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BUTECO levanta as portas de aço, hoje, pra falar um bocadinho mais sério do que de costume. O momento pede, e eu explico.
O Brasil assiste, neste final de ano de 2008, a uma das maiores tragédias naturais de nossa (curtíssima) história. O estado de Santa Catarina, assolado por chuvas incessantes durante mais de sessenta dias, entrou em colapso. Até o momento há registros oficiais de 69.114 (sessenta e nove mil cento e quatorze) desalojados e desabrigados, sendo 21.219 (vinte e um mil duzentos e dezenove) desabrigados e 47.895 (quarenta e sete mil oitocentos e noventa e cinco) desalojados - são considerados
desabrigados aqueles que se encontram em abrigos provisórios em razão da perda total de suas casas, e são considerados
desalojados aqueles que foram obrigados a se deslocar, mas que não estão em abrigos provisórios, não perderam suas casas, e que estão em casas de parentes ou amigos. São, até o momento, 117 (cento e dezessente) óbitos e 31 (trinta e um) desaparecidos confirmados. Estes dados foram retirados do
site www.desastre.sc.gov.br criado pela Defesa Civil de Santa Catarina.
Na minha humílima opinião, a tragédia assume, e muito mais, ainda, por estarmos em dezembro, uma dimensão gigantesca.
É preciso termos em mente que aproximadamente 70.000 (setenta mil) pessoas estão em situação extremamente crítica, sentindo na própria pele, na própria alma, a dor da perda e da angústia. É preciso termos em mente que essas 70.000 (setenta mil) pessoas têm parentes, têm amigos, têm colegas de trabalho, e se formos pensar no efeito cascata dessa dor e dessa angústia podemos chegar a um número ainda mais impressionante de pessoas envolvidas no olho do furacão da tragédia. É preciso termos em mente que estamos falando de pessoas, de seres humanos, de gente - irmãos nossos, portanto. E é preciso que nesse momento a palavra "irmão", que vira-e-mexe usamos para nos referirmos ao nosso próximo (com inúmeras variantes, "mano", "maninho") ganhe uma dimensão mais intensa e mais próxima da verdadeira acepção da palavra, para que, dividindo a dor da perda e da angústia, sintamo-nos envolvidos a ponto de agir, efetivamente.
Percebo, daqui, meus poucos mas fiéis leitores, seus indicadores apontados em direção a mim, furando o monitor e aproximando-se de meu nariz, acusando-me de proselitismo. Ouço alguns de vocês fazendo as perguntas em tom de desafio: "e os necessitados do dia-a-dia?", "e os desabrigados sem tanta cobertura por parte da imprensa?", e outras do mesmo gênero. É verdade que há, em torno de nós, muita gente precisando, sempre, de muito auxílio, e no mais amplo sentido. Mas é verdade, também, que essas tragédias coletivas e de grandes proporções são capazes de causar comoção maior, quem sabe servindo de mola propulsora para esse sentimento que nos impele ao trabalho e à mobilização em prol das vítimas desses grandes (e também pequenos) desastres.
Disse eu, lá em cima, que por estarmos em dezembro, mês do Natal, a tragédia que machuca a população de Santa Catarina assume uma dimensão gigantesca. Vou explicar por quê penso assim.
Em dezembro, mês do Natal, a fúria consumista das pessoas chega ao extremo. O que se vê são
shoppings lotados por uma multidão atônita e autômata com sacolas nas mãos, supermercados lotados por uma multidão atônita e autômata com sacolas nas mãos, gente comprando, comprando, comprando, gastando, gastando, gastando, e tudo me soou, sempre, muito patético (soa, ainda mais, neste dezembro de 2008).
O Natal é uma festa eminentemente cristã. Não significa nada, por exemplo, ao menos no que diz respeito ao sagrado, para judeus e muçulmanos (há uma excelente matéria sobre o tema, na revista BRASILEIROS, de novembro de 2007, que pode ser lida
aqui). Não comove, no sentido efetivo do simbolismo da data, adeptos do candomblé, budistas.
Mas somos, é o que diz o censo realizado no ano de 2000 pelo
IBGE, uma nação cristã. Não vou me ater à metodologia da pesquisa (falta-me competência para tal) nem mesmo à confusão que é a religiosidade do brasileiro. Mas o que não falta, por aqui, é gente que se diz católica apostólica romana tomando passe em centro espírita, consultando babalaôs na hora do sufoco, pais e mães espíritas batizando seus filhos na Igreja em nome da conveniência social, judeus em terreiros de umbanda em busca de conselhos com caboclos brasileiros, e por aí vai... Enfim... Segundo o
IBGE, 73,6% dos brasileiros se declararam católicos, 15,4% evangélicos, 1,3% espíritas, 0,3% umbandistas e canbomblecistas, 1,8% de outras religiões e 7,4% sem qualquer religião.
Ou seja... inapelavelmente fazemos parte de uma nação cristã que, portanto, tem no Natal a data propícia à comemoração do nascimento de
Jesus Cristo. Não pretendo (não é o objetivo do texto) ficar aqui discutindo a figura de
Jesus Cristo, mas parece-me senso comum que o homenageado em
NADA (com a ênfase szegeriana) combina com a suntuosidade do Natal dos dias de hoje (mais precisamente, de 1950 pra cá, num lamentável crescendo).
Onde quer que se busquem registros da passagem do aniversariante pela Terra, só encontraremos referências a um homem de hábitos simples e humílimo. Razão pela qual soou-me sempre patética (soa, ainda mais, neste dezembro de 2008, e a repetição é proposital) a festa que se faz, a fartura
intramuros que se promove, a distribuição efusiva de presentes, a preocupação permanente com a ostentação e
NENHUMA (com a ênfase szegeriana, de novo) preocupação com uma efetiva homenagem ao homem que, com seu nascimento, marca o início da era cristã.
Dito isso, parece-me que essa tragédia, de proporções estarrecedoras em meio ao mês de dezembro, deveria servir como um chamamento à consciência das pessoas que, nesse momento, fazem listas imensas de presentes para quem já tem de tudo, fazem planos de ceias fartas de comida e de bebida, diante de centenas de milhares de pessoas que perderam tudo - e que não podem perder a esperança.
Por isso, meus poucos mas fiéis leitores (cristãos ou não, que fique claro!!!!!), é esta a convocação modesta que faço.
Se você tem tempo e disposição para o voluntariado, e se especificamente mora na região sul (sei, por
emails que recebo, que tenho muitos leitores no sul do Brasil), leia isso
aqui com a certeza de que, havendo disposição para o auxílio, haverá um trabalho a sua espera.
Se você quer fazer doações em dinheiro (veja
aqui as contas disponibilizadas para tal) ou doações de qualquer outra natureza, clique
aqui (para saber o que doar, clique
aqui).
Uma informação importante, divulgada no mesmo
site: as doações chegam até os abrigos através de uma logística criada pela
DEFESA CIVIL de Santa Catarina, que está coordenando o encaminhamento de todas as doações para os seis
CENTROS DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO montados pelo
GOVERNO DO ESTADO, através das
SECRETARIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL (
SDRs), nas cidades de Timbó, Jaraguá do Sul, Blumenau, Itajaí, Joinville e Brusque. As
SDRs coordenam a distribuição, de toda a ajuda para os abrigos dos municípios afetados pelo desastre. Doações de outros estados são encaminhadas sob a coordenação da
SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL, que trabalha articulada ao Estado de Santa Catarina.
E é importante dar esta informação, já que infelizmente há quem se valha desses momentos para a lamentável e condenável prática do desvio das doações. É importante, portanto, que uma vez dispostos ao auxílio aos necessitados tenhamos o cuidado de não sermos fatores facilitadores dessa prática criminosa.
E por último: se você é morador da Tijuca, quer doar alguma coisa e não tem tempo ou meios de encaminhar sua valiosa doação para Santa Catarina, eu me disponho a buscá-la.
O núcleo filiado da
SBEE no Rio de Janeiro, comandado por gente em quem tenho aguda confiança, conseguiu um também confiabilíssimo contato na rádio
JOVEM PAN que, por sua vez, comprometeu-se a levar todo o material arrecadado pela
SBEE até Santa Catarina.
Eu, então, estou disposto a buscar a doação em sua casa e levá-la até a
SBEE a fim de que chegue, de forma segura, a quem de fato precisa. Querendo, me escreva por
aqui.
Eu não sei se, alguma vez, em algum momento, você doou algo para alguém, nesse contexto e nesse sentido mais efetivo do que significa a caridade que dignifica, não a caridade que é puramente assistencialista e capaz de manter distantes os pólos do gesto (quem dá e quem recebe). Experimente. Destine o dinheiro (ou parte dele) que você pretendia gastar com presentes faustos e com uma ceia abundante, para esta causa. Fará, também a você, creia em mim, um bem danado.
Até.