30.4.08

O PAI DO BORGONOVI

Recebi esse email (cuja imagem encontra-se imediatamente abaixo) ontem pela manhã. Esse email, diga-se a título de ajudar na compreensão da coisa, é enviado pelo BLOGGER - editor do BUTECO - a cada vez que alguém faz um comentário no balcão público, ainda que valendo-se da chave ANÔNIMO (como foi o caso, vocês podem ver).

email recebido em 29 de abril de 2008

Imediatamente bati o telefone pro meu irmão Szegeri. Contei-lhe sobre o email, li seu teor, e fiz a pergunta que me perseguia:

- É sério, isso?

Ele, já tropeçando nas gargalhadas que escapavam de sua boca escondida atrás da espessa barba amazônica, cuspiu:

- Nenhuma chance! Nenhuma chance! E tome nota! Tome nota!

- De quê?

- Isso é coisa do Zé Sergio ou do Julio Vellozo! - e bateu com o gancho do telefone na minha cara.

Mas não é, meus poucos mas fiéis leitores, não é que foi, de fato, o pai de Fernando Borgonovi quem enviou o tal comentário?

Foi o próprio Fernando Borgonovi, o nanico comunista e palmeirense, quem me ligou, atônito e incrédulo, segundos depois de receber um email enviado pelo pai com as fotos do texto a que se referiu no comentário (AINDA O BORGONOVI), que pode ser lido aqui.

Seja bem chegado, seu Asdrubal Borgonovi, e receba meu abraço do tamanho da Tijuca.

Até.

29.4.08

BREVE SATISFAÇÃO

Acordei hoje, cedíssimo, e ao ligar o monitor do computador para escrever o texto do BUTECO, rotina que cumpro quase que religiosamente, dei de cara com uma mensagem estranhíssima na tela. Não eram nem 6 da matina e fui sensato esperando dar 9 horas, já dentro da academia, onde moldo, dia após dia, o corpo-carcaça que carrego há 39 anos e 2 dias, para bater o telefone pro homem que cuida da máquina, um ex-colega de colégio (estudei no Palas, acho que já lhes contei isso aqui) que reencontrei há uns anos graças à praga que atende pelo nome de ORKUT (suicidei-me, lá nesse troço, há uns meses), chamado Marcelo Cerveira.

Ele, prontamente (é um ágil, um prestativo, um solidário, um grande profissional), pintou na área.

Pelas caras e bocas que fazia enquanto cutucava o bicho (e cutucou o bicho por coisa de hora e meia...), percebi que o buraco era muito mais embaixo.

Pedi ajuda, baixinho, pra Ogun, padroeiro das tecnologias... mas parece que se houver salvação, ela só virá dentro de alguns dias, quando o Cerveira ficou de me dar notícias sobre a máquina, que seguiu com ele (inclusive para me dizer se perdi TUDO o que estava lá dentro... eu, ignorante, que jamais fiz um mísero backup...).

Até lá (espero que o quanto antes), o papo vai ser escasso por aqui... Do computador do trabalho - do qual me valho para lhes dar esta satisfação - não tenho muita condição de escrever essas besteiras que espalho pelo balcão, em razão do acúmulo, graças aos deuses, de serviço a fazer.

Se não for pedir muito, torçam pra que dê tudo certo.

Até.

28.4.08

MAIS SOBRE O BELMONTE NA SÃO SALVADOR

Vocês hão de lembrar! Em 09 de abril de 2008 escrevi BELMONTE RIMA COM DESMONTE (pode ser lido aqui). A denúncia rendeu (até o momento) 29 comentários. No dia seguinte, pego de surpresa por uma notícia envolvendo o mesmo fato, escrevi ADEGA DA PRAÇA: VENDIDA? (leia aqui). Alguns dias depois, publiquei BEL(MONTE DE MERDA) (leiam aqui).

Hoje, para minha agradável surpresa (é sempre legal saber que o balcão do BUTECO junta cada vez mais gente que pensa como eu!), recebi atencioso email de uma leitora, a Bárbara Oliveira, moradora de Laranjeiras e freqüentadora (ou ex-freqüentadora...) da Adega da Praça, na São Salvador, com uma desagradável (mas previsível, convenhamos) surpresa.

A Bárbara, gentilmente, autorizou a publicação, na íntegra, de seu email. Ei-lo:

"Oi, Edu! Vc não me conhece nem eu te conheço pessoalmente, mas leio seu blog há muitos meses e me identifico muito com vc e sua maneira de pensar e agir.

Moro em Laranjeiras há mais de 16 anos e durante todo esse tempo venho frequentando, com incrível regularidade, a Casa Brasil, na Praça São Salvador - no mínimo, 2 vezes por semana, seja para uma refeição rápida e simples nos fins de semana, seja para um (uns) chopinhos com amigos, a qualquer hora. Conhecia todos os garçons, sempre simpaticíssimos e brincalhões, praticamente amigos meus e de meus amigos; conhecia os donos e com eles conversava sempre. O clima era o de um maravilhoso pé-sujo de bairro, daqueles nos quais os fregueses se conheciam e se cumprimentavam.

Agora, o bar foi vendido e, segundo soube, assumiram o lugar os sócios do Belmonte. As mudanças - para pior - são tão evidentes e foram tão rapidamente introduzidas que não resistí à tentação de te escrever contando.
São elas:

* Os preços aumentaram imediatamente.
* TODAS as refeições vinham acompanhadas, invariavelmente, de arroz, feijão e farofa. Isso acabou.
* 99% dos garçons antigos foram demitidos e substituídos por outros, que chocam pela total falta de simpatia/empatia com nós, fregueses antiquíssimos.
* A pizza, que era um espetáculo (nada dessas pizzas de hoje, fininhas, não; era aquela pizza de antigamente, para mim, a verdadeira, com massa grossinha e um queijo maravilhoso que, mesmo depois de gelado, permanecia macio), está horrorosa: trocaram o queijo e, agora, a pizza que eu tanto amava, não passa de um chiclete borbulhante.
* Novos "petiscos" foram introduzidos no cardápio, sim, mas todos com aquele "ar de Belmonte", como as empadas - oferecidas insistentemente por um garçom que fica circulando pelo bar.
* Os banheiros - principal "ponto fraco" do antigo bar, esses não foram mexidos: para nós, mulheres, irmos ao nosso, temos que passar necessariamente pela frente do banheiro masculino, imprensadas entre a porta e barris de chope, e vemos, INVARIAVELMENTE, um homem fazendo xixi com a porta escancarada. A simples troca da ordem dos banheiros - o das mulheres primeiro - resolveria isso.
* No último sábado (26/4) fui lá almoçar com uma amiga e, depois de bebermos alguns (ok, muitos) chopes, decidimos que não tínhamos fome suficiente para pedirmos 2 pratos, e solicitamos ao garçom que nos trouxesse uma refeição completa de carne assada com nhoque, para dividirmos. Ele, de PÉSSIMA vontade, imediatamente alegou que "o prato era para apenas 1 pessoa", que "nós não conseguiríamos dividí-lo", enfim, para resumir: diante da nossa insistência, ele simplesmente disse que mandaria outro garçom para nos servir. E foi o que fez, após virar-nos as costas estupidamente. Ao chegar, o outro garçom explicou - ainda não sabíamos - que o prato não vinha mais com os acompanhamentos de antigamente (arroz, feijão e farofa), embora o preço tivesse sido reajustado em cerca de R$ 3. Pagamos a conta e fomos embora beber em outro local, onde dividimos um magnífico - e enorme - filé com fritas e tomamos mais alguns chopes.

Infelizmente para nós, a Casa Brasil já era. E os sócios do Belmonte(de merda) mais uma vez põe suas manguinhas de fora e nos impõem um padrão de "bar" que não condiz com nossa maneira de ver a vida, não atende às nossas necessidades, não nos alegra os começos de noite, não nos consola nos momentos de tristeza nem compartilha das nossas alegrias.

Bjs,
Bárbara Oliveira"


Até.

CAJU NA FOLHA SECA

Paulo Cesar Caju na Folha SecaRecebido pelo poço artesiano de doçura, meu queridíssimo Rodrigo Ferrari, e pelo Carlos Alves, do Al-Fárábi, Paulo Cesar Caju deu pequena entrevista para o ESPORTE ESPETACULAR, na livraria do meu coração, a Folha Seca.

Clicando na imagem, vocês podem assistir a entrevista na íntegra.

Até.

SEM NEM TER O QUE DIZER

Um troço que venho aprendendo há anos, e apreendendo muito aos poucos, é que há momentos em que não dizer nada é o grande agá da charada.

Como estou - repetindo - apreendendo muito aos poucos, não me contenho em dizer que ontem, 27 de abril de 2008, dia de meus anos, vivi o maior (lato sensu) aniversário de minha vida. Talvez tenha sido, e acho mesmo que foi, o mais simples.

Sentei-me à mesa do meu buteco de fé, o Rio-Brasília, passava um pouco das 13h, ao lado da mulher que me ensinou a sorrir, o grande amor de minha vida, e de meus pais, que são também queridos amigos meus, a quem amo mais a cada dia e por quem tenho crescente gratidão e carinho.

A mesa foi crescendo à medida que chegavam os amigos, os filhos dos amigos, afilhados, os irmãos, e tudo resumiu-se a isso: cerveja em abundância - mais de quatro caixas! -, doses incessantes de maracujá e limão, muita comida (com direito a Bobó de Camarão à Tartaglia e Canjiquinha à Minha Sogra), um Flamengo e Botafogo com a vitória do meu time, muita cantoria, muito choro (amanhã conto sobre isso, quando me for possível falar mais) e só às 23h, depois de expulsos pelo Joaquim, o furdunço terminou.

Foi, de fato, tudo bonito demais. Tanto que, mesmo sabendo que movido pelo espírito do "é mentira mas é bonito", meu irmão Szegeri disse, pouco antes de partir:

- Hoje foi, seguramente, um dos cinco dias mais felizes da minha vida.

Até.

26.4.08

O ABJETO CADERNO ELA

matéria publicada no caderno ELA do jornal O GLOBO de 26 de abril de 2008E essas porras são alvo de matéria do detestável e abjeto CADERNO ELA (a matéria, que dá asco, chama-se ESTOU LÉSBICA), do jornal O GLOBO, editado pela plagiadora (veja o plágio escancarado aqui)...

Como diria o Bemoreira... QUE NOJO!

Até.

ABSURDO ABJETO

Enquanto isso, na zona norte da cidade, na zona da Leopoldina, no subúrbio, na zona oeste, na Baixada Fluminense - regiões que não existem nem para a imensa maioria dos governantes, nem para os jornalões, nem para a elite-de-merda que se valerá dessa esteira de bambu -, os aleijados (lá não existem os deficientes físicos, tomem nota disso) continuam à míngua.

Até.

PÂNICO NO JARDIM BOTÂNICO

Ontem, sexta-feira, graças a compromissos profissionais (uma audiência às 14h30min no Juizado Especial Cível, na Rua J. Carlos, no Jardim Botânico), fui convidado por minha cliente para um almoço no qual conversaríamos sobre as nuanças do processo, planos de ação no curso da audiência etc etc etc. Ela ficou - o convite partiu no final da tarde de quinta-feira - de me bater o telefone na sexta-feira pela manhã para combinarmos o restaurante (eu torcia, no meu íntimo, pelo Filé de Ouro).

Eis que na sexta pela manhã, conforme o combinado, estrila meu telefone:

- Podemos nos encontrar às 13h na esquina da Alexandre Ferreira com a Maria Angélica? - disse-me ela.

Diante da incongruência entre o endereço do Filé de Ouro e o fornecido, desanimei. Esfregando o lenço na testa suada (suo cada vez mais), fingindo estar achando tudo ótimo, perguntei:

- Qual o restaurante?

Quando ela disse o nome, em tom blasè, - Gula Gula - eu tossi de nervoso. Pensei na minha reputação, pensei no meu corpinho moldado à base de torresmo e cerveja, pernil e maracujá, salaminho e uísque, meus cotovelos calejados nos balcões mais simplórios, meus pés que deixam marcas na marola de água e sabão nos finais de noite do Rio-Brasília, todos eles lá, num restaurante grã-fino na zona sul da cidade... Mas fazer o quê? Trabalho é trabalho, prossegui refletindo no percurso dentro do táxi, tamborilando os dedos sobre a pasta em meu colo, eu no banco da frente, até que chegamos. Paguei a corrida, pedi o recibo, e não avistando minha cliente, bati o celular pra ela:

- Vou entrando, o.k.?

Seguramente eu estava audivelmente tenso. Eis sua resposta:

- Tudo bem?

- Arrã.

- O.K., então. Encontro você no restaurante...

Entrei. Três moças lindas abriram a porta pra mim.

- Quantos lugares, senhor?

- Dois - disse, desacostumado a esse excesso de atenção.

Sentei-me e uma quarta moça, lindíssima, estendeu-me três cardápios (carta de vinhos, cardápio de bebidas em geral e cardápio comum). Agradeci e fiz, dos três, uma espécie de biombo para não ser visto.

Um troço me martelava a cabeça... E se algum de meus poucos mas fiéis leitores me flagrar justo aqui?! O que dirá? O que ME dirá? O que pensará a meu respeito? Estava eu divagando quando aproximou-se um homem - o maître - e perguntou:

- Algum problema, senhor?

De dentro de minha fortaleza de cartolina eu disse que não. Foi quando chegou minha cliente.

Ela estranhou um pouco - confesso - a formação da espécie de quebra-vento que construí diante de mim. Foi solícita:

- Quer escolher?

- Faz-me um favor?

- Claro!

- Escolha tudo. Pelo amor de Deus.

- Está tudo bem, Eduardo?

- Arrã.

Ela fez os pedidos - suco de abacaxi com hortelã para mim, água com gás para ela e duas quiches de espinafre com queijo com uma salada de frango ao pesto.

E eu preocupadíssimo.

Ela não agüentou e perguntou:

- Por que esses cardápios à sua frente?! Mal consigo vê-lo!

- Não posso com golpe de ar! Golpe de ar me faz muito mal!

Foi quando - para meu absoluto desespero - vi entrando um leitor do BUTECO. Um querido, um elegante, um sóbrio, um ponderado, é verdade, mas o choque foi mais forte que tudo. Helion Póvoa (veja-o aqui ao lado do Nando e do Rodrigo Ferrari) aproximava-se de mim, com a mão já estendida - é um lorde, o Helion! - mas eu via, em seu sorriso simpático, o escárnio, o deboche, a troça, a caçoada, o menosprezo pelo meu caráter e por minhas opiniões.

O cumprimentei, apresentei-o à minha cliente, e fui patético:

- Olá, Helion! Sabes que eu ODEIO o Gula Gula, né?

Ele, sempre ponderadíssimo, apenas balançou a cabeça. Eu prossegui:

- Minha cliente escolheu essa merda, fazer o quê? - e ria dando tapinhas em seu braço.

Ela estava em choque.

- E isso aqui não é suco, não! Tem um quentinho dentro, um quentinho dentro!

Esses troços que, agora, me envergonham solenemente.

Vejam vocês... Eu dou a sorte de encontrar, naquela situação para mim desconfortável, um homem sem mancha, um homem educado e incapaz de uma grosseria, uma inconfidência que seja, e nem assim mantenho o controle.

Notem vocês que o Helion Póvoa Neto é, dentre os queridos e caríssimos que me cercam, aquele que mais carrega títulos e qualificações, saber e conhecimento. Ele tem graduação em Geografia (licenciatura e Bacharelado!) pela PUC/RJ, mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ e doutorado em Geografia (Geografia Humana) pela USP. Realizou Estágio Pós-Doutoral em 2003, como bolsista Capes, no Centro Studi Emigrazione Roma e no Scalabrinian International Migration Institute em Roma, Itália. Atualmente é professor adjunto do IPPUR-UFRJ. Coordena, na UFRJ, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM), e é cadastrado Grupo de Pesquisa junto ao CNPq, do qual é líder. É membro da Comissão Editorial dos Cadernos IPPUR (UFRJ), do Conselho Editorial da Travessia e da Revista do Migrante (Centro de Estudos Migratórios - SP). Ou seja... do homem, de Helio Póvoa Neto, goteja sabedoria. E eu, poltrão, com medo e vergonha por ter sido descoberto justo por ele!

Tivesse eu encontrado um dedo-duro, um canalha, um indiscreto, um sacana, um simples sacana, e já estaria justificado meu pânico.

Mas encontrar o Helion, não.

Foi verificar que era ele, foi perceber que escorriam por baixo das bainhas de suas calças, lubrificando seus sapatos, o seu saber, a sua sabedoria, o seu conhecimento e a sua densidade intelectual, foi apertar suas mãos aindas sujas de giz e olhar dentro de seus olhos capazes de transmitir aquela tranqüilidade que só os intelectuais acadêmicos têm, que fiquei calmo.

A ponto de pedir chá de camomila, no final do almoço, comendo, ainda, sem medo de ser visto, uns biscoitinhos de canela parecidíssimos com perfex.

E ainda fui cumprimentá-lo ao sair, calmíssimo.

Até.

25.4.08

EU, COADJUVANTE MAIS UMA VEZ

(ou CONVITE PÚBLICO PARA ANIVERSÁRIO)

No ano passado, há exatamente um ano, escrevi EU, COADJUVANTE (leiam aqui), dividindo com vocês as agruras que me perseguiam naquele não-longínquo 2007 às vésperas de meu aniversário. E eis que, graças à inexorabilidade do Tempo, esse deus impiedoso que nos entrega, de bandeja, experiências e mazelas, estamos em abril de 2008, a dois dias do dia 27, quando completo 39 anos de idade.

Acabei de escrever "39 anos de idade" e ouvi guinchos de gargalhadas estrepitosas atrás de mim. Virei-me e não havia nada nem ninguém, embora prosseguisse ouvindo o barulho ensurdecedor dos risos debochados diante de meu estado cada vez mais caquético. Fui ao banheiro jogar água fria no rosto (acabei de voltar, vejam que belezura a dinâmica do texto e do modus operandi que imprimo no meu dia-a-dia no BUTECO) e meus cabelos brancos pareciam plantação de trigo em dia de vendaval, já que balançavam intensamente para me provocar - só pode, foi o que pensei enquanto afagava minha própria cabeça-de-ovo (mais de ovo do que nunca depois de mais uma visita ao Salão América, ontem à noite, e ao seu Ernesto). Nesse meio tempo estrilou meu celular e vicejava na tela uma mensagem do menino Prata:

"FALTAM DOIS DIAS. VELHO!"

Mas estou - eis o que eu queria lhes dizer - ao contrário do que estive noutros tantos abris, felicíssimo.

Ao lado da mulher que me ensinou a sorrir, em plena placidez com minha consciência, cercado cada vez mais por menos amigos que valem infinitamente mais que os muitos de outrora, com seis afilhados sob as asas imaginárias, pai e mãe que são tesouros que me fazem melhor desde que nasci - não me estenderei para não lhes causar enfado, e nem é sobre isso que quero lhes falar hoje! -, chego aos quase-quarenta disposto a comemorar firmemente a data.

Mas como nem tudo é perfeito, e tenho certeza (depois de dois anos seguidos eu posso lhes dizer que tenho certeza!!!!!) de que meu irmão paulista, Fernando Szegeri, faz de propósito, comemorarei meus 39 amanhã, sábado, a partir das 21h, no Trapiche Gamboa (o site, aqui), na posição de coadjuvante. Explico! Explico!

Já em abril de 2005, escrevi A HÉRNIA DO SZEGERI, comentando justamente sobre o poder que esse caboclo exerce sobre os que me cercam e justo nos dias de meu aniversário, quando, graças à sua presença (ou ausência, como vocês verão), NINGUÉM (com a ênfase szegeriana) se importa comigo. Leiam a HÉRNIA DO SZEGERI aqui.

Pausa brevíssima.

Comovi-me, ontem - e disse isso a quem?, a quem?... ao Szegeri, meu Otto na íntegra - relendo A HÉRNIA DO SZEGERI quando percebi que foi nesse texto, em 29 de maio de 2005, às 15h55min, que meu dileto e querido amigo, José Sergio Rocha, hoje minha madrinha, fez seu primeiro comentário no BUTECO, vejam:

"Edu, tu escreve (sem plural, assim mesmo, cariocamente) bem pra dedéu! Não sei o que me deu mais vontade de ir ao banheiro para mijar de rir – se foi a associação com os LPs, a ignorância canina dos circunstantes em relação à espécie de hérnia, sei lá, pombas! O que sei é que o Estephanio´s tem um senhor cronista em suas instalações. Com todo respeito, não sei se você dá só pra cronista ou também pra romancista ou teatrólogo, mas que vem coisa em breve por aí, vem sim, e tomara que não demore. O teu “Otto” de 33 ½ rpm (cada um tem o Bey de Tunis que merece quaquaqua!), além de também ser bom nas pretinhas, foi um puta personagem. Valeu o balé! Grande abraço e em breve o Estephanio´s ganhará um freqüentador bissexto (eu disse bissexto, porra!) porque, morando a léguas da Rua dos Artistas, cá em Piratininga, vai ser difícil bater o ponto mais amiúde. 29 de Maio de 2005 15:55"

Dito isso, em frente.

Antes, mais uma divagação em voz alta: eu adoraria, e assim que tiver tempo me dedicarei a isso, descobrir o primeiro comentário de cada um que é, hoje, graças ao BUTECO, um próximo de mim. Ah, sim! Leiam FERNANDO JOSÉ SZEGERI, O MITO, que escrevi em 13 de abril de 2006, e vocês verão José Sergio Rocha abraçado a meu irmão paulista, o homem da barba amazônica, numa demonstração explícita da beleza que são esses encontros que a vida vai costurando pra gente.

Agora sim, em frente.

Em frente mas já quase no fim.

O que queria, a bem da verdade, era apenas aproveitar esse mote (a comemoração de meus 39 anos) para convocá-los, publicamente, para mais uma noite memorável no Trapiche Gamboa, quando os Inimigos do Batente, que fazem uma senhora roda de samba - "a melhor do Brasil", na insuspeitada opinião de Luiz Antonio Simas, vejam aqui - vão quebrar tudo, como fazem sempre.

Amanhã - eis o que justifica o título do texto! - serei mero coadjuvante na comemoração de meu próprio aniversário, lembrando que o cenário dessa peça realíssima que atesta minha baixa popularidade, o Trapiche Gamboa, será o mesmo das minhas comemorações de 2006 (vejam aqui) e de 2007 (vejam aqui).

Até!

24.4.08

DO NOSSO JEITINHO

Sempre que leio um texto que mexe comigo - lato sensu, emocionando, fazendo pensar, revoltando, que seja, me dando quase-raiva por não ter sido eu a escrevê-lo (como é o caso desse que ora indico!) - faço questão de espalhá-lo entre os amigos. O texto a que me refiro, especificamente, cujo trecho segue abaixo, merece mais. Merece ficar exposto permanentemente no balcão do BUTECO para que muita gente, e cada vez mais, tomara, leia a reflexão de meu irmão paulista, Fernando Szegeri.

"É sabido – e tenho tantas vezes insistido aqui – que a meia-dúzia que sempre se arvorou em dona do Brasil nunca suportou o povo brasileiro. Não gostam da comida que gostamos, desprezam nosso modo de viver, nossa música, nossa sabedoria, menoscabam nosso jeito de rezar e curar os males do corpo e da alma. É claro que as coisas do povo que nunca toleraram vez por outra entram na moda por um motivo qualquer e aí é um tal de dar-se um jeito de tudo ficar mais “higiênico”, mais branco, menos mestiço – foi assim com o carnaval, a religião, está sendo com o futebol, os butiquins etc. - , mas isso é assunto pra outras conversas."

Leia DO NOSSO JEITINHO, na íntegra, aqui.

Até.

O CHOPE DO SABIÁ

Para quem ficou sabendo de minha viagem à São Paulo e me perguntou - e foram muitas as perguntas! - se o chope do Sabiá é bom, respondo acreditando piamente que uma imagem vale mais que mil palavras.

Eduardo Goldenberg, no Bar e Restaurante Sabiá, São Paulo, SP, 19 de abril de 2008 às 2h29min

Até.

23.4.08

OS PALCOS DOS ENCONTROS

O Bruno Ribeiro, esse grande brasileiro, carioca residente em Campinas, SP, disse tudo quando não disse nada sobre nosso encontro no último final de semana.

Foram quatro os palcos que nos serviram de mesas e balcões para que construíssemos belas páginas nas histórias de nossas vidas.

Éramos, precipuamente, eu, Bruno Ribeiro, Fernando Szegeri, José Sergio Rocha, Julio Vellozo e Luiz Antonio Simas - todos presentes aos quatro encontros.

Um mero acaso que tenham acontecido, os quatro, em encruzilhadas?!

Ó do Borogodó, Pinheiros, São Paulo, SP
Bar e Restaurante Sabiá, Vila Madalena, São Paulo, SP
Pé pra Fora, Perdizes, São Paulo, SP
Bar do Palmeirense, Vila Romana, São Paulo, SP

Leiam o texto-que-nada-e-tudo-diz do Bruno, um sábio - como tem me repetido o homem da barba amazônica.

Aqui.

Até.

SALVE!!!!!

São Jorge, Centro Cultural Carioca, 22 de abril de 2006Até.

22.4.08

O RABINO NA PONTE AÉREA

Em maio de 2006, quando escrevi E LÁ VAMOS NÓS, instantes antes de nosso embarque, meu e da Sorriso Maracanã, para Portugal (leiam aqui), falei, de leve, sobre meu medo de avião, que já foi, é preciso confessar, infinitamente maior.

Na sexta-feira próxima passada, 18 de abril, como já lhes contei aqui, fui para São Paulo, de avião, a inacreditáveis R$ 55,00 (cinqüenta e cinco reais) - veja a influência do Goldenberg que me ultima o nome.

E fui felicíssimo. Meu vôo estava marcado para às 12h35min e eu era, desde a manhã, durante os preparativos da mala (da mochila, para ser mais preciso), um homem feliz com a perspectiva de encontrar os amigos, de conhecer bares novos, rever os bares do coração, e parti, de ônibus (o glorioso 238), para o Santos Dumont, mascando um imaginário chiclete (odeio chicletes) que me dava contornos de rigorosa despreocupação com aquilo que me quase-mataria anos antes: a viagem de avião.

Cheguei ao aeroporto (eu vestia uma bermuda e um chinelão de couro, notem que a roupa era adequada a meu estado de espírito), dirigi-me ao balcão da companhia aérea, estendi minha carteira de identidade, retirei meu cartão de embarque, subi as escadas rolantes, comprei um refrigerante e uma coxinha de galinha numa loja qualquer (só um relaxado pensa numa coxinha de galinha minutos antes de embarcar num avião), passei pelo portão 5 e sentei-me à espera da chamada pelo sistema de som do aeroporto até que, finalmente, convocaram o embarque específico do meu vôo.

Esperei aquela fila de desesperados entrar no avião (eu já fui um deles) enquanto terminava de ler BALNEÁRIO (chatíssimo), do fabuloso Montalbán. Até que, quando não havia mais ninguém no saguão de embarque, dirigi-me à porta daquela sanfona que nos leva à aeronave.

Ao ingressar no Boeing 737-700, o susto.

Na primeira fila, sentado, todo de preto, com uma barba de aparência detestável, um chapelão de veludo (ou de feltro, sei lá) e tranças sugerindo falta de banho, um rabino.

Fui, naquele instante, um homem à espera da extrema-unção.

A visão daquele rabino me deu a certeza do acidente, a inevitabilidade da morte e a tristeza do fim súbito.

Tentei, trêmulo, o celular da Dani - deu desligado.

Passei, também pelo celular, uma mensagem enigmática para meu irmão Szegeri sugerindo meus presságios e imaginei o homem da barba amazônica mostrando a todos, durante meu velório, a mensagem enviada minutos antes da tragédia.

O comandante - Adelino, lembro-me de seu nome! - anunciou a partida e eu já chorava de dar dó na tripulação que me olhava com pena. O camarada ao meu lado, solícito, coitado, perguntou:

- Tá tudo bem, meu chapa?

- Não.

- Não?

Apontei acintosamente:

- Há um rabino no vôo. Vai dar merda.

- Você está impressionado... - e afivelou os cintos.

Fui, meus poucos mas fiéis leitores, durante os 45 minutos do vôo, um homem em pânico. O judeu foi ao banheiro três vezes e eu tive por três vezes a certeza de que uma merda colossal aconteceria, uma bomba, um seqüestro, alguma coisa.

Tentando fazer graça pra relaxar, eu perguntei, altíssimo, num dos retornos do religioso à poltrona, depois de mais uma visita ao banheiro:

- Essa gravata foi comprada ou foi roubada?

A assistência guinhou de rir e gerou levíssima turbulência na aeronave da companhia mais jovem do Brasil.

- E esse chapéu, rabino, no dinheiro ou na mão grande?

Mais guinchos, mais guinchos.

Só relaxei quando o avião pousou.

O judeu de preto me olhou feio de cima a baixo, mas nem lhe dei confiança.

Serviu-me, a viagem, para eu descobrir que, sabe-se lá por qual razão, tenho medos olímpicos de rabino.

Se algum cinéfilo souber de um filme, ou se algum devorador de livros souber de um livro em que um rabino seja protagonista e causador de uma grande tragédia aérea, eu agradeço. Isso, talvez, diminua meus sentimentos de culpa.

Até.

21.4.08

SIMAS NO Ó DO BOROGODÓ

Estive, nesse último final de semana, depois de meses de planos que não se concretizavam, em São Paulo, na Casa Vermelha de meus irmãozinhos Szegeri e Stê. Luiz Antonio Simas e Candinha, que dividiram comigo, durante meses, os planos que não se concretizavam, foram também. O sábado, como não podia deixar de ser, foi no Ó do Borogodó, onde acontece, sob o comando dos Inimigos do Batente, uma sensacional roda de samba ("a melhor do Brasil", na emocionada confissão do Simas, ao microfone) com uma não-menos-sensacional feijoada que não deve nada à melhor feijoada que já comi: a minha!

O Simas foi convocado algumas vezes pelo homem da barba amazônica para comparecer à roda a fim de cantar um ou outro samba dentre tantos sambas-tesouro que sobrevivem em sua privilegiada memória.

Já no final da noite, Luiz Antonio Simas ergueu a mão e pediu o microfone para homenagear a rapaziada de São Paulo, com o auxílio luxuoso do Favela.

Cantou - cantaram - um samba-enredo antológico da Camisa Verde e Branco, de 1977, como mostra o filme abaixo.

Até.

18.4.08

AS BUZINADAS DE MEU PAI

Vocês, meus poucos mas fiéis leitores, que acompanham as discussões e as confissões que faço quase que diariamente diante do balcão imaginário do BUTECO, estão carecas de saber que meu velho pai é o personagem mais constante das histórias que contam, digamos assim, minhas memórias. Os exemplos mais recentes não me deixam mentir: MEU PAI, IMPERIANO (aqui), MINHA PRIMEIRA VIAGEM (aqui), O MAIOR É UM (aqui) e BODAS DE ESTANHO (aqui). Feito o intróito, sigamos.

Ontem, quando escrevi o texto A PEDAGOGIA DE MEU PAI (aqui), encerrando a trilogia canabínea, contei sobre as buzinadas (leiam lá!, leiam lá!) que meu pai dava com sua Brasília branca SEMPRE (com a ênfase szegeriana) que passava em frente ao apartamento do casal Saboya (já morto, infelizmente).

Papai bateu o telefone pra mim no finalzinho do dia. Atendi com o humor que o BINA antecipa:

- Fala, papa!

- Cada vez pior...

Eu intuía que ele falava sobre o texto e nem respondi nada. Ele continuou (ao fundo eu ouvia o som das pedrinhas de gelo no copo de uísque):

- Quando que eu buzinei diante da casa do Hélio Saboya?

Eu me mantive mudo, mas já me dirigindo - com o telefone sem fio entre o ombro e a orelha esquerda - ao humilde bar que mantenho na sala, motivado pela música daquelas pedrinhas trincolejando do outro lado da linha. Ele prosseguiu:

- Eu nunca buzinei ou acenei para o casal Saboya, Dudu, nunca... - deu um vigoroso gole no uísque, deu pra ouvir nitidamente.

- A mãe tá aí? - foi o que disse, sentado e servido (Red Label).

Veio mamãe ao telefone. E fiz a pergunta:

- Mamãe... você lembra do papai buzinando SEMPRE que passava diante da casa dos Saboya, na São Miguel?

- Claro!

- Buzinava ou não buzinava? - provoquei a resposta com o verbo.

- Sim, meu filho...

- Buzinava ou não buzinava, mãe?

- Buzinava!

Daí ouvi gritos de protesto de meu pai. Despedi-me rapidamente, bati o telefone no gancho imaginário e fechei os olhos. Balançando o copo lentamente com a mão direita, a mão esquerda sobre o rosto num auto-afago, fui transportado e arremessado em direção ao passado, uma vez mais.

Subíamos a São Miguel e, diante do edifício de pastilhas azuis e brancas à esquerda, logo depois do morro do Borel (o tal que saiu pra beber com a Formiga... se você não entendeu, azar!), papai buzinava ritmadamente seis vezes (pena eu não poder reproduzir a melodia da trombeta do automóvel) esperando o aceno generoso do casal Saboya (acabo de lembrar que mamãe abaixava, sempre também, o vidro de sua porta, punha a mão direita pra fora, por cima do teto da Brasília, a palma voltada para os Saboya, e acenava como um boneco inflável de posto de gasolina retribuindo o carinho gestual). A Brasília seguia deslizando pela São Miguel, dobrava à direita, levemente à esquerda, e mal entrávamos na Edison Passos, papai dizia:

- História impressionante aquela daquele amigo do Hélio...

Havia uma variação (acabei de lembrar disso). Era assim:

- Coitado daquele amigo do Hélio...

E vamos à revelação que o arremesso ao passado me trouxe.

Notem vocês que esses arremessos são impressionantes... Entro numa espiral e visto calças curtas, camisa de malha listrada, sou tomado pelos cheiros e pelas cores, e as imagens vêm vindo como fortes ataques de tosse espasmódica - não controlo nada.

Voltávamos da praia (do Pepino) por baixo (e não pelo alto, pelo Alto da Boa Vista), não me perguntem o por quê. Atravessávamos o Dois Irmãos (hoje túnel Zuzu Angel), o pequeno trecho limítrofe da Gávea e do Leblon, tomávamos a avenida Borges de Medeiros margeando a lagoa Rodrigo de Freitas (onde morei no tempo em que vacas obesas tentavam, sem êxito, destruir meu pasto) e dobrávamos em direção ao túnel Rebouças.

E eis mais uma mania PERMANENTE de meu velho pai que me saltou no curso do arremesso a que me refiro: ao atravessar a primeira galeria do túnel e ingressar na segunda, papai dizia, excitadíssimo:

- Essa galeria tem um declive, é uma descida, vamos em ponto morto!!!

Havia então uma festa de "obas" e de "ebas" dentro do carro (eu, Fefê e mamãe). Papai ficava:

- Vamos ver até onde o carro vai!

- Vamos quebrar o recorde!

Delirávamos.

Mas vamos ao mais impressionante, à mais incrível lembrança que me veio nítida, intocável, audível (vocês entenderão o por quê do audível).

Saíamos da segunda galeria (o carro ainda em ponto morto) e a Brasília seguia garrida pelo viaduto Paulo de Frontin (o que caía, como a tarde... se você não entendeu, azar!). E eis a revelação.

Quando chegávamos na metade do viaduto (um pouquinho mais), lá estavam na janela, à direita, um casal amigo de meus pais e sua filha (uma delícia visual, muito mais velha que eu): Antônio, Nancy e Soraia).

E o que se dava?

Papai repetia as mesmas seis buzinadas!

E dizia, em seguida:

- Ainda estamos em ponto morto! Ainda estamos em ponto morto!

E eu e Fefê, como cachorros excitadíssimos passeando de carro, ajoelhávamos no banco de trás para não perder - eis a verdade - a Soraia de vista.

Até.

17.4.08

LUTO TARDIO

Meu pai acaba de me mandar um email, seco como um dry martini, me dizendo que a Cenyra Saboya (leiam sobre ela aqui) morreu há anos.

Essa dor atrasada, esse aviso fora do tempo, esse luto despropositado, acabou com minha quinta-feira.

E que Deus a tenha - agora, sim (leiam, aqui, e vocês entenderão).

Até.

A PEDAGOGIA DE MEU PAI

Como mexi - oh, como me comovo com a dor alheia - com o sentimento de alguns membros da turma da erva quando disse - e repito, e repito! - que são todos uns bobos-alegres, volto ao balcão para fazer a confissão do mais-óbvio: eu, meus poucos mas fiéis leitores, eu também sou um bobo-alegre! E explico o por quê e, mais, explico a qual viés me refiro quando digo que sou um bobo-alegre. Vamos aos fatos.

Quando escrevi a MARCHA DA MACONHA (leiam aqui), contei sobre alguns métodos pedagógicos que meu pai utilizava para me transformar (e deu certo) num poltrão na matéria.

Agora quero lhes contar sobre uma lição específica que me transformou - vocês verão, acompanhem a historinha... -, durante um bom tempo, num bocó, num aparvalhado, num calino de marca maior.

Papai tinha um amigo (ou eram meus avós, sim, sim, eram meus avós) chamado Hélio Saboya, que Deus o tenha em bom lugar. Era casado - minha memória não me trai - com Cenyra Saboya, e eu bem me recordo do quanto me impressionava aquela mulher com dois ípsilon no nome (era uma estrangeira na Tijuca e justo por conta da duplicidade da letra elegante).

Estou aqui escrevendo e não sei se digo "que Deus a tenha em bom lugar" em relação a ela... Eu simplesmente não sei, e essa dúvida me machuca, se Cenyra Saboya está ou não está entre nós.

Hélio e Cenyra Saboya moravam na rua São Miguel, quase chegando na subida do Alto da Boa Vista, na Tijuca. Morávamos, nessa época, na rua São Francisco Xavier. E a caminho da praia (íamos à praia do Pepino), sempre que passávamos diante do prédio do simpático casal (eram simpáticos), lá estavam os dois na janela esperando as seis buzinadas que meu pai imprimia na Brasília branca.

E quando dobrávamos à direita no final da São Miguel, quando o carro começava a subir a avenida Edison Passos em direção à estrada do Joá, que nos levaria a São Conrado, meu pai dizia:

- História impressionante aquela daquele amigo do Hélio...

Eu, representando meu papel, cutucava o velho:

- Que história? Que história?

Notem que eu estava careca de saber da história. Mas ouvi-la mais uma vez era uma espécie de refeição para o pânico que crescia dentro de mim.

E ele repetia a história de um amigo do casal Saboya. Esse amigo tinha um filho, que por sua vez tinha um carro, e esse filho tinha um amigo e esse amigo estava um dia de carona com o rapaz quando foram parados numa blitz policial. Durante a blitz, documento pra lá, documento pra cá, apalpa daqui, revista dali, e pronto. Acharam maconha no porta-luvas do carro. E eis o drama que papai contava, com olhos de terror mirando meus olhos assustados de menino através do espelhinho retrovisor da Brasília:

- Esse menino, Dudu, ficou preso dez anos e jurava que não sabia da maconha do amigo. Cuidado com as companhias! Cuidado com as caronas que vais dar!!!!!

E me aterrava cada vez mais:

- Arruinou a vida do pai!

- A fortuna da família foi gasta com os honorários do advogado de defesa. E em vão!

- Cuidado com as caronas!

É bom lembrar que eu tinha, nessa época - o quê? - uns nove, dez anos.

O que ocorre é que, em 1987, eu com 18 anos e meu primeiro carro, um Passat bege, eu era um motorista em estado permanente de alerta (agora sim, notem como eu era um bobo-alegre).

A primeira providência que tomei foi levar meu Passat (acho que o ano de fabricação era 1982) a uma oficina. Defeito mecânico?

Não.

Pedi que retirassem o porta-luvas.

Lembro com nitidez o diálogo com o Mário, mecânico na São Francisco Xavier mesmo, quase esquina com a Mariz e Barros:

- Tirar o porta-luvas? Pra quê, rapaz?

- Para ninguém esconder maconha dentro! - para espanto do pobre Mário.

E quando saía da faculdade - se você estudou na PUC (alô, Márcio!) há de se lembrar disso - havia uma tempestade de polegares pedindo carona na saída do estacionamento. E era comum o bate-papo rápido:

- Tá indo pra onde, amigo? - eu nem conhecia o "amigo".

- Tijuca.

- Belê! Dá uma carona?

- Você está transportando maconha?

Ou então:

- Tijuca, Tijuca?

- Isso, Tijuca.

- Pô, aê, valeu... - já ia abrindo a porta.

- Não tem porta-luvas no carro!

- Mas...

- Tem maconha na mochila? - e eu arrancava em direção à Tijuca, orgulhosíssimo.

Nunca dei - eis a verdade que me atesta o grau de bobo-alegre - uma mísera carona que seja.

Até.

A NEBLINA DO GANJÁ

Foram, até o momento, 27 comentários ao texto de ontem, MARCHA DA MACONHA (leiam aqui), isso sem contar o comentário de um anônimo covarde, que vetei, e que assinou - vejam que fofo - JOANA D´ARC (maconha dá, além de onda, ibope também!).

A fim de ser preciso do início ao fim, devo dizer que JOANA D´ARC (seguramente um chincheiro, apud Houaiss) deixou seu comentário à 1h43min, e quero crer que envolto (o personagem) na neblina produzida pela combustão do cigarrinho maldito. Não transcreverei o referido comentário e por várias razões. A primeira, como sempre, para não dar voz à covardia (a mesma covardia dos eventuais participantes da patética Marcha da Maconha 2008, que desfilarão vestindo máscaras do Gilberto Gil, do Chico Buarque, do Bezerra da Silva, do Sérgio Cabral Filho, do Fernando Gabeira, do Marcelo D2 - vejam aqui). E a segunda (vou parar na segunda, que já basta) porque o comentário é mal escrito pacas, um comentário sem sentido.

Mal escrito e sem sentido mas que evidencia o complexo de perseguição da canonizada. À certa altura do comentário - citarei apenas isso - diz a heroína francesa:

"Não façamos ao outro o que não gostariamos que fizesse consigo."

Notem! Notem! Notem!

Sem entrar no mérito da construção da frase, típica de um Sérgio Naya da gramática, a donzela de Lorraine aponta-me a espada como se eu fosse um inglês acusando-me de um crime - estou exagerando, é evidente - que não cometi.

Como uma espécie de saci europeu, JOANA D´ARC enterra a carapuça na própria cachola de forma acachapante.

E ainda filosofa, a heroína (lá vou eu transcrever mais um trecho...):

"Incrível como na internet somos todos donos da nossa verdade."

Notem como é boba, como é pueril, como é óbvia a santa católica.

Já disse mil vezes e repetirei outras tantas: isso aqui é um blog, e esse blog é meu. Escrevo o que quero, assino o que escrevo e - isso é de uma evidência que enerva o mais beócio dos seres humanos - escrevo aquilo que é verdade para mim, sem perder de vista, jamais, o que vai escrito na placa luminosa imaginária pendurada na entrada do BUTECO:

"Buteco virtual, extensão da minha casa, onde há relatos reais, irreais ou surreais, casos verídicos ou inverídicos, estritamente verdadeiros ou extremamente hiperbolizados. Como num buteco de verdade."

Anúncio para quem tem olhos de ver. Desembaçados, de preferência.
Até.

16.4.08

A MARCHA DA MACONHA

A primeira vez que eu ouvi a pergunta "kf´maum?" (soou-me assim), com a mão de meu interlocutor estendida em minha direção, segurando um troço parecido com um cigarro mal ajambrado, por medo - confesso - eu disse "não". Eu disse "por medo" e faço a confissão pública nessa manhã nublada que se desenha à minha esquerda: sempre fui um poltrão com relação às drogas por conta de uma campanha tijucaníssima engendrada por meu pai. Ele me soprava nos ouvidos, desde a tenra idade, com olhos esbugalhados:

- Não compre bala na carrocinha em frente ao colégio. Há cocaína nas balas!

Com as mãos enormes segurando meus ombros, bafejava turbado:

- Cigarro, então, não aceite nem a fórceps!

A campanha ganhava, vez por outra, contornos épicos. Lembro-me de uma freada espetacular de sua Brasília branca, na avenida Maracanã, quando papai apontou-me um mendigo em estado lamentável sob a marquise de uma loja de estofados (quase esquina com a rua Uruguai):

- É isso que dá fumar cocaína!

Noutro dia, diante de um homem algemado por dois policiais militares em direção a uma joaninha (lembrar de uma joaninha é a denúncia explícita de minha antigüidade), papai sentenciou:

- Cheirar maconha, Dudu, dá cadeia.

E por aí.

Cresci, como se vê, com um medo agudo disso tudo. E foi esse medo agudo que me fez dizer "não" para aquele rapaz, colega de colégio (não por coincidência, eu pensei na hora, um cliente assíduo do moço da carrocinha na hora do recreio), que me estendia, com olhos maravilhados e um pacote de Mirabel numa das mãos, o primeiro cigarro de maconha que vi na vida.

De lá pra cá - eis mais uma confissão que faço e que me fará alvo da borduna imaginária de muitos de vocês -, afastado o "medo original", fruto da campanha exitosa de meu pai, solidificou-se em mim uma certeza inabalável: o maconheiro é um bobo maiúsculo.

(estou ouvindo as vaias, os apupos, a corrimaça produzida pelas 250 vozes que engrossaram - público menor que um América e Cardoso Moreira - a Marcha da Maconha em 2007, estou ouvindo seu muxoxo e seu babaréu, leitor simpatizante da tabanagira)

E são esses bobos maiúsculos que estão organizando a Marcha da Maconha 2008 (vejam aqui), no dia 04 de maio, no Arpoador (no Rio de Janeiro, já que há dessa bobeira em todo o Brasil, no mesmo dia), a partir das 14h.

E por que, Edu - ouço a pergunta feita já sem paciência pelos que me consideram, oh, tolos..., um radical -, os maconheiros são uns bobos maiúsculos?

Por várias razões.

Para não entendiá-los em demasia, vou listar algumas razões. Prometo que após a realização deste grande evento (se juntar 500 gatos pingados já estará de bom tamanho) volto ao tema.

01) o maconheiro ri à toa. Ri, e ri de tudo. Se encontra outro maconheiro - reparem, reparem, reparem! - passa a fazer sinais com as mãos, com os olhos, pequenos gestos incompreensíveis, até que você percebe que um deles, sim, um deles tem maconha... Daí o que se vê são risadinhas de canto de boca, combinações patéticas do tipo "passa lá depois" (mais risadas), essas bossas sem-graça;

02) o maconheiro é um solidário chatíssimo. Quer, a todo custo, dividir a maconha. Estende em sua direção o palito de papel amassado (o "fininho", no vocabulário dos bobos), oferece o "bagulho" (os drogados, apud Houaiss, adoram essa expressão...) mais de uma vez depois de sua recusa explícita, e ficam empesteando o ambiente, com o que chamam de "maresia", enquanto repetem o "kf´maum?" como um mantra insuportável;

03) o maconheiro é um ator. Representa o tempo todo em que está voltado para a erva. Há todo um gestual característico, um ritual imutável, um roteiro escrito sabe-se lá por quem. O maconheiro tem sempre um, dois, três fecho éclair à mão. Dele, o maconheiro tira um papel laminado amassado. De outro, um livrinho de onde saca a seda (e como deliram, os maconheiros, tecendo comentários sobre essa seda, sobre aquela seda, sobre a qualidade dos guardanapos que podem, num momento de desespero, fazer o papel de seda...). Geralmente esse começo de ritual já é presenciado por outro maconheiro (que, nesse momento, esfrega as mãos e ri, olhando em volta freneticamente). Aí, meus poucos mas fiéis leitores, há pequenas variações. Uns utilizam um cartão de crédito para ajeitar o fumo dentro do papel, outros a própria mão, outros a chave etc etc etc. Ajeita daqui, bate dali (o segundo maconheiro já baba a baba dos sedentos), o maconheiro acende o cigarro. Dá o primeiro trago (essa gente usa a expressão "tapa" em vez de "trago"), esse trago é sempre barulhentíssimo, há um sopro rápido para dentro, tampa o nariz (apertam, os maconheiros, os próprios narizes, com uma força incomensurável) com a mão esquerda, mantém a boca fechada, os lábios cerrados, até que ele libera a fumaça fedorenta e estende a mão para o segundo maconheiro:

- Kf´maum? - eis a pergunta idiota que dispensa a resposta.

Daí começam a rir, a rir sem parar, começam a planejar viagens para Sana, para Visconde de Mauá, combinam de comprar juntos uma barraca de lona na Casa & Video para o acampamento na Maromba, e ficam ali, até o final. Quando há - eis a cena final do patético espetáculo - a disputa pelo resto do cigarro:

- Pro cemitério... - diz gargalhando o primeiro maconheiro.

- Já é... - diz o hílare segundo maconheiro.

Até.

15.4.08

BEL(MONTE DE MERDA)

Depois de termos chamado a atenção para mais esse crime contra a cidade do Rio de Janeiro e uma de suas mais caras tradições - aqui, no texto BELMONTE RIMA COM DESMONTE e aqui, no texto ADEGA DA PRAÇA: VENDIDA? -, agora é o parceiro Janir Junior, do RIO DE BOTEQUINS, blog hospedado no jornal O DIA, quem bota a boca no trombone e anuncia o que ele chama de TRISTE FIM, AMARGO COMEÇO... leiam aqui.

Até.

PRATA NA HOLANDA - III

Encerrando a série PRATA NA HOLANDA - o moleque já está de volta - publico, hoje, estas quatro fotos feitas pelo correspondente do BUTECO nos Países Baixos, Rob Schippers, mostrando o menino em ação durante o show BUTECO DO BRASIL, no bar ´t Syndicaat.

Tiago Prata, em foto de Rob Schippers, em Den Haag, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, em foto de Rob Schippers, em Den Haag, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, em foto de Rob Schippers, em Den Haag, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, em foto de Rob Schippers, em Den Haag, Holanda, 13 de abril de 2008Até.

14.4.08

O MODUS OPERANDI DA CANALHA

(matéria publicada no jornal EXTRA)

"A vida do técnico em telecomunicações Damião Cristiano de Souza Oliveira, de 35 anos, virou de cabeça para baixo em 2001. Ao recadastrar seu CPF, ele descobriu que o documento estava cancelado. Apesar de ter apresentado, em anos anteriores, a Declaração de Isento, ele deveria prestar contas à Receita Federal. O motivo? Para o Fisco, Damião seria um empresário fraudador, cheio de dívidas e sócio da estilista e socialite Maria Alice Tapajós Gomes no ramo de confecções.

A história, publicada esta semana pela revista "Isto É", mostra como um simples morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi transformado em laranja.

Com o CPF suspenso, Damião foi obrigado a fechar sua conta bancária e acabou demitido da empresa onde trabalhava como prestador de serviços para a Telemar. Ele chegou a passar dois anos desempregado, vivendo de bicos como camelô e vendedor de picolés .

- Por causa do problema de CPF, eu não podia ter conta salário em banco e isso me atrapalhava na hora de conseguir um emprego. Passei em um concurso para a Cedae, mas perdi a vaga porque estava com o nome sujo - contou Damião.
Sem documentos

A origem do calvário do técnico em telecomunicações está em 1992, quando ele perdeu, dentro de um ônibus, a carteira de identidade, o CPF e o título de eleitor. Mesmo tendo registrado o caso na 52 DP (Nova Iguaçu) e tirado a segunda via dos documentos, Damião viu seus dados utilizados, anos depois, no contrato social das empresas de Maria Alice Tapajós Gomes, com uma assinatura falsa e um endereço em Bonsucesso.

- Eu ia à Receita Federal, explicava a situação e ninguém acreditava. Também demorei a receber as cobranças da Justiça, já que meu endereço nos contratos é falso. Cheguei a ser julgado à revelia em 2003, pois o aviso do processo não foi mandado para a minha casa, em Nova Iguaçu - lembrou Damião.
Caso ficou quatro anos na delegacia

A investigação do caso já estava no cartório da Delegacia de Defraudações há quatro anos e veio à tona no dia 13 de março deste ano, quando a promotora Dora Beatriz Wilson da Costa denunciou Maria Alice Tapajós, José Mário Tournillon Ramos, marido dela, e os filhos José Francisco Tapajós de Oliveira e Antonia Tapajós de Oliveira Ramos. A comerciária Patrícia da Rocha Carvalho também foi indiciada pelos crimes de falsidade ideológica, formação de quadrilha e concurso material, crimes que, somados, podem resultar em até quatro anos de prisão para cada um dos acusados.

Segundo a promotora do caso, a família Tapajós usava os laranjas para manter as empresas sem dívidas.

- A Alice não é ingênua. Ela colocava laranjas para ficar com as dívidas das empresas e abria outra. Quando contraía novos débitos, fazia tudo de novo. O contador também foi arrolado e vamos ver de onde partiu a idéia - disse a promotora.

A denúncia foi aceita pela juíza Natascha Maculan Adum, da 32 Vara Criminal, e resultou no processo de número 2008.001.060664-0. No dia 24 de março deste ano, a juíza recebeu a denúncia e agendou para o próximo dia 11 de junho, às 14h, o interrogatório dos envolvidos.
Vítima aparece como sócio de cinco firmas

A identidade de Damião Oliveira foi usada nas empresas Go West Confecções Ltda, Ramos e Abranches Comércio de Vestuários Ltda, JMR Comércio de Roupas Ltda, JMA Comércio de Roupas Ltda e MAT Comércio de Roupas Ltda, todas com endereços fictícios. Os contratos tinham assinaturas falsas de Damião e João Denílson Farias Rosa, que seria outro laranja.

Segundo a revista "Isto É", a polícia já teria pedido ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) perícias contábeis e de grafotécnica, a fim de comprovar as fraudes e a falsificação das assinaturas. A primeira empresa aberta pela empresária foi a Alice Tapajós Confecções. Em 17 de março de 1998, Maria Alice teria deixado a empresa MAT Comércio de Roupas, colocando Damião e João Denílson como proprietários.
Carreira internacional

A estilista Alice Tapajós começou a ganhar projeção no dia 14 de novembro de 1974, quando abriu o primeiro ateliê. Sucesso dos anos 70, ela ficou conhecida por criar um estilo descontraído, com glamour.

De ternos bem cortados, passando por charmosos vestidos, aos renovados chemisiers, Alice já expôs em 1989 no Metropolitan Theater, em Nova York, nos Estados Unidos, e chegou a representar a marca Donna Karan no Rio, de 1994 a 1998.

O EXTRA telefonou ontem durante todo o dia para Maria Alice, mas ninguém atendeu às ligações."


Leia, online, aqui.

Até.

A BETINHA NOS EUA

O BUTECO está, de fato, internacionalíssimo. Depois da ampla cobertura da viagem do menino de 87 aos Países Baixos (veja aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), o balcão exibe, orgulhosamente, a primeira fotografia da Betinha em solo americano, ela que viajou - para tristeza coletiva - na sexta-feira passada, 11 de abril.

Betinha em Houston, EUA, 12 de abril de 2008

A foto tremida deve-se não à incapacidade de nossa correspondente em Houston, mas à emoção que tomou conta da mesma (não escancaro sua identidade nem a fórceps) diante da visão da Betinha.

A mesma emoção, diga-se de passagem, que pontua o poema - A MANHÃ ULTERIOR -, em homenagem a ela, escrito pelo meu irmão paulista, Fernando Szegeri, que pode ser lido aqui.

Até.

FUTEBOL NA TV GLOBO

Assisti, ontem, resignado, ao lado da minha menina, no portentoso Rio-Brasília, ao jogo entre Flamengo e Botafogo, pela segunda partida da semifinal do segundo turno do campeonato estadual - a primeira havia sido na véspera, e de lá, também, assisti à peleja entre Vasco e Fluminense.

Ontem, entretanto, estava - por razões mais-que-óbvias - mais atento à TV.

E quero lhes dizer que esse detestável Galvão Bueno (leia GALVÃO BUENO aqui, O MODUS OPERANDI DA CANALHA aqui e KAKÁ, UM MENTIROSO aqui) prossegue piorando a olhos (e ouvidos) vistos.

Ontem, a TV GLOBO inovou (e superou-se).

Mostrou, no intervalo - para delírio do pior locutor da TV brasileira de todos os tempos -, uma orquestra executando as melodias dos gritos das torcidas cariocas. O troço soou patético, e quando uma das duas torcidas mandava bala no canto de guerra durante o jogo, a TV GLOBO, além de pôr a letra em destaque no pé da tela, sobrepunha o sempre emocionante grito da galera com a tosca gravação de violinos, violas, harpas e o escambau (durante o jogo!!!!!).

Um nojo, como diria meu dileto amigo Leo Boechat, o Bemoreira.

Até.

PRATA NA HOLANDA - II

Eis aí mais algumas fotos do Prata, que chega ao Rio de Janeiro hoje por volta das 23h.

Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008

Até.

13.4.08

PRATA NA HOLANDA

O BUTECO, humildemente, levanta as portas de ferro em pleno dommingo, e apresenta algumas fotografias (depois tem mais, muito mais!!!!!) de nosso Tiago Prata durante sua apresentação na Europa, mais precisamente na Holanda (veja aqui, aqui e aqui).

Quem diria que um blog escrito (na) e publicado diretamente (da) Tijuca pudesse ter correspondentes no continente europeu.

Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008
Tiago Prata, Holanda, 13 de abril de 2008

Até.

11.4.08

AS PRAIAS DESERTAS

Se você leu o título AS PRAIAS DESERTAS e ouviu a inesquecível voz da Elizeth cantando a melodia jobiniana, ponto pra você. Se você acaba de ler este intróito e se perguntou, como uma azêmola, quem é a Elizeth ou o que é uma melodia jobiniana, vá ler o blog da Cora Rónai, faça-me o favor.

Eu citei o nome da Cora Rónai e faço questão de, mesmo desviando do cerne da questão de hoje, dizer: pela primeira vez, desde que o mundo é mundo, eu concordei com algo da lavra da referida senhora. Em sua (sempre lamentável) crônica semanal, publicada n´O GLOBO desta semana que vai se encerrando, ela desceu o maço de calceiteiro no lombo de Jaguar e Ziraldo, vergonhosamente beneficiados com um punhado de milhão de reais e com uma pensão vitalícia injustificável concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Dia desses falo sobre essa nojeira. Vamos às praias desertas.

A Manguaça, a doce figura que sorri na fotografia abaixo, é a responsável pelo arremesso que tive em direção à década de 60, 70, ontem à noitinha. E explico.

Manguaça no Alto da Boa Vista, 09 de março de 2008

Minha garota bateu o telefone pra mim, já no final da tarde, e depois do meu derretidíssimo alô (o BINA antecipa os humores do alô de cada um), disse:

- A Manguaça nos convidou para um programa diferente no sábado...

O cérebro, já rateando depois de um dia de intenso trabalho, reagiu mal à junção dessas três palavras na mesma frase - MANGUAÇA, PROGRAMA, DIFERENTE - e eu grunhi um troço qualquer. Ela continuou:

- Ela quer ir conosco, com um isopor com cerveja e gelo, para uma praia deserta no sábado, fazer uma espécie de piquenique...

Diante do meu mais implacável silêncio, ela foi em frente (mas sua já voz já soava trêmula):

- ... ela pensou em Grumari, Prainha...

Eu estava de pé, em meu gabinete, e já ouvia a Elizeth me dizendo que as praias desertas continuavam nos esperando, comecei a cantar junto e fui interrompido por minha doce menina:

- Chocolate?

Eis uma confissão que eu nem pretendia fazer, mas que faço graças à obrigação de ser preciso do início ao fim: ela me chama, vez por outra, por esse nome.

- Hã.

- Topa?

- Não.

- Por que?

A resposta que dei fez a Sorriso Maracanã rir, rir, rir, até que desligou sem um mísero e franciscano tchau.

- Porque simplesmente não há mais praias desertas.

Eu disse isso, afundei na poltrona de meu gabinete, apaguei o abajur e constatei que de fato estamos vivendo o final dos tempos.

Dessa constatação, passei à fúria. Bati o telefone pra Manguaça e passei-lhe o que minha bisavó chamaria de um sabão.

Ela atendeu excitadíssima (essa certeza é maior ainda agora, enquanto escrevo), certa de que, quando viu meu nome na tela do aparelho celular, eu estava ligando para topar, concordar, exultar, planejar o programa inviável.

- Oi, Eduuuuu! - esticou irritantemente a última vogal.

Fui seco como um dry martini:

- Pirou? - notem que o uso do verbo "pirar" denuncia minha idade, prestes a aumentar.

Se eu fui seco como um dry martini, ela foi murcha como balão com a bucha apagada em pleno vôo:

- Ah... não gostou da minha idéia?

Aí dei coices como o mais furioso dos marchadores, agredindo não a ela (não sei se ela teve capacidade de perceber esse detalhe que faz toda a diferença), mas a essa realidade duríssima que enfrentamos hoje.

Praia deserta é um troço que não existe mais na cidade. E que dirá num sábado, como pretende a nefelibática Manguaça.

Vou às fotografias amareladas de minha infância, e lá estamos nós, eu, papai e mamãe, na praia do Pepino (acho que hoje a chamam de São Conrado), na praia da Barra da Tijuca, e há apenas areia, uma ou outra criança com seus pais, um baldinho, uma piscina plástica e quase nenhum prédio - a antítese dos tempos atuais.

E vem a Manguaça, justo no mês de abril, quando sofro cruelmente (leiam AS FLORES DE ABRIL, de 05 de abril de 2006, aqui e ABRIL, O MÊS CRUEL, de 08 de abril de 2006, aqui), me falar em praia deserta.

Xô, depressão, xô!

Até.

10.4.08

ADEGA DA PRAÇA: VENDIDA?

Um leitor que me pede o sigilo de sua identidade (e o atenderei, evidentemente, que eu sou homem de palavra com a mesma intensidade com que sou preciso do início ao fim) garante que a Adega da Praça já foi vendida aos investidores da REDE BELMONTE (acompanhe o banzé aqui).

Garante, mais, que o Evandro, dono do buteco, fez uma operação de venda casada, adquirindo, com a grana que os espanhóis puseram em suas mãos, uma casa de sucos na mesma rua, e que será transformada - é o que também garante meu informante - num buteco de primeira (duvido).

A conferir.

Se for verdade mesmo, uma pena.

Até.

PRATA EM HAIA

Eu não poderia imaginar, quando o Prata me disse, na véspera de seu embarque, que ele seria obrigado a se apresentar para a Rainha Beatrix e para o Presidente Lula vestindo uma roupa "esquisita" (foi o termo que ele usou), que fosse tão esquisita assim a indumentária oferecida pelo cerimonial.

Tiago Prata, de costas, durante cerimônia oficial em Haia, na Holanda, 10 de abril de 2008

É ele, meus poucos mas fiéis leitores, de costas. É ele.

Até.

DÁ-LHE, GABRIEL!!!!!

A matéria pode ser lida, na íntegra, aqui, mas, infelizmente, apenas para assinantes do jornal O GLOBO.

Saiu publicada hoje, 10 de abril de 2008, no GLOBO TIJUCA, caderno que vem encartado, às quintas-feiras, n´O GLOBO.

matéria publicada no GLOBO TIJUCA de 10 de abril de 2008
matéria publicada no GLOBO TIJUCA de 10 de abril de 2008

Até.

DIÁRIO DE BORDO

Tiago Prata, o menino de 87, que deixou o Rio de Janeiro cedíssimo, ontem, em vôo da TAM em direção a São Paulo, embarcou às 18h53min, com oito minutos de atraso, para Amsterdam, no vôo 792 da KLM, que por sua vez pousou em solo holandês às 11h (horário local), 6h no horário de Brasília (há exatamente um minuto).

KLM, vôo 792, São Paulo / Amsterdam, 09 de abril de 2008
KLM, vôo 792, São Paulo / Amsterdam, 10 de abril de 2008

O BUTECO, sempre preciso do início ao fim, e desta feita orgulhoso como poucas vezes (leia aqui e aqui), será, até a volta do garoto, um balcão permanente de exposição das notícias envolvendo as peripécias do Prata em terras estrangeiras.

Vale lembrar que quando escrevi o texto PRATINHA, O INTERNACIONAL, em 19 de fevereiro de 2008 (leiam aqui), o fiz motivado pela excitação do moleque com sua viagem a Buenos Aires.

Vão fazendo uma idéia do que é Tiago Prata, neste momento, depois de quase doze horas de vôo.

Até.

9.4.08

BELMONTE RIMA COM DESMONTE

Basta ler TSC, de primeiro de dezembro de 2006 (aqui), INVESTIMENTO DE QUANTO?, de 31 de março de 2007 (aqui), BELMONTE EM PARIS, de 12 de abril de 2007 (aqui) ou NOJO ABSOLUTO, de 07 de outubro de 2007 (aqui) para perceber que, daqui do balcão, jamais deixei de alertá-los, mesmo sofrendo, com isso, carimbadas na testa que me definem como um radical, para o poder destrutivo, em larga escala, do que a grande imprensa chama de REDE BELMONTE, comandada pelos espanhóis que vêm fazendo com os butecos do Rio o mesmo que já fazem, há anos, com o futebol brasileiro e nossos jogadores (basta ver a quantidade de craques brasileiros cooptados pelos clubes espanhóis), com nossas empresas de telefonia (depois de privatizadas, grande parte na mão dos espanhóis), com nossos bancos (vide a entrega vergonhosa do BANESPA ao SANTANDER que acaba de comprar, também, o BANCO REAL).

Hoje, de pé diante do balcão imaginário do BUTECO, quero lhes dar uma tristíssima notícia e ao mesmo tempo lhes fazer um pedido. A notícia - imaginem daí - envolve mais um golpe sujo desses porcos-investidores que não medem esforços para transformar buteco pé-sujo em lavandeira, em pé-limpo fashion, em temakeria, como lemos aqui. E o pedido é romântico, eis que pode ser rigorosamente ineficaz diante da força do dinheiro e da selvageria do capitalimo - temas sobre os quais vem tratando, com o conhecimento que o caracteriza, meu irmão Fernando Szegeri em seu SÓ DÓI QUANDO EU RIO (aqui). Mas nos deixará - a mim, pelo menos... - com a sensação, não do dever cumprido (antes que me chamem de exagerado, o que rejeito com veemência), de que fizemos o mínimo a nosso alcance, ainda que tenha sido romântico o gesto de um mísero telefonema com o intuito de se fazer um pedido, apenas. Vamos aos fatos.

Imagino que grande parte de vocês, meus poucos mas fiéis leitores, conheça o Rio de Janeiro. E conhecendo o Rio de Janeiro, conheçam o aprazível bairro das Laranjeiras, onde moram, por exemplo, os queridos (em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades) Arthur Bezerra, Helion Póvoa, José Leal, Maria Helena Ferrari, tio Osias e Rodrigo Ferrari). Conhecendo o bairro das Laranjeiras, conheçam a praça São Salvador. E, conhecendo a praça São Salvador, conheçam dois pé-sujos da melhor qualidade, a Casa Brasil e a Adega da Praça.

Pois bem.

José Sergio Rocha já havia deixado enigmático recado no texto UMA SEMANA ANTES (leiam aqui), de 14 de março de 2008, não por acaso sobre uma matéria destrutiva publicada no jornal O GLOBO (não é esse o tema hoje, vou em frente):

"Edu, mais um blog vai entrar na área e de sola contra os botequins de frescos. Ainda não tenho o endereço, mas o blogueiro é meu chapa Washington Luiz, santista, morador na praça São Salvador, onde o Belmonte está acabando com um dos melhores butecos da Zona Sul."

E eis a verdade: a REDE BELMONTE, esse lixo abjeto no qual NUNCA pisei, acaba de comprar a Casa Brasil, pé-sujo de esquina e coladinho à Adega da Praça. Fez a proposta abjeta à viúva pouco tempo depois da morte do português que comandava a casa há décadas.

Captaram o espírito do troço?

Pois os vendilhões do templo, na cândida pessoa de um personagem patético criado para encantar a imprensa (um ex-garçom batalhador que, oh, conseguiu construir um império...), vêm assediando de maneira imunda os donos da Adega da Praça, outro pé-sujo de primeira onde já tive a honra de ser servido pelo competente garçom que atende pelo nome de Vampiro graças a seus protuberantes caninos.

A oferta - ouvi dizer - que começou na casa dos R$ 100.000,00 já está chegando aos R$ 200.000,00.

É difícil, dirão vocês. Mas é preciso resistir.

Vai ser - diante do inevitável é bom pensar num paliativo - delirante ver o Belmonte às moscas ao lado da Adega da Praça lotada de gente que entende do riscado. Ou - que seja - o Belmonte cheio de gente comportada e afrescalhada em choque com os freqüentadores do pé-sujo ao lado.

Eis a razão pela qual peço um telefonema que seja para o Evandro (o proprietário) ou para o Luiz (seu braço direito). Vocês podem conhecê-los lendo OS DONOS DA BARRICADA (texto do blog TIRE AS MÃOS DO MEU PÉ-SUJO, o tal blog indicado pelo Zé Sergio, aqui).

O telefone de lá é 2558-3285, código de área 21, é claro.

Ah, sim. E se quiserem, façam dos comentários a este texto um espaço de protesto. Semana que vem - acabo de ter essa idéia! - vou beber por lá e levo tudo impresso para eles.

(aditamento musical ao texto depois de sugestão de Fernando Szegeri, nos comentários)



Até.

8.4.08

MAIS SOBRE O PRATA DE HAIA NA HOLANDA

Eu, tomado pela ânsia persecutória que assola um pai às vésperas de perder o filho para o exterior, descobri mais sobre a viagem internacional que fará Tiago Prata (mais detalhes no texto PRATA DE HAIA, aqui) a partir de amanhã.

O menino estrelará, ao lado de outros músicos, no dia 13 de abril, o espetáculo BUTECO DO BRASIL (assim mesmo, com "u", uma homenagem carinhosa a este meu espaço, tenho certeza que foi essa a intenção do menino), sendo assim apresentado no release:

"Jovem violão de 7 cordas, prodígio de nossa música, já acompanha bambas de igual para igual."

Cliquem na imagem abaixo e vejam todo o conteúdo do release, que está no site BRASILEIROS NA HOLANDA, que pode ser lido aqui.

roteiro de Tiago Prata nos Países Baixos, abril de 2007

O espetáculo acontece no dia 13 de abril, na Den Haag Centraal, a estação central de trens de Haia, a maior da Holanda.

Até.

PRATA DE HAIA

Está lá, disponível no site do Ministério das Relações Exteriores, o calendário de eventos do Itamaraty para o mês de abril de 2008 - pode ser visto aqui:

"10 e 11/ABR – Roterdã, Haia e Amsterdã, Países Baixos – Visita de Estado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Países Baixos. (Fonte: DE I)"

Mas qual, meus poucos mas fiéis leitores, qual a mais bombástica revelação omitida, sabe-se lá por qual razão, no tal site? Qual a visita que abrilhantará ainda mais a visita de Luiz Inácio Lula da Silva aos Países Baixos?

Eis a revelação que quero lhes fazer, dotado de agudíssimo orgulho: Tiago Pinto Prata, o menino de 87, embarca amanhã, 09 de abril, rumo à Haia, levando consigo o sete cordas que domina com maestria.

Tiago Prata, rua do Ouvidor em frente à livraria Folha Seca, 27 de outubro de 2007

O menino vai - foi a informação privilegiada que obtive - a pedido expresso de Luiz Inácio Lula da Silva e de dona Marisa, que ficaram malucos quando viram o menino fazendo das suas no YouTube, aqui (com Mello Menezes), aqui (na rua do Ouvidor), aqui (tocando e cantando!), aqui (com Luiz Antonio Simas), aqui (na TV GLOBO), aqui e aqui (com Wilson Moreira) e aqui (com Aldir Blanc).

Quando confirmei com o garoto a história da viagem (parece que ninguém sabe disso, notem o tamanho da modéstia do Prata em avançado contraste com meu orgulho), perguntei:

- Vai sozinho?

E ele, lixando as unhas:

- Arrã. Convidei o Gabriel mas ele não quis ir... - e deu aquele sorriso de canto de boca como esse aqui embaixo, semi-escondido pelo gole que não disfarçou que lá vinha merda.

Tiago Prata, rua do Ouvidor com travessa do Comércio, no Casual, 27 de outubro de 2007

- Por que?

- Quando eu disse "vamos comigo e com o Lula aos Países Baixos?" ele coçou o saco, pôs a mão no meu ombro e me soprou com cara de poucos amigos... "tá me estranho, viadinho?"... Burrão, né?

Um doce, como se vê, o menino-viajante.

Até.