4.8.08

ESSE É MEU SAMBA

Foi dada a largada para a escolha do samba que a G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO, a escola do meu coração, levará para a avenida em 2009. São 38 os concorrentes e eu já tenho meu preferido. Dirão os detratores de plantão que trata-se de mais um gesto passional de minha parte, e eu responderei, de peito cheio de ar, que sem ela - a paixão - eu nem saio de casa. Mas não se trata de uma escolha passional, e vocês mesmos serão capazes de atestar o que digo.

O samba de autoria de meu irmãozinho Luiz Antonio Simas em parceria com o Beto Mussa (e mais Edgar Filho, Gari Sorriso e Bené do Salgueiro), interpretado pelo Rhichahs, já nasceu com cara e jeitão de clássico. Todo ele em tom menor, remetendo aos maiores sambas-de-enredo de todos os tempos e com um andamento capaz de nos fazer imaginar um desfile memorável e à altura da melhor tradição da vermelho-e-branco da Tijuca.

Resta saber se o SALGUEIRO terá coragem (sim, sempre é preciso ter coragem para o rompimento com o status quo) o suficiente para escolhê-lo. Para romper com a triste rotina dos sambas em ritmo de marcha, para acabar com a correria na avenida a fim de permitir uma evolução durante o desfile capaz de fazer - quem sabe? - uma nova revolução no carnaval carioca e para retomar a história que orgulha um salgueirense sempre com saudade dos melhores carnavais.

Eis a letra do samba. No final, o link para o excelente site do SALGUEIRO onde vocês poderão ouvir a gravação.

"Canto uma herança
Da humanidade primordial
De árvores tombadas um tom grave
Deu a cadência original
A idéia de um gênio anônimo,
Meu ancestral
Caçador que na mata uma fera enfrentou
Quando sua vitória quis anunciar
Pôs o couro esticado, bateu, repicou
Ôô ôô, ôô ôô

Festa na aldeia,
Lua cheia, um clarão
Tem batuque a noite inteira
É magia, adoração

De ocidente a oriente
Em diferentes formas se multiplicou
Qual é o povo
Que não bate o seu tambor

Quem cruzou o mar
Encontrou um som guerreiro
E desde então o baticum não quer parar
Zambê, zabumba, ilu-abá
Angoma, tumba, candongueiro
Batá-cotô no meu terreiro
Põe na roda o tambozeiro
O Brasil nasceu de mim
Inclusão, cidadania
Furiosa bateria
Coração que bate assim

Menina, quem foi teu mestre?
Um batuqueiro
Que arrastava
O povo do Salgueiro"


Ouçam o samba aqui (abrindo diretamente o Windows Media Player) ou aqui (acessando o site do SALGUEIRO).

Ergo meu copo cheio cerveja, com espessa espuma, em homenagem a eles, autores dessa jóia, torcendo para que dê tudo certo. Axé!

E até.

9 comentários:

Unknown disse...

Que beleza! Comovente e portentoso samba! Se a máfia que impera nas escolas (em todas as escolas) deixar, não tem pra mais ninguém: este é o samba do Salgueiro em 2009. Eu gostaria muito, muito que fosse! Ergo junto contigo, meu irmão, o meu copo cheio de Therezópolis Gold em direção ao Simas e ao Mussa!

Anônimo disse...

Vale a pena tambem ouvir os outros sambas só para comparar com o do Simas e do Mussa, e constatar que de é longe o melhor, tanto em letra quanto melodia e andamento (sem falar no interprete)

Conversava justamente hoje com um amigo sobre isso: revolução nas escolas, para que deixem de ser apenas escolas de carnaval, e voltem a ser escolas de samba
Todos ao Salgueiro torcer para esse samba!!!

Beijo

David da Silva disse...

Edu,
Ainda que o Salgueiro faça um repeteco do que rolou na Império Serrano em 1975 – quando o melhor samba perdeu na quadra para se perpetuar na História; ainda que Simas e seus parceiros não sigam a lição do Gibi da Mocidade, e distribuam farofa pra galera na apresentação dos concorrentes, este é o NOSSO samba-enredo 2009. E foda-se o resto.

Renata Fern disse...

Caramba, Edu!!! Realmente muito bom!!!! Gostei muito!!! Eu adoro samba, adoro mesmo!!! Mas sou mangueirense de coração!!! Também sou a favor de inovações na batucada, volta e meia temos a impressão de estar ouvindo o mesmo samba. Sabe... me passou uma idéia rápida pela cabeça, este blog aqui poderia lançar um bloco, um bloco pra desfilar na apoteose ano que vem, que tal? Dou a maior força!
Beijos,
Rê!

Anônimo disse...

Na verdade Renata, não falta inovação na batucada.
Muito pelo contrario, as escolas ja estão mais do que inovadas(o que nao quer dizer melhores) e isso é o que deixa a impressao de ouvirmos sempre o mesmo samba.
Antigamente cada escola tinha seu estilo de tocar, de compor, de andamento, melodia...
Hoje em dia é tudo igual... e estão inovando mais e mais, e em breve nem vai mais precisar de bateria, é so botar um computador que resolve tudo

Renata Fern disse...

É... tem razão, Pratinha! Você explicou melhor do que eu. As inovações é que estão estragando o samba. O negócio é manter as raízes e caprichar na música, letra e gogó!!! ;)

Marcelo Moutinho disse...

Por isso, Pratinha, é que valorizo tanto os agogôs imperiais.

Szegeri disse...

Em respeito à efígie estampada - que malandro que leva a sério certas coisas - calar-me-ei sobre insólitas considerações.

Quanto ao samba, é claro que torceremos freneticamente pelos amigos, o que aconteceria mesmo se a canção fosse um desastre. Como não é, muito pelo contrário, tem uma bela cadência, tem espírito, poesia, letra inteligente, coisas bem pouco prezadas nos dias que correm, meu prognóstico realista não é dos melhores. Espero, vivamente, que eu esteja errado.

Blog do MH disse...

Esse samba é mesmo muito bom. Mas na minha concepção a melhor letra e melodia para um desfile empolgante e nota 10 estãop no samba n.º 12 - Moysés Santiago. "Vem no tambor da academida, que a furiosa bateria vai te arrepiar..."