31.1.08

A RECEPÇÃO QUE NÃO HAVERÁ

Como já lhes contei anteontem, em FERNANDO SZEGERI, UM HOMEM POLIDO, leiam aqui, o homem da barba amazônica, esse funcionário público exemplar, esse comunista empedernido, esse pai de duas meninas, chega amanhã ao Rio de Janeiro. Somente ontem, quarta-feira, me escreveram ou me telefonaram ou me perguntaram pessoalmente, mais de uma dúzia de pessoas:

- A que horas o Szegeri chega?

Eis a resposta que me envergonha e que dei a cada um dos aflitos:

- Não sei.

Até que bati, ontem à noitinha, o telefone para meu pomposo amigo paulista.

Ele não atendeu.

Eu fiquei imaginando a cena que sei real. Estrila o celular de Fernando Szegeri e pisca meu nome em neônio na tela. Segue-se a mais completa indiferença, a mais escancarada repugnância refletida na boquinha de nojo e na testa franzida. Um colega de repartição, desavisado, arremessa em sua direção uma bolinha de papel público e grita:

- Não está ouvindo o telefone?

E ele, com aquela máscara do enfado:

- Estou.

- E não vai atender?

- Em absoluto. Trata-se de uma besta, atende pra mim?

E ouço a voz do outro funcionário público:

- Alô?

- Fernando?

- Ele está no banheiro.

- Posso deixar um recado?

- Não.

Ouvi quando o Fernando disse:

- O que disse, o idiota?

Desliguei antes de ouvir a resposta de meu interlocutor.

A verdade ácida é esta: Fernando José Szegeri chega amanhã e eu não faço idéia da hora de sua chegada, o que a bem da verdade não faz diferença alguma. Desde o início do ano passado que o Pompa tem (há tempos não o chamo assim), graças a uma idéia que tivemos, eu e Dani, durante sabe-se lá que conversa, a chave de nossa casa. Logo, à determinada altura do dia, sua chave girará no tambor da porta e acionará a lingüeta que, por sua vez, sairá da chapatesta de modo a abri-la. Meu vira-latas há de fazer uma pequena festa e tomar um chega-para-lá. Não quero nem pensar nas conseqüências de nosso encontro. Antevejo situações constrangedoras, como eu chegando do trabalho mais cedo - véspera do carnaval... - e tendo de ouvir:

- Mas, já?

Tiago Prata tencionava abrir uma garrafa de Gold Label diante de Fernando Szegeri. Luiz Antonio Simas pretendia armar uma curimba privativa em sua vasta varanda às margens do rio Maracanã em homenagem ao homem. Fefê e Lina tinham planejado uma mega-recepção na mansão de Santa Teresa (soube que, graças às comprinhas para a recepção que não haverá, meu irmão e minha cunhada preferida desabasteceram os mercadinhos do bairro). Papai e mamãe chegaram a pensar em cancelar a viagem a Petrópolis para receber o casal (a doce Stê também vem!). Rodrigo Ferrari remarcou, para baixo, o preço de alguns livros sabidamente do gosto de seu freguês favorito de São Paulo (vejam aqui o por quê). Arthur Mitke antecipou sua chegada à cidade maravilhosa apenas para não perder um único passo do homem da barba amazônica.

Como em julho do ano passado, vejam aqui, a expectativa da chegada do mito faz tremer o céu e a terra.

A diferença é que dessa vez, sabe-se lá a razão, o homem não quer sequer projeto de afago.

Até.

5 comentários:

Eugenia disse...

ah... fala pra ele q domingo eu tô no boitatá de mulher maravilha.

Craudio disse...

Edu, estive ontem com ele e nem uma dicazinha pra que eu pudesse ajudar os aflitos aí na Cidade Maravilhosa...

David da Silva disse...

Bonito é o trecho de você chegar na própria casa, e o Fernando te olhar como se você fosse um grileiro.
Amizade bonita assim, nem entre David e Saul...

Eduardo Goldenberg disse...

Eugênia: como diria meu eterno e saudoso governador Leonel de Moura Brizola, eu não sou garoto de recados!

O que sei, sobre o palpitante assunto (fantasias, encontros, blocos e mais que tais), é que minha irmãzinha Stefânia Gola estará fantasiada de Mulher-Leopardo no mesmíssimo bloco, no mesmíssimo dia, defendo o que a ela pertence. Trata-se de uma dentre as tantas vilãs que combatem a heroína que, tu anuncias, encarnarás no Cordão do Boitatá. Beijo.

Pois é, Craudio: já liguei hoje de novo, já mandei email, e o homem da barba amazônica mantém-se mudo como uma sereia de gesso.

David: ele não é meu amigo, lamento informá-lo... Eu é que sou amigo e devoto dele, mesmo massacrado diuturnamente...

Anônimo disse...

Larga mão de ser chato, Edu! No carnaval ninguém é de ninguém! ;-)