8.8.08

DONA ISAURINDA

Dona Isaurinda... definitivamente, uma das grandes recordações da minha infância. Uma mulher muito simples, casada com o seu Mário, um homem igualmente simples, descendente de italianos e que se revezava entre o táxi (um TL, lembro-me com impressionante nitidez) e a banca de jornais na Conde de Bonfim, o que rendia para minha bisavó, que morava com meus avós na mesma vila, o privilégio de ler todas as revistas, fresquinhas, e de graça. Eram quatro, os filhos. Do mais velho ao mais novo: Aurélio, Renato, Ricardo e Marta. Moravam todos numa casa no final da vila, que ficava bem de frente para o portão da rua. A casa tinha portas altas de madeira. Entrava-se por esta porta e estávamos na sala. À esquerda, o quarto da Martinha, a caçula, que colecionava tampinhas de pasta de dente. Logo depois, também à esquerda, o quarto do casal. Um tantinho mais à esquerda, uma porta minúscula dava passagem para uma área interna onde havia um jardim, pequeno, mas muito bem cuidado pela dona Isaurinda, o tanque de lavar roupa e uns varais. Da sala havia uma passagem para a cozinha, onde também havia uma porta com passagem para o jardim. Na cozinha, à esquerda, pouco depois da entrada para o jardim, o único banheiro da casa. E, finalmente, também da cozinha, a porta de entrada para o quarto dos três filhos homens. Um troço curiosíssimo: Aurélio, o mais velho, era tricolor como o pai; Renato era vascaíno e Ricardo, rubro-negro como eu. Não me recordo, nem a fórceps, do time da Martinha. Do que me recordo, mesmo, era da comida da dona Isaurinda, dos lanches que a dona Isaurinda preparava, e da ansiedade com que esperávamos, no final do dia, geralmente depois de disputadas partidas de botão ou de futebol de meia, o seu Mário chegar com pacotes de figurinhas que disputávamos avidamente, sentados à mesa da cozinha daquela casa simples cujo cheiro me persegue até hoje.

Um comentário:

Szegeri disse...

Mano querido: a constatação súbita e inapelável de que as pastas-de-dente (com hífens, só pra contrariar) não têm mais tampinhas lançou-me, neste momento, num abismo de melancolia infinda.