10.10.08

RUA DO MATOSO - A SÉRIE - PARTE X

Quando saímos da CASA ELIZABETH (de 1958, o mais antigo comércio da rua do Matoso, não é demais repetir) sabíamos que faltava apenas um objetivo, já traçado. Seguimos, por conta disso, pela calçada da direita mesmo, atravessamos a Haddock Lobo e chegamos ao último quarteirão da rua.

Atravessamos a Matoso e andamos um bocadinho de nada até o número 219.

Chegamos, então, ao ARMAZÉM MATOSO.

Na porta, sentado, recebeu-nos o seu Manoel. No balcão, dona Alzira desejou-nos bom dia.

Vocês vejam se o seu Manoel não é bom de papo! Percebam a expressão de papai ouvindo as histórias contadas por ele!

Isaac Goldenberg, ARMAZÉM MATOSO, rua do Matoso, na Tijuca, foto de Eduardo Goldenberg
Seu Manoel, ARMAZÉM MATOSO, rua do Matoso, na Tijuca, foto de Eduardo Goldenberg

Seu Manoel e dona Alzira estão há 32 anos no mesmo endereço - eles moram no sobrado em cima do armazém, que foi inaugurado em outubro de 1976. Ambos são portugueses, de Trás-os-Montes.

Seu Manoel chegou ao Brasil em 1947 e, três anos depois, em 50, foi a vez da dona Alzira. Estão casados há 53 e dona Alzira disse com orgulho:

- Só tivemos três endereços no Brasil. Moramos na Barão de Mesquita, mudamos para o Catumbi e depois viemos pra cá, pra melhor rua da cidade!

ARMAZÉM MATOSO, rua do Matoso, na Tijuca, foto de Eduardo Goldenberg
Dona Alzira, ARMAZÉM MATOSO, na rua do Matoso, na Tijuca, foto de Eduardo Goldenberg
detalhe do piso do ARMAZÉM MATOSO, na rua do Matoso, na Tijuca, foto de Eduardo Goldenberg

Bebemos cerveja em lata, a R$ 2,00 cada uma. Dona Alzira contou-nos que na véspera um grupo grande esteve lá, fazendo um churrasco, e acabou com toda a cerveja em garrafa da casa.

Conhecemos, durante nossa visita, um grande sujeito chamado seu Vavá. Ele nos foi apresentado por um eufórico seu Manoel:

- Eis aí um grande homem! Sabe tudo sobre a Matoso!

Seu Vavá nasceu no morro do Turano, em 05 de abril de 1933. Trabalha na rua do Matoso há 53 anos, desde o dia - foi comovente vê-lo dizer isso - 20 de junho de 1955. Já está aposentado, mas não quer parar de trabalhar. Hoje, mora em Nilópolis, trabalha numa loja de móveis na Haddock Lobo, e mesmo durante os finais se semana vai à rua do Matoso para beber com os amigos que fez ao longo de mais de meio século.

Perguntou-me, o seu Vavá, com um copo de cachaça na mão:

- Onde você mora, menino?

Eu disse.

- Eu vi construir o seu prédio!

- Viu?

- Vi! E pensei que fosse cair! - morrendo de rir.

Disse, mais, que viu muita coisa acontecer na região...

Fizemos, com o seu Vavá, um pequeno filme, que fecha, com chave de ouro negro, a série RUA DO MATOSO.

Até!

11 comentários:

Felipe Quintans disse...

Lembremos que o Vavá é parceiro do Berinjela.

Beijo.

Eduardo Goldenberg disse...

Felipinho: bem lembrado!

Fábio Brasil disse...

Vocês que fizeram a série estão de parabéns. Muito legal. Um abraço.

Eduardo Goldenberg disse...

Obrigado, Fábio. Em nome do Felipinho Cereal, de meu velho pai e do Simas. Abraço.

Olga disse...

Edu, deixa eu aproveitar a deixa do sr. Vavá e fazer uma pergunta que não quer calar há muitos anos, pra mim, claro. O prédio que você mora é de lado, não? Todas as vezes que passo por ali, anos e mais anos, fico olhando, tentando compreender. Eu adoro o seu edifício. Acho intrigante e interessante.

Eduardo Goldenberg disse...

De lado?

Olga: você passa por esse susposto edifício voltando do bar? Você bebe muito, Olga? De lado?

Acho intrigante e interessante as perspectivas que as coisas tomam, de pessoa a pessoa.

Um beijo.

Olga disse...

Edu, o seu prédio é estranho. Lindo, mas estranho.

Estava sóbria quando reparei isso. Diga-se, há muitos anos! Ele é uma incógnita pra mim.

Unknown disse...

Entendo exatamente o que voce estah dizendo, Olga! Para mim tambem o predio do Edu eh de lado!!!

Olga disse...

Ah, Betinha, só mesmo uma mulher pra compreender a outra. Valeu!

Unknown disse...

Edu,

Sobre a observação do seu Vavá de que o seu prédio dava a impressão de estar caindo durante a construção, o único motivo que eu vislumbro é o fato de que o referido prédio tem (como talvez você já saiba) a concepção estrutural das peças de concreto (vigas, lajes, etc.) em pré-moldados, ou seja, ao contrário dos prédios tradicionais da época, que eram construídos andar por andar, as peças, no caso do seu prédio, foram concretadas no chão e levantadas por guindastes de grande porte (vulgarmente chamados de gruas).

Tal procedimento elimina a necessidade de ter os elementos de escoramento, de madeira ou de aço, em que se apoiariam as peças, dando a impressão de que o prédio está sem apoio, solto no espaço, o que, obviamente, não é verdade.

O interessante, também, nisto tudo, é que esta mesma sensação eu tive, confesso, ao visitar as obras do Metrô do Recife, cujas estações de grandes dimensões adotaram a mesma concepção.

Em função do exposto, achei interessante a observação do seu Vavá e registrada com muita propriedade em seu comentário.

Um forte abraço,

Ronaldo

Anônimo disse...

adorei ler, parabens, vc escreve mto bem, é um grande cronista! Me diverti horrores tb... Lembro que a R do Matoso foi a rua em que nasceu a grande atriz do teatro de revista chamada ARACY CORTES. Essa informação está no livro AI YOYO, publicado pela Funarte, sobre a vida da atriz. E a rua existe desde 1870, inalterada no nome... BJ