31.8.08

ONTEM, NA MATOSO

Como eu já havia lhes contado aqui, aqui e aqui, fomos ontem - eu, meu velho e amado pai e meu queridíssimo Felipinho Cereal - passear, com ares de desbravadores, na rua do Matoso, a fim de preparar RUA DO MATOSO - A SÉRIE. Como previsto, fizemos apenas - eu diria - um quarto da rua. Mas foi um começo fabuloso. Fabuloso, emocionante, surpreendente e gratificante.

apontamentos durante passeio à rua do Matoso, na Tijuca, em 29 de agosto de 2008

Fotografando tudo, de tudo tomando nota, conversando muito com muita gente, tivemos - os três - uma grande manhã de sábado!

Até.

30.8.08

INACREDITÁVEL

Eu havia prometido a mim mesmo JAMAIS voltar a tocar no assunto. Seguindo, talvez, conselho de meu queridíssimo amigo, Luiz Antonio Simas, de não acender muita vela pra pouco defunto. Mas o cara é insuperável (e insuportável).

nota publicada no SEGUNDO CADERNO do jornal O GLOBO de 30 de agosto de 2008

A livraria do meu coração (onde aconteceu o "lançamendo" - sic - do dito livro) NÃO fica na rua do Rosário.

Pra dizer (apenas) o mínimo.

Até.

29.8.08

A PROMESSA DE MEU PAI

Meus poucos mas fiéis leitores, quero dizer a vocês que o coração saltou-me à boca quando li o comentário abaixo, feito no texto QUITANDA ABRONHENSE, leiam aqui.

comentário de meu pai no BUTECO DO EDU, em 29 de agosto de 2008

Marquei com o Felipinho Cereal às oito e meia da manhã na gloriosa PADARIA MILU, na esquina da Haddock Lobo com a Matoso. Se meu pai aparecer por lá, não sei, não, eu acho que eu morro de emoção. Eu, um homem às vésperas dos quarenta anos, que tenho meu pai como ídolo até hoje, acho que não agüento o tranco.

Vá, meu velho.

O passeio há de ser lindo, meu pai. E se eu morrer durante nosso périplo, querido, hei de morrer feliz entre as pedras de uma rua que eu amei intensamente depois de aprender a amá-la, antes mesmo de conhecê-la, muito por conta das histórias que você me contou ao longo da vida.

Até.

O MATOSO QUE DÁ NOME À RUA

Meu dileto amigo e vizinho, com quem divido a paixão pela Tijuca e adjacências, arredores que nos encantam a alma, o queridíssimo Felipinho Cereal, o bardo da Barão de Sertório que conhece a Tijuca como às mais invisíveis ranhuras da palma de sua minúscula mão, e que a partir de amanhã explorará, comigo, a rua do Matoso (como lhes contei aqui), nos dá, hoje, mais uma lição em seu BOEMIA & NOSTALGIA. Revela-nos, o Felipinho, quem foi Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara, que deu nome à rua do Matoso, alvo de nossa expedição de amanhã (não vejo a hora!, não vejo a hora!), que dará início à saga RUA DO MATOSO - A SÉRIE. Leiam aqui.

Até.

AINDA O SAMBA DO SIMAS E DO MUSSA - II

Eu escrevi, em 04 de agosto de 2008, ESSE É MEU SAMBA (leiam aqui). Em 06 de agosto, escrevi AINDA O SAMBA DO SIMAS E DO MUSSA (leiam aqui). Ambos os textos - a dedução, até pra quem não leu os textos indicados, é óbvia - exaltam o samba que concorre ao direito de representar o SALGUEIRO na avenida em 2009, de autoria de dois craques na matéria: Luiz Antonio Simas e Beto Mussa. No mesmo 04 de agosto, meu mano Bruno Ribeiro, de quem tenho olímpica saudade, escreveu FESTA NA ALDEIA, sobre o mesmo tema (leiam aqui). Anteontem, 27 de agosto, voltou a bater no mesmo tambor (ou na mesma tecla, como queiram), quando escreveu RAPIDINHAS (leiam aqui). E antes de nós dois, em primeiro de agosto, foi Marcelo Moutinho quem incensou o mesmíssimo samba em PÕE NA RODA O TAMBOZEIRO (leiam aqui).

O fato é que, como o ressoar de um tambor poderoso, a força do samba do Simas e do Mussa vem crescendo de forma impressionante, fazendo com que a gente (principalmente nós, salgueirenses) sonhe com a concretização do que cantamos há anos: o SALGUEIRO não é melhor nem pior, é apenas uma escola diferente. E por ser diferente terá coragem de escolher um samba que é a antítese do boi-com-abóbora que escorre do Canal do Mangue à Praça da Apoteose há muitos e muitos anos.

Um grande indício que faz crescer essa esperança está no site FONOGRAMAS - GALERIA DO SAMBA, que armazena "sambas concorrentes de todos os tempos", como o próprio site anuncia em sua página principal.

Até o presente momento, é o samba mais ouvido do site, com mais de 1.650 audições - confira aqui.

Com a licença do Simas... axé!

28.8.08

EXTRA! EXTRA! EXTRA!

O projeto mora em mim há anos. Mas foi jogando conversa fora no balcão do BUTECO hoje pela manhã, com meu queridíssimo Felipinho Cereal (vejam aqui), que o troço ganhou corpo. E vai virar realidade. No sábado, às oito e meia da manhã, encontro-me com o bardo da Barão de Sertório na PADARIA MILU para dali seguirmos em direção à Praça da Bandeira. De lá, finalmente!, finalmente!, finalmente!, daremos início ao percurso, lento e sem pressa, de toda a extensão da rua do Matoso. Assim que chegarmos à rua Barão de Itapagipe, outro extremo da gloriosa rua, começo a publicar, aqui no BUTECO, a série dedicada a essa grande rua tijucana. Antes, porém, vou lançando, por aqui, o making-off de nossa aventura. RUA DO MATOSO - A SÉRIE, promete!

Até.

QUITANDA ABRONHENSE

Ontem, quando me dirigia para o ponto do glorioso 406A, ônibus que me leva diariamente para o trabalho, parei diante da não menos gloriosa QUITANDA ABRONHENSE, na rua do Matoso, e encomendei, na hora, com a simplicidade só possível ao comércio de rua, meia-dúzia de côcos para serem entregues em minha casa. Paguei, deixei um trocado pro rapaz que faria a entrega, ele foi, voltou, e eu ainda estava esperando a condução, pensando no que vou lhes contar agora. Um detalhe, antes: não foi o ônibus que demorou, é que eu moro ali do lado!!!!!

Quanto mais o tempo passa (aproximo-me dos quarenta...) mais uma certeza crava-se em mim. O homem, para ser feliz, para ser plenamente feliz, para ao menos experimentar a sensação da felicidade, acompanhada de uma sensação de conforto, de integridade (prestem atenção à palavra), precisa ter olhos de ver, e olhos de ver mais além. Só assim, meus poucos mas fiéis leitores, o homem conseguirá integrar-se ao meio em que vive - e dessa integração é que nascerá (vou explicando, vou explicando) sua sensação de plenitude.

Vejam bem.

É bem verdade que eu já falei sobre isso, aqui mesmo no BUTECO, de outras maneiras, seguramente, quando falei sobre a beleza que mora na simplicidade das coisas da vida, quando sugeri passeios pela Tijuca etc (não estou disposto a me estender para não perder o fio da meada). Mas quero ser, hoje, mais direto.

O homem que procura, diária e constantemente, estar integrado ao meio em que vive (e refiro-me, especificamente, ao lugar em que moramos), é infinitamente mais feliz do que aquele que se isola ou que, mesmo não buscando o isolamento, não estende o olhar à sua volta, à sua frente, não busca entendimento com as pessoas e com as coisas que fazem parte do cenário do dia-a-dia. Vou ser mais claro.

O morador da Haddock Lobo, por exemplo, tem diversas opções em termos de supermercado (a pé, apenas): o REDE ECONOMIA, o PÃO DE AÇUCAR, o MUNDIAL. Conheço os três, vou sempre aos três conforme a conveniência de minha compra, e tenho por hábito cumprimentar os seguranças, as caixas, os empacotadores, os locutores (há locutores nos mercados da Tijuca!), todos, enfim. Mas é preciso que haja olhos para o pequeno comércio, similar, de rua. Infinitamente mais caro, é verdade, eles merecem nossa atenção pelo que de humano podem oferecer no trato com você. O dono, a dona, geralmente te chamam de "freguês", tem sempre um sorriso a postos, tem produtos, as mais das vezes, mais frescos, mais bem selecionados e - batata, batata! - uma boa história na ponta da língua pra contar. Tem, conseqüentemente, o que ensinar a você.

Ali, na minha área (essa que você pode ver no mapa abaixo), que acaba de perder o AÇOUGUE RECREIO, como bem apontou meu queridíssimo Felipinho Ceral em seu blog, o BOEMIA E NOSTALGIA (o texto a que me refiro pode ser lido aqui), há de tudo um pouco, e cada visita (ainda que para nada, apenas para um simples "olá, como vai?"), cada aceno, me dá essa sensação de integração tão fundamental para a nossa contextualização dentro do mundo, do continente, do país, da cidade, do bairro, da rua.

mapa de trecho da Tijuca

No trecho da Matoso a que me refiro, há uma pastelaria, um salão de beleza, uma casa lotérica, um sapateiro, uma loja tem-de-tudo (como não existe mais!) - colchões, eletromésticos, miudezas, tudo pendurado no teto, entulhado pelo chão, abarrotando a simpática loja! -, duas lojas de produtos veterinários, uma loja de decoração (pisos, tecidos para cortinas etc), algumas lanchonetes, a gloriosa quitanda que dá nome ao texto de hoje, um armarinho, uma loja de automóveis. No trecho em destaque da Haddock Lobo há dois supermercados, três jornaleiros, uma distribuidora de bebidas, dois clubes, um buteco, uma farmácia, dois bancos, duas agências de automóveis, uma oficina mecânica, duas lojas de ferragens, algumas lojas de roupa, uma sapataria, uma papelaria, um motel, uma garagem 24h, uma galeria com intenso comércio, e - tenham isso como certo - conhecer as pessoas que trabalham ali, os donos, tudo isso, engrandece demais a gente.

Você deixa de ser um cartão de crédito ou de débito, ou um consumidor anônimo portando o dinheiro que trocará por mercadoria, para ser gente.

E gente com capacidade de conhecer, conviver e entender gente, é infinitamente mais feliz e mais inteira.

Até.

27.8.08

CAYMMI MANDOU CHAMAR!

publicado no GLOBO ON LINE em 27 de agosto de 2008

SZEGERI - O MITO OUTRA VEZ

Há, entre os meus poucos mas fiéis leitores, um que é - digamos - fidelíssimo, como um cão. Escreve quase que diariamente, e os mais maldosos já me fizeram a pergunta indelicada:

- Você assina a carteira do cara?

- Quanto você paga a ele por comentário?

O fato é que o Rodrigo, de São Paulo, a quem não conheço (essa informação é importantíssima), Rodrigo Medina para ser mais preciso, chegou, inclusive, a mandar aqui para o BUTECO a sua fotografia (veja aqui) para participar da promoção que acabou não virando realidade (entenda aqui o por quê) - tamanho o grau de sua fidelidade ao BUTECO.

Presumo eu, por isso mesmo, que o Rodrigo Medina já tenha lido - e mais de uma vez, acredito! - os (até o momento) mil e tantos textos expostos no balcão virtual do BUTECO. Tendo feito isso, tem lá suas preferências.

Suponho, ainda, que ele tenha simpatia por um, por outro - já que são tantos os citados por mim em minhas histórias, todas reais e contadas com precisão impressionante.

Hoje, para minha surpresa, recebi um email do Rodrigo.

Conta-me, ele, na tal mensagem, que esteve anteontem à noite no lançamento de um livro em São Paulo, onde encontrou Bruno Ribeiro e Fernando José Szegeri - ele os conheceu através do BUTECO, e deu de cara com os dois lá, sendo necessário dizer, em nome da precisão, que ele já conhecia o Fernando de vista, ao vivo, quando esteve dia desses no Ó DO BOROGODÓ.

Emocionado diante do homem da barba amazônica e turbinado por uma boa quantidade de chope, meu fiel leitor tomou coragem (isso tudo ele me contou) e, munido de um guardanapo e uma caneta, pediu um autógrafo a seu ídolo.

Fernando José Szegeri, que não é exatamente o homem mais delicado do mundo, grunhiu um troço ou outro, tomou entre suas mãos o guardanapo e a caneta, e sapecou a dedicatória pro cara.

Em anexo, no tal email, a fotografia do autógrafo escaneada.

autógrafo de Fernando José Szegeri para Rodrigo Medina, São Paulo, SP, 25 de agosto de 2008

Até.

26.8.08

PRA BOM ENTENDEDOR

Seu Aureliano Portugal foi queixar-se ao Bispo sobre Paula Frassinetti, moça caprichosa que não se chegava nunca. Seu Aureliano Portugal saiu, então, pra beber e afogar as mágoas com o Sampaio Viana, que por sua vez deu um jeito de convidar, de última hora, o Salvador Mendonça. Saíram juntos caminhando a pé, passaram pela casa do Barão de Sertório, amicíssimo de outro barão, o Barão de Itapagipe - também convidado -, e foi este último que decretou:

- Não tem graça bebermos sem a companhia do Aristides! Grande Aristides Lobo!

Foram até a residência do professor Quintino do Vale e esticaram, pra engrossar o cordão, até a casa do Sampaio Ferraz.

Desceram a rua do Haddock Lobo, figuraça e boêmio famoso nas terras da Tijuca, convocaram o Barão de Ubá, e precisando, todos, das histórias do médico mais competente da área, o Doutor Satamini, um grande praça, um grande papo, partiram todos, depois de intimar o Satamini para a cervejada, em direção a um buteco pedra-noventa na rua onde vive, felicíssimo, o Almirante Gavião.

Até.

25.8.08

TIJUCARMA

Há quem creia que todos temos um carma a cumprir. Eu, e já sei disso há tempos, tenho um (ou uma, como queiram) tijucarma para carregar pelo resto da vida. E explico. Recebi, ontem, um comentário (que recusei) deixado no texto A TIJUCA ACABOU? NUNCA!!!!! (leiam aqui) assinado (sem, entretanto, qualquer identificação que comprovasse a origem) por Carmelo Maia (o mesmo nome do filho do saudoso Tim Maia). Não o publiquei mas darei a ele o necessário destaque para que vocês vejam com seus próprios olhos o gentilíssimo aparte do cara:

comentário recusado deixado em 24 de agosto de 2008 no BUTECO DO EDU

Que tal?

É a isso que chamo tijucarma. Eu, humílimo morador do mais aprazível bairro da cidade, apenas e tão-somente porque vivo daqui, de dentro do balcão, exaltando as qualidades da minha Tijuca, sou chamado, gratuitamente, por um cidadão a quem não conheço, de alcoólatra. E esse mesmo cidadão atribui a meu alcoolismo (que existe apenas em sua cabeça) esse amor incondicional pelo bairro onde nasci e fui criado. Uma tolice sem fim, francamente.

Como se não fosse possível amar a Tijuca de forma incondicional. Como se apenas a zona sul da cidade fosse passível de loas e de exaltações. Como se um homem sóbrio, como eu, às sete horas da manhã de um dia qualquer, não pudesse descer, ir à rua, ir à padaria, ir ao jornaleiro, sentindo-se plenamente feliz por estar caminhando por calçadas sem o cheiro da maresia. Como se apenas fora de si, bêbado, um homem pudesse ver beleza na Tijuca.

Nem vou me dar ao trabalho - falta-me tempo, paciência e disposição - de responder ao Carmelo Maia (ou a quem se valeu desse nome).

Vou - prefiro - erguer um brinde de dentro do balcão imaginário do BUTECO à Tijuca e a todos aqueles que têm olhos de ver, como eu vejo, a beleza que escorre pela Conde de Bonfim, descendo o Alto da Boa Vista, fertilizada pelas terras da Floresta da Tijuca, inundando e irrigando o bairro que me conhece como niguém.

Até.

21.8.08

AINDA SOBRE A TIJUCA

Muito provavelmente motivado pela partida do velho Caymmi para a nova vida, foi que flagrei-me, ontem, saindo para o trabalho, cantarolando imaginariamente para a assistência que me lê e que não conhece o pedaço onde amarrei meu burro:

"Você já foi à Tijuca, nega?
Não?
Então vá!
Quem vai à Tijuca, minha nega,
nunca mais quer voltar..."


Cantei e me lembrei da fabulosa confissão pública feita por meu querido Bruno Ribeiro em seu BOTEQUIM DO BRUNO (leiam aqui), da qual extraio o seguinte trecho:

"O que quero dizer desde o princípio é que, hoje, também me sinto um pouco tijucano. Nos últimos anos, por exemplo, não me lembro de uma única viagem que eu tenha feito ao Rio de Janeiro sem que tivesse passado pela Tijuca ou me hospedado neste aprazível bairro. Diria mais: seria capaz de passar minhas férias inteiras sem sair da rua Almirante Gavião, onde está cravado o portentoso botequim Rio-Brasília."

Outro que, recentemente, declarou sua paixão pelo mais aprazível bairro da cidade do Rio de Janeiro, foi Fernando José Szegeri, em seu SÓ DÓI QUANDO EU RIO (leiam aqui). Notem:

"Ultimamente estava morando na Almirante Gavião, mas confesso que outro banzo tijucano é dono dos meus quereres – inspiração desta crônica - numa rua com nome de revolucionário anti-imperial. O nome da moça, claro, eu não conto."

Notem que os dois, verdadeiros tótens de sabedoria que me achatam com um simples olhar, não me deixam mentir.

Na Tijuca não há praia, mas em suas ruas, calçadas e praças caminham as moças mais bonitas do Brasil, com saias que revelam o que nossos olhos antevêem e com sandálias de dedo capazes de enlouquecer o cego da esquina. Na praia, não duvide: aquela sereia estendida na areia que te tira do sério vai voltar pra Tijuca depois do pôr-do-sol. Não há mais cinema de rua, queixa comuníssima por essas bandas, mas as maiores estrelas, protagonistas dos sonhos mais bonitos, dignas dos maiores papéis, passeiam por aqui, bebericam no mesmo buteco que você, saem de manhã bem cedo com carinha de sono pra comprar pão na padaria.

Eu poderia me estender ainda muito mais, mas falta-me o tempo.

Você já veio à Tijuca?

Não?

Então venha.

Como era sábio, o velho Caymmi.

Até.

20.8.08

A TIJUCA ACABOU? NUNCA!!!!!

Foi meu dileto amigo Felipinho Cereal quem me cutucou virtualmente ontem no final do dia. Mandou-me o link direcionado para a carta de uma leitora, que foi publicada no blog sobre os bairros da cidade do Rio que o jornal O GLOBO mantém no ar. A tal carta, na íntegra, pode ser lida aqui.

Eu, hoje, suspendo as porta de aço do BUTECO apenas para me dirigir à leitora, que assina Nancy Aguiar. Compreendo, sinceramente, que cada uma das razões que, digamos, desiludiram a autora da carta, seja uma razão capaz de abalá-la e desequilibrá-la. Eu não a conheço, razão pela qual não posso querer saber mais do que suas palavras expõem, e suas palavras expõem uma pessoa triste com o destino dado ao bairro em que vive. O que não compreendo - e eis aí a principal razão pela qual dirijo-me a ela - é o título dado à carta - A TIJUCA ACABOU! - e a forma como ela vê o mundo, e conseqüentemente o bairro onde nasci e fui criado.

Peço licença a meus poucos mas fiéis leitores para me dirigir diretamente à dona Nancy.

A Tijuca, dona Nancy, ainda é um lindo bairro. Permita-me listar algumas das maravilhas daqui: temos ruas mais arborizadas que qualquer outro bairro da cidade (pau a pau com o Grajaú, que é um apêndice da Tijuca!), temos a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca, temos vários pequenos bairros dentro da Grande Tijuca que dão à Tijuca uma cara multifacetada e cheia de microcosmos incapazes de macular o conjunto, e falo do Maracanã, da Aldeia Campista, da Muda, da Usina, pequenos vilarejos com ares de cidade pequena, ainda cheios de casas (a senhora conhece, por exemplo, a rua Caruso, a rua São Vicente, a rua Domício da Gama, a rua Almirante Gavião, a rua Alberto de Sequeira, ruas fabulosas com imensa maioria de casas?), ainda com muitas praças. Aliás, permita-me lhe recomendar a leitura de cinco roteiros de passeios dentro da Tijuca que preparei entre os meses de maio e junho deste ano (aqui o primeiro, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto e aqui o quinto).

Não há mais "cinemas maravilhosos" na rua, é verdade, mas em que bairro há? Os shopping-centers, verdadeiras anti-cidades, gigantescas estruturas capazes de desestruturar a vida sadia de um ser humano, detêm hoje quase todos os cinemas da cidade, salvo raríssimas exceções. Ainda há lanchonetes famosas, dona Nancy, assim como ainda há diversos clubes (o TIJUCA, a AABB, o MONTANHA...).

Quanto ao bairro ter virado "um mercado de rua aberto, cheio de camelôs, menores de rua desrespeitando tudo e todos, ladrões desenfreados, ruas desertas, favelas crescendo sem controle, e olha que as favelas são pequenas, seria fácil contê-las, comércio de rua acabado", discordo da senhora mais uma vez. A cidade do Rio de Janeiro, desgovernada há tantos anos, permitiu esse estado de coisas - não apenas na Tijuca.

O comércio de rua - citado em sua carta - aqui na Tijuca, por exemplo, mantém-se firme e forte, mesmo com importantes baixas de vez em quando... Ainda é possível comprar flores em lojas de rua, onde pode-se manter conta mensal, inclusive. Açougues, mesmo com o sumiço do glorioso AÇOUGUE RECREIO (leia sobre ele, aqui), há aos montes. Meu pai tem conta em um perto de sua casa, minha avó idem, e isso é comum em todo o bairro. Há sapatarias, vidraçarias, lojas de roupa, armazéns, pequenas quitandas, e é preciso, apenas, ter olhos de ver, dona Nancy, para perceber que a Tijuca ainda é um bairro caloroso, humano ao extremo, onde o convívio com o próximo é fácil, é desejável, é característico de cada quarteirão daqui.

Creio que a senhora se entrega quando diz... "Vou focar no meu quarteirão. Olhem quantas infrações, em todos os níveis, me deparo diariamente. Cruzamento da Maracanã com José Higino. Sinal avançado em qualquer hora do dia, retorno de quem vem da José Higino para a Maracanã, mesmo proibido, todos fazem, colocando pedestres em risco, Supermercado Extra (onde era a Fábrica da Brahma) abandonado, qualquer dia vai ter arrastão lá, com certeza, eles não tem e não nos dão segurança, menores de rua dormindo e tomando banho num cano aberto no Rio Maracanã, tiroteios ouvidos em qualquer horário do dia, Rio Maracanã fétido.".

Quem pode ser responsabilizado pelas infrações cometidas na sua esquina, dona Nancy? Os motoristas, sem educação, os guardas responsáveis pelo controle do trânsito que não coibem as irregularidas ou o pobre bairro da Tijuca?! E o que tem o pobre bairro com o abandono do SUPERMERCADO EXTRA? Os meninos de rua, dona Nancy, estão em toda a cidade: na Tijuca, em Copacabana, no Leblon, no Centro, em Ipanema, e são todos filhos da pobreza que não merecem a atenção devida do poder público, não sendo - em absoluto! - um problema particular da Tijuca. O EXTRA está abandonado? Não oferece segurança? Então, dona Nancy, passe a ir ao MUNDIAL da Matoso, o maior supermercado do mundo!!!!!

Os tiroteios não são - de novo - exclusividade nossa. E acho melhor a senhora não tentar macular o Rio Maracanã, hein! O Maracanã é nosso rio, é de onde provém o soro poluído que nos salva depois de cada porre, como cantaram os poetas capazes de ver a beleza correndo o bairro, cortando suas ruas e desagüando no mar.

Dê-se uma chance, dona Nancy!

Olhe mais à sua volta e com mais amplitude.

No finalzinho de sua carta a senhora exalta duas pequenas belezuras que saltaram aos seus olhos que foram capazes, naquele instante, de ver o que o mais fabuloso bairro da cidade tem para nos oferecer.

Olhe permanentemente para o alto. Há um amigo meu, o Rodrigo Ferrari, que sempre que vem aqui diz:

- A Tijuca tem o céu mais bonito da cidade!

Ande mais a pé. Evite o metrô. Evite o shopping. Já que a senhora deu a dica de onde mora... Caminhe pela avenida Maracanã em direção à praça Xavier de Brito. Sente-se no BAR DO PAVÃO. Puxe conversa com ele, o Pavão, e com a dona . Pergunte pela dona Olívia. Converse com a dona Olívia. Fale em meu nome.

Beba um chope com eles. A senhora não bebe? Não tem problema...

Caminhe pela praça, perceba tudo à sua volta, o chafariz, a escola municipal, o prédio tombado da CEDAE, e volte embriagada de tanta boniteza e simplicidade para casa.

E aceite meu fraterno abraço. Do tamanho da Tijuca.

Até.

19.8.08

TAÍ!!!!!

painel do BLOGGER acusando a publicação do milésimo texto do BUTECO

1.000

Sentei-me há pouco diante da tela do computador, a janela à minha esquerda por onde entra um sol que reina num céu de azul intenso-sem-nuvem como testemunha e o sistema de edição do BLOGGER acusava que eu estava prestes a escrever o milésimo texto do BUTECO.

Diante disso, diante dessa constatação, não tenho nada, rigorosamente nada para lhes dizer no dia de hoje.

Sentei-me aqui com várias idéias na cabeça. Mas todas sucumbiram diante desse fato.

Todas.

Acho - apenas acho - que eu mesmo me comovi tremendamente com isso.

Até.

18.8.08

A OXUM MAIS BONITA

(encontrado numa folha de papel A4 deixada sobre uma mesa do Rio-Brasília na noite de ontem)

"Quando ela dobrou a esquina, de surpresa, e iluminou ainda mais a rua já banhada da prata que a lua cheia derramava sobre a ruazinha tijucana, foi emoção demais pros meus anseios. Ela veio, você sabe, ela veio - eu disse olhando pra bola redonda que boiava sobre nós. Quando ela abraçou meus amigos com braços de aconchego e mãos de afeto e depois sentou-se a meu lado com os olhos um pouco menos marejados que os meus, senti minhas mãos trêmulas e fui encontrar amparo em suas mãos, pousadas sobre suas pernas. Ofereci a ela uma cerveja, e ela disse que não. Segundos depois, eu com os olhos cabisbaixos e um pouco sem-graça com a sugestão que julguei inoportuna, ela me disse com um sorriso embriagante que gostaria de uma batida de maracujá. Ergui o braço, pedi quatro batidas ao dono do bar e fui o homem mais feliz do mundo a cada gole meu, a cada gole seu, e nem me chateei quando ela se despediu, meio hora depois, dobrando de volta a mesma esquina que a trouxe. Eu e meus amigos choramos sem motivo aparente. Estávamos felizes, plenamente felizes, depois da acachapante presença da Oxum mais bonita entre nós."

16.8.08

DORIVAL CAYMMI (1914-2008)

O BUTECO cumpre o doloroso dever de informar a todos aqueles que aqui chegarem nesse sábado de céu azul e calor confortante, que subiu aos céus, hoje cedinho, pra conversar com Oxum mais de perto, Dorival Caymmi.

O que se beber hoje, não apenas no balcão imaginário, será em homenagem a ele - um dos maiores compositores do mundo.

Lembro-me da primeira vez que ouvi uma canção do Caymmi. Foi quando meu pai, assobiando ACALANTO, tentava fazer meu irmão dormir. Sabe-se lá por quais razões, essa certeza mora em mim: foi assim, desse jeito, que ouvi a primeira canção de Dorival Caymmi. Lembro-me, um bocado mais tarde, de meu pai (de novo e sempre ele) chegando em casa com um LP duplo, presente de final de ano da PETROBRAS, onde meu velho trabalhou a vida inteira, com Caymmi cantando ao vivo, no Teatro Castro Alves, em Salvador, acompanhado apenas por seu próprio violão.

Ouvi esse disco centenas de vezes. Decorei cada letra, aprendi a tocar cada uma delas no violão, e - ah, nossas maluquices... - passei a sonhar com o dia em que eu conheceria a Bahia e a cidade de Salvador.

Fui conhecer Salvador muito depois, há poucos anos, e não saberia explicar a vocês - as maluquices não nos deixam nunca! - o por quê disso, mas senti uma emoção indescritível quando pisei naquela terra.

Tudo o que eu vi, tudo o que eu ouvi, cada cheiro que senti, eu já conhecia. Cada baiana, cada ladeira, cada beco, cada igreja, cada praia, eu já conhecia.

Graças a ele.

Até.

14.8.08

JOAQUIM, UM GENTLEMAN

Na segunda-feira, 11 de agosto, dia do advogado (nenhuma pessoa, viva ou morta, dirigiu-me um simplório voto de parabéns), escrevi NO RIO-BRASÍLIA (leiam aqui), contando-lhes sobre a agradabilíssima tarde de sábado que lá passei na ainda mais agradável companhia do Vidal. Ilustrei o tal texto com uma fotografia (veja-a em tamanho gigante aqui) da conta que pagamos naquela tarde. E foi meu pai, meu obsessivo, atento e metódico pai, que apontou o dedo em minha direção e disse:

- Du, você notou que a conta está somada errada?

Não, eu não havia notado. Não havia notado, o Vidal não havia notado, e deu-se a bulha no balcão imaginário do BUTECO.

Ontem, munido da fotografia impressa, dirigi-me ao templo de paredes azulejadas em azul e preto - estava vazio, vaziíssimo, ainda bem! - na companhia (em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades) de Cesinha Tartaglia, Felipinho Cereal, Marcelo Vidal e Rodrigo Ferrari.

Como não poderia deixar de ser, basta uma análise rápida da qualidade do local do encontro e dos personagens à mesa, a noite foi fabulosa. Pela mesa passaram algumas casco-escuro da Brahma, a clássica carne assada com coradas, muitos pastéis, doses de limão da casa e de maracujá, fígado e contrafilé acebolados, porções de lingüiça calabresa (nunca abandonarei o trema) e eu estendi, à certa altura, a fotografia para o Joaquim.

Branco como talco, mãos e lábios trêmulos, disse-me o bom:

- Foi sem querer... Puxa vida... Foi sem querer...

Estendeu-me uma nota de dez, que recusei:

- Desconta no final, Joaquim!

- Pelamordedeus, professor, pelamordedeus, aceite aí...

Consegui convencê-lo a descontar os dez reais apenas no final, mas foi incrível ver o sem-jeito dele diante de um deslize tão pequeno - ah, as lições que nos dá um buteco.

Foi um craque, ontem à noite (ele é um craque), o Joaquim.

Fechamos a noitada, eu, Cereal e Digão, bebendo a saideira oferecida pela casa, todos de pé diante do balcão, assistindo a algumas provas de natação na TV, e morrendo de rir diante dos comentários do cearense Joaquim sobre a ausência de brasileiros nas competições. Frases como:

- Um país desse tamanhão e não tem uma besta pra ir lá derrubar esse tal de Félpi!

Até.

13.8.08

RB

É preciso, às vezes, uma certa dose de cinismo, um sorriso de canto com o cigarro imaginário pendendo do canto da boca, uma dose de limão da casa numa das mãos, um punhado de gente querida sentada à mesma mesa, para driblar o peso do dia-a-dia. É preciso que a mesa seja num lugar que fale ao coração, é preciso sentir-se em casa, é preciso não se preocupar com rigorosamente nada, ainda que por algumas horas, é preciso, é imperiosamente preciso. É preciso que, nesse tal lugar, que há de ser um bar, haja intimidade com os garçons, é preciso ser servido por Deus num dos mais pagãos templos do bairro, benção maior que um homem de fé pode desejar, ou então pelo Imperador em pessoa, um sujeito que faz do morro do Borel a sua Roma Negra e que é capaz de atender a você durante toda a noite com um sorriso digno de começo de dia. É preciso que o dono do buteco tenha a dose certa de mau-humor e de intolerência diante das reclamações injustas lançadas da mesa ao balcão, desde a temperatura da cerveja até o alto teor de gordura dos pastéis. É preciso que a dona tenha permanentemente as mãos cheias de carinho e os olhos cheios de fumaça - a cozinha não pára, o exaustor não dá conta e o bêbado insiste em fumar diante dela, falando sem parar e sem exigir atenção. É preciso que o cenário esteja em ordem, que os personagens estejam na área, que as casas em volta façam silêncio, que haja um grito de prazer vindo de alguma janela entreaberta suscitando os mais torpes comentários da assistência e que haja uma briga, dessas escandalosas, a fim de que os cronistas anônimos tenham o que contar no dia seguinte. É preciso que haja barulho de vidro denunciando os brindes feitos com os copos americanos cheios de cerveja, que haja o barulho de talheres cortando a mais bem feita carne assada da cidade, que haja um gemido de êxtase diante das coradas, que haja limão e maracujá dando ainda mais cores à mesa e à vida, que haja disposição para perceber que é preciso viver tudo isso, é preciso. É preciso. Definitivamente, é preciso.

11.8.08

NO RIO-BRASÍLIA

Não precisou de mais do que isso.

conta do Rio-Brasília, em 09 de agosto de 2008

Sete garrafas casco-escuro de Brahma, um bife à milanesa com arroz, feijão e fritas, dois pastéis de carne fritos na hora e dois saquinhos de amendoim depois, eu partia do RIO-BRASÍLIA em direção à minha casa após - o quê? - pouco mais de quatro horas de boa conversa com ele, o amigo de há mais de duas décadas.

O Vidal bateu-me o telefone cedo, cedíssimo, e já com um apetite de judeu depois do jejum do Yom Kipur:

- Vamos almoçar no Rio-Brasília?

- Almoçar? Mas eu acabei de tomar o café da manhã...

Nem precisei de muitos argumentos.

Sentar-se à mesa de um buteco qualquer (se for o de fé, ainda melhor!) com um amigo desses, de vida inteira, e com disposição para derrubar algumas garrafas enquanto o verbo é solto, é uma das mais sublimes experiências pela qual pode passar um homem devotado ao prazer que só a presença de um amigo de verdade é capaz de proporcionar.

Rodrigueanamente, vazado de luz, atravessei a Almirante Gavião em estado de graça.

Até.

8.8.08

DONA ISAURINDA

Dona Isaurinda... definitivamente, uma das grandes recordações da minha infância. Uma mulher muito simples, casada com o seu Mário, um homem igualmente simples, descendente de italianos e que se revezava entre o táxi (um TL, lembro-me com impressionante nitidez) e a banca de jornais na Conde de Bonfim, o que rendia para minha bisavó, que morava com meus avós na mesma vila, o privilégio de ler todas as revistas, fresquinhas, e de graça. Eram quatro, os filhos. Do mais velho ao mais novo: Aurélio, Renato, Ricardo e Marta. Moravam todos numa casa no final da vila, que ficava bem de frente para o portão da rua. A casa tinha portas altas de madeira. Entrava-se por esta porta e estávamos na sala. À esquerda, o quarto da Martinha, a caçula, que colecionava tampinhas de pasta de dente. Logo depois, também à esquerda, o quarto do casal. Um tantinho mais à esquerda, uma porta minúscula dava passagem para uma área interna onde havia um jardim, pequeno, mas muito bem cuidado pela dona Isaurinda, o tanque de lavar roupa e uns varais. Da sala havia uma passagem para a cozinha, onde também havia uma porta com passagem para o jardim. Na cozinha, à esquerda, pouco depois da entrada para o jardim, o único banheiro da casa. E, finalmente, também da cozinha, a porta de entrada para o quarto dos três filhos homens. Um troço curiosíssimo: Aurélio, o mais velho, era tricolor como o pai; Renato era vascaíno e Ricardo, rubro-negro como eu. Não me recordo, nem a fórceps, do time da Martinha. Do que me recordo, mesmo, era da comida da dona Isaurinda, dos lanches que a dona Isaurinda preparava, e da ansiedade com que esperávamos, no final do dia, geralmente depois de disputadas partidas de botão ou de futebol de meia, o seu Mário chegar com pacotes de figurinhas que disputávamos avidamente, sentados à mesa da cozinha daquela casa simples cujo cheiro me persegue até hoje.

6.8.08

AINDA O SAMBA DO SIMAS E DO MUSSA

Voltou a espocar minha caixa de emails. Alguns leitores que tiveram a paciência de me escrever, querem saber - como se eu de tudo soubesse... -, se tem alguma chance de vitória o samba de Luiz Antonio Simas e de Beto Mussa que concorre pelo privilégio de embalar o SALGUEIRO na avenida em 2009. E eu digo que sim.

O samba - creiam - está dando o que falar. Para ficarmos apenas na aldeia, eu escrevi ESSE É MEU SAMBA (aqui); Marcelo Moutinho mandou PÕE NA RODA O TAMBOZEIRO (aqui) em seu blog; Carlos Andreazza, de Pequim, do TRIBUNEIROS, escreveu QUAL É O POVO QUE NÃO BATE SEU TAMBOR? (aqui); e meu queridíssimo Bruno Ribeiro tratou do mesmíssimo tema em FESTA NA ALDEIA (aqui).

Se sairmos da aldeia, ouviremos também, como ressoar de tambores, um tremendo bochincho envolvendo o melhor samba dentre os 38 que disputam o privilégio de ser o hino da vermelho-e-branco da Tijuca. Tem neguinho apostando num crescimento constante do samba (tem desses troços, né?, quanto mais você ouve, mais você gosta), tem neguinho dizendo que o samba incomoda os concorrentes, tem neguinho dizendo que não-ganha-de-jeito-nenhum e há quem diga que pode-ser-que-ganhe.

Eu, salgueirense graças a transfusões constantes ministradas por minha mãe, que teve como babá uma componente da ala das baianas que morava no morro que rega a rua dos Araújos, onde moravam meus avós com mamãe pequena, levo muita fé no lema de minha escola: nem melhor, nem pior, apenas diferente.

E torço pra que o SALGUEIRO seja, antes de diferente, uma escola corajosa. Que rompa com os grilhões do boi-com-abóbora, que mande o oba-oba pro espaço, que recupere seu histórico perfil novidadeiro e que tenha a coragem de enfrentar a avenida, em 2009, com um samba surpreendente, emocionante, digno dos mais clássicos sambas oriundos da minha escola.

Até.

5.8.08

COMIDA DI BUTECO

Alguns leitores têm insistido nisso... Querem minha opinião sobre o festival COMIDA DI BUTECO, importado de Belo Horizonte, MG, e realizado pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro, entre primeiro e 31 de agosto. Quero lhes dizer, então, do lado de dentro do balcão imginário do BUTECO, cotovelo esquerdo apoiado no mármore e mão direita erguendo um copo de chope com quatro dedos de espessa espuma, que não tenho nada a dizer sobre esse troço. Rigorosamente nada.

Recomendo, entretanto, a leitura do texto A CARNAVALIZAÇÃO DOS BUTIQUINS, escrito por Fernando Szegeri em 04 de maio de 2005 para o saudoso blog CONEXÃO IRAJÁ, que dividíamos com o mais-saudoso Fernando Toledo, e que pode ser lido aqui.

Até.

4.8.08

ESSE É MEU SAMBA

Foi dada a largada para a escolha do samba que a G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO, a escola do meu coração, levará para a avenida em 2009. São 38 os concorrentes e eu já tenho meu preferido. Dirão os detratores de plantão que trata-se de mais um gesto passional de minha parte, e eu responderei, de peito cheio de ar, que sem ela - a paixão - eu nem saio de casa. Mas não se trata de uma escolha passional, e vocês mesmos serão capazes de atestar o que digo.

O samba de autoria de meu irmãozinho Luiz Antonio Simas em parceria com o Beto Mussa (e mais Edgar Filho, Gari Sorriso e Bené do Salgueiro), interpretado pelo Rhichahs, já nasceu com cara e jeitão de clássico. Todo ele em tom menor, remetendo aos maiores sambas-de-enredo de todos os tempos e com um andamento capaz de nos fazer imaginar um desfile memorável e à altura da melhor tradição da vermelho-e-branco da Tijuca.

Resta saber se o SALGUEIRO terá coragem (sim, sempre é preciso ter coragem para o rompimento com o status quo) o suficiente para escolhê-lo. Para romper com a triste rotina dos sambas em ritmo de marcha, para acabar com a correria na avenida a fim de permitir uma evolução durante o desfile capaz de fazer - quem sabe? - uma nova revolução no carnaval carioca e para retomar a história que orgulha um salgueirense sempre com saudade dos melhores carnavais.

Eis a letra do samba. No final, o link para o excelente site do SALGUEIRO onde vocês poderão ouvir a gravação.

"Canto uma herança
Da humanidade primordial
De árvores tombadas um tom grave
Deu a cadência original
A idéia de um gênio anônimo,
Meu ancestral
Caçador que na mata uma fera enfrentou
Quando sua vitória quis anunciar
Pôs o couro esticado, bateu, repicou
Ôô ôô, ôô ôô

Festa na aldeia,
Lua cheia, um clarão
Tem batuque a noite inteira
É magia, adoração

De ocidente a oriente
Em diferentes formas se multiplicou
Qual é o povo
Que não bate o seu tambor

Quem cruzou o mar
Encontrou um som guerreiro
E desde então o baticum não quer parar
Zambê, zabumba, ilu-abá
Angoma, tumba, candongueiro
Batá-cotô no meu terreiro
Põe na roda o tambozeiro
O Brasil nasceu de mim
Inclusão, cidadania
Furiosa bateria
Coração que bate assim

Menina, quem foi teu mestre?
Um batuqueiro
Que arrastava
O povo do Salgueiro"


Ouçam o samba aqui (abrindo diretamente o Windows Media Player) ou aqui (acessando o site do SALGUEIRO).

Ergo meu copo cheio cerveja, com espessa espuma, em homenagem a eles, autores dessa jóia, torcendo para que dê tudo certo. Axé!

E até.