31.7.09

DO DOSADOR

* estive ontem ao lado de mais de 30.000 pessoas, no Maracanã, para ver a vitória de virada do Flamengo sobre o Atlético Mineiro por 3 a 1. O jogo foi, em tudo, perfeito, e desde muito antes de entrarmos no estádio - que jogo de futebol, meu poucos mas fiéis leitores, pra torcedor que se preze, começa muito antes do apito inicial. Às sete e meia da noite já bebíamos na concentração no BODE CHEIROSO, na General Canabarro, comandado pela fabulosa Martha (ou seria Marta?). Eu, Bemoreira, Henrique, Tiago Prata, garrafas de Antarctica derrubadas (Leo Bemoreira Boechat chegou e primeiro e decidiu o rótulo), uma generosa porção de salaminho fatiado pelo Bigode e tomamos a direção do maior do mundo (será sempre, e para sempre, o maior do mundo). A idéia era garantir o tanque cheio durante os 90 minutos a seco, que ninguém pode ver futebol no estádio bebendo Itaipiva sem álcool. Qual o quê?! Encontramo-nos, nas arquibancadas, com Felipinho Cereal, que fora assistir a derrota de seu América para o Artsul por 2 a 1. Qual um cão perdigueiro, perserverante, ágil, atento e um grande farejador, Felipinho Cereal apareceu, nos primeiros minutos do primeiro tempo, com latas de Antarctica, geladíssimas, obtidas após uma fabulosa perseguição atrás de um vendedor portando uma suspeitíssima bolsa de plástico branco de onde pingava a água do gelo! Aliás, preciso lhes contar isso. Havia uma esquema incrível no estádio. Os vendedores de cerveja, todos, tinham rádios. Comunicando-se com eles, umas espécies de maitres espalhados estrategicamente a cada dois setores das arquibancadas indicando a posição da freguesia sedenta. O que nos garantiu, até o apito final, cerveja estupidamente gelada pelo mesmo preço da sem álcool. Decidimos, eu e Bemoreira, que levaremos o Felipinho a todos os jogos, pagando seu ingresso e os 10% do consumo;

* final do jogo e tomamos o rumo do ACONCHEGO CARIOCA e depois do PETIT PAULETE, na Praça da Bandeira, onde comemoramos a vitória até pouco depois de uma da manhã. Praça da Bandeira, quero repetir. A praça não dá bandeira, como sugeriu Luciana Fróes, em lamentável e deselegante reportagem n´O GLOBO (onde mais?);

* eu gostaria de lançar, aqui, uma campanha cívica, uma cruzada nacional. Peço a todos vocês, meus poucos mas fiéis leitores, que procurem nas redondezas (mercados, supermercados, quitandas, delicatessens, o diabo!) por garrafas de Macieira, o Macieira Cinco Estrelas. Peço, mais, que perguntem pelo preço da unidade e pela quantidade disponível. Há um amigo meu, um queridíssimo amigo meu que me pede sigilo de sua identidade, precisando (o verbo foi usado por ele) estocar Macieira em casa. Rumores dão conta do fechamento da fábrica, pelo que urge atender ao necessitado. E-mails, por favor, por aqui;

* domingo, quero repetir, vai tremer a esquina da Pardal Mallet com Afonso Pena. Com Luiz Antonio Simas de volta (ele está pra chegar, leiam aqui) e com jogo do Flamengo no Maracanã às 16h, o dia promete;

* sugiro a vocês, por fim, que comprem a edição de amanhã do JORNAL DO BRASIL. Este que vos escreve estará lá, no CADERNO IDÉIAS, com texto ilustrado pelo Stocker, criador do genial Tulípio (vejam aqui).

Até.

30.7.09

ELE ESTÁ PRA CHEGAR

Luiz Antonio Simas, vocês sabem, está passeando em merecidas férias pelo nordeste brasileiro (não há outro nordeste para ele). O passeio, feito (é evidente) na doce companhia de sua companheira, uma mulher cândida do alto da cabeça à sola dos sapatos, lhe custou um bom dinheiro. Mas o que eu quero precipuamente lhes contar é o seguinte: Luiz Antonio Simas gastou mais com ligações para o Rio de Janeiro do que com a viagem, passagem aérea, hospedagem e o diabo. Sua saudade dá – eu sei que dá – até dor de dentes, nevralgia, febre, o escambau. Vamos a exemplos práticos.

Luiz Antonio Simas no BODE CHEIROSO em 28 de maio de 2009, fotografia de Felipe Quintans

Estava eu, no domingo retrasado, na companhia de Felipinho Cereal (iríamos, mais tarde, ao jogo São Cristóvão e América), na feira da Vicente Licínio. Oito da manhã e canta meu celular. Na tela, a fotografia reluzente da careca do Simas:

- E aí? Estão na feira?

Ao fundo, o muxoxo:

- Luiz Antonio, vamos ao Centro Histórico!

E ele:

- Já foram ao pastel do Bigode?

- Já, já!

- Compra um pra mim e despacha na esquina!

Desligamos.

Quarenta minutos depois, dá-se o mesmo:

- Já no Chico?

- Já, já!

A voz, ao fundo:

- Luiz Antonio, vamos, Luiz Antonio!

- Já pediram alguma coisa pra comer?

- Salaminho!

- Hummmmm... – e eu podia ver-lhe os beiços úmidos pedindo uma fatia.

Eis que passaram as semanas e o negócio continuou (só durante o jogo São Cristóvão e América foram – o quê?! – quatro, cinco ligações pra saber o placar!). Estamos agora a menos de 24 horas de sua chegada e os testemunhos são unânimes: Luiz Antonio Simas ligou dezenas, centenas de vezes para os amigos a fim de aplacar a saudade que fez de sua viagem uma duna de tristeza e um lençol de amargura (o ápice da viagem seria, dizia seu roteiro, a visita aos Lençóis Maranhenses, mas ele foi um homem carente da esquina da Pardal Mallet com Afonso Pena desde o instante do embarque, no Galeão).

Domingo, então, anuncia-se uma mesa de peso naquela sacrossanta esquina. Os ânimos estão exaltados, exaltadíssimos, e um leitor, a quem sequer conheço, parece que antevendo a gloriosa manhã de domingo na Tijuca, escreveu-me dizendo apenas “me chama, me chama, me chama”, como se fosse um Lobão por e-mail. Ora, vá plantar batatas (e peço perdão a vocês, meus poucos mas fiéis leitores, mas era preciso o desabafo público, eis que não me dei ao trabalho de responder à mensagem do inconveniente)!!!!!

Antes de terminar, duas palavrinhas.

Duas, não. Três, três.

Quatro, quatro! Anotem aí:

01) assisti ontem, com uma tremenda vontade de estar lá, ao jogo entre Palmeiras e Fluminense debaixo de um toró tremendo (escrevi toró e lembrei-me, triste, do jogador do meu Flamengo, que sequer chuvisca). Fui palestrino da cabeça aos pés e gostei de ver mais uma vez o Fluminense perdendo, comandado pelo histérico Renato Gaúcho (uma espécie de Heloísa Helena do futebol);

02) vou ao Maracanã hoje apenas e tão-somente para gritar, até ficar rouco, o nome de Andrade, um rubro-negro maiúsculo. A diretoria do Flamengo, empenhada, como sempre, em afundar o mais querido, quer trazer o Geninho (parece) para dirigir a equipe. Lamentável;

03) sexta-feira que vem, dia 07 de agosto, o PSOL retoma suas atividades de sexta-feira no Buraco do Lume. Eles estão de recesso. Nós, não;

04) recomendo, vivamente, o vídeo exposto pelo Andreazza, presença confirmada na mesa de domingo, em seu TRIBUNEIROS (aqui).

Era isso.

Até.

29.7.09

A INVASÃO PALESTRINA

Atentem para o que vou lhes dizer. Em 07 de novembro de 2008, escrevi PALMEIRAS: UM FENÔMENO NO RIO, leiam aqui, texto que fez (ainda faz) gigantesco sucesso gerando, até o presente momento, 56 comentários (dez vezes mais que a média de público de qualquer debate político [eles não fazem comício] promovido pelo PSOL). Tratava do fênomeno da proliferação aguda de torcedores do Palmeiras na cidade do Rio de Janeiro. Em 12 de dezembro do mesmo ano, e sobre o mesmo tema, escrevi PROVAS CABAIS, leiam aqui. Em 21 de dezembro, escrevi PROVAS CABAIS, repetindo o nome e o mote, leiam aqui. E em 08 de maio de 2009 tornei a publicar novo texto com o mesmo nome e mesmo mote, PROVAS CABAIS, leiam aqui. Pois bem. Feito o intróito, vamos aos fatos.

É sabido e consabido que em 1976 houve, aqui no Rio, a chamada invasão corinthiana. Para a disputa da semifinal do Campeonato Brasileiro daquele ano milhares de torcedores do Corinthians atravessaram a Dutra em centenas de ônibus fretados e tomaram o Maracanã de assalto (o que não chega a ser uma graaaaande vantagem, já que a torcida do Fluminense está para o futebol assim como o PSOL para a política: um permanente fracasso de público). Mas houve, é fato, a invasão corinthiana.

Disse isso tudo para lhes contar o seguinte.

O BUTECO DO EDU registrou ontem, 28 de julho de 2009, um recorde.

Breve pausa.

Escrevi 28 de julho de 2009 e lembrei-me que no sábado passado, 25 de julho, comemorou-se, pela primeira vez, aqui no município do Rio de Janeiro, por obra, graça e iniciativa de um vereador do PSOL, o Dia Municipal da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha (vejam aqui). Não me consta que o autor da importantíssima lei tenha promovido qualquer festa (o PSOL adora festa) para dar algum sentido à sua iniciativa. Se alguém souber de alguma coisa, por favor, avise-me por aqui. Volto ao tema de hoje.

O blog tem suas visitas controladas por três contadores. O SITEMETER (aqui) registrou 799 visitas únicas e 1.097 page views; o EXTREME TRACKING (aqui) registrou 754 visitas únicas e 1.023 page views; e o GO STATS (aqui) registrou 728 visitas e 1.097 page views.

A que se deveu - eis o que queria lhes contar desde o início! - o fenômeno?

A torcida do Palmeiras, a massa palestrina, grande parte dela egressa da organizada ACADÊMICOS DA SAVÓIA (vejam aqui) literalmente invadiu o balcão virtual do BUTECO e cravou o recorde absoluto de visitas num só dia (os contadores têm mecanismos fabulosos de rastreamento das visitas!). Houve muitos comentários aos textos a que me referi no primeiro parágrafo do texto de hoje e eu fiquei - confesso - feliz com o troço.

Eu, que jamais escondi de vocês a simpatia que tenho pelo Palmeiras, muito por conta do homem da barba amazônica, Fernando José Szegeri, um dos maiores palestrinos do Brasil (vejam aqui que eu me fantasiei de Fernando José Szegeri no Carnaval de 2007, com a camisa do Palmeiras!, e na foto estou ao lado do palmeirense Fernando Borgonovi e do corinthiano Julio Vellozo).

A ele, Fernando José Szegeri (encho a boca para lhe dizer o nome), a Fernando Borgonovi, aos palestrinos da família Tirone, a Marcus Gramegna, ergo o copo num brinde confessando que me invade uma vontade absurda de embarcar pra São Paulo, hoje ainda, para ver Palmeiras e Fluminense ao lado deles.

E me permitam: Obina! Obina! Obina! Assim mesmo, três vezes.

Até.

28.7.09

A EMOÇÃO DO ANDRADE

Quando o árbitro apitou o final da partida Santos 1 x 2 Flamengo, na Vila Belmiro, no domingo passado, lembrei-me primeiro do Gordo, o único santista que conheço (conheçam o Gordo, aqui). Depois, imediatamente depois, fui arremessado ao passado diante da imagem do Andrade, o Tromba (que era como o inesquecível Jorge Cury o chamava), craque rubro-negro do eterno timaço campeão do mundo em 81 e hoje técnico interino do Flamengo (fica, Andrade, fica!!!!!), chorando olimpicamente diante das câmeras.

Por que chorava, o Andrade?

E por que choro eu, agora, lembrando-me das lágrimas do Andrade?

Disse, o cracaço, à imprensa, que dedicava a vitória ao goleiro rubro-negro Zé Carlos, morto dias antes. Chorava, portanto, de saudade do companheiro. Mas chorava também, digo sem medo do erro, por conta de seu rubronegrismo incontestável, por conta da quebra da escrita consignada naquela vitória de virada no campo do Santos, por conta de seu êxito, e do time, em meio à tanta podridão na Gávea - e há tantos anos.

O choro do Andrade foi o retrato da anti-CBF, da anti-FIFA, da anti-diretoria do Flamengo, nas mãos de Kléber Leite, de Plínio Serpa Pinto, de Michel Assef, de outros tantos que, à moda dos coronéis que não largam Brasília por nada, vivem e sobrevivem às custas de manobras escusas à frente do mais querido do Brasil.

A pergunta de sempre: como pode o Flamengo, o clube com mais torcedores no Brasil (de longe, de longe!), viver na penúria, de pires na mão como o ceguinho da rua do Ouvidor???, apud Nelson Rodrigues.

O choro e a emoção do Andrade representam um alento pra alma dos torcedores apaixonados que querem do Flamengo apenas as vitórias, as conquistas e as glórias - não a subsistência e o meio de vida.

Ele, Andrade, que foi responsável por uma das minhas maiores alegrias de torcedor. Corria o ano de 1981, dia 08 de novembro, e eu estava lá, 12 anos de idade, nas arquibancadas do Maracanã assistindo Flamengo e Botafogo, e sem entender o por quê daqueles possessos à minha volta gritando "queremos seis!" depois do quarto gol, aos 39 do primeiro tempo. Só fui entender durante o intervalo, ouvido grudado no radinho de pilha, quando soube do 6 a zero imposto pelo Botafogo nove anos antes. Vingança, era o que queria a torcida. Vingança, foi o que passei a desejar com ares de santo, eis que a vingança, o ódio, a raiva, são sentimentos santos no estádio de futebol.

E veio o quinto gol e o Maracanã transformou-se numa catedral de concreto, os fiéis contritos, a fé cega, a insanidade luminosa em cada olho rútilo, em cada lábio trêmulo, em cada baba elástica pendendo dos rostos tensos, em cada promessa feita com as mãos postas e de joelhos (não se preocupem, eu não enloqueci, é que Nelson Rodrigues está fumando na sala).

Aos 42 minutos do segundo tempo, Andrade toca para Adílio, este para Lico, Lico de volta para Andrade, que então abriu para Adílio pela esquerda. Adílio cruzou, Zico ganhou o mano a mano com Jorge Luiz e a bola sobrou limpa para Andrade. O camisa 6 bateu forte, inapelavelmente de primeira, na veia (e corria em suas veias o sangue de todos os rubro-negros presentes e ausentes, vivos e mortos), e marcou o gol histórico que explodiu o estádio - e foi um Deus nos acuda!!!!!

Anos depois, durante o lançamento do belíssimo livro FLAMENGO UMA EMOÇÃO INESQUECÍVEL, estendi a página pro Andrade, eu já de olhos marejados, e disse:

- Assina esse gol pra mim, Andrade.

Meus poucos mas fiéis leitores, eu juro. Andrade abriu o berreiro, tomou a caneta de minhas mãos, ambas trêmulas, e assinou aquele que foi, sem dúvida, um dos mais impactantes momentos de minha vida de torcedor.

do livro FLAMENGO UMA EMOÇÃO INESQUECÍVEL

Rezei, no domingo passado, cheio de fé, para que suas lágrimas se transformassem num maremoto capaz de varrer das pedras pisadas do cais rubro-negro os corais e os sargaços que ferem nossos pés de fiéis em cada procissão, que cada jogo é um auto de fé.

Fica, Andrade! Fica!

Leiam (e vejam o vídeo), também, FLAMENGO E EU DE CALÇAS CURTAS, aqui.

Até.

27.7.09

NAVALHA

Na sexta-feira passada (que não era da Paixão), mostrei a vocês, meus poucos mas fiéis leitores, a faixa SONHO DE CARAMUJO, na voz de João Bosco, fruto da minha parceria preferida (de longe, de longe!), João Bosco e Aldir Blanc, gravada no mais recente trabalho do João (aqui).

É com imensa alegria que publico, hoje, a letra, e disponibilizo o áudio de mais uma pérola dos dois.

Aldir é mesmo o maior, um monstro, um bruxo. A canção tocará fundo, tenho certeza, no peito de todos aqueles que, como eu, são escravos dos raios de luz que dão graça e dor, na mesmíssima medida, às nossas vidas.


"Teu sorriso é uma navalha
que abre o meu coração.
O sangue pelo peito
é do Cristo na Paixão.

Aí eu fui crucificado
nos cravos do seu amor.
Não, não me lembro de outra coisa
que me causasse tanta dor.

Mesmo pregado na cruz
sinto falta da navalha.
Sou escravo, Deus me valha!,
daquele raio de luz..."


Até.

24.7.09

SONHO DE CARAMUJO

Quando o BUTECO entrevistou o João Bosco, em 16 de março de 2007, leiam aqui, ele nos contou, dentre tantas e tantas histórias (a entrevista é imperdível, modéstia à parte), que havia acabado de compôr, depois de muitos anos de afastamento, um samba novo com Aldir Blanc. Abaixo, reproduzo o trecho da entrevista em que o João menciona a retomada da parceria:

"JB: 13 pontos é sagrado! Loteria Esportiva são 13 pontos, são 13! Eu ganhei um dinheiro compatível com a compra de um apartamento de dois quartos no Jardim Botânico, naquela época! Eu! Metade. Quer dizer que a outra metade também... Então aquele dinheiro daria pra comprar um apartamento de quatro quartos (todo mundo ri)!!! Mas por razões pessoais eu não posso dizer aqui porque é que eu e Paulinho não alardeamos essa notícia e nem fizemos um samba falando disso... (todo mundo ri, João ri muito...). Só jogamos uma vez e ganhamos uma vez! Fizemos um triplo no Vasco e Flamengo, foi a primeira coisa que a gente resolveu na hora de marcar o cartão, que foi pago com cheque, que estávamos duros, o cara fechando a loja... Embaixo do Cine Veneza... O cara fechando a loja e o Paulinho pedindo pra aceitar o jogo... Dois triplos, só! Pagamos o dobro da aposta mínima... 13 pontos! Paulinho pagou em cheque e eu fui pra Cuba com Chico Buarque, Djavan, fui participar do Festival de Varadero... Passamos 15 dias em Cuba. No primeiro domingo, Paulinho em casa, 1, 2, 3, 4, 5, 12, 13, caralho! E eu ainda tinha mais sete dias em Cuba. O cartão tava em nome da minha mulher, que na hora que a gente jogou eu disse “Não bota o meu”... Eu só me dou na música, no jogo eu não tô com nada. Paulinho não quis o dele, não quis o da Lila, mulher dele... Eu falei “Bota no nome da Ângela!”... E a gente em Cuba, o Paulinho pirou!!!!! Foi uma grana, bicho, muito legal... Agora, fazer 13 pontos com Paulinho da Viola é fazer 13 pontos duas vezes! E agora eu quero fazer um disco assim, tocando... Tem um samba novo do Aldir comigo nesse disco chamado “Sonho de Caramujo”...

EG: Tá pronto?

JB: Pronto!

EG: Mostra aí!

João pega o violão, afina, começa a cantar “Sonho de Caramujo”, a mais nova parceria com Aldir Blanc.

JB: Ele sonhou comigo... “Sonho de Caramujo”... E eu morava dentro do violão... Eu musiquei o sonho dele... E o tom desse samba remete aos puxadores da antiga, né? Tá sempre no limite... (canta de novo)... Porra... “caramujo musical”..."


Tenho a sorte e a graça de ser amigo de ambos. Na semana passada, depois de já ter ouvido a gravação de SONHO DE CARAMUJO, uma das 13 faixas do absolutamente imperdível disco NÃO VOU PRO CÉU MAS JÁ NÃO VIVO NO CHÃO (verso tirado da genial letra do Aldir), estava eu no CAFÉ GAÚCHO na gloriosa companhia de Leo Boechat (que estava na entrevista comigo, hoje meu compadre - sou padrinho da Helena!!!!!) e Luiz Carlos Fraga quando bati o telefone pro João, que não me atendeu.

Anteontem à tarde, tendo acabado de chegar da Alemanha, o João me retornou a ligação. Pude, então, dizer a ele de minha profunda satisfação e emoção, que divido com vocês, agora.

Ouçam, meus poucos mas fiéis leitores, SONHO DE CARAMUJO, a letra está abaixo.


"Nem menino eu era garotinho
Vivia adulto sozinho
Eu nunca fui aonde eu ia
Andava em má companhia
Entrava no livro que lia e fugia

Neguinho me vendo em Quixeramobim
E eu andando de elefante em Bombaim

Cumpri o astral de caramujo musical
Hoje eu gripo ou canto
Não vou pro céu, mas já não vivo no chão
Eu moro dentro da casca do meu violão"


E esse violão, e esse violão?!

Até.

23.7.09

MACONHEIRO COM MUITO ORGULHO

O que vocês acham de alguém que se diz maconheiro com muito orgulho e com muito amor (pior, que sai marchando cantando isso por aí)????? Eu não sei se vocês se lembram do texto O SUCESSO DO PSOL (vejam aqui), no qual publiquei uma foto sensacional retirada do site do deputado federal Chico Alencar e na qual aparece Renato Cinco, dica que me foi dada pelo tijucano máximo Luiz Antonio Simas. Pois bem. Vejam a pérola que achei no YouTube, onde o BUTECO lançou seu primeiro filme, A CÚPULA DO PSOL, leiam e vejam aqui.

Antes de clicarem no play, tirem as crianças da sala.


Há que se ter atenção para a ciranda que abre o filme (notem a quantidade de bolsinhas a tiracolo, bem hippies!), para a marcha de piolhentos numa estrada sem movimento (lembrei-me dos defuntos marchando no filme THRILLER, de Michael Jackson), para o desfile dos bobos cantando "eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor" (idem, idem, idem), para o homem da perna-de-pau em meio a um desfile de celerados e para a cena da panfletagem do ativista do PSOL durante a marcha da maconha.

Tsc.

Se você percebeu mais alguma coisa estranha no filme (notem a moça que, o quê?!, toma banho, cata lixo, lá atrás do protagonista, e como esse povo gosta de um pilotis!), solte o verbo no balcão!

Até.

22.7.09

GRANDE BILHETERIA!!!!!

Sem contar as visitas diretas ao blog (que não são computadas pelo YouTube), quase 300 pessoas já viram, em menos de uma semana, o primeiro filme produzido pelo BUTECO, aqui. Engrosse a bilheteria!

Até.

21.7.09

PINGOS NO IS

Vejam bem, meus poucos mas fiéis leitores, que o troço por aqui anda fervendo. Anda fervendo e tem gente que está perdendo a linha, o prumo, o rumo e é preciso que eu, dono do pedaço (o único no qual apito), diga uma meia-dúzia de palavras ao menos para que fique consignado (estou advogadíssimo hoje) o que é a verdade que me vai na alma. Não será possível, em razão do tempo, já que parto em brevíssimo para Armação dos Búzios a trabalho, pôr pingo em todos os "is" como eu gostaria. Mas vamos lá.

Escrevi o texto LÊNIN VAI AO SAMBA, um tremendo sucesso (recorde de e-mails recebidos por este que vos escreve), leiam aqui, e um leitor, Carlos Renato, a quem não conheço (o que dá ainda mais autenticidade à minha resposta), errou feio na mão quando criticou, de forma deselegante (pra dizer o mínimo), a Cristina. Citada na crônica dentro de um contexto que não convém explicar, a Cristina merece todo meu respeito, razão pela qual falei grosso quando respondi ao leitor.

Não fosse assim e eu não teria rasgado elogios a ela e ao grupo que a acompanha mais recentemente, leiam aqui, aqui e aqui.

Mas neguinho não entende nada, não tem senso de humor, e dá-se a confusão que resulta, por exemplo, no infeliz comentário a que me referi anteriormente.

Vamos ao PSOL.

Um ativista (mais de um, mais de um) tem dito por aí que eu não presto. E por que? Apenas porque o PSOL passou a ser alvo de minhas histórias, alvo de minhas críticas (tão bem humoradas quanto, na visão estrábica dos ativistas do PSOL, a exposição do presidente do Senado com orelhas de Mickey no Buraco do Lume), só por isso. Falta-lhe o humor e sobra, vê-se, a raiva odiosa (de propósito, de propósito) que tanto caracteriza o PSOL.

E vamos, por fim, à Portela.

Recebi um telefonema, na noite de domingo, de um portelense tão histórico e tão antigo quanto a águia. Disse-me ele, sério, comendo um ovo cozido (eu ouvi, pelo telefone, o som da casquinha do ovo sendo retirada):

- Edu, não fique falando mal do Picolino e do Colombo, pô! Eles são históricos portelenses!

Eu faço a pergunta em alto e bom som: e eu falei mal deles?!

Como diria Leonel de Moura Brizola... francamente!

É como diz, sabiamente, como sempre, o homem da barba amazônica: quando você precisa explicar a piada, é preferível o silêncio.

Até.

20.7.09

ONTEM EM FIGUEIRA DE MELO

Este que vos escreve, meus poucos mas fiéis leitores, esteve ontem à tarde no estádio do São Cristóvão, em Figueira de Melo, na portentosa companhia de Felipinho Cereal, o pequeno grande homem na sábia visão do homem da barba amazônica para assistir à peleja entre São Cristóvão e América. Fomos convidados - e faço aqui o agradecimento público - por Tande Biar, freqüentador assíduo do balcão do BUTECO. Ainda durante esta semana, havendo tempo (a semana promete assoberbamentos olímpicos), lhes contarei sobre a monumental tarde que passamos ali, desde a chegada aos arredores do estádio até a partida em direção ao BAR DO MARRECO, para a saideira. Com direito à panfletagem do PSOL na entrada do estádio (o maior público presente a um de seus tantos manifestos), jukebox no máximo volume numa birosca ao lado do campo (antes e depois do jogo), e - glória das glórias eternizadas pela lente de Jorge William, vejam abaixo - um ensandecido Felipinho pendurado nas frágeis grades do clube preto e branco da zona norte da cidade (notem, leitores, que em aguda oposição à manifestação do pequeno espanhol, estou do seu lado direito, em pé, assistindo placidamente ao segundo gol do América).

Felipinho Cereal, em foto de Jorge Willian, publicada em O GLOBO de 20 de julho de 2009, durante o jogo São Cristóvão e América, em Figueira de Melo, em 19 de julho de 2009, Eduardo Goldenberg à sua direita

Até.

17.7.09

A CÚPULA DO PSOL

Quando eu escrevi LÊNIN VAI AO SAMBA (leiam aqui) eu não imaginei que fosse dar a confusão que deu. Um membro da família dos leporídeos, dado à espionagem aprendida nos tempos da KGB, mandou-me, sorretairamente, imagens de uma reunião ocorrida dias depois da gafe olímpica perpetrada pelo PSOL pra cima de Vladimir Ilitch Lênin. O BUTECO DO EDU, que alia-se, com essa primeira produção cinematográfica, aos maiores estúdios de cinema dos EUA (o que aumenta a raiva da escumalha), tem o prazer de apresentar seu primeiro (de muitos, de muitos!) curta-metragem. Tirem as crianças da sala!



Até.

16.7.09

O SUCESSO DO PSOL

Fiquei sabendo, anteontem à noite, através de meu mano Luiz Antonio Simas, que o homem que aparece ao lado de Chico Alencar na foto que publiquei no texto OS DEBATES POLÍTICOS DO PSOL (leiam aqui) atende pelo nome de Renato Cinco ("carioca, 34 anos, militante do PSOL e da legalização das drogas", apresentação feita pelo próprio, vejam aqui).

Eu ainda não havia ouvido falar de Renato Cinco, razão pela qual fui rever a foto (abaixo novamente) na própria fonte de onde a tirei, site do deputado federal Chico Alencar (aqui), do PSOL.

E não pude deixar de rir com algo que havia me escapado quando de minha primeira batida de olhos sobre a fotografia e a legenda. Cliquem na imagem abaixo e se divirtam com a frase "fez sucesso nas ruas da cidade". Vou repetir: há quatro homens na foto, sem contar com o Mickey com o rosto do Sarney (ainda não entendi a piada). O próprio deputado, Renato Cinco, um outro segurando a faixa FORA SARNEY e um quarto olhando para longe.

Um sucesso, hein!

imagem retirada do site do deputado federal Chico Alencar

Até.

15.7.09

LÊNIN VAI AO SAMBA

Vladimir Ilitch Lênin tomou o metrô logo cedo, na estação Cantagalo, depois do café da manhã servido na pérgula do Copacabana Palace. Desceu no Estácio e tomou a linha 2, disposto a ter contato com o povo, que disseram a ele, durante o champagne com ovas de esturjão que lhe foi oferecido à beira da piscina do hotel, que o povo estaria lá pros lados da Pavuna. Era sábado. Lênin saltou na estação Pavuna, achou tudo muito feio – fez boquinha de nojo quando pôs os pés nas calçadas da avenida Martin Luther King – e decidiu, menos de – o quê?! – 15, 20 minutos depois, tomar o rumo de volta. Minto. Foram 25 minutos. Lênin ficou profundamente emocionado quando deu de cara com um Lada vermelho, em estado lastimável, estacionado na frente de uma oficina mecânica ao lado de um botequim, onde bebeu, para aplacar a emoção, num só gole, uma dose de Balalaika, a melhor vodka à venda no lugar.

Quando embarcou de volta com intenção de ir à praia, em Copacabana, diante do hotel, não imaginou que fosse encontrar o vagão cheio. Dentro, um grupo de jovens (“estudantes”, ele pensou) distribuía um panfleto anunciando um evento na Praça XV com roda de samba na rua da Ouvidor. “Vou”, ele disse de si para si. E teve ainda mais certeza quando viu, entre os jovens, um senhor com admirável barriga, suspensórios, uma boina de lã, barbado como ele, ajudando na distribuição dos panfletos. Decidiu, ali, calado, pensando no sufoco que enfrentou na Sibéria (a boina de lã foi fundamental para que o arremesso ao passado fosse efetivado), que seguiria aquele animadíssimo grupo.

Saltaram todos na estação Carioca. Lênin encantou-se com os arranha-céus da avenida Rio Branco. Atravessou a avenida em obsequioso silêncio e achou curioso que aquele velho, velho como ele, fosse seguido por tantos jovens (não eram tantos assim, eram cinco).

Pararam todos numa praça. O velho – não ele, o outro, da boina de lã – foi saudado por um pequeno grupo (eram pouco mais de vinte) parado diante de uma caixa de som. Um rapaz mal vestido ligou o amplificador e estendeu o microfone em direção a ele, que foi anunciado como vereador. Lênin entendeu tudo. Era – ele, espertíssimo, sacou o troço todo em questão de segundos – um comício de um partido político. Só então tomou coragem e se dirigiu ao velho da boina de lã, no instante em que ia começar o discurso:

- Senhor, o que significa a sigla PSOL?

Sem reconhecer Lênin, o velho respondeu de mau humor e desferiu um safanão, de leve, no velho bolchevique.

Lênin, abismado com a descortesia do camarada (ele ia chamá-lo de camarada até que levou o safanão), abriu os braços, fez uma expressão-máscara de incompreendido e foi quando decepcionou-se agudamente. Ninguém ali, nenhum dos aguerridos partidários do PSOL o reconheceu. Ele então puxou do bolso do casaco o panfleto que recebera no metrô e seguiu o mapa em direção à rua do Ouvidor. Magoou-se de leve quando ouviu o velho da boina de lã muxoxar:

- Velho chato!

Lênin desceu a São José, entrou à esquerda na rua da Quitanda, desceu a Assembléia à direita e foi dar na Primeiro de Março. Admirou-se com a imponência da Assembléia Legislativa e lembrou de Moscou. Com medo de ser visto ou reconhecido daquele jeito, emocionado, enxugou as lágrimas de saudade que brotavam dos olhos com a manga do casaco e tomou a direção da Praça XV. Ainda seguindo o mapa, entrou pelo Arco do Teles e chegou, finalmente, à rua do Ouvidor.

Desde muito antes ele já ouvira o som do samba (pela primeira vez, diga-se a título de curiosidade). E não escondeu o susto com a rua cheia, tomada de gente bebendo cerveja e cantando. Encostou no balcão de um bar de esquina e pediu uma dose de vodka. Um único gole e o primeiro susto.

Lênin viu que uma mocinha o vira. Pela expressão da moça (sandália de couro cru, pulseirinhas de corda no tornozelo com pequenos búzios, saia de chita, blusinha branca e cabelos desgrenhados com lêndea), boquiaberta, ele disse para dentro:

- Fui reconhecido!

Acompanhou a moça com os olhos.

Deixou uma nota de cem dólares sobre o balcão, soltou um “fica com o troco” para o garçom e seguiu a mocinha. Encostou-se no portão da igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e viu quando ela cochichou alguma coisa no ouvido de um dos músicos da roda de samba ("que engraçado esse violão pequeno"), pensou olhando pro instrumento nas mãos do músico. Este, que tinha ares de dono da roda, deu um safanão na piolhenta mas virou-se em busca de alguma coisa.

- Está me procurando... – disse de si para si, esboçando um sorriso.

Seus olhos se cruzaram. O rapaz do cavaquinho cochichou alguma coisa no ouvido do rapaz do violão, que cochichou alguma coisa no ouvido do menino do pandeiro e deu-se a correr a notícia.

Lênin chegou a suar frio quando percebeu que quase todos os músicos usavam um bottom com sua imagem preso na camisa. Um deles, tocando reco-reco, vestia inclusive uma camisa preta onde se lia LENIN em vermelho, e ele foi, ali, um russo em estado de graça.

Em coisa de quinze minutos o terreiro grande ficou pequeno diante de tamanha balbúrdia. Até que veio o intervalo. E um músico pediu silêncio:

- Gente, gente, silêncio, silêncio...

Lênin se aprumou. Iria ser anunciado.

Continuou:

- É com imenso orgulho que recebemos aqui, hoje, na roda do Ouvidor...

Percebendo que havia conquistado a platéia, bebeu um gole da bebida (“uísque”, pensou Lênin) e depois do pigarro disse:

- Guilherme de Brito!

Lênin sentiu o peso do indicador do músico no peito, ainda que à distância. Todos os olhos em sua direção. Muito barulho. Muita confusão, e Lênin notou que os músicos discutiam.

Uma outra mocinha, que não aquela primeira, saiu de uma livraria com um CD:

- Assina pra mim, seu Guilherme...

Lênin já estava chorando de tristeza, recusando o autógrafo, quando a azêmola emendou:

- Como vai a dona Nena?

Lênin apurou os ouvidos em direção à mesa dos músicos:

- Um bosta, cara! Popular demais! Um Luiz Carlos da Vila branco e mais velho!

Outro, exaltado (justamente o que vestia a camisa com seu retrato):

- Não vamos cantar porra nenhuma! Vamos de Candeia, pô! Candeia!

O do tamborim:

- Isso! Isso! E Picolino! E Colombo!

Lênin foi vaiado. Unanimemente vaiado, como nunca. Nem quando foi expulso da Universidade de Kazan, em 1887, o velho bolchevique conhecera tamanha agressividade sonora.

Saiu, pé-ante-pé, tornou ao balcão do bar da esquina e pediu outra dose de vodka ao garçom. Virou de uma só vez, deixou mais cem dólares (“fica com o troco”, ele repetiu) e tomou o rumo do metrô cantarolando a Internacional sozinho, triste, cabisbaixo, completamente destruído.

Ao vê-lo dobrando a esquina, disse um dos músicos erguendo a garrafa de uísque:

- Salve o samba de raiz! Salve o samba puro!

Um outro, visivelmente embriagado, exibindo ferozmente o bottom, berrou:

- Salve a revolução! Salve Lênin! Salve Trotsky! Viva! Viva a Cristina! Viva!
Outro:
- Salve o PSOL! Salve o PSTU! Salve a Cristina! Viva! Viva!

Foram aplaudidíssimos, os trombeteiros.

Até.

14.7.09

DO DOSADOR

* uma pequena fábula... O preço do pato está cada vez mais caro. Eu, um teimoso quase-incorrigível, estou no vermelho no banco mas continuo pagando o valor imposto pelo mercado e pelos investidores que jogam na roleta e que ditam o ritmo dos negócios. Costumo dizer, não sem razão, que sou uma espécie de Maria da Penha, a porta-bandeira rolando pela ribanceira, com uma fundamental diferença: não ateei, sozinho, fogo às vestes. No meio do salão de jogos, deixo, com um estranho prazer, que lancem queresone e gasolina sobre minhas roupas. Já encharcado e já devidamente embebido como bucha de balão, assisto sempre um, dentre os tantos que se divertem com a brincadeira, riscando um palito de fósforos e arremessando-o em minha direção, aceso. Há sempre muita fumaça mas quem tosse sou eu. Quem sente os olhos ardendo, somente eu. Quem sentes as dores das queimaduras, eu. Depois de encarnar Maria da Penha, sou Fênix. Os investidores não se dão sequer ao trabalho de empunhar um extintor, que seja. Contratam, depois de organizarem uma vaquinha informal, numa espécie de processo de expurgo, um cirurgião plástico que dá sempre um jeito de consertar o estrago visível a olho nu. E assim caminho com humildade até o próximo incêndio.

* sonhei, na noite passada, com a atriz Hattie McDaniel, a babá crioulona do filme E O VENTO LEVOU (na foto abaixo). No sonho, Hattie protestava agudamente contra a lei municipal 4.891, de autoria de vereador do PSOL, que homenageia as mulheres negras latino-americanas e caribenhas (vejam aqui). Nascida no Kansas, Estados Unidos, a doce negrona, que espumava furiosamente enquanto gritava contra a iniciativa do PSOL, ela ainda revoltada com o fato de não terem permitido seu enterro no cemitério de Hollywood justamente por ser negra, pedia-me o registro do protesto por ter sido excluída das homenagens do dia 25 de julho, que esse ano cai num sábado.

a atriz Hattie McDaniel, que interpretou a personagem Mammy em ´E o Vento Levou...´

* lembrei-me demais da tia Lita, tia-avó de Luiz Antonio Simas, quando Erasmo Carlos subiu ao palco do Maracanã pra cantar AMIGO com Roberto Carlos, no último sábado. Meu sogro, que comigo assistia ao espetáculo pela TV, havia acabado de dizer "li que eles não se falam há muitos anos, estão brigados" quando o Tremendão apareceu no telão do palco, prenúncio de sua entrada triunfal no palco, que fez o Rei chorar de dar dó. Ele, meu sogro, não entendeu nada quando eu disse que tia Lita deveria estar em festa onde quer que estivesse (leiam aqui).

* falei do show do Rei, no Maracanã, no sábado passado, e não é possível deixar de falar sobre a transmissão da TV GLOBO. A transmissão, creiam, pateticamente, não foi ao vivo embora a apresentadora Patrícia Poeta fizesse crer que sim. Não estivesse eu ouvindo a rádio GLOBO AM e eu não teria sabido que fazia (faria) papel de palhaço diante da TV.

* uma última palavra. Um cidadão por quem tenho profundo respeito escreveu-me, ontem (depois de ouvir lamúrias minhas sobre recentes episódios significativos no que diz respeito à pequena aldeia que nos cerca), o seguinte: "E o esquerdismo, já dizia Lênin, é uma "doença infantil do comunismo". O esquerdista é aquele cara que fica politicamente adolescente a vida inteira.". Só uma besta (ou um adolescente perene), do último fio de cabelo à sola dos sapatos, pisoteia em seus afetos por conta de divergências políticas.

Até.

13.7.09

UMA LEI IMPACTANTE

Não bastasse a barbaridade que foi, pelo que guarda de inútil, a promulgação da lei que institui o dia 27 de abril como o Dia Municipal do Teatro de Bonecos (leiam aqui), de autoria de vereador do PSOL, descobri outra lei, ainda mais impactante!, promulgada em 09 de setembro de 2008, de autoria do mesmíssimo político. Leiam vocês mesmos (cliquem na imagem e tirem as crianças da sala!!!!!).

retirado do site da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

E tirem suas conclusões (sobre tudo, sobre tudo).

Ah, sim. E se alguém puder me explicar pra quê, meu Deus!, pra quê isso foi promulgado?, qual a lógica do critério escolhido pelo legislador?, me explique, por favor.

Até.

12.7.09

OS DEBATES POLÍTICOS DO PSOL

Eu falo, falo, falo, incomodo os filiados do PSOL, e sei que muitos de vocês dizem, enquanto me lêem:

- O Edu é um exagerado.

Mas vejam vocês mesmos o flagrante abaixo, feito no Buraco do Lume, durante um debate político promovido pelo PSOL.

fotografia retirada do site do deputado federal Chico Alencar

Sem contar, evidentemente, com o deputado federal Chico Alencar, trepado no caixote, sem contar também com os dois gordinhos (um à esquerda do deputado, segurança, talvez, e o outro segurando a faixa na qual se lê FORA SARNEY), há apenas UMA (com a ênfase szegeriana) pessoa na fotografia; e olhando para o fundo, não prestando atenção alguma ao que dizia o parlamentar do PSOL (bem atrás do patético boneco do Mickey com a cabeça do Sarney, e eu não entendi a piada).

Provo, assim, que sou preciso do início ao fim quando digo que há um deserto de vivos e mortos nos debates políticos promovidos pelo PSOL às sextas-feiras, no Buraco do Lume.

Até.

11.7.09

27 DE ABRIL

Estou - digamos - ligeiramente revoltado. Descobri, há pouco, que a partir desse ano de 2009, o dia 27 de abril - dia em que fico mais velho - o município do Rio de Janeiro comemorará, por iniciativa de um vereador do PSOL, o Dia Municipal do Teatro de Bonecos. Um troço, assim, fundamental para a cidade.

Vejam aqui o bizarro projeto e aqui a via-crucis que foi percorrida pra que essa palhaçada fosse aprovada, depois de quase 02 (dois) anos de - imaginem! - profícuas discussões no plenário da gaiola de ouro.

Tsc.

10.7.09

NO BURACO DO LUME

Hoje é sexta-feira e, como vocês estão carecas de saber, sexta-feira é dia de debate político no Buraco do Lume, promovido pelo PSOL (o festivo partido não promove comícios, apenas debates).

Eu não sei se eu lhes contei, mas mudei-me para o Centro, depois de mais de vinte anos no Largo do Machado. Razão pela qual foi fácil atender ao convite de um amigo (não lhes direi o nome atendendo a pedido do próprio), feito na quarta-feira. Bateu-me o telefone e fez a provocação:

- Gaúcho?

Como estava no horário do almoço, topei.

Dirigi-me à esquina da São José com a Rodrigo Silva (escrevi Rodrigo e senti horripilante frio na espinha, fruto da repulsa que me queima as entranhas). Lá estava meu amigo abanando os braços como um boneco inflável de posto de gasolina. Mal pisei no bar ele disse, meneando a cabeça calva:

- Coitado do pessoal do PSOL, Edu! Por que você escreveu o que escreveu hoje?!

Referia-se, o caboclo, ao texto no qual conto o palpitante sonho que tive na noite de terça para quarta (leiam aqui).

Eu disse dando um vigoroso gole na minha água com gás:

- Foi meu sonho, ué.

E ele, cordialíssimo:

- Eu tenho pena dele, sabia?!

Eu não sabia a quem ele se referia (sabia, sim, mas não quero dizer).

Daí o meu companheiro, um senhor comentarista político, deu de falar sobre a atuação parlamentar dos membros do PSOL. De repente, mordendo o sanduíche de bife à milanesa, começou a chorar:

- Eu tenho muita pena dele, Edu... ele é fraco, fraco, pífio... E a praça... – ele engasgou.

Eu só ria, ria.

E ele, de boca cheia:

- A Mauro Duarte é a pior praça da cidade! – e me acompanhou na cena de risos, gargalhando feito Exu Caveira.

Estávamos rindo quando entrou uma moça com lêndeas (visíveis a olho nu, as lêndeas pareciam formigas percorrendo aquelas tranças de palha). Estendeu-nos um panfleto, que recusamos. Disse, ela:

- Pô, pintem aí na sexta. Vai rolar um debate dez.

O meu chapa arrotou e me perguntou:

- E o fulano, hein?!

(escrevo fulano para não acirrar ainda mais os ânimos de vingança do dito cujo)

Eu disse, grave:

- Está fulo. – quando eu disse “fulo” senti-me velho, velhíssimo, quase uma múmia estacada na esquina.

- É?

- É. E pisoteando no lema do próprio partido. – foi a deixa.

- É?

- É.

Fechei os olhos e disse:

- Socialismo e liberdade, não é isso?

- É.

- Pois o militante, possivelmente aborrecido com o que venho escrevendo, vetou meu acesso ao site do jornal O Globo...

O careca deu um salto pra trás:

- Vetou?

- Vetou. Solidário e libertário, raivoso como a esquerda do PSOL, vestido com um colete comprado na feira hippie de Ipanema, mudou a senha de acesso e não consigo mais ler o troço.

- Mentira...

- Mentira? Rapaz... esses caras, durante os almoços, durantes as plenárias, durante os debates políticos, ardilosamente buscam a vingança odiosa, vá por mim.

- Ah! – ele disse com tom de quem lembrava de algo importante.

Cravando os olhos em mim:

- Deu coelho na quarta-feira?

- Não.

Ele, rindo e limpando a boca com aqueles guardanapos que nada limpam (atestado da qualidade do buteco), disse já se despedindo:

- Coelho não dá, coelho não dá!

Até.

9.7.09

MEU PAI, UM HERÓI

Li, assombrado, ontem à tarde, o texto de meu queridíssimo Bruno Ribeiro, maiúsculo jornalista de Campinas, SP, em homenagem a Bergson Gurjão Farias (leiam o texto aqui). Eis o trecho que me deixou - como diria?! - impresssionadíssimo, chocado e para usar um termo que o PSOL adora, revoltado.

"Meu irmão, meu camarada: hoje é um dia para ficar na memória de todos os brasileiros honrados. Depois de tantos anos, depois de tanto silêncio, eis que seu nome emerge do lodo, eis que seus restos mortais ressurgem das cinzas, eis que seu exemplo imorredouro desponta no lume da estrela. Hoje é tempo de render homenagens àqueles que caíram por nós, pela liberdade, pelo povo. Hoje é tempo de brindar aos irmãos brasileiros, aos homens e mulheres que deram suas vidas pela pátria, que sacrificaram sua juventude na selva enquanto muitos compatriotas dormiam o sono dos céticos ou nem haviam nascido. Obrigado, para todo o sempre, mano Bergson. Que a bandeira vermelha e negra das valorosas Forças Revolucionárias se curve diante de ti."

Em primeiro lugar me impressionou a intimidade entre eles ("meu irmão, meu camarada"), numa explícita demonstração de admiração ao rei Roberto Carlos. Depois, eu (que sinto-me um brasileiro honrado) não tive desejo algum de guardar o dia a que o Bruno se refere na memória. Um pouco mais à frente, confesso que senti nojo com o papo de lodo e cinzas. Daí fui ficando revoltado. Quem caiu por mim? Quem caiu pela liberdade? Quem caiu pelo povo? Quem deu a vida pela pátria? Quem dormia o sono dos céticos?????

(foi para a selva quem quis)

Eu só lembrava de meu velho pai, meu amado pai, com água pela cintura, varando as noites com uma mangueira d´água resfriando os tanques da REDUC, ele que trabalhava na brigada de incêndio da Petrobras enquanto eu dormia no colo de minha mãe, sempre à espera dele, meu amado e honrado pai.

Até.

8.7.09

COMIDA DI BUTECO - CONSIDERAÇÕES FINAIS 2

Ontem eu escrevi COMIDA DI BUTECO - CONSIDERAÇÕES FINAIS (leiam aqui), os comentários pululam (são dez até o momento) e eu tenho mais a lhes dizer.

Antes, quero lhes contar sobre meu sonho de ontem (acordei suado, no meio da noite fria, de tanto que ria do enredo onírico).

Havia um vereador do PSOL cuja plataforma era a inauguração de uma praça (minha memória embaça no quesito geografia, mas quero crer que a praça fosse em Botafogo). E semana após semana, como um profeta obstinado, o vereador do PSOL organizava uma festa (praxe nas hostes do festivo partido) no terreno baldio (impossível não lembrar da cabra...) em Botafogo (decididamente, agora me lembro perfeitamente, era em Botafogo). Cinco, seis, sete pessoas - houve um dia em que doze pessoas foram ao terreno baldio festejar com o vereador do PSOL!!!!! - faziam companhia ao político. Ele bradava, como um negrão geraldino, contra o prefeito, fosse quem fosse. Urrava, com ódio socialista, contra os especuladores imobiliários, promovia debates políticos (membros do PSOL não fazem comícios) adulando as vantagens de uma praça, de um chafariz, de uns banquinhos de madeira, de um laguinho artificial. E seu assessores distribuíam, como robôs autômatos, panfletos em prol da praça. Isso durou - o quê?! - muitos anos. Até que um dia dá-se o seguinte: o prefeito (era o terceiro desde o início da campanha cívica do vereador de uma nota só) decidiu inaugurar a praça. E a inaugurou. Pois aí entra a parte divertida do meu filme noturno. Vai começar a inauguração da praça. O prefeito, cercado por vereadores da situação (o PSOL nunca é situação), está acompanhado por focas amestradas, um elefante em idade avançada, leões famélicos, palhaços, malabaristas, engolidores de fogo, e começa seu discurso, aplaudidíssimo pela claque contratada à base de sanduíche de mortadela e suco de groselha. Chama a secretária municipal de meio-ambiente e cortam, juntos, com uma tesoura enorme, a faixa inagural do coreto da praça. Do outro lado da calçada, um protesto dos filiados do PSOL, comandados pelo vereador, em pânico. Eu ouço no sonho o grito em fúria do vereador. Andando em volta dos manifestantes, eram dois apenas, um deles fumando maconha, o vereador bufava (como bufam, os vereadores do PSOL) e convocava, em caráter urgente, uma plenária do partido para decidir o novo rumo de sua atuação parlamentar. Protestava, vermelhíssimo e com as veias da carótida saltadas, pedindo uma CPI para apurar a licitação da mobiliário da praça. Eu, flanando sobre o cenário, perguntei ao vereador qual seu nome. Foi quando acordei.

Meu palpite pra hoje, no jogo do bicho, é 1939. Voltemos ao festival COMIDA DI BUTECO.

Li, estupefato, o relato de Juarez Becoza (codinome de um jornalista cujo nome real não me ocorre) em seu blog PÉ-SUJO, hospedado n´O GLOBO. Vamos a alguns trechos (leiam, na íntegra, aqui) com meus comentários:

"Saiu ontem, numa festa bacana realizada no Centro Cultural Carioca, Centro do Rio, o resultado da segunda edição do Festival Comida di Buteco na cidade."

A festa não foi bacana. O chope, quente a maior parte do tempo, foi servido em copo plástico. O cojunto contratado para a festa de encerramento (em Belo Horizonte, onde nasceu o evento, o show foi da Beth Carvalho) era... bem, isso deixa para lá (é melhor). O espaço, ínfimo diante do número de convidados. E não preciso me estender mais.

"Com 25 mil votos (25% a mais do que no ano passado), o festival deu a honra de levantar o prato-troféu com a inscrição de melhor petisco do Rio de Janeiro para a Academia da Cachaça da Barra, que concorreu com uma empadinha de queijo coalho com alecrim literalmente campeã."

Se o festival é de comida de botequim, um barzinho elegante da Barra da Tijuca não poderia sequer concorrer. E empada, convenhamos, não é petisco. Sigamos.

"Fiz questão de destacar a localização de cada um dos bares mais bem colocados na contenda justamente por achar que essa foi uma das caracterísitcas mais interesantes do festival este ano: sua amplitude geográfica. Teve bar de todas as áreas da cidade nas primeiras posições, sem privilégio para nenhuma região: O vencedor saiu da Barra, o segundo colocado veio lá do subúrbio; o terceiro e o quarto lugares foram para a Zona Norte e o quinto ficou com a Zona Sul. E do sexto ao décimo lugares houve espaço, de novo, para subúrbio, Zona Norte e Zona Sul. Uma distribuição que mostra que estamos bem servidos de bons botecos, em qualquer lugar do Rio."

Redonda besteira. Não há, na Barra da Tijuca, de onde saiu o campeão da noite, um único, um mísero, um projeto de buteco que seja.

"Sobre a premiação em si, quem acompanhou o festival de longe - ou de perto demais... - pode ter ficado surpreso com a vitória da empadinha de queijo coalho da Academia da Cachaça. Eu confesso que não esperava. Mas surpreso não fiquei não... Afinal, caro leitor, a empada é de fato uma maravilha. Derrete na boca como poucas, e tem um sabor que agrada a qualquer paladar, até mesmo quem não é muito chegado em comida de boteco. E isso, numa votação popular em que literalmente qualquer pessoa tem direito de dar sua opinião, é muito importante."

Empada que derrete na boca? Sei.

"Haverá quem diga que a Academia da Cachaça não é boteco. De fato nao é. É uma empresa bem estruturada, com duas filiais e administração para lá de profissional. Trata-se de um ponto relevante esse, mas que deve ser debatido fora do contexto da premiação. Depois que o jogo começou, todos os concorrentes estavam em pé de igualdade, e ganhou quem fez mais bonito, merecidamente, independente de definições prévias."

Inacreditável. Fiquemos com o PETIT PAULETE, por exemplo. O Paulinho, prestigiando o festival como nenhum outro bar participante (vá lá, o ORIGINAL DO BRÁS também foi criativo, muito embora tenha criado um monstro), inventou um petisco (literalmente, um petisco). Um petisco delicioso, genial, muitíssimo bem apresentado. O que há de "mais bonito" numa empada de queijo com alecrim? O que há de petisco numa empada? O que há de buteco numa empresa bem estruturada, com duas filiais e administração pra lá de profissonal?! Como diria Leonel de Moura Brizola, francamente...

"Cadinha, um dos sócios do Original do Brás, campeão do ano passado e segundo este ano, também se emocionou. Mesmo sem conseguir o bi, ficou feliz em voltar ao "pódium" com um petisco que, notoriamente, não foi tão unânime quanto o "Rolé pelo subúrbio", o bife rolê que foi o grande vencedor de 2008."

Pelo que me consta - era voz corrente na noite da festa - o Cadinha não é mais sócio do ORIGINAL DO BRÁS há tempos. E seu pestisco não foi tão unânime por uma simples razão: era horroroso, como lhes contei ontem.

Era o que eu queria lhes contar hoje.

Até.

ps: ah, sim. Não deixem de fazer suas apostas no jogo do bico. Vai dar coelho na cabeça!

7.7.09

COMIDA DI BUTECO - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sentei-me aqui para lhes escrever e ocorreu-me um troço: começo o texto na condição de jurado do festival COMIDA DI BUTECO (que terminou ontem, com a entrega dos prêmios, vale ler o relato de Janir Júnior, irmão de meu irmão Luiz Antonio Simas em seu RIO DE CHINELO, aqui) e o terminarei na condição de jurado de morte. Vejamos.

Vocês que me acompanham sabem que nunca fui, digamos, um entusiasta da idéia. Vejam o que escrevi aqui, em agosto de 2008, e aqui, no começo de maio de 2009, e vocês verão que nunca fui um empolgado com a idéia. A idéia, diga-se, é ótima, precipuamente, para os organizadores. Segundo é sabido e consabido os organizadores, dentre eles o sr. Eduardo Maya, o pai da idéia, vivem disso e nisso são geniais. Lucram com a idéia COMIDA DI BUTECO (que virou grife), a idéia de fato fomenta o ramo dos bares e botequins (e dos restaurantes também, eis que restaurantes também participam da festa) e, no final das contas, todo mundo que orbita em torno do festival sai ganhando. O grande problema, graaaaande problema, com ênfase szegeriana, é tomar o resultado do festival (pífio, pífio, eu diria ridículo) como parâmetro.

Quando chamado para ser jurado, fui convocado para uma reunião na qual seriam apresentados os critérios do festival, e que deveriam ser respeitados pelos julgadores. A caminho da tal reunião, no Leblon, uma frase de meu pai martelava minha cabeça: "seja o que for que tu fores fazer, faz teu melhor". Ficamos sabendo, nós, os jurados, que deveríamos julgar a criatividade e a originalidade dos petiscos (é um festival que se anuncia como um festival de petiscos), a apresentação dos mesmos e, evidentemente, o sabor. Além disso, envolvendo o petisco em si, a higiene do local e o atendimento.

Já na reunião, como um aluno atento, e polemista (como disse, certa vez, Aldir Blanc), levantei o dedo após a exposição feita por uma das organizadoras:

- Se é comida de buteco o que está em jogo, como pode a Academia da Cachaça, na Barra, a antítese do Rio de Janeiro, um deserto agudo de botequins e afins, com uma filial no Leblon, inclusive, participar do troço?

A resposta foi, a meu ver, vaga:

- Tem filial mas não é franquia. São os mesmos donos.

Redargui:

- Mas não é buteco.

Ela disse um troço que eu jamais ouvi:

- Como você é radical!

Fui jurado de quatro bares. A princípio eu seria de três, mas fui convocado de última hora para julgar um quarto por conta de um imprevisto com outro julgador. Julguei a comida (pela ordem de visita) do CACHAMBEER (costela no bafo), do BAR VARNHAGEN (vaca atolada), do BAR BRASIL (kassler) e do ARMAZÉM CARDOSÃO (bolinho de carne).

Eu disse "outro julgador" e quero lhes contar outra coisa. Na tal reunião a que me referi, imediatamente após o sorteio dos bares que caberiam aos jurados, ouvi frases inacreditáveis dos meus - digamos - colegas:

- Não dá pra trocar o meu, não? Queria só na zona sul.

- Cachambi?! Cruzes! Alguém quer trocar comigo?

- Ah, gente, Brás de Pina ninguém merece. Consegue um no Leblon, onde moro...

Eu - e estou querendo dizer com isso que busquei honrar o conselho de meu pai o tempo todo - recebi o ACONCHEGO CARIOCA no sorteio. E disse, no ato:

- Declaro-me impedido! Sou amigo da Kátia e da Rosa, as donas.

Esse não foi o critério de nenhum dos demais, preocupados apenas - a grande maioria - com o conforto geográfico.

Eu ainda disse pro cidadão que queria "só na zona sul":

- Você não deveria ser jurado do festival. Espere um festival só na zona sul e aceite o encargo!

Houve um burburinho, um princípio de bate-boca e ficou tudo por isso mesmo.

Guiando-me pelos critérios do festival, perderam pontos no quesito criatividade e originalidade os quatro que eu julguei. Costela no bafo já fazia parte do cardápio do CACHAMBEER, o kassler está há milênios no BAR BRASIL, vaca atolada não foi inventada ontem e bolinho de carne, convenhamos...

Não lhes direi sobre minhas notas, mas eis aí o que me guiou.

A apresentação da costela no bafo era a mesma que se vê em qualquer lugar que serve costela no bafo, o kassler vinha cortado num prato pequeno (sem comentários), a vaca atolada vinha à mesa numa original arrumação, com o aipim fazendo papel de muro e a carne, fumegante, no meio, e o bolinho de carne bem bacana, com alecrim e um molho bastante diferente.

Eis que ontem foi a festa de entrega dos prêmios.

Uma da organização me dizia:

- Nem nós sabemos os vencedores! Só no dia! Só no dia!

O bobalhão aqui acreditou.

Os cinco primeiros colocados receberam, na noite da festa, pratos de louça como prêmios, indicando sua colocação (feitos quando, hein?!).

O quinto lugar coube ao PAVÃO AZUL, em Copacabana, com caldinho de feijão. Não comi, não posso opinar. O quarto lugar coube ao BAR VARNHAGEN, na Tijuca, e fiquei feliz pela conquista da dona Natalina e de sua família. O terceiro lugar ficou com o ENCHENDO LINGÜIÇA, no Grajaú, com lingüiça enrolada numa fatia finíssima de batata chips, que provei e gostei. Original, além de tudo. O segundo lugar coube ao ORIGINAL DO BRÁS, que concorreu com um prato de extremíssimo mau gosto. O prato, batizado de Doce Refúgio, numa homenagem, segundo os donos do bar, ao Luiz Carlos da Vila, era composto por lombinho, massa folheada com farofa (o quê é isso, minha gente!) e uma redução lamentável de tamarindo. A apresentação, pernóstica, cafona e muito feia, fazia com que o incauto provador corresse risco de ficar cego. Fincados em alguns pedaços de lombinho, espetos de madeira enormes de onde pendiam folhinhas de tamarineira. Bom, isso aí ganhou o segundo lugar. O primeiro lugar - tirem as crianças da sala! - ficou com a ACADEMIA DA CACHAÇA, na Barra da Tijuca, que concorreu com uma empadinha de queijo coalho com alecrim. Não comi e não gostei. Não gosto do bar. Empada não é petisco. Barra não é Rio de Janeiro. E o festival provou que não entende nada do riscado (como eu já desconfiava).

A festa foi no CENTRO CULTURAL CARIOCA e teve show de um grupo chamado TIO SAMBA. Eu posso dizer a vocês que o show foi à altura da festa e do resultado final.

PETIT PAULETTE ficar de fora foi a maior prova da barbaridade do resultado. Com seu croquelete, fabuloso, criativo, original, bem apresentado e saborosíssimo, ele foi, desde o instante em que provei o prato, o franco e absoluto favorito.

Mas sabem de uma coisa?!

Melhor assim.

A Praça da Bandeira fica com quem reconhece o valor do cara, a encarnação do Barão de Iguatemi, com quem curte Kátia, Rosa, Mariana e o povo daquela rua - e vem mais coisa boa por aí! - e os otários de plantão seguirão com suas vans, suas caravanas, suas excursões, em direção à Barra da Tijuca e à Brás de Pina.

Não passarão!

Até.

6.7.09

A FAMÍLIA DO ANALISADO

Dedicar-me-ei hoje, mais uma vez, à figura do analisado e à de seu bacana portátil. Sob a ótica, eis o que me ocorreu depois de encontrar-me com um pobre-diabo na semana passada, de sua relação com a família. O analisado (o pobre-diabo a que me referi), por questões de moda, procurou o bacana que lhe fora indicado por outro pobre-diabo, amigo seu, que após uma rápida conversa no meio da rua estendeu ao outro o cartão, dizendo:

- Telefona. Você não vai se arrepender.

Pois o pobre-diabo originário telefonou. Marcou a consulta. Marcou a consulta e ficou felicíssimo quando soube que a primeira conversa sairia de graça ("teremos apenas uma conversinha para que você perceba se gosta", foi o que disse o bacana cujo consultório ficava em Copacabana).

E houve a primeira conversa (durou 10 minutos).

A primeira pergunta do bacana:

- O que te traz aqui? - ele tinha, na face, a máscara de um membro de mesa da FLIP.

- Não sei. - foi sincero, o paciente.

O médico de almas arregalou os olhos, pigarreou, fez um silêncio pausado impactante e disse:

- Interessante. Conte-me sobre sua família.

O pobre-diabo falou maravilhas do pai, um ídolo, da mãe, dos irmãos, dos primos e primas, dos avós (os vivos e os mortos), das tias e dos tios. Estava ele empolgadíssimo relatando seus afetos, quando o analista ficou de pé.

Ficou de pé, deu uma voltinha ensaiada em torno do divã, pôs as mãos sobre o couro do dito cujo como que engaiolando o pobre-diabo e disse com os olhos ainda mais arregalados.

- Família Doriana. Sei.

Quase encostou o nariz no nariz adunco do paciente e disse, seriíssimo:

- Teu caso é sério.

O paciente encolheu-se como um feto. E foi a deixa para o bacana continuar:

- Três sessões por semana, no mínimo. Duzentos e setenta e cinco reais cada sessão. E eu recebo adiantado as seis primeiras.

Só então afastou-se do rosto em pânico do pobre-diabo.

Depois da terceira sessão - eis o milagre do bacana - o coitado já acahava o pai uma azêmola, a mãe chatíssima, zombava com desenvoltura dos cuidados dos irmãos, dizia que os avós mortos haviam partido tarde, que as tias eram umas recalcadas e os tios uns cornos em potencial, por aí.

O que eu queria lhes dizer desde o início, e me parece que já está dito, é o seguinte: os bacanas não toleram o bem-querer. Não suportam a felicidade alheia. Não admitem a sensação de plena satisfação dos pobres-diabos.

Os bacanas precisam incutir nos pacientes, que passam a fumá-los sem filtro num quadro de dependência preocupante, o ódio, o rancor, a responsabilidade atribuída ao outro, que é cravada na testa da vítima como alfinetes em um boneco de vodu, vítima essa que passa a ser a responsável direta por troços que, essa é a verdade, nunca incomodaram o paciente.

Daí pululam as frases:

- Bebo assim pois procuro repetir o que papai fazia quando era pequeno, quando eu ficava sozinho enquanto ele enchia a cara com os amigos no buteco.

- Mamãe é responsável por esse meu jeito tímido e minha covardia, ela jamais reagiu contra as barbaridades que papai aprontava.

- Meu irmão? Um idiota. Sempre me fez crer que queria o meu bem quando na verdade era um voyeur delirando diante de meus fiascos.

- Minha avó introjetou em mim essa nostalgia irritante que me atrasa a vida.

E as sessões continuam sendo marcadas, cobradas, e o pobre-diabo cada vez mais chato - como o tal que eu encontrei semana passada, conforme lhes contei no início deste arrazoado.

Até.

4.7.09

O CORINTHIANS DA LEONOR

Há muitos anos li um texto sobre o Maradona, de autoria do escritor argentino Hernán Casciari, autor também de um excelente blog, o MÁS RESPETO QUE SOY TU MADRE (aqui), encarnando o sentimento de uma mãe argentina pelo craque Diego Armando Maradona. É lindo, e o reproduzo abaixo, devidamente traduzido para o português (tirei o texto traduzido daqui):

"Ao Zacarias, o vi chorar três na vida. Quando lhe disseram que Nacho era menino, quando você meteu o segundo nos ingleses e quando te expulsaram da Copa de 94. Assim que, dê-se conta: graças a você descobri que o meu marido tinha sangue nas veias. Por isso, se ele reza, eu rezo. E não me importa se outra vez há de rezar por você. Nesta casa, quando meu marido diz que há que acender duas velas, acendem-se duas velas.

Você não é o santo de minha devoção, já te disse mil vezes; e sempre te achei uma boa bosta porque você é um fanfarrão, um boca suja. O Zacarias me diz que se eu gostasse de futebol seria outra coisa, que você em campo era algo inominável, de outro mundo, eras capaz de enlouquecer as leis da física e bla bla blá. Mas, por esse lado, ninguém me convence. Sou uma senhora, não entendo e nem quero entender de pelotas. Por outro lado, há outras coisas que, sim, entendo. E por essas coisas rezo as noites. Mas atenção: não é por você. Sabe por que rezo? Porque houve momentos em que não tivemos nada sobre a mesa – e você dava alegria a minha família.

Alfonsín estava fazendo estragos e, graças a Deus, justamente nos caiu do céu uma Copa do Mundo, que ganhaste de ponta a ponta. Para mim foi um inverno horrível, porque somente podia servir caldinho de acelga no almoço e no jantar. Mas se hoje pergunto ao Nacho ou Zacarias do que se recordam daquele inverno, eles falam no seu nome, enchem a boca para falar de você, sorriem... Não se recordam de outra coisa, não têm a menor idéia de que passaram fome.

Do lado de fora, na porta da clínica onde respiras por um tubinho, está cheio de jornalistas estrangeiros tirando fotos de um mundo de gente que acende velas e passa a madrugada recitando o rosário. Às vezes me dá um pouco de vergonha que o resto do mundo creia que somos tão simplórios, tão cabeludos. Mas depois me dá vontade de explicar ao mundo que ninguém reza pelo boca-suja, nem mesmo pelo fanfarrão. Tenho vontade de explicar ao mundo que, das poucas alegrias que tivemos nos últimos anos, quase todas vieram com a sua assinatura.

Como nos custa entrar em acordo em alguma coisa, rirmos ou chorarmos pelas mesmas coisas. Como nos custar cantar “Argentina, Argentina” e, ao mesmo tempo, sentir que nosso peito se estufa. E fazer força pelo mesmo, e querer ser os melhores, e se estrebuchar de raiva.

No dia efedrina sai para a rua e, te juro pelos meus três filhos, pela primeira vez na vida vi todo mundo chorando. As pessoas andavam em silêncio e com o muco escorrendo do nariz. Todo um país murcho e mudo. Que esquisitos somos! – pensei. Mas me senti orgulhosa desse sangue que era meu, porque também chorava e não sabia desde quando.

Se até o Caio, que nunca te viu erguer uma Copa do Mundo, tem um pôster seu no quarto dele – e fala de você como se te houvesse vivido. Se até o Nonno te perdoou por ter mandado à puta que o pariu toda a Itália, ao vivo e a cores. Se, inclusive, o Nacho, que odeia futebol, sabe que você é mais que isso, e te defende... Como não vou rezar para que você se restabeleça?

Dentro de muitos anos, os filhos dos filhos da Sofia viverão em um país muito melhor do que o que temos agora. E ninguém se recordará de que era um fanfarrão e um boca-suja. Os livros escolares dirão de você somente o importante: que aqui uma vez nasceu um mestiço que jogava bola como ninguém, e que era capaz de reerguer um povo triste e deixá-lo louco de alegria, de fazê-lo feliz – inclusive nas épocas mais negras. Para que não morra esse sujeito, rezo."


Lembrei-me disso quando li o texto da Leonor Macedo, AS FIGAS DE PAPAI E O TRICAMPEÃO DA COPA DO BRASIL, em seu blog, o ENEAOTIL, abaixo reproduzido (leia-o, in loco, aqui):

"Nunca fui daquelas de acreditar em simpatias. Passei a vida desafiando a minha mãe que morria de medo de caminhar embaixo de escadas, não faço a menor idéia do que quer dizer o fato de eu ser do signo de Libra e se tivesse um gato certamente ele seria preto, por se tratar da minha cor preferida. Não tenho religião definida, quase nunca rezo pedindo ou agradecendo por alguma coisa e superstição para mim é só uma palavra difícil de dizer.

Acontece que quando se trata do Corinthians, a história muda um pouco de figura. É vela para São Jorge, é sinal da cruz na hora do apito inicial do árbitro. É camisa da sorte, é assistir sempre no mesmo lugar da arquibancada. Mas a minha mandinga preferida, aquela que vence o jogo e que aprendi desde pequenina, são as figas do papai.

Desde pititica vi meu pai, na frente da TV ou no estádio, prendendo os dedões entre os dedos indicadores e médios, e secando cada jogada de ataque dos adversários corinthianos. Bastava um sufoco e lá estava ele, apertando os dedões a ponto de deixá-los roxos. Corinthiano roxo.

Quando me tornei adolescente, rechacei a prática de papai o quanto pude. Dizia que era besteira, que não era possível, que era muita ingenuidade acreditar que aqueles dedões pudessem salvar uma partida, ganhar um campeonato, fazer a gente voltar feliz para casa. Ria dele, me envergonhava toda vez que ele levantava suas mãos para reclamar do árbitro e via seus dedos espremidos, calejados e machucados por conta, na maior parte do tempo, de um futebol mal jogado.

Até que um dia resolvi experimentar, no meio de um sufoco também, na completa falta do que me apegar. Enchi meu coração de fé, apertei meus dedos e ZAZ! Não foi gol do adversário. Nem lembro qual era o adversário, aliás, muito menos a jogada: se foi pênalti agarrado, chute indefensável defendido, se foi um gol evitado com a unha do dedinho do zagueiro, se foi um escorregão do atacante do lado de lá antes do gol de placa. Sei que funcionou.

No começo, fazia minhas figas escondidas para o papai não ver porque ainda era adolescente e não queria dar o braço a torcer. Depois elas se fizeram tantas vezes presente (porque corinthiano sofre, e como sofre!) que escancarei de vez. Hoje elas me atrapalham na hora de bater palmas e cantar junto com a torcida, mas tenho absoluta certeza que elas salvam o Timão.

Não que ontem eu tenha tido muito trabalho em fazê-las lá no Beira-Rio, pelo contrário. Acho que nunca cantei tanto dentro de um estádio e peço desculpas pelo relaxo que renderam os dois gols do Inter. Juro que foram momentos da mais completa distração e descontração, então me esqueci das figas de papai. Mas em outros momentos, como naquela espalmada de Felipe, elas estavam lá no Sul. E estavam em São Paulo também, nas mãos do mestre desta mandinga milenar, que também me ensinou tantas outras coisas nesta vida.

Tenho pensado em me tornar mais supersticiosa. Começar a apertar os dedos todo começo de mês, no dia do pagamento; ou toda vez que a minha chefe me chamar para conversar. A cada pessoa nova que eu conhecer e a cada notícia lida nos jornais. Se faz a gente tão feliz no futebol, se faz a gente derramar tantas lágrimas emocionadas como aquelas nas escadas frias e duras do Beira-Rio, se faz o filho da gente gritar de alegria no telefone depois de ser campeão, se faz um monte de torcedor desafinado se tornar o maior e mais bonito coral do mundo (mesmo estando em esmagadora minoria), então deve funcionar com outras coisas menores também. Por via das dúvidas, eu vou rezar hoje. Para agradecer."


Bonito pra burro, de doer.

Dois textos que misturam a fé e a paixão, ingredientes indissolúveis do esporte bretão.

Até.

3.7.09

QUANDO CHOVE EM SÃO PAULO, O SZEGERI QUER NESCAU

Ontem fez, em São Paulo, um mau tempo de quinto ato de Rigoletto, de Giuseppe Verdi (não me venha besta alguma dizer que não há quinto ato em Rigoletto, façam-me o favor). Ontem foi quinta-feira, o que significa dizer que hoje é sexta-feira (esta frase, genial, é digna de uma mesa da FLIP). E às sextas-feiras, vocês sabem, o PSOL promove debates políticos no Buraco do Lume (o PSOL é moderníssimo, o PSOL não faz comícios). Estou, como se pode perceber, grávido de parênteses (outra frase que faria a assistência relinchar em Paraty).

Farei uma breve digressão antes de ir ao tema de hoje.

Ontem fui visitar meu dileto amigo Luiz Carlos Fraga em seu portentoso escritório, na rua Rodrigo Silva (escrevi Rodrigo e, sabe-se lá por quê, um frio de horror percorreu minha espinha). Estava lá eu conversando com ele (que almoçava um guisadinho de legumes) quando surgiu, depois de três batidinhas militares na porta, André Perecmanis (dei de dar nome, de novo, a meus personagens), meu advogado criminalista (gênio!, gênio!!, gênio!!!, vejam aqui). Eram - o quê?! - duas, duas e meia. E o André, qual um mendigo de afeto, implorou:

- Almoça comigo?

Disse, com a mão, que não.

Ele insisitiu. E eu fiz a pergunta canalha:

- Pagas?

E ele, sorrindo luminosamente e brandindo o talão de cheques, gritou:

- Pago tudo! Pago!

Estávamos sem tempo, pelo que optamos pelo CAFÉ GAÚCHO, na esquina da mesmíssima Rodrigo Silva com São José - ocasião na qual lembrei-me desse partido político que, como um descolado flipense, adora uma festa (li, nos jornais de ontem, que o PSOL vai fazer performances pela cidade mostrando a cidade de Sarneylândia, e eu me pergunto se pode haver palhaçada maior). O André provocou:

- Amanhã tem PSOL, não tem?

- Tem.

Dissemos coisas impublicáveis sobre o partido mais histérico da paróquia, estávamos já comendo nossos sanduíches e meu celular estrilou. Era uma mensagem dele, Fernando. E quando digo Fernando referindo-me a ele eu completo sem tomar fôlego Fernando José Szegeri (um dos únicos aqui citados que nunca me censurou quanto a isso, ao contrário; ele sempre pede que lhe dê o nome todo, o da frente, o do meio e o de trás).

A mensagem era breve e dava notícia da chuva torrencial que se abatia sobre a cidade de São Paulo. Fui um triste dali em diante. Alegrei-me, apenas, quando o André, expansivo, gritou pro Bira:

- A conta, a conta! Manda a conta que hoje eu pago tudo!

E fui um triste pois fiquei sabendo que fazia um dia de chuva insuportável em São Paulo. Lembrei-me, tristíssimo (fui piorando minha tristeza a cada minuto), que o humor de meu irmão siamês (que jamais renegará tal condição) é suscetível demais às variações meteorológicas. Lembrei-me da obrigatoriedade que há, em terras paulistanas, de se fazer as coisas todas e ir a vários lugares, troço que transforma um dia chuvoso num verdadeiro exercício de penitência quaresmal. Penitenciei-me por jamais ter encontrado, e comprado, galochas para meu irmão.

Lembrei-me dele criança, já barbado e já funcionário público, morando numa casa de bairro onde ele tinha um quintal à sua disposição, fazendo engenharias com as almofadas da sala, o que deixava dona Cecília maluca.

E lembrei-me dele, já pai das três crianças por-vir, vendo, na TV, o programa da Xênia, apresentado pela própria, e lembrei-me dele hoje, na repartição, melancólico por conta de sua infância recheada de ontens.

Pedi ao Bira - e o André se assustou - Nescau batido no leite.

Bebi, como se cumprindo um ebó emocional, num só gole, em homenagem a ele.

Tudo confirmado pelo próprio, há mais de três anos - é o tempo e suas dobras -, aqui.

Até.