1.9.08

RUA DO MATOSO - A SÉRIE - BASTIDORES I

Como lhes contei ontem - leiam aqui -, no sábado pela manhã, mais precisamente às oito e meia da manhã, encontrei-me com meu pai, meu velho e amado pai, Isaac Goldenberg (falarei mais sobre o velho, mais à frente), e com Felipinho Cereal, na esquina da Haddock Lobo com a Matoso, para um café da manhã, de pé, no balcão da PADARIA MILU. Felipinho carregava uma mochila com sua câmera fotográfica, eu carregava uma caderneta e minha câmera digital, e meu velho pai carregava mais de sessenta anos nos ombros e poças d´água nos olhos que ele não conseguiu esconder ao longo do passeio.

Não vou, aqui, sob pena de adiantar demais as novidades da série RUA DO MATOSO, escrever nada sobre o que vimos durante o passeio, não - ao menos - com o detalhamento que pretendo imprimir à série. Minha intenção, com esses textos que chamarei RUA DO MATOSO - A SÉRIE - BASTIDORES, vai ser mostrar algumas fotografias retratando os momentos que passamos durante nossos périplos.

Quando chegamos à esquina da Praça da Bandeira com a rua do Matoso, ponto inicial da caminhada, isso por volta das nove da matina, depois de fazermos algumas fotos das placas indicativas de onde estávamos, Felipinho, esfregando as mãos, perguntou:

- Vamos beber a primeira?!

Entramos no BAR DO MATOSINHO.

E eis a primeira coisa que quero lhes dizer, meus poucos mas fiéis leitores.

Tomei-me de uma abrupta emoção ao me perceber ali, na rua, na Tijuca, àquela hora da manhã, ao lado de um amigo querido e de meu pai, barro do qual fui gerado, e assim que fizemos o primeiro brinde, assim que demos o primeiro gole, assim que meus olhos cruzaram com o olhos de meu pai, eu, com a voz ligeiramente embargada e escondendo meu travo do velho - que detesta essas manifestações efusivas de emoção no meio da rua -, disse:

- Felipinho! Tira uma foto minha com papai!

Isaac Goldenberg e Eduardo Goldenberg, Bar do Matosinho, rua do Matoso, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, 30 de agosto de 2008

A cerveja estava geladíssima, pedimos uns jilós para escoltar a bebida, jogamos conversa fora com alguns clientes que também já estavam na área, fizemos muitas fotografias, e andamos mais alguns passos até a LANCHONETE REX.

Um dos troços mais bonitos verificados durante o trajeto, foi esse: eu e Felipinho seguíamos fotografando tudo, de tudo tomando nota, e meu velho pai ia à frente, como um desbravador mais experiente, indicando onde devíamos e onde não devíamos entrar.

Esse troço, esse modus operandi não combinado, foi me deixando mais e mais comovido, e eu já tinha - à certa altura - cinco, seis, sete anos de idade, e seguia meu velho pai, de mãos dadas com ele, atento às histórias que ele me contava.

Novamente pra disfarçar o tranco, pedi:

- Pai?! Faz uma foto minha com o Felipinho!

E o velho fez.

Eduardo Goldenberg e Felipe Quintans, Lanchonete Rex, rua do Matoso, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, 30 de agosto de 2008

Se eu tiver que me valer de uma imagem para lhes dizer o que fizemos com a rua do Matoso, naquela manhã, com o primeiro trecho da rua do Matoso, eu diria que costuramos a rua. Ficamos num zigue-zague, atravessando de lá pra cá, daqui pra lá, saindo de um bar e entrando numa sapataria, saindo da sapataria e entrando num relojoeiro, saindo do relojoeiro e entrando numa ótica...

Mas parávamos, pra valer - é claro! - nos butecos.

Outro deles foi o AUGUSTUS, adorável espelunca na esquina da Matoso com a Pereira de Almeida.

Ali bebemos mais umas garrafas de Brahma, e uma vez mais, sentado diante do balcão ao lado de meu ídolo, meu velho pai, comovi-me tremendamente com aquele exercício bacana, de passear a pé sem pressa, de ver as coisas com olhos de ver, de conversar com as pessoas, de beber da vida, literalmente.

Isaac Goldenberg e Felipe Quintans, Bar Augustus, rua do Matoso, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, 30 de agosto de 2008

Formamos um trio perfeito, naquela manhã. Sentimos falta do Simas - que tentou chegar junto, mas não conseguiu... -, sentimos falta do Fefê, a quem eu convocara na véspera, mas que também não pôde ir, sentimos falta de uma porção de gente que, na verdade, como nós, curtiria aquele passeio nonsense a princípio.

Mas nós três, naquele sábado, formamos - repetindo - um trio sem tirar nem pôr.

Ao longo da semana pretendo publicar mais algumas fotos do que vimos e do que vivemos.

A série, mesmo, na íntegra, que a princípio terá quatro partes, só será publicada quando terminarmos esse doce trabalho, essa doce tarefa.

Fecho o texto de hoje com uma fotografia que nos foi inspirada por um velhinho que cantarolava da janela do primeiro andar, num edifício na rua do Matosos, quase colado na Praça da Bandeira:

"Da janela
vê-se o Corcovado, o Redentor,
que lindo..."


Cristo Redentor visto da rua do Matoso, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, 30 de agosto de 2008

Até.

18 comentários:

Szegeri disse...

1) Isaac Goldenberg, "poças d´água nos olhos"...??? É tipo.

2) A Matoso, em seus poucos quarteirões, é a rua com mais butiquins em todo o orbe terrarum.

3)Felipinho Cereal. Definitivamente, o Pequeno Grande Homem.

Eduardo Goldenberg disse...

Notem vocês todos, meus poucos mas fiéis leitores, até onde chega esse homem, o Szegeri, em seu intuito de me humilhar.

Tece o primeiro comentário sobre o texto.

Fala sobre meu pai.

Fala sobre a rua do Matoso.

Fala sobre o Felipinho Cereal.

E me ignora, solenemente, sem nem ao mesmo o disfarce amenizador.

Olga disse...

Edu, muito bons seus textos sobre a rua do Matoso, tão cara a mim. Emocionei-me com os textos e, muito, com os comentários.

Adorei a foto com o Cristo ao fundo. Fez-me lembrar meu irmão, ele mora muito distante, e sempre brinca perguntando se ainda se avista o Cristo andando ao longo da rua do Matoso.

Eduardo Goldenberg disse...

Olga: você ainda não viu nada! Nem sequer comecei a escrever sobre a rua do Matoso! A série ainda não teve início e isso é apenas parte do que vimos nos bastidores!

Você mora na Matoso?!

Um abraço.

Olga disse...

A impressão que tenho é que morei na Matoso a vida inteira, Edu, isso para o bem e para o mal.

E, Szegeri, vi teu comentário no post lá embaixo, não tem de quê, viu? Não era minha intenção te fazer chorar, rapaz! (rs)

Rodrigo disse...

Edu, meu caro, quando o Fernando Szegeri me chamou de loco no Bar Pirajá, por ler os blogges de vocês, eu não concordei com ele. Acho que foi a primeira vez que não concordei, explico: Louco é quem não lê estes textos aqui e não se emociona com a beleza contida neles.

abraço

Eduardo Goldenberg disse...

Pronto: a Olga é, pelo visto, a eminência parda da rua do Matoso... Suas respostas e seus comentários, ambos enigmáticos - sempre que o assunto é a Matoso -, me dão a certeza de não estar falando besteira!

Valeu, Rodrigo! E o quadro-placa com o autógrafo szegeriano emoldurado?! Estará pronto quando? Abraço.

Rodrigo disse...

Porra, Edu!

Não sei não cara.

Eduardo Goldenberg disse...

Pobre, Szegeri, que quase-diariamente manda-me um email perguntando sobre a homenagem...

Anônimo disse...

Salve, Edu!
Domingo foi a festa de aniversário do meu velho e não pude me reunir a vocês no Fla-Flu. Se no próximo jogo do Mais Querido rolar outro encontro, não hesite em me chamar!

Grande abraço,

Victor

Anônimo disse...

Olga,

Os textos são excelentes realmente porque retratam fatos e sentimentos cotidianos que nos identificamos de uma forma ou de outra, poucos conseguem expressar isto de forma a tocar o coração não somente dos próximos, mas de estranhos também como no meu caso que cai no blog de pára-quedas e como trata temas “butequeneiros”, me interessa até por já ter sido dona de um. Gostei tanto do texto que no blog anterior teci 05 comentários compulsivamente já que, como o próprio Edu descreveu em sua resposta, me “arremessou” para a parte mais bela da minha vida, infância e pré-adolescência.

Por isso entendo quando ele diz sobre “olhos mareados e menino segurando a mão do pai” é por aí, bonita a forma de abordagem e o trabalho precisa ser pautado em cima das histórias e fatos ligados ao local , mesmo que seja uma rua lotadas de botecos. Tem que achar o plus e aí só com os olhos da alma. (caraca , me inspirei, não sou assim o tempo todo.

Bom , como cheguei agora no blog , este SZEGERI, o que é um amigo de vcs participando de alguma brincadeira ?????

Eduardo Goldenberg disse...

Monica Araújo: obrigado por seus imerecidos elogios. Entretanto...

Não entendi sua frase "(...) mesmo que seja uma rua lotadas (sic) de botecos.". Não entendi porque é justo por isso, também, que a rua do Matoso é especialíssima, como bem disse o Szegeri.

Não entendi, também, o que você quis dizer com "tem que achar o plus e aí só com os olhos da alma.". NUNCA - com a ênfase szegeriana - achei esse tal de "plus", ainda mais na Matoso!

Quanto ao Szegeri, meu irmão paulista, o homem da barba amazônica, Fernando José Szegeri (como ele bem gosta de ser chamado) - embora não tenha, também, entendido sua pergunta (eu não devo estar num bom dia) -, devo dizer que ele jamais, em toda a vida, participou de alguma brincadeira. Ainda mais aqui, no BUTECO, onde ele é tratado com a devoção que merece.

Aquele abraço.

Olga disse...

Edu, ao contrário, a Matoso é que exerce poder sobre mim. (rs)

Eduardo Goldenberg disse...

Boa, Olga. Mais uma frase e mais uma prova inequívoca de sua condição de eminência parda da rua!

Anônimo disse...

Hiiiiiiii rapaz , pelo jeito eu não entendi nada do que o Szegeri quis dizer então, me desculpe, falta de sintonia de iniciante... preciso ler com mais calma, por isso o comentário errado sobre ruas de embutecadas, não sou contra e sim a favor.

O plus , é quando você consegue enxergar na Pharmácia que visitaram peculiaridades e transmiti-las de forma a nos fazer se interessar e querer sentir as mesmas coisas dos que estão lá fazendo o trabalho , na verdade quis elogiar esta capacidade, mas acho que quem não está bem sou eu... e ao amigo Szegeri, perdoe-me o mal jeito.
Um abraço.

Eduardo Goldenberg disse...

Monica Araújo: não sei o que são "ruas de embutecadas" - melhor pararmos por aqui, ao menos no que diz respeito a esse assunto...

E... surpresa... você é amiga do Szegeri?????

Bom... isso, deixa para lá.

Aquele abraço.

Anônimo disse...

rsrsr não mas da Eugênia sim ... tem que mudar pra Matoso pra falar dela????? Pô to longe pra caramba.

Eduardo Goldenberg disse...

Monica Araújo: não, não tem. Aquele abraço.