28.2.08

AS ELEGANTES ANDORINHAS

Eu não sei se já lhes contei que, quando me casei com a Sorriso Maracanã, passei um bom tempo - vez por outra é necessário um reforço! - fazendo comícios intramuros em prol da Tijuca, bairro onde nasci, cresci, fui criado, e de onde saí, apenas, depois de uma sucessão de escolhas equivocadas, por pouco mais de quatro anos - tempo em que vacas gordas tentaram, sem êxito, destruir meu pasto.

Dani nasceu em Volta Redonda, cidade que se distingue da Tijuca apenas por conta do ar siderúrgico e pesado. Mas quando veio morar no Rio ("na capital", como se diz na cidade do aço), morou em Copacabana, na segunda quadra da praia. Vivia, pois, das delícias que o litoral oferece. Passeios de bicicleta pela orla durante a madrugada, picolés chupados nos banquinhos de cimento no calçadão, luzes feéricas piscando em neon 24h por dia, esses chiquês que a princesinha do mar oferece, decadente há mais de meio século, sem perder a pose do alto de seu salto agulha.

Lembro-me do dia em que eu disse - e estávamos justamente tomando água de côco através de canudinhos no calçadão em frente à Santa Clara:

- Mas vamos morar na Tijuca, né?

Ela teve alta, no São Lucas, na travessa Frederico Pamplona, em Copacabana mesmo, umas cinco ou seis horas depois de submetida a uma bateria de exames que detectaram, pura e simplesmente, uma crise nervosa sem gravidade que o médico, uns noventa anos nas costas, chamou de fanico, receitando chá de camomila três vezes ao dia.

O fato é que em meados de 1999 desembarcávamos, fazendo juras de amor aterno, na gloriosa rua Hadock Lobo, no aprazível apartamento no qual moramos até hoje.

A Dani - preciso fazer a confissão pública -, se de fato não morre de amores seminais pela Tijuca, tem, hoje, extrema e aguda simpatia pelo bairro e pelas incontáveis vantagens (e não cabe, aqui, enumerá-las) que ele oferece.

Ela não se habituou, entretanto, aí sim, às constantes demonstrações de amor que a Tijuca me impele fazer, às constantes emoções que o bairro, seus personagens, suas ruas e travessas, seus morros e seus butecos, seus hábitos e seus cheiros, causam em mim.

Foi como naquele sábado, 12 de janeiro de 2008.

Saí de manhã, como sempre, para passear com nosso vira-latas, o atleta Pepperoni (não entendeu?, clique aqui e leia O PEPPERONI E O SZEGERI!).

Quando voltei, deparei-me com um caminhão de mudanças estacionado no pátio de nosso edifício, o melhor edifício de todo o bairro, indubitavelmente.

12 de janeiro de 2008

Diante da visão do caminhão, velhíssimo, caindos aos pedaços, de onde entravam e saíam, como andorinhas da gaiola, senhores entrados em anos carregando móveis e objetos embalados em caixas de papelão visivelmente reaproveitadas, me comovi.

Subi, fungando, diante de um atônito Pepperoni, peguei minha menina pelas mãos e apontei, do alto da janela, para o caminhão. Ela, mais atônita que o cachorro:

- O que foi?! Mas, o que foi? - tinha acabado de acordar.

- Você já ouviu falar na Fink, na Granero, na Metropolitan, na Transworld, na Speedy Moving, na Duquerne, na Brasil Link?

- Empresas de mudança? Já! Por que?

- Já as viu atuando na zona sul, certo?

- Não lembro, Edu! Por que?!

- Já ouviu falar n´As Elegantes Andorinhas?

- Não...

- Só na Tijuca, meu amor! Só na Tijuca! E desde 1914!

E fiquei, ali, na sala, diante de minha pobre menina, exaltando a beleza e a poesia do nome da empresa, elogiando o vigor físico e a disposição de seus funcionários, a segurança e a firmeza das embalagens fornecidas pela companhia, e jurei, de pés, juntos, que se um dia nos mudarmos, e para a Tijuca, evidentemente, contratarei, pelo preço que me for pedido, sem cotação de preços, As Elegantes Andorinhas.

Até.

9 comentários:

Anônimo disse...

No post sobre o Botafogo, comentei, entre outras coisas, que estou de mudança para a Tijuca. Justamente para a Haddock Lobo. O Edu censurou cruelmente o meu comentário onde celebrei o fato de estar indo morar no bairro que me deu o Salgueiro. Não importa, tento novamente neste. Viva Tijuca!

Craudio disse...

Edu, fiquei imaginando o furdúncio que teria na Tijuca se aparecesse por aí um filho de uma puta de um Kassab da vida, proibindo placas, bares e todas essas coisas, para "embelezar' a cidade. Sai zica e bate na madeira...

Aliás, aquele predinho de frente ao Rio-Brasília é uma coisa fora de série.

Eduardo Goldenberg disse...

Lúcio de Lemos: preciso do início ao fim, como sou, devo lhe dizer que JAMAIS deixei de publicar qualquer comentário seu, uma vez que só desautorizo a publicação de comentários ofensivos. Mesmo os comentários vetados são mantidos em meus arquivos. Você fez apenas dois, tirando este:

01) no texto "SOBRE O VASCO DA GAMA", em 07 de dezembro de 2007:

Aqui é parecido, Edu. Meu pai rubro-negro, eu cruz-maltino. Guardamos sempre um respeitoso silêncio quando as equipes se enfrentam. Comentamos todos os jogos, todos os clubes...Menos um Vasco e Flamengo! O coração não permite. Minha saudosa mãe, uma vascaína doente, vivia aos berros, na minha antiga casa em Sulacap, provocando nosso vizinho da frente. Bons tempos de suburbio...

e

02) no texto "O BATIZADO DO FILHO DO WALDOMIRO - PARTE II", em 07 de janeiro de 2008:

Foda. Me senti encostado no velho balcão do Adriano em Sulacap.

Enganou-se, meu chapa.

E seja bem chegado à Tijuca.

Abraço.

Anônimo disse...

Edu, então colocarei a culpa "nas internets" como diria o energúmeno Bush. Enviei um comentário sobre o papelão da diretoria do Fogo e concordando com o Marcelo em relação a pobreza do debate esportivo...

Anônimo disse...

Beleza, Edu. Já em matéria de slogan, não teve para ninguém: O MUNDO GIRA E A LUSITANA RODA

Anônimo disse...

Hahahaha
Eu ia falar exatamente da Lusitana!!
Agora, Edu, você deve saber, mas eu sempre fico besta com isso: Não precisamos sair da Tijuca para bebermos água de coco com “clima” de praia, calçadão... “Seu” Guilherme, aqui na Pracinha Xavier de Brito, além de ter o melhor coco do RJ coloca umas cadeiras de praias, leva o coco até você, tem bom papo... única diferença é que dá para o Rio Maracanã! Mas... mero detalhe...

Rodrigo disse...

Porra, Edu!

Com o perdão da palavra, deste jeito terei que ir ai na Tijuca, conhecer com os meus próprios olhos tudo isso que você fala da Tijuca e do Rio.

Irei, em breve!

Abraço

Unknown disse...

Eu vou, com a devida vênia somente concedida aos saudosos, mesmo tendo deixado para trás a brisa solene que escorrega o Sumaré, indicar a melhor água de côco , jamais sorvida em terras brasileiras: trata-se de uma lanchonete "pé-sujo" no beco antes da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, bem ali, coladinho na Carlos de Laet (qual o nome daquele beco , Edu?).
Só não recomendo para diabéticos como eu, pq desconfio que a Mãe Natureza trapaceou no açúcar daqueles frutos abençoados.

David da Silva disse...

Edu,
se você acha que não chorei diante de tão carinhosa descrição do prisco caminhão de mudanças, estás redondamente enganado.
Mas eu sei que você não se engana nestas coisas do coração. Foi, seguramente, uma das mais pungentes postagens que você já escreveu ou escreverá.
Rubem Braga e Drummond estão lançando bençãos sobre tí.