal, concordando, poupou Bigode de mais um safanão.
Waldomiro vem caminhando em passos lentos e diz:
- Eu vou com vocês... Mas Maria Rita prefere ir para uma churrascaria rodízio... Os padrinhos vão pagar...
Ia dizer à mulher que ao menos se despedisse dos amigos, mas quando virou-se a mulher já estava dentro do carro dos padrinhos, que quase o atropelara, com Adriano Augusto em seu colo, no banco de trás, ao lado da mãe e do pai.
Fino, Waldomiro disse:
- Foda-se.
- O que é que tu falou, cavalo? – gritou Maria Rita.
- Cavalo? Eu? – e tomou nota mentalmente de mais um palpite, o segundo para o sorteio das dezoito horas.
O carro arrancou e Amorim disse:
- Vamos conosco, Waldomiro... Vamos a pé mesmo... Vamos?
- Que horas são? – perguntou Waldomiro.
- Duas e quarenta. Vamos ou não?
Não conseguiu disfarçar o nervosismo.
- Vão indo, vão indo! Tenho que pagar o padre.
E voltou, forjando a cena, para dentro da igreja.
(continua)
4 comentários:
E a Rua dos Artistas não perde por esperar...
Será que Waldomiro ganha mais uma bolada?
abraço!
E o segundo livro, quando vem? Esses textos estão dando uma saudade danada das histórias do Meu Lar é o Botequim. Abraços.
pôta!!!!
bem melhor ler o blog depois de ler o livro
agora sim!
eva
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