9.10.08

RUA DO MATOSO - A SÉRIE - PARTE IX

Saímos da TINTURARIA MASCOTE encantados com a família-unida e com a organização impecável do negócio, e fomos ver, de perto, a CASA ELIZABETH, que ocupa dois imóveis na rua: o de número 198 e o de número 204.

Fomos atendido pelo Luiz, vendedor, que nos entregou o mais feio - e talvez por isso mesmo o mais comovente - cartão de loja que jamais vi (imagem abaixo). Notem que troço brutal! Vejam que troço feio! Percebam que troço tosco, que troço comovente!!!!!

cartão da CASA ELIZABETH, rua do Matoso, na Tijuca

Quando ele percebeu que não estávamos lá para comprar nada - notou as câmeras, os olhares atentos, o bloco de notas - disse ajeitando os cabelos e sacando o pente Flamengo do bolso:

- TV?

E o Felipinho:

- Não... Estamos fazendo uma espécie de documentário sobre a rua do Matoso...

E o Luiz:

- Olha... o seu Amim, o dono, está aí. Mas sábado ele não recebe ninguém pra entrevista, sabe? Venham na segunda-feira, pode ser? Mas eu sei muita coisa, podem perguntar...

A CASA ELIZABETH, fundada em 1958, é uma bagunça que mexe com o coração da gente.

fachada da CASA ELIZABETH, rua do Matoso, na Tijuca, foto de Felipe Quintans

Tem colchões sobre sofás, televisores sobre mesas de jantar, aparelhos de som sobre bancos de cozinha, vitrines entulhadas de coisas, ferros de passar, aparelhos de DVD, e meu pai, atônito diante daquilo, dizia da porta:

- Vamos beber, gente, vamos beber!

E de repente, como num passe de mágica, os olhos de meu pai se encheram - pela segunda vez naquela manhã - de lágrimas.

Ele apontou pro rádio que tocava baixinho no interior da loja e pediu ao Luiz:

- Aumenta, maninho, aumenta! É o Babolina! É o meu amigo, o Babolina!

E ficou dançando - vejam vocês... - na porta da loja.

Eu não podia perder a cena, pena que papai percebeu e parou de dançar.

Notem, no começo do filme, que o Luiz sai de banda depois de aumentar o volume atendendo ao pedido de papai, notem as televisões ligadas em canais diferentes, a quantidade de móveis no interior da loja (o espaço para a locomoção da freguesia é mínimo!), as antenas de TV, os sofás, a vitrine horripilante forrada com papel vermelho, e notem - principalmente - como meu pai, que pára de dançar, mantém a cabecinha balançando ao ritmo quente de Jorge Benjor, seu amigo de infância, o Babolina!

Amanhã, o último capítulo da série RUA DO MATOSO.

Até.

4 comentários:

Andrea disse...

Essa série está ótima Edu. Estou acompanhado todos os dias. Vai ter outra?

Eduardo Goldenberg disse...

Andrea: muito obrigado. Não temos nada planejado, mas quem sabe? Seja bem chegada. Salvo engano meu, é seu primeiro pitaco no balcão. Um abraço.

Bezerra disse...

De fato, Edu, o cartão da Casa Elizabeth é o mais comovente. Mas, ainda assim, prefiro o da Casa Cardal, por ser mais antigo, o que lhe dá um charme especial.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.