17.11.08

CANTINHO DO CÉU

Desde o súbito fechamento do RIO-BRASÍLIA, após inexplicável decisão tomada pelo Joaquim, nós procuramos - e refiro-me, precipuamente, a mim, a Felipinho Cereal e a Luiz Antonio Simas - um buteco pra chamar de nosso (relembre o imbroglio envolvendo o encerramento das atividades do RIO-BRASÍLIA lendo JOAQUIM E TEREZINHA - AS IMPRESSÕES - aqui, O JOAQUIM ENLOUQUECEU - aqui, O JOAQUIM ENLOUQUECEU II - aqui, RIO-BRASÍLIA FECHADO - aqui, EXTRA - MAIS SOBRE O FECHAMENTO DO RIO BRASÍLIA - aqui, RIO-BRASÍLIA: PARECE QUE FECHOU MESMO - aqui e MINHAS ÚLTIMAS FOTOS NO RIO-BRASÍLIA aqui). Procurávamos. E vou explicar.

Às três da tarde de ontem estrilou meu celular. Era o Simas:

- Já estou aqui com a Candinha...

Cheguei em vinte minutos. Nossa mesa, na calçada, sob a copa gigantesca de uma amendoeira mais-gigantesca-ainda, era mais uma dentre tantas as que se espalhavam diante da TV. Brahma gelada à mesa, cofiando a barba ralíssima, disse o Simas com o olhar voltado pra cima, admirado com a amendoeira (é, mesmo, impressionante, a envergadura das amendoeiras da Maestro Villa-Lobos):

- Tenho gostado cada vez mais desse bar...

Eu assenti, pedimos a segunda, e a Candinha perguntou, apontando discretamente pra uma mesa próxima:

- O que é que eles estão comendo?

Não acreditei no que vi.

Quatro amigos dividiam uma mesa e um deles tirava, de dentro de uma sacola de supermercado, potinhos plásticos com queijos diversos, uma embalagem de pão árabe... e eu disse, de olho comprido:

- Devem ser freqüentadores antigos.

Coisa de dez, quinze minutos depois, vem vindo um senhor, carregando duas sacolas do mesmo supermercado (que fica na Haddock Lobo, muito perto do buteco). Cumprimenta todos os presentes e vai ao encontro de uns coroas que estão em uma mesa já lotada de garrafas de cerveja. Põe as sacolas sobre a mesa a vai sacando pedaços enormes de queijo, mortadela, pão francês... O Simas diz:

- Não acredito...

E eu:

- Vou lá!

No mercado, compro 300g de azeitonas pretas tipo Azapa (minhas preferidas), 400g de tremoços e 400g de salaminho. Volto e disponho os três potes sobre a mesa. A garçonete:

- Querem pratinhos? Talheres? Guardanapo?

Estávamos ou não estávamos no cantinho do céu?

O Simas - a quem peço a gentileza da manifestação - não me deixará mentir. Todas as mesas - eu disse TODAS - tinham produtos do supermercado: queijos de todos os tipos, salaminho, azeitonas, pães, mortadela, tremoços, amendoim, um troço inacreditável.

Chegou o Claudão, com dois amigos (não me lembro de seus nomes nem à fórceps), o Felipinho Cereal com a Érika, e nos fartamos durante o jogo - o Flamengo, ao contrário do que previra o Borgonovi durante a semana, sentou a piaba no Palmeiras, num empolgante 5 a 2.

Com o fim do jogo, partiram todos e ficamos nós três, eu, Simas e Felipinho. E o troço foi ficando mais bonito e mais bacana.

Conta a lenda do lugar (qual o bar que sobrevive sem suas lendas?) que o outrora famoso maracujá da Almirante Gavião nasceu ali, na Maestro Villa-Lobos. Um senhor, na casa dos setenta anos, disse isso em voz alta erguendo seu copo americano com o néctar. Mandamos vir maracujás à mesa. Estavam perfeitos.

Outro senhor, visivelmente um freqüentador assíduo (beijava todo mundo no alto da cabeça, carinho de avô), saiu oferecendo azeitonas pelas mesas. O Cereal, um comovido, chorava de esguichar. À nossa direita, quatro camaradas começaram a puxar o samba da Beija-Flor de 1976. Simas espichou-se na cadeira. Desfiaram sambas antológicos e a noite ganhava corpo. Famílias inteiras desciam dos prédios, não parava de chegar gente com compras do supermercado, e quando pedimos a conta, por volta das nove, já tínhamos a certeza de que o CANTINHO DO CÉU era nosso, definitivamente nosso.

conta discriminada do CANTINHO DO CÉU de 16 de novembro de 2008

A conta, diga-se, deu uma ponta de saudade do RIO-BRASÍLIA, tamanha a semelhança do modus operandi insculpido no papel da embalagem de cigarro. Mas o CANTINHO DO CÉU - um tremendo buteco!!!!! - não nos deixou sentir a dor da perda. 1 caipivodka, 4 maracujás, 1 água sem gás, 2 refrigerantes e 15 cervejas - R$ 68,90.

Fechamos a noite com chave de ouro bebendo a saideira na companhia do Berinjela que - vejam vocês a gentileza da gente tijucana - fez questão de falar, pelo telefone, com o Favela (leia, aqui, BEBENDO COM O BERINJELA pra entender o por quê).

Até.

10 comentários:

Jose disse...

Felizes de novo.
Parabens pelo o novo paraiso da Tijuca.
Cantinho do Ceu. Adoro ler Suas historias de balcao com os seus amigos(as).

Lucio Lemos disse...

Eu te disse! O bar é uma coisa linda.

Basta chegar na Maestro Villa-Lobos para sentir algo de diferente.
Há uma sintonia entre rua e bar!
Entre amendoeiras e os velhos que aparecem no cercadinho do salão ao lado!

Falando no Cantinho, não voltei lá para tentar pegar meu guarda-chuva...

Abraços!

Luiz Antonio Simas disse...

Absoluta verdade! Absoluta verdade! Eu, que já tinha começado a encher os cornos no Columbia durante o almoço, decidi elevar o Cantinho do Céu a condição de um novo e fundamental endereço ao mirar as amendoeiras mais impressionantes do mundo; cada árvore daquelas tem, no mínimo cento e cinquenta anos. Detaque-se que o bar fica rigorosamente entre a casa do Cereal, a tua e o meu modestíssimo apartamento. É um ponto de integração preciso.
Voltarei ainda esta semana em mais uma expedição de reconhecimento; vou com a intenção de bater um rango.
Beijo

Felipe Quintans disse...

É isso, Simão. A única coisa que nos falta ali é bater um rango na parte da manhã. Parece que a comida é boa, estou querendo comer o angu de 7 pratas. Depois disso é correr pro abraço, o bar realmente é bom pra caceta, muita família. Aquilo é TIJUCA.

Excelente cervejada com tremoços a de ontem.

Eduardo Goldenberg disse...

José: obrigado e um abraço!

Lúcio: o bar é tão família, cara, que é muito provável que seu guarda-chuva esteja lá! Abração.

Simão: esse seu comentário merece um texto à parte. Aguarde! Beijo.

Eduardo Goldenberg disse...

Felipinho: graaaaande tarde, graaaaande noite! Do primeiro gole de cerveja no CANTINHO DO CÉU ao último de uísque lá em casa! Beijo.

Szegeri disse...

Eu que o diga.

Eduardo Goldenberg disse...

Mano Szegeri: eu, que JAMAIS (com a ênfase szegeriana) fui capaz de um telefonema para você, depois de uma derrota do seu Palmeiras, com o intuito de sacaneá-lo, resisti o quanto pude às investidas do Simão. Ele ficou, como um desses diabinhos de desenho animado, com o celular fazendo o papel de tridente, dizendo no meu ouvido:

- Liga, liga, liga.

Eu ainda tentei:

- Se eu ligar vai ser pra saber da Rosa.

Pra quê?!

O homem foi ao delírio.

E deu no que deu.

Beijo.

Luiz Antonio Simas disse...

Eu? Eduardo, Eduardo...

Eduardo Goldenberg disse...

Luiz Antonio: você está querendo detalhes demais. É disso que eu me lembro, pô!