14.7.09

DO DOSADOR

* uma pequena fábula... O preço do pato está cada vez mais caro. Eu, um teimoso quase-incorrigível, estou no vermelho no banco mas continuo pagando o valor imposto pelo mercado e pelos investidores que jogam na roleta e que ditam o ritmo dos negócios. Costumo dizer, não sem razão, que sou uma espécie de Maria da Penha, a porta-bandeira rolando pela ribanceira, com uma fundamental diferença: não ateei, sozinho, fogo às vestes. No meio do salão de jogos, deixo, com um estranho prazer, que lancem queresone e gasolina sobre minhas roupas. Já encharcado e já devidamente embebido como bucha de balão, assisto sempre um, dentre os tantos que se divertem com a brincadeira, riscando um palito de fósforos e arremessando-o em minha direção, aceso. Há sempre muita fumaça mas quem tosse sou eu. Quem sente os olhos ardendo, somente eu. Quem sentes as dores das queimaduras, eu. Depois de encarnar Maria da Penha, sou Fênix. Os investidores não se dão sequer ao trabalho de empunhar um extintor, que seja. Contratam, depois de organizarem uma vaquinha informal, numa espécie de processo de expurgo, um cirurgião plástico que dá sempre um jeito de consertar o estrago visível a olho nu. E assim caminho com humildade até o próximo incêndio.

* sonhei, na noite passada, com a atriz Hattie McDaniel, a babá crioulona do filme E O VENTO LEVOU (na foto abaixo). No sonho, Hattie protestava agudamente contra a lei municipal 4.891, de autoria de vereador do PSOL, que homenageia as mulheres negras latino-americanas e caribenhas (vejam aqui). Nascida no Kansas, Estados Unidos, a doce negrona, que espumava furiosamente enquanto gritava contra a iniciativa do PSOL, ela ainda revoltada com o fato de não terem permitido seu enterro no cemitério de Hollywood justamente por ser negra, pedia-me o registro do protesto por ter sido excluída das homenagens do dia 25 de julho, que esse ano cai num sábado.

a atriz Hattie McDaniel, que interpretou a personagem Mammy em ´E o Vento Levou...´

* lembrei-me demais da tia Lita, tia-avó de Luiz Antonio Simas, quando Erasmo Carlos subiu ao palco do Maracanã pra cantar AMIGO com Roberto Carlos, no último sábado. Meu sogro, que comigo assistia ao espetáculo pela TV, havia acabado de dizer "li que eles não se falam há muitos anos, estão brigados" quando o Tremendão apareceu no telão do palco, prenúncio de sua entrada triunfal no palco, que fez o Rei chorar de dar dó. Ele, meu sogro, não entendeu nada quando eu disse que tia Lita deveria estar em festa onde quer que estivesse (leiam aqui).

* falei do show do Rei, no Maracanã, no sábado passado, e não é possível deixar de falar sobre a transmissão da TV GLOBO. A transmissão, creiam, pateticamente, não foi ao vivo embora a apresentadora Patrícia Poeta fizesse crer que sim. Não estivesse eu ouvindo a rádio GLOBO AM e eu não teria sabido que fazia (faria) papel de palhaço diante da TV.

* uma última palavra. Um cidadão por quem tenho profundo respeito escreveu-me, ontem (depois de ouvir lamúrias minhas sobre recentes episódios significativos no que diz respeito à pequena aldeia que nos cerca), o seguinte: "E o esquerdismo, já dizia Lênin, é uma "doença infantil do comunismo". O esquerdista é aquele cara que fica politicamente adolescente a vida inteira.". Só uma besta (ou um adolescente perene), do último fio de cabelo à sola dos sapatos, pisoteia em seus afetos por conta de divergências políticas.

Até.

4 comentários:

Diego Moreira disse...

Eu também lembrei da tia Lita. E contei a história dela pra todo mundo que fazia papel de palhaço junto comigo vendo uma transmissão que a gente achava que era ao vivo.

Luiz Carlos Fraga disse...

* se o preço do pato está cada vez mais caro, mude seus hábitos e valha-se de algum mamífero lagomorfo, da família dos leporídeos;

* alio-me à indignação de Mammy, excluída de forma abjeta das comemorações do fundamental calendário de 25 de julho;

* almoçava eu com um amigo insuspeito na sexta-feira, quando fui informado por ele que um deputado do PSOL havia concedido a Medalha [sic] Pedro Ernesto àquele senhor soturno que vaga pelas mesas de botequins trajando medonho bonezinho e assolando com frases inúteis a paciência dos circunvizinhos [a justificativa da concessão daquela peça metálico-circular pode ser lida aqui: http://spl.camara.rj.gov.br/spl/spl_tramit_proj_assunto.jsp?id=16749, mas tire as crianças da sala];

* aos de plantão, peço pereferência e agradeço qualquer explicação acerca do significado da figura do Mickey com Sarney[plausível seria pedir muito, decerto];

* quem é Lênin?

Saravá!

Eduardo Goldenberg disse...

Diego: coisas daquela TV, malandro, que o velho caudilho tanto combatia... Abraço!

Fraga, por partes:

01) tô fora de qualquer leporídeo, meu caro, ainda que aparentemente palatável;

02) e ninguém, meu caro, ninguém (com a ênfase szegeriana) me explica que raio de lógica foi essa que o sr. Eliomar Coelho usou para escolher apenas as latino-americanas e as caribenhas. Ô, troço patético...;

03) tendo sido projeto do mesmo Eliomar... faz sentido, não?;

04) já tentei com o próprio Chico Alencar. Sua assessoria não me respondeu.

Abraço!

Blog do Pian disse...

Goldenberg,

O cenário do quadro político (carioca, fluminense, brasileiro) é tão triste que eu, mesmo concordando (muito!) com suas opiniões sobre a enorme inutilidade dos projetos de lei do Eliomar, ainda ponho-o na conta dos poucos políticos idôneos.

Pena que aqui no Brasil, na minha modestíssima opinião, idoneidade e competência nunca andam juntas.

Eliomar, Chico Alencar, Suplicy...

Um grande abraço!

Pian