24.9.08

A TIJUCA EM ESTADO BRUTO - VI

A TIJUCA EM ESTADO BRUTO está virando, confesso, uma série interessante. Leiam aqui o primeiro, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto e aqui o quinto. Não era pra ser assim, não foi nada planejado, mas a Tijuca tem desses troços, a Tijuca é tão espraiada dentro de quem a ama, a Tijuca ocupa tanto espaço, a Tijuca tem tanta história, que somos flagrados assim, tomados de Tijuca até a alma - e somos obrigados a dividir essas tijucaníssimas emoções, esse afeto tijucano, sob pena de sentirmos dor, inclusive. Pois a Tijuca, meus poucos mas fiéis leitores, a Tijuca machuca. Feito o intróito, em frente.

Hoje vou lhes contar uma história - realíssima, eis que sou preciso do início ao fim - envolvendo vovó, dona Mathilde, uma mulher altiva, 84 anos, ativíssima, formosa, cheirosa e vaidosa como canta o samba. Vou lhes contar, mais precisamente, a história de um assalto que vovó sofreu recentemente (o primeiro depois de 84 anos de Tijuca, diga-se!, o que só prova que a violência, na Tijuca, é coisa rara como goiabada-cascão).

Minha avó acaba de sair de seu prédio e vem caminhando pela rua onde mora para tomar um ônibus. Uns 500 metros depois de seu prédio é abordada por um sujeito, na casa dos 30, 35 anos, esbaforido, correndo, aflitíssimo:

- Ô, senhora... boa tarde!

Vovó, que sorri para estátuas, pombos, postes, bancas de jornal - como sorri, a minha avó! -, responde:

- Boa tarde, meu filho. Como é seu nome? - vovó conhece todo mundo pelo nome!

(pequena pausa: eu tenho a impressão de que esse "meu filho" deu ao meliante a certeza do êxito de sua empreitada)

- Ô, senhora... - forjava baforadas de exaustão - É Robson. Vim correndo, seu porteiro bem me disse que eu alcançaria a senhora... Ele bem que me disse que a senhora estava com uma calça branca e uma blusa colorida... Muito simpático, ele... Como é mesmo seu nome? Me esqueci! - e guardou um crachá que trazia pendurado no pescoço.

Vovó, terna:

- Mathilde.

Ele deu um tapa na testa:

- Puxa vida! Como pude me esquecer! O nome da professora que me ensinou a ler... - e fingiu enxugar lágrimas dos olhos.

- Pois não, meu filho...

- Então, dona Mathilde. Eu sou da LIGHT. A senhora não vinha achando sua conta de luz cara?!

- Caríssima!

(pequena pausa: quem paga as contas de vovó é papai, que jura que suas contas de luz sempre foram baixíssimas)

- Pois eu acabo de trocar seu relógio de luz!

Vovó, terníssima:

- Ô, meu filho, ô, Robson...

Estende a mão em direção ao sujeito, faz festinha em suas mãos, e, sendo espírita da cabeça aos pés, diz:

- Deus te abençoe, Robson!

Ele sorriu e disse num sem-pulo:

- Obrigado, dona Mathilde. Mas eu vim correndo não apenas para avisar a senhora, mas... - fingiu constrangimento abaixando os olhos - ... esse serviço é pago.

- Oh! É? - e já foi abrindo a bolsa, aflita - E quanto é?

- Quinze reais, dona Mathilde.

Vovó revirou a bolsa e estendeu ao homem uma nota de cinqüenta e duas de vinte:

- Só tenho assim. O senhor tem troco?

- Não tenho, dona Mathilde... A senhora me espera aqui? Posso ir trocar ali no bar da esquina...

- Ô, meu filho, você faz isso? Estou indo para o outro lado.

- Claro, senhora...

(pequena pausa: notem a genialidade do momento, o encanto e a doçura do assalto, só possíveis num assalto na Tijuca)

Vovó estendeu a nota de cinqüenta.

Ele:

- Ô, senhora, me dê a de vinte...

- Não, meu filho! Eu aproveito e já troco essa nota grande!

- Não, não, será mais fácil trocar a de vinte.

Vovó está esperando o homem até agora.

Quando chamamos sua atenção - todos -, vovó disse, sábia:

- Ele precisa mais do que eu. E foi, convenhamos, genial, não foi? Mereceu! Mereceu! Além de tudo, poderia ter ficado com minha nota de cinqüenta... Foi até gentil!

Até.

16 comentários:

Unknown disse...

A história é ótima mesmo, querido! Lembrou-me muito um assalto - o único que presenciei na Vila Teixeira, que seria, digamos assim, uma espécie de Tijuca campineira: a dupla parou a moto, entrou no boteco e anunciou o assalto. Todo mundo na parede e os meliantes iam cutucando os nossos bolsos atrás de dinheiro. Conseguiram muito pouco com a gente, foram até o caixa. Limparam o que tinha lá - também não era muito. E na hora de ir embora, alguém pediu, com o rosto ainda encostado no azulejo: "Ô gente boa! Deixa pelo menos o dinheiro da saideira". Nisso, o assaltante que estava na garupa da moto desceu, enfiou a mão na mochila e deixou uma nota de R$ 10 sobre o balcão. Se não me engano cheguei até a contar essa história no Pátria FC. São cenas que, se a gente não tivesse vivido, seria difícil de acreditar. Beijo!

Eduardo Goldenberg disse...

Verdade, Bruno, há histórias que são praticamente inacreditáveis. Essa história da vovó é boa demais, querido... E se você a conhecesse (irá conhecê-la, irá!) - pergunte ao Szegeri - saberia que o cara JAMAIS seria violento ou extremamente sacana com ela! Vovó é um doce, querido, uma dessas velhinhas de comercial de TV. Baixinha, cabelos entre o branco e o azul, sempre penteadíssimos (vai ao salão religiosamente uma vez por semana fazer o serviço completo), mãos e pés pequeninhos, espírita as 24h do dia, palavras e gestos dóceis permanentemente, vovó conquistou - tenho certeza! - o coração do meliante.

Ele deve ter feito até uma boa ação com a grana surrupiada, docemente, da minha avó...

Beijo, querido.

Szegeri disse...

Queridos, hoje vocês acordaram dispostos a acabar comigo...
Faço duas pequenas observações: 1) não se trata de um assalto (essa observação banal é importante, porque os estatísticos estão por aí, à espreita, atrás de cada poste, prontos a destruir nossa nação). Trata-se do que mais apropriadamente os antigos chamavam, romanticamente, de "conto do vigário". O "vigarista" (estelionatário, 171, fala mansa, bom-de-bico etc.) não é nem jamais será um sujeito violento. Sua arma é a palavra, a ginga. Não se cria sobre a força bruta, mas muito pelo contrário, pela sutileza. Cria-se naquela zona cinzenta da dúvida, da benevolência, da credulidade. O vigarista é o meliante brasileiro por excelência. Aí está o seu mérito, reconhecido por Vovó. 2) Isso não é a "Tijuca em estado bruto", com o perdão do Mano: é o Brasil em estado bruto! É desses casos que podemos encher a boca para soltar: só no Brasil! Mas é claro que acontece na Tijuca, na Vila Teixeira, na Barra Funda, na Lapa, porque aí, meus queridos, o Brasil ainda resiste. O "Brasil de fato" recusa a onda destruidora que pretende nos varrer a todos, como seres humanos singulares, da face da terra, deixando-a povoada desses autômatos programados em série que andam por aí nos xópim cênteres, nos pseudo butiquins etc. Viva a Tijuca! Viva a Vila Teixeira! Viva o Brasil!

Anônimo disse...

Bom a história é excelente como as outras, o texto ótimo como os outros, mas me deixa triste ver o nome da empresa em que trabalho a vinte anos, envolvido nesta e outras falcatruas semelhantes. Sempre ocorrem casos assim e acredito que a presença de espírito da vovó contribui e muito para que o meliante não fosse agressivo , como acontece em alguns casos que tomamos conhecimento. Pessoa como esta capaz de abordar uma senhora de 84 anos por conta de R$15,00 é que contribui e muito para a neurose urbana e síndrome de desconfiança coletiva, afastando as pessoas de bem uma das outras. Uma pena.

Eduardo Goldenberg disse...

Szegeri, meu irmão: perfeita sua observação no que diz respeito ao "conto do vigário", à "fala mansa", à "ginga" do sujeito.

Mas discordo de você com veemência. Isso é, SIM, Tijuca em estado bruto. Na Vila Teixeira, na Barra Funda, na Lapa, na Vila Guilherme, o malandro levaria o galo da mão da vovó. Na Tijuca, querido, só na Tijuca - me perdoa - o espaço para a delicadeza e a gentileza durante o doce afanar pelo verbo.

Um beijo.

Monica: me perdoa também... Mas você não entendeu nada. E como eu também não entendo desse papo "pessoas de bem", ficamos no zero a zero. um abraço.

Szegeri disse...

Completaria o teu comentário retro, Galo, com um "de novo".

Anônimo disse...

Mônica, agora dá pra entender pq a turma do Rio Brasília cagou solenemente pra esse cara quando fecharam o Bar e só deram justificativa pelo Felipinho.
Um cavalo como esse, que te dá coices dias após dias não merece consideração mesmo.
E pior que finge que não entende o que vc diz, quando na verdade entende muito bem, que vc quis dizer é que com esses golpes, as pessoas de bem, sejam funcionarios da Ligth ou não ficam queimados com esse tipo de atitude que teve o nosso saudoso, carinhoso, lustroso e delicado LADRÃO.
Realmente isso não é Brasil, mas sim esse bairro de apavorados que é a Tijuca.Na Tijuca existem 2 tipos de pessoas, no que diz respeito a violência do bairro, as apavoradas, que temêm andar pelas suas ruas, e com razão e as mentirosas.

Mônica, leia o blog do Cereal e do Janir Junior, lá a galera é tratada com mais carinho.

Bjão pra vc Mônica...

Paulo, infelizmente, Tijucano.

Anônimo disse...

Sr. Paulo,

Participo do Blog do Eduardo por opção e por admiração ao que ele escreve, e todas as vezes que divergimos em nossas opiniões, ele sempre fez questão de esclarecer ou se desculpar caso tivesse sido mal interpretado. Não vejo desta forma, nem a respeito dele como pessoa grossa ou a respeito do seu comentário sobre a Tijuca, ontem mesmo minha comadre tentava me convencer a mudar pra lá, ressaltando o tempo inteiro as vantagens do bairro. O dia que realmente me sentir ofendida neste ou em outro blog qualquer não tenha dúvida que mandarei para a puta que pariu e saio fora , coisa que não ocorreu aqui em momento algum, muito pelo contrário , acho que não somente o Eduardo , como a turma que freqüenta o Buteco , por exemplo o Simas, pessoa que tenho grande admiração e gosto de trocar impressões e aprendo muito com eles . Amigo não tem que tá o tempo todo reverenciando o outro , também discordam e desde que haja respeito tudo bem. Até o momento , não me faltaram com o mesmo.
Eduardo , peço por gentileza que qualquer resposta ofensiva não seja publicada.

Eduardo Goldenberg disse...

Paulo: para que fique evidente para os leitores e freqüentadores desse balcão virtual a sua ignorância (na mais estrita acepção da palavra, eis que você ignora rigorosamente o assunto sobre o qual tentou, sem êxito, comentar), passo a respondê-lo (pela primeira e última vez, jamais volto a publicar qualquer comentário de sua lavra) por partes:

Disse você: "Mônica, agora dá pra entender pq a turma do Rio Brasília cagou solenemente pra esse cara quando fecharam o Bar e só deram justificativa pelo Felipinho."

Digo eu: a turma que fechou o RIO-BRASÍLIA (a turma não "fecharam", a turma fechou) não "cagou solenemente" para mim. O casal que fechou o portentoso buteco da Tijuca faltou com o respeito com toda a clientela, incluindo aí - mais um erro seu - o Felipinho Cereal, que há de confirmar o que eu digo. Vamos em frente.

Disse você: "Um cavalo como esse, que te dá coices dias após dias não merece consideração mesmo."

Digo eu: O cavalo sou eu, Paulo? E eu dou "coices" diariamente na Monica? Eu não sabia. Fico grato por saber disso através de você, que tão gentilmente dirige-se a mim, publicamente, para me dar (vá tomando nota) as duas primeiras informações contidas no mais estúpido comentário que esse BUTECO jamais recebeu: que eu sou um cavalo e que dou coices na sua amiga. Genial! Obrigado!

Disse você: "E pior que finge que não entende o que vc diz, quando na verdade entende muito bem, que vc quis dizer é que com esses golpes, as pessoas de bem, sejam funcionarios da Ligth ou não ficam queimados com esse tipo de atitude que teve o nosso saudoso, carinhoso, lustroso e delicado LADRÃO."

Digo eu: releia, se você tiver condições, o comentário de meu mano Szegeri. E eu, saiba disso, que sou preciso do início ao fim, quando digo que não entendo um troço, é porque não entendo mesmo. Esse discurso - "pessoas de bem", "ficam queimados" - me lembra os piores tempos, os mais odiosos preconceitos. Não os entendo. E anote aí: as pessoas ficam queimadas, e não "queimados".

Disse você: "Realmente isso não é Brasil, mas sim esse bairro de apavorados que é a Tijuca. Na Tijuca existem 2 tipos de pessoas, no que diz respeito a violência do bairro, as apavoradas, que temêm andar pelas suas ruas, e com razão e as mentirosas."

Digo eu: tantos erros nesse trecho que, francamente, vai ficar difícil corrigi-lo. Tome nota, pelo menos, de que "temêm" não tem acento. Algumas palavras têm acento. Essa não tem. Entendeu? Há mais tipo de gente na Tijuca, meu caro. Há os que querem sair daqui e não podem - o que parece ser o seu caso. O que você faz no bairro? Muito pior do que as amendrotadas (e essas estão por toda a cidade, maculadas por uma imprensa que fomenta a indústria do medo) e do que as mentirosas (também estão por toda a parte, como você pe bobo...), são as ingratas, as insatisfeitas, as mal-educadas, as que não sabem se comportar em público. O seu caso, inclusive.

Disse você: "Mônica, leia o blog do Cereal e do Janir Junior, lá a galera é tratada com mais carinho."

Digo eu: Essas dicas - se a Monica de fato lê o BUTECO, ela sabe disso - eu já dei faz tempo. Como é bobo, você.

Assina você: "Paulo, infelizmente, Tijucano."

Digo eu: pobre daquele que renega sua ancestralidade, que renega a terra em que nasceu, que renega suas origens.

Eu tenho é pena de você, Paulo.

Vá tentar cantar (mal) de galo noutro terreiro. Aqui, nunca mais.

Passe bem, fique em paz e, podendo, meu caro, mude-se da Tijuca. O bairro não precisa de gente feito você.

Um abraço.

Eduardo Goldenberg disse...

Monica: a bem da verdade eu gostaria apenas de lhe dizer que um sujeito que entra num balcão, ainda que virtual, e diz o que quer, terá de ouvir - possivelmente - o que não gostará de ouvir. Razão pela qual, Monica, publicarei as respostas que considerar devidas. O sujeito - a quem não conheço, você pelo visto conhece..., e lamento por isso! - ofendeu a mim, disse o que não sabe sobre o Felipinho - a quem, com intimidade, chamou pelo apelido carinhoso pelo qual é chamado pelos amigos -, ofendeu a Tijuca, ofendeu o Brasil, e vai ouvir. Garanto a você que ele vai ouvir! Um beijo.

Felipe Quintans disse...

Porra, Paulo, vacilaste pacas. E olha que o Edu ainda se deu o trabalho de acender vela para pouco defunto, como diria o meu camarada Simas. Não fale mal e nem pense mal da Tijuca, rapaz. Se você olhar bem ao seu redor verás que não há nada melhor do que esta terra. Esfrie a cabeça e reveja seus pensamentos. O Edu não foi grosso com a Mônica, o que existe é apenas troca de idéias. Discordo completamente com o seu comentário.

Felipe Quintans disse...

Corrigindo: Discordo completamente DO seu comentário!

Arthur Tirone disse...

Um anônimo (Paulo é o caralho!) é sempre um anônimo.
Porra Edu, dá vontade de esculhambar, mas é foda não saber a quem a gente está se dirigindo... É um zé ruela e nada mais. Perde tempo não, mano.
Beijo.

Anônimo disse...

Tentarei ser gentil.

Gostaria de deixar bem claro que não conheço, não é meu amigo , nenhum idiota por nome Paulo e que não concordo com nenhuma letra do comentário acima feito por este senhor e que meus amigos e minha familia se portam de forma educada assim como eu me sempre me portei desde que comecei a postar neste blog , ou em outros relacionados com o meu nome real , basta conferir. Até porque opinião é uma coisa que tenho e muita. Aos leitores desculpem o mal jeito.

Monica Araujo.

Anônimo disse...

Errata: Mau com U gente !! ô meu Deus o português!!!!!

Anônimo disse...

Edu, e você ainda perdeu seu tempo para responder...

Estou com o Felipinho, é muita vela.

abs.,

Daniel A.