29.6.09

CENAS TIJUCANAS

Reuniu-se ontem, desde o começo da manhã, uma turma que vou lhes contar. Feita a feira, fomos ao BAR DO CHICO, eu e Luiz Antonio Simas. Aos poucos a mesa foi crescendo, e vieram Felipe Quintas (El Pipo) - ansiosíssimo com a disputa pelo terceiro lugar na Copa das Confederações entre Espanha, seu país do coração, e África do Sul, do nosso bravo Joel Santana), e meu cunhado, Marcelo, que veio de Guarulhos pra conhecer a esquina, e Carlos Andreazza (egresso do jogo que sagrou o Flamengo bicampeão brasileiro de basquete), e José Sergio Rocha, e nosso xerife, o Flavinho com sua Betinha, e mais e mais e mais e mais (ando discretíssimo, não há razão para lhes contar tudo).

O que quero lhe contar é que assistíamos ao Brasil e Estados Unidos pela final da Copa das Confederações na menor TV da cidade (peço o testemunho dos presentes). Na contramão da moda que pede televisões de LCD gigantescas (as mais humildes biroscas têm dessas televisões), o BAR DO CHICO mantém pendurada no teto uma 14 polegadas com bombril na antena (o bombril foi trocado ontem, segundos antes do jogo, pelo próprio Chico).

O jogo foi aquela chatice, viramos o primeiro tempo perdendo de dois a zero mas a camisa canarinho (menosprezada por grande parte do time no final da partida que preferiu exibir ao mundo seu amor, sua devoção e sua fé em Jesus, deixando pra lá o orgulho de vestir a mais respeitada camisa do mundo) falou mais alto e vencemos por três a dois.

Pausa: independentemente das regras da FIFA, fosse eu dirigente da CBF e os jogadores seriam proibidos de exibir qualquer mensagem antes, durante e depois das partidas. Vivemos num país laico e essas demonstrações de cunho religioso (para não ter de me estender mais) são lamentáveis. Cada um que cuide de sua fé dentro de casa. Voltando.

O que queria lhes contar é apenas o seguinte: no instante em que o Brasil marca o terceiro gol, na cabeçada do Lúcio, vira-se um biriteiro que assistia ao jogo de pé, no balcão, e grita de braços abertos como um Cristo Redentor se dirigindo à Estátua da Liberdade (para delírio da assistência):

- The house is down!

Até.

17 comentários:

Daniel A. de Andrade disse...

Fiquei feliz com a vitória no campo, foi grande.

Mas, "I belong to Jesus" foi demais para mim. Desliguei a TV, parei com a cerveja, e parti (já com raiva até do Lúcio) para o Wisky, único remédio que me faz ter paciência (eis a palavra) para assistir os jogos do time horroroso "montado" pela Unimed.

Abraço,

Daniel A.

Carlos Andreazza disse...

"The house is down" - que ouvi, bem ao meu lado - foi a frase do final de semana e, sem dúvida, uma homenagem ao brasileiro supremo que é Joel Santana; porque, à vera, o que importa é se fazer compreender.

Grande domingo, Edu!

Abraço!

Eduardo Goldenberg disse...

Daniel A.: é perniciosa essa mania, tolerada pelos dirigentes da CBF, de exibir a fé - e ainda mais em inglês. Fôssemos um país bem representado pelos comandantes do futebol e esse troço seria terminantemente proibido. E o pior de todos, meu caro, nesse quesito, é o Kaká. Exibe sua fé em inglês, enche de dinheiro a igreja da bispa que foi presa por evasão de divisas dentre outros crimes dos quais é acusada e fica tudo por isso mesmo. Um nojo! Abraço.

Andreazza: como bem disse o Simas, o brasileiro que critica o bravo Joel por conta de seu inglês é um colonizado preconceituoso do alto do cabelo à sola dos sapatos. E salve nossos domingos, malandro, cada vez maiores e melhores. Forte abraço.

Rodrigo disse...

Edu, me permita. É por isso que estou desanimado com a seleção brasileira. Eu não consigo entender essas babaquices de levantar a camisa com o nome de Jesus. Ontem quando acabou o jogo, quando vi o Lúcio levantar a camisa com aquela frase foi o fim. Penso eu no que a televisão falaria, ou os mais intolerantes dessas religiões, se um jogador levantasse a camisa com a frase: Salve, Xangô!

Pra mim, religião não ganha jogo. Religião é algo de cada um, não precisa ficar mostrando para todos sua crença.

Felipe Quintans disse...

E jogou com um tubo de gumex na cabeça, esse KoKô. Além das camisas sobre "Dísus", muitos colocaram o uniforme com o escudo para trás, outra manifestação desastrosa.

Eduardo Goldenberg disse...

Pipo: tu no tienes nada que decir sobre nuestro país o sobre nuestros jugadores. Trata de tu España querida. Besos.

Felipe Quintans disse...

Não enche, porra! The house is down! Os EUA nunca devem ganhar nada em termos de futebol. Seria o fim ver os yankees levantando uma taça.

Eduardo Goldenberg disse...

Pipo: no fue o que usted hace dito, tengo testemuñas. Ao mirar la equipe del Estados Unidos de la America adentrando el gramado usted gritou:

- Salve Colombo! Arriba Tio Sam!

Un abrazo.

ipaco disse...

"The house is down" deve ter sido uma cena realmente memorável. Quisera estar lá pra ver. Abs. pt

Blog do Pian disse...

Goldenberg,

Já sou consumidor da tua palavra escrita faz um tempinho (através das indicações do C.A e do Professor Simas).

Gosto bastante do teu buteco.

Vou dar minha singela (e sempre chatíssima) opinião sobre os dizeres das camisas.

Eu, particularmente, acho meio brega. Principalmente quando escrito em inglês.

Mas acredito que seria um autoritarismo exagerado a proibição dessas camisetas.

Sei lá, se o cara quer mostrar ao mundo essa devoção cega a Jesus, deixa ele.

Achei demais o comentário acima especulando uma camiseta "Salve Xangô".

O umbandista, apesar da campanha "Quem é de Axé diz que é", realmente não tem muito esse hábito de divulgar aos 4 ventos sua religião.

Mas eu acredito que isso vem muito da coisa da evangelização das religiões cristãs, de difundir ao máximo a boa nova do evangelho (perdoem a redundância).

Sou contra proibir. Acho que seria sacanagem.

Um abraço forte.

Rodrigo Pian

Alex Carneiro disse...

Pior foi em 2002, que o Cafu (um sujeito que não poderia ser capitão nem de time de botão) ao erguer a taça gritou algo como: - Não sei aquem eu te amo. Os olhos e ouvidos do mundo virados para ele naquele momento e o sujeito é incapaz de dizer algo que presta, salvem os panteras negras!

Malvinas Família Futebol Clube disse...

Edu,

Concordo com o Felipinho. Virar a camisa para exibir os nomes é um desrespeito do caralho !!!
E fora seleção, estou de saco cheio do Michael Jackson. Já foi tarde.

Abraços,

Luiz Antonio Simas disse...

Faço fé e confirmo do início ao fim.

Unknown disse...

Sempre que um "atleta de Cristo" levanta a camisa para manifestar sua fé em Jesus, me vem à cabeça o mesmo que veio ao Rodrigo: como seria a repercussão se, no lugar de I Love Jesus, a frase fosse Saravá, Umbanda! ou Eu amo Iemanjá. O que você acha, querido, que diria o Galvão Bueno, os colunistas esportivos d´O Globo e os seus respectivos leitores?

P.S: adianto que sou contra qualquer manifestação religiosa em campo.

Eduardo Goldenberg disse...

Paulo: quem esteve lá, viu. E foi, todos podem atestar, uma cena de antologia. Aquele abraço.

Pian: obrigadíssimo pelos imerecidos elogios, muito obrigado mesmo. Não consigo pensar em autoritarismo. Ali, são todos da CBF e devem seguir as regras ditadas pelos dirigentes. Se eles fazem essas palhaçadas no meio de um jogo são punidos com cartão amarelo (ou vermelho) e aí não mora autoritarismo algum, mas cumprimento de regras. Forte abraço.

Casé: você diz isso - "já foi tarde" - apenas porque não é parente dele. Pense na dor da mãe, na dor do pai, dos irmãos. É de extremo mau gosto, de um mau gosto olímpico, o desejo e o festejo da morte alheia. Um abraço.

Bruno Ribeiro: não sei o que diriam os jornalistas, os comentaristas, não sei mesmo. Acho, sinceramente, que nada. Teríamos, no máximo, manifestação de intolerância de alguns; como essas nossas. Razão pela qual, nada melhor do que a proibição desse troço. Um beijo.

Daniel A. de Andrade disse...

A proibição defendida no texto não me parece autoritária. Vivemos em um país laico, como precisamente observado no texto.

E, em que pese ser a liberdade religiosa, uma garantia fundamental, quando se está a serviço do país (e os jogadores estão), não se deve permitir propaganda religiosa. Não vejo autoritarismo nesse tipo de proibição, especialmente por conta do laicismo do estado.

A questão é saber até que ponto somos, realmente, um estado laico, e qual a extensão axiológica disso. Será laico um Estado que permite a seus tribunais – inclusive sua maior corte – afixar nas paredes das salas de sessões e audiências (onde, bem ou mal, se decide acerca do destino de vários cidadãos), um crucifixo?

Seja como for, laico ou não (foda-se!), o Dunga, largo que só ele, e debaixo de porrada de tudo que é lado, vai conseguindo resultado.

Abs.,

Daniel A.

Malvinas Família Futebol Clube disse...

Edu,

Sinceramente, não foi minha intenção "festejar" a morte de ninguém. Transferi para o falecido toda a minha bronca com essa imprensa sensacionalista.
Errei. Você está certo.

Abraços,

Casé